No presente trabalho, vamos abordar algumas das questões essenciais sobre o imaginário coletivo e suas relações com a realidade e a verdade. Devemos encarar esse assunto em uma estrutura conceptual, seguida pela análise factual correspondente às realidades comportamentais demonstráveis. Adotaremos não apenas a metodologia, mas principalmente os princípios e proposições da filosofia analítica, que com certeza serão evidentes ao longo do estudo e podem ser identificados pelos recursos descritos por Perez[1] : Rabossi (1975) defende a ideia de que a filosofia (...) analítica pode ser identificada considerando-se certas semelhanças familiares. Ele sugere os seguintes traços familiares: uma atitude positiva em relação ao conhecimento científico; uma atitude cautelosa em relação à metafísica; uma concepção da filosofia como uma tarefa conceptual, que toma a análise conteudo como um método; uma estreita relação entre linguagem e filosofia; uma preocupação em buscar respostas argumentativas para problemas filosóficos, e procura de clareza conceptual. Esses conceitos centrais envolvem conteúdos culturais, sociais, religiosos, científicos, filosóficos, morais e políticos, pertencentes à existência individual e coletiva de cada um de nós. Neste artigo, não discutiremos nem demonstraremos. Nosso objetivo não é o de sistematicamente criticar ou evidenciar qualquer coisa, de qualquer maneira. O presente trabalho se baseia na reflexão analítica. Apenas especularemos da maneira mais abrangente e profunda que pudermos e expressaremos os resultados de nossos pensamentos. Não obstante a natureza multidisciplinar do assunto e a abertura metodológica para aceitar contribuições de qualquer campo da ciência, este trabalho pertence ao objetivo da psicologia e ontologia ou, em outros termos, da psicologia social e ontológica. A metodologia livre que norteia tais reflexões abrange e leva em consideração tudo o que se aproxima da coerência com a epistemologia filosófica e psicológica. Essa metodologia não busca alcançar evidências, mas apenas procura a inter-relação entre evidências já existentes, de qualquer natureza e magnitude, inferindo um significado coerente para as coisas reais. Muitos dos grandes pensadores, a qualquer momento, nunca procuraram demonstrações, teorizações ou sistematizações. Esses pensadores apenas pensavam, meditavam e com a iluminação de sua humildade podiam se aproximar da verdade. Eles serão nossa referência e o exemplo a ser seguido. Com certeza, não encontraremos a verdade, mas podemos ter certeza de alguma coisa: em muitos momentos, chegaremos perto da verdade e, em todos os momentos, estaremos nos afastando da inverdade e da mentira. O escopo principal deste estudo é observar como alguns dos atributos evolutivos essenciais da humanidade, como criatividade, imaginação e associação, podem se tornar uma doença perigosa, abrigada nas sombras enevoadas da inteligência. (shrink)
In this work, we will approach some of the essential questions about the collective imaginary and their relations with reality and truth. We should face this subject in a conceptual framework, followed by the corresponding factual analysis of demonstrable behavioral realities. We will adopt not only the methodology, but mostly the tenets and propositions of the analytic philosophy, which for sure will be apparent throughout the study, and may be identified by the features described by Perez : Rabossi (1975) defends (...) the idea that analytic philosophy can be identified by considering certain family resemblances. He suggests the following family traits: a positive attitude toward scientific knowledge; a cautious attitude toward metaphysics; a conception of philosophy as a conceptual task, which takes conceptual analysis as a method; a close relationship between language and philosophy; a concern with seeking argumentative answers to philosophical problems; search for conceptual clarity Perez, Diana Ines, "Analytic Philosophy in Latin America”, The Stanford Encyclopedia of Philosophy ). These core concepts involve cultural, social, religious, scientific, philosophic, moral, and political contents, belonging to the individual and collective existence of each one of us. In this paper, we will not debate nor demonstrate. Our purpose is not to systematically methodize, criticize, or bring to evidence anything, anyhow. The present work grounds itself on analytical reflection. We will just speculate the most comprehensive and profound way we can and express the results of our thoughts. Notwithstanding the multidisciplinary nature of the subject and the methodological openness for accepting contributions from any field of science, this work belongs to the aim of psychology and ontology or, in other terms, social and ontological psychology. The free methodology guiding such reflections embraces and takes into account everything approaching coherence with the philosophical and psychological epistemology. This methodology does not pursue reaching evidence but just looks for the interrelation among already existing evidence, of any nature and magnitude, inferring a coherent meaning to the real things. Many of the great thinkers at any time never searched for demonstrations, theorizations, or systematizations. These thinkers just thought, meditated, and with the enlightenment of their humility could approach the truth. They will be our reference and the example to be followed. For sure, we will not find the truth, but we may be sure about something: in many moments, we will get close to the truth, and in all moments, we will be retreating from untruth and lie. The main scope of this paper is to observe how some of the essential evolutionary attributes of humankind, like creativity, imagination, and association, can become a hazardous sickness, sheltered in the misty shadows of the intelligence. (shrink)
A tradição filosófica das abordagens da moral tem predominantemente como base conceitos e teorias metafísicas e teológicas. Entre os conceitos tradicionais de ética, o mais proeminente é a Teoria do Comando Divino (TCD). De acordo com a TCD, Deus dá fundamentos morais à humanidade desde sua criação e por meio de revelações. Assim, moralidade e divindade seriam inseparáveis desde a civilização mais remota. Esses conceitos submergem em uma estrutura teológica e são principalmente aceitos pela maioria dos seguidores das três tradições (...) Abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo, abrangendo a parte mais considerável da população humana. Mantendo a fé e a Revelação como seus fundamentos, as Teorias do Comando Divino não estão estritamente sujeitas a qualquer tipo de demonstração. Os oponentes da concepção moral do Comando Divino, fundamentados na impossibilidade de demonstrar suas suposições metafísicas e religiosas, tentam há muitos séculos (embora sem sucesso) desvalorizar sua importância. Eles sustentam o argumento de que a teoria não mostra evidências materiais e coerência lógica e, por esse motivo, não pode ser levada em consideração para fins científicos ou filosóficos. É apenas uma crença e, como tal, deve ser entendida. Além dessas oposições extremas, muitos outros conceitos atacam as teorias do Comando Divino, de uma ou de outra maneira, em parte ou na totalidade. Muitos filósofos e cientistas sociais, da clássica filosofia grega até a presente data, por exemplo, sustentam que a moralidade é apenas uma construção e, portanto, culturalmente relativa e culturalmente determinada. No entanto, isso traz muitas outras discussões e impõe o desafio de determinar qual é o significado da cultura, quais elementos da cultura são moralmente determinantes e, finalmente, quais são os limites dessa relatividade. Os deterministas morais, por sua vez, afirmam que tudo relacionado ao comportamento humano, incluindo a moralidade, é determinado em suas causas, uma vez que o livre-arbítrio não existe. Mais recentemente, os pensadores modernos argumentaram que existe uma rigorosa ciência da moralidade. No entanto, o método científico por si só, apesar de explicar vários fatos e evidências, não pode esclarecer todo o conteúdo e todo o significado da ética. A compreensão moral exige uma percepção mais ampla e um acordo entre os filósofos, que eles nunca alcançaram. Todas essas perguntas têm muitas configurações diferentes, dependendo de cada linha filosófica, e iniciam análises complexas e debates intermináveis, uma vez que muitas delas são reciprocamente conflitantes. O universo e a atmosfera envolvendo esta estudo são os domínios de todos esses conflitos conceptuais, observados de um ponto de vista objetivo e evolutivo. Independentemente dessa circunstância e de sua importância intrínseca, essas questões estão muito distantes da abordagem metodológica de uma discussão analítica sobre a moral objetiva, a qual é, de fato, o objetivo e o escopo deste trabalho. Devemos revisitar brevemente essas importantes teorias tradicionais, porque esta pesquisa abriga um estudo comparativo, e suas suposições pelo menos diferem profundamente de todas as teorias tradicionais. Portanto, torna-se necessário oferecer ao leitor, neste texto, elementos diretos e específicos de comparação para críticas válidas, dispensando pesquisas interruptivas. No entanto, mesmo revisitando as teorias tradicionais, para esse objetivo de exposição comparativa e crítica, elas serão mantidas ao lado de nossas principais preocupações, como " aliena materia ". Independentemente da validade de qualquer um ou de todos os elementos dessa discussão e de seu significado como universo filosófico deste trabalho, o objetivo do nosso estudo é demonstrar e justificar a existência e o significado de arquétipos morais pré-históricos surgidos diretamente dos princípios fundamentais, necessidades sociais e esforços para a sobrevivência. Esses arquétipos são a definição do fundamento essencial da ética, sua agregação ao inconsciente coletivo e organização lógica correspondente e transmissão aos estágios evolutivos do genoma humano e às diferentes relações espaço-tempo, independentemente de qualquer experiência contemporânea dos indivíduos. O sistema definido por esses arquétipos compõe um modelo social humano evolutivo. Esta é uma posição metaética? Sim, ela é. Além disso, como em qualquer raciocínio metaético, devemos procurar cuidadosamente as melhores e coerentes rotas, como a Filosofia Analítica lhes oferece. Desta dorma, este trabalho deve demonstrar razoavelmente que a moral não é um produto cultural dos homens civilizados ou das sociedades modernas e que, apesar de estar sujeito a várias agregações e subtrações culturais relativas, seus fundamentos essenciais são arquetípicos e nunca mudaram estruturalmente. Esse raciocínio induz que a moralidade é um atributo primal do "homo sapiens"; não é uma propriedade e nem um acidente: integra a essência humana e pertence ao reino da identidade ontológica humana. O fenômeno humano é um processo contínuo, desempenhando seu papel entre determinação aleatória e livre-arbítrio, e precisamos questionar como a moralidade começou e como chegou a nós no presente. (shrink)
Adequate knowledge about what Buddhism is is essential to the education and culture of any person who does not want to be simply another alienated member of a herd that walks blindly amid a technological revolution. It is possible to understand early Buddhism through modern language and knowledge and establish its relations with contemporary thought and its references. With this, it becomes possible to deepen and broaden our perception about these millennial principles' compatibility with our modern ways of living and (...) knowing. The study required for this is quite laborious. Buddhism is a subject underlying a gigantic literary and cultural mountain. The closer we get to its original concept, the deeper and more voluminous the excavation we have to do. (shrink)
Cosmovision is a term that should mean a set of foundations from which emerges a systemic understanding of the Universe, its components as life, the world we live in, nature, the human phenomenon, and their relationships. It is, therefore, a field of analytical philosophy fed by the sciences, whose objective is this aggregated and epistemologically sustainable knowledge about everything that we are and contain, that surrounds us, and that relates to us in any way. It is something as old as (...) human thought and, in addition to using elements of scientific cosmology, it encompasses everything in philosophy and science that refers to the universe and life. A cosmovision is not a set of ideas, hypotheses, and assumptions but a system based on observation, analysis, evidence, and demonstration. No cosmovision intends to define, establish, propose but only understand, analyze and interpret. Each of us builds and transports his cosmovision throughout life, without establishing forms, as a background for our thinking and behavior. Linguistically, the term “cosmovision” would derive from the German, equivalent to the concept of “ Weltanschauung,” as used by several philosophers. However, this linguistic relationship is not applicable because it contradicts what we propose as a cosmovision. This German word refers to a pre-logical or proto- experimental vision of reality, with an intuitive context and far from critical knowledge still non-existent at the time of its formulation. Undoubtedly, cosmovisions, in the sense in which we understand them, house and use these proto-experimental or pre-logical elements that include history, the collective unconscious, and all the archetypes we carry. However, in the concept that we apply here, the cosmovision goes far beyond this content, firstly by constantly submitting it to present critical thinking, and finally by making the analytic experience ( and not the thought itself or intuition) its actual universe. António Lopes expose the breadth of this content: -/- "Cosmovisions are not the product of thought. They do not spring from the simple desire to know. The apprehension of reality is an important moment in its configuration, but, nevertheless, it is only one. It comes from the vital conduct, from the experience of life's evaluation, from the structure of our psychic totality. The elevation of life to consciousness in the knowledge of reality, in the valuation, and in the volitional reality is the slow and arduous work that humanity has done in the development of the conceptions of life. (W. Dilthey, 1992 [1911]: 120)”(1) -/- In this work, we seek to outline a cosmovision based on the realities that science offers today. We do not propose, at any time, to do science; or theorize philosophy, but we will always seek to be supported by them or, at least, protected by them from the cognitive distortions that we usually carry. ________________________________________________ (1) Lopes , Antonio – “ Weltanschauung (Cosmovision)” (2009 ) in Carlos Ceia's E-Dictionary of Literary Terms. -/- . (shrink)
Cosmovisão é um termo que deve significar um conjunto de fundamentos dos quais emerge uma compreensão sistêmica do Universo, seus componentes como a vida, o mundo em que vivemos, a natureza, o fenômeno humano e suas relações. Trata-se, portanto, de um campo da filosofia analítica alimentado pelas ciências, cujo objetivo é esse conhecimento agregado e epistemologicamente sustentável sobre tudo o que somos e contemos, que nos cerca e que nos relaciona de alguma forma. É algo tão antigo quanto o pensamento (...) humano e, além de utilizar elementos da cosmologia científica, engloba tudo na filosofia e na ciência que se refere ao universo e à vida. Uma cosmovisão não é um conjunto de ideias, hipóteses e suposições, mas um sistema baseado em observação, análise, evidência e demonstração. Nenhuma cosmovisão pretende definir, estabelecer, propor, mas apenas compreender, analisar e interpretar. Cada um de nós constrói e transporta sua cosmovisão ao longo da vida, sem estabelecer formas, como pano de fundo para nosso pensamento e comportamento. Linguisticamente, o termo “cosmovisão” derivaria do alemão, equivalente ao conceito de “ Weltanschauung”, usado por vários filósofos. No entanto, essa relação linguística não é aplicável porque contraria o que propomos como cosmovisão. Esta palavra alemã refere-se a uma visão pré-lógica ou proto-experimental da realidade, com um contexto intuitivo e longe de um conhecimento crítico ainda inexistente no momento da sua formulação. Sem dúvida, as cosmovisões , no sentido em que as entendemos, abrigam e utilizam esses elementos protoexperimentais ou pré-lógicos que incluem a história, o inconsciente coletivo e todos os arquétipos que carregamos. No entanto, no conceito que aqui aplicamos, a cosmovisão vai muito além desse conteúdo, primeiro por submetê-lo constantemente ao pensamento crítico presente e, finalmente, por tornar a experiência analítica (e não o próprio pensamento ou intuição) seu universo real. António Lopes expõe a amplitude deste conteúdo: -/- “Cosmovisões não são o produto do pensamento. Não nascem do simples desejo de saber. A apreensão da realidade é um momento importante em sua configuração, mas, no entanto, é apenas um. Vem da conduta vital, da experiência da vida, da estrutura de nossa totalidade psíquica. A elevação da vida à consciência no conhecimento da realidade, na valorização da vida e na realidade volitiva é o trabalho lento e árduo que a humanidade tem feito no desenvolvimento das concepções de vida. (W. Dilthey, 1992 [1911]: 120)” Neste trabalho, buscamos traçar uma cosmovisão baseada nas realidades que a ciência oferece hoje. Não nos propomos, em nenhum momento, a fazer ciência ou teorizar a filosofia, mas sempre buscaremos ser apoiados por elas ou, pelo menos, protegidos por elas das distorções cognitivas que costumamos carregar. (shrink)
ABSTRACT The philosophical tradition approaches to morals have their grounds predominantly on metaphysical and theological concepts and theories. Among the traditional ethics concepts, the most prominent is the Divine Command Theory (DCT). As per the DCT, God gives moral foundations to the humankind by its creation and through Revelation. Morality and Divinity are inseparable since the most remote civilization. These concepts submerge in a theological framework and are largely accepted by most followers of the three Abrahamic traditions: Judaism, Christianity, and (...) Islam: the greatest part of the human population. Holding faith and Revelation for its grounds, the Divine Command Theories are not strictly subject to the demonstration. The opponents to the Divine Command conception of morals, grounded in the impossibility of demonstration of its metaphysical and religious assumptions, have tried for many centuries (albeit unsuccessfully) to devalue its importance. They held the argument that it does not show material evidence and logical coherence and, for this reason, cannot be taken into account for scientific nor philosophical purposes. It is just a belief and, as so, should be understood. Besides these extreme oppositions, many other concepts contravene the Divine Command theories, in one or another way, in part or in full. Many philosophers and social scientists, from the classic Greek philosophy up to the present date, for instance, sustain that morality is only a construct, and thus culturally relative and culturally determined. However, this brings many other discussions and imposes the challenge to determine what is the meaning of culture, which elements of culture are morally determinant, and finally, what are the boundaries of such relativity. Moral determinists claim that everything related to human behavior, including morality, is determined, once free will does not exist. More recently, modern thinkers argued that there is a strict science of morality. However, the scientific method alone, despite explaining several facts and evidence, cannot enlighten the entire content and full meaning of ethics. Morals’ understanding requires a broader perception, and an agreement among philosophers, which they have never achieved. All of these questions have many different configurations depending on each philosophical strand, and start complex analysis and endless debates, as long as many of them are reciprocally conflictive. The universe and the atmosphere involving this thesis are the dominions of all these conceptual conflicts, observed from an objective and evolutionary standpoint. Irrespective of this circumstance and its intrinsic importance, however, these questions are far distant from the methodological approach of an analytical discussion on objective morals, what is, indeed, the aim and scope of this work. We should briefly revisit these prominent traditional theories because this thesis shelters a comparative study, and its assumptions at least differ profoundly from all traditional theories. Therefore, it becomes necessary offering direct and specific elements of comparison to the reader, for the right criticism, dispensing interruptive researches. However, even revisiting the traditional theories, for this comparative and critical exposure purpose, they will be kept by the side of our main concerns, as “aliena materia.” Irrespective of the validity of any or all of the elements of this discussion, and their meaning as the philosophical universe of this thesis, the purpose of this work is demonstrating and justifying the existence and meaning of prehistoric moral archetypes arisen directly from the very first social needs and efforts for survival. These archetypes are the definition of the essential foundation of ethics, its aggregation to the collective unconscious and corresponding logic organization and transmission to evolutionary stages of the human genome and different relations space-time, irrespective of any contemporary experience of the individuals. The system defined by these archetypes composes an evolutionary human social model. Is this a metaethical position? Yes, it is. Moreover, as in any metaethical reasoning, we should look carefully for the best and coherent routes, as the Analytical Philosophy offers them. Thus, this work should reasonably demonstrate that morals are not a cultural product of the civilized men or modern societies and that despite being subject to several cultural relative aggregations and subtractions, its essential foundations are archetypal and have never structurally changed. This reasoning induces that morality is an original attribute of the “homo sapiens”; it is not a property and nor an accident: it integrates the human essence and belongs to the realm of the ontological human identity. The human phenomena is a continuing process, playing its role between random determination and free will, and we need to question how morality began and how did it come to us in the present. (shrink)
This paper discusses three relevant logics that obey Component Homogeneity - a principle that Goddard and Routley introduce in their project of a logic of significance. The paper establishes two main results. First, it establishes a general characterization result for two families of logic that obey Component Homogeneity - that is, we provide a set of necessary and sufficient conditions for their consequence relations. From this, we derive characterization results for S*fde, dS*fde, crossS*fde. Second, the paper establishes complete sequent calculi (...) for S*fde, dS*fde, crossS*fde. Among the other accomplishments of the paper, we generalize the semantics from Bochvar, Hallden, Deutsch and Daniels, we provide a general recipe to define containment logics, we explore the single-premise/single-conclusion fragment of S*fde, dS*fde, crossS*fdeand the connections between crossS*fde and the logic Eq of equality by Epstein. Also, we present S*fde as a relevant logic of meaninglessness that follows the main philosophical tenets of Goddard and Routley, and we briefly examine three further systems that are closely related to our main logics. Finally, we discuss Routley's criticism to containment logic in light of our results, and overview some open issues. (shrink)
Buda não ergueu uma religião; fez filosofia e ciência. Foi o precursor do realismo científico, da psicanálise, da filosofia analítica, do existencialismo, do feminismo, da epistemologia, da teoria e crítica do conhecimento, da psicologia social, da psicologia positiva, do preservacionismo ecológico e de conceitos relativos à matéria e à energia que só muito recentemente a física quântica pôde comprovar. Saber adequadamente o que é Budismo é essencial para a formação e cultura de qualquer pessoa que não queira ser simplesmente mais (...) um alienado numa manada que caminha às cegas em meio a uma revolução tecnológica. É possível compreender o budismo de raiz através da linguagem e do conhecimento modernos, e estabelecer suas relações com o pensamento contemporâneo e suas referências. Com isso se torna possível aprofundar e ampliar nossa percepção a respeito da compatibilidade desses princípios milenares com nossas formas modernas de vida e conhecimento. O estudo necessário para isso é bastante trabalhoso. Budismo é um tema subjacente a uma gigantesca montanha literária e cultural. Quanto mais próximos estivermos do seu conceito original, mais profunda e volumosa será a escavação que temos que fazer. (shrink)
Logics based on weak Kleene algebra (WKA) and related structures have been recently proposed as a tool for reasoning about flaws in computer programs. The key element of this proposal is the presence, in WKA and related structures, of a non-classical truth-value that is “contaminating” in the sense that whenever the value is assigned to a formula ϕ, any complex formula in which ϕ appears is assigned that value as well. Under such interpretations, the contaminating states represent occurrences of a (...) flaw. However, since different programs and machines can interact with (or be nested into) one another, we need to account for different kind of errors, and this calls for an evaluation of systems with multiple contaminating values. In this paper, we make steps toward these evaluation systems by considering two logics, HYB1 and HYB2, whose semantic interpretations account for two contaminating values beside classical values 0 and 1. In particular, we provide two main formal contributions. First, we give a characterization of their relations of (multiple-conclusion) logical consequence—that is, necessary and sufficient conditions for a set Δ of formulas to logically follow from a set Γ of formulas in HYB1 or HYB2 . Second, we provide sound and complete sequent calculi for the two logics. (shrink)
In this essay, I propose two arguments from Thomas Aquinas’s reflection on theism and faith to rebut Schellenberg’s claim that divine hiddenness justifies atheism. One of those arguments, however, may be employed so as to re-propose Schellenberg’s conviction, which is crucial to his argument, that there are ‘non-resistant’ or ‘inculpable’ unbelievers. I then advance what I call the suffering unbeliever argument. In short, the unbelievers mentioned by Schellenberg are expected to suffer because of their non-belief, which—as Schellenberg says—prevents them (...) from achieving the greatest possible well-being. If they suffer, however, they cannot consider themselves unbelievers, since one cannot suffer from not having been given a certain good if one believes that the good in question has never existed. If they do not suffer, on the other hand, there is simply nothing for which they can consider themselves inculpable. (shrink)
W dziełach Arystotelesa, lub z medievals, jak również w pismach późniejszych zdroworozsądkowe filozofów, takich jak Thomas Reid czy GE Moore’a, możemy znaleźć rodzinę różnych prób uporania się ze strukturami rozsądku i wspólnego -sense świat, który jest nam dany w normalnym, doświadczenie pre-teoretycznym. Będziemy argumentować, co wynika, że teoria takich struktur stanowi ważny i dotychczas niedoceniany związek między wczesnym psychologii Gestalt z jednej strony, oraz współczesnych osiągnięć w filozofii i sztucznej inteligencji badań na innych.
This essay responds to German theorist Thomas Lemke’s call for a conversation between two distinct lines of reception of Foucault’s concept of biopolitics. The first line is comprised of sweeping historical perspectives on biopolitics, such as those of Giorgio Agamben and Antonio Negri, and the second is comprised of the more temporally focused perspectives of theorists such as Paul Rabinow, Nikolas Rose, and Catherine Waldby, whose biopolitical analyses concentrate on recent biotechnologies such as genetic techniques and the biobanking of (...) human tissues. This essay develops this conversation by bringing the two lines to bear on the neoliberal “bioeconomy” that has developed over the last three decades, and uses the perspective of Italian theorist Roberto Esposito to represent the first line. Esposito’s unique combination of Foucauldian biopolitics and the Maussean gift tradition provides a critical perspective that engages and challenges the neoliberal inclination of many theorists from the second line. (shrink)
The work of Thomas White represents a systematic attempt to combine the best of the new science of the seventeenth century with the best of Aristotelian tradition. This attempt earned him the criticism of Hobbes and the praise of Leibniz, but today, most of his attempts to navigate between traditions remain to be explored in detail. This paper does so for his ontology of accidents. It argues that his criticism of accidents in the category of location as entities over (...) and above substances was likely aimed at Francisco Suárez, and shows how White’s worries about the analysis of location were linked with his broader cosmological views. White rejects real qualities, but holds that the quantity of a substance is somehow distinct from its bearer. This reveals a common ground with some of his scholastic interlocutors, but lays bare a deep disagreement with thinkers like Descartes on the nature of matter. (shrink)
Is it possible for an individual that has gone out of being to come back into being again? The English Aristotelian, Thomas White, argued that it is not. Thomas Hobbes disagreed, and used the case of the Ship of Theseus to argue that individuals that have gone out of being may come back into being again. This paper provides the first systematic account of their arguments. It is doubtful that Hobbes has a consistent case against White. Still his (...) criticism may have prompted White to clarify his views on identity over time in his later work. (shrink)
SOCIOLOGIA DO TRABALHO: O CONCEITO DO TRABALHO DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XVI -/- SOCIOLOGY OF WORK: THE CONCEPT OF WORK OF ANTIQUITY FROM TO THE XVI CENTURY -/- RESUMO -/- Ao longo da história da humanidade, o trabalho figurou-se em distintas posições na sociedade. Na Grécia antiga era um assunto pouco, ou quase nada, discutido entre os cidadãos. Pensadores renomados de tal época, como Platão e Aristóteles, deixaram a discussão do trabalho para um último plano. Após várias transformações sociais entre (...) diferentes eras e povos, o trabalho foi ganhando espaço nos debates entre os povos, como os caldeus, hebreus e romanos. O trabalho conferiu-se no escopo da discussão social. Na Idade Média, com Agostinho, Santo Aquino e outros o labor foi concebido como algo benéfico e divino. O que se via como algo “escravo” ao povo, transformou-se em necessidade e benevolência divina. -/- Palavras-chave: Conceito; Trabalho; História; Definição. -/- ABSTRACT -/- Throughout the history of mankind, work has figured itself in different positions in society. In ancient Greece it was a little matter, or almost nothing, discussed among the citizens. Renowned thinkers of such a time, like Plato and Aristotle, left the discussion of the work for a last plan. After several social transformations between different eras and peoples, work was gaining space in the debates among peoples, such as the Chaldeans, Hebrews and Romans. The work has taken place within the scope of social discussion. In the Middle Ages, with Augustine, Saint Aquinas and others the work was conceived as something beneficial and divine. What was seen as something “slave” to the people, became need and divine benevolence. -/- Keywords: Concept; Work; History; Definition. -/- BASES TEMÁTICAS DESSE TRABALHO -/- ➢ O trabalho é um conceito construído socialmente; -/- ➢ A modernidade trouxe consigo mudanças significativas quanto à valorização do trabalho; -/- ➢ A origem dos mercados de trabalho, juntamente com o surgimento do capitalismo, minimizou o trabalho como um mero emprego assalariado; -/- ➢ O trabalho, no entanto, apresenta múltiplas manifestações nas nossas sociedades. -/- 1. A VISÃO GREGA DE TRABALHO -/- Comecemos pelos gregos, uma civilização excitante que, durante muitos séculos antes de Cristo, já começava a elaborar riquíssimas reflexões sobre vários aspectos da vida humana. No entanto, surpreende aqueles de nós que já ler os primeiros filósofos gregos, como entre tantas análises rigorosas e “diálogos”, um elemento tão central na vida social dos povos, como o trabalho havia tido escassa repercussão. A explicação só faz sentido, justamente, ao analisar a valorização que esses grandes pensadores tinham acerca do nosso objeto de estudo que é o trabalho. Embora, como supracitado, os gregos não tivessem uma visão unânime sobre o trabalho, não é menos certo assinalar que para esta civilização o trabalho foi considerado um fato altamente desvalorizado. O trabalho, para eles, dado a sua vinculação com a dimensão de constrangimento e necessidades, limitava a liberdade dos indivíduos, condição indispensável para integrar o mundo da “pólis” na qualidade de cidadão. O homem livre realizava atividades absolutamente desinteressadas: a atividade intelectual (que não era considerada trabalho) fazia parte do ócio e da contemplação. O trabalho, reservado apenas aos escravos, como bem sinala Hopenhayn (1955), significava uma mera função produtiva. Portanto, o escravo passou a ser unicamente uma força de trabalho. Como tal, ele não tem personalidade e pertence ao seu mestre, como uma coisa entre muitas. Como objeto de propriedade, escapa ao pensamento antropológico que domina a filosofia sofista e socrática, porque para o cidadão grego falar de escravo não implica um sujeito pensante, senão uma coisa ou, no máximo, a força. Também escapa ao pensamento platônico, porque, como uma coisa, parece totalmente desvalorizado na construção idealista-dualista da realidade (HOPENHAYN, 1988. p. 23 – Tradução própria). -/- Três termos fundamentais que devemos recordar da tradição grega: -/- 1 – Ponos: penalidade, fadiga; -/- 2 – Banausia: trabalho mecânico, e -/- 3 – Ergon: realização. -/- Vejamos como essa noção de trabalho é construída como algo servil (ponos), ao qual uma visão positiva de lazer e contemplação foram contrastadas como uma atividade puramente humana e libertadora. As raízes do supracitado são encontradas no valor eticamente supremo da autarquia socrática. Segundo essa noção alcunhada por Sócrates (469-399 a.C.), todo aquele que trabalha está submetido tanto à matéria como aos homens para quem trabalha. Nessa medida, sua vida carece de autonomia e, portanto, de valor moral. Naturalmente, não só os escravos, mas também qualquer trabalhador dedicado a todos os tipos de tarefas manuais, foram desprezados por um pensamento helênico indubitavelmente aristocrático. Para Platão (427-347 a.C.), de origem aristocrática, descendente do último rei de Atenas e discípulo de Sócrates, a autarquia continua a ser perpetrada como um valor ético supremo e, em consonância com os interesses da aristocracia fundiária, afirmava que somente a agricultura evocava autêntica autonomia. Dessa forma, o pensamento platônico restringiu a participação política a escravos, comerciantes e artesãos. Todos eles têm em comum a dependência das condições materiais em que produzem e trocam mercadorias. O plano político estará intimamente relacionado ao econômico-trabalhista: somente quem é capaz de governar a si mesmo (e como sabemos, acontece com aqueles que não trabalham ou possuem terras), pode governar os outros. Somente a liberação total da prática mundana do trabalho abre as possibilidades de dedicar-se, como fez Platão, à contemplação (σχολή), à filosofia e às ciências, e por meio disso saber distinguir o bem do mal, o justo do injusto, o verdadeiro do falso. Quem poderia dedicar-se a tais “tarefas nobres”? Evidentemente, aqueles que não precisam fazer parte da população trabalhadora, isto é, a aristocracia. Esse sistema de governo aristocrático foi defendido, obviamente, por Platão. Em sua “A República” sinala que o governo perfeito é o aristocrático, e que a este se sucedem a timocracia (governo dos guerreiros), a oligarquia (dos ricos) e a democracia (“governo daqueles que amam o prazer, a mudança e a liberdade), que perece por seus excessos nas mãos de alguns homem audaz que se coloca à frente do povo para defender a democracia e “do tronco desses protetores do povo nasce o tirano”, dando origem à tirania.(2) Em seu diálogo “Político” podemos ler: Aqueles que possuem a si mesmos através da compra, e aqueles que podem ser chamados sem nenhuma discussão de escravos, não participam da arte real [...] E todos aqueles que são livres, se dedicam espontaneamente a atividades servis como as supracitadas, transportando e trocando produtos da agricultura e de outras artes; que nos mercados, indo de cidade em cidade por mar e terra, trocando dinheiro por outras coisas ou por dinheiro, o que chamamos de banqueiros, comerciantes, marinheiros e revendedores, poderão, por acaso, reivindicar para eles algo da ciência política? [...], mas também aqueles que estão dispostos a prestar serviços a todos por salários ou por subsídios, nunca os encontramos participantes na arte de governar [...] Como os chamaremos? Como você acabou de dizer agora: servidores, mas não governantes dos estados (PLATÃO, 1983. pp. 237-8 – adaptado). Esse estado ideal que Platão projetou em seus ensinamentos estava longe, a propósito, da democracia ateniense defendida por Péricles. De certa forma, Platão só confiava em uma elite no poder constituída por uns poucos (oligarquia) que não deveriam se render às tarefas servis da produção e circulação das riquezas. Para ele, as crianças aristocráticas deveriam ser selecionadas desde a infância, recebendo uma educação suficiente tanto em filosofia quanto nas “artes da guerra”. Aos trinta anos, eles já seriam capazes de passar por um exame donde seriam selecionados os “filósofos-reis” encarregados do governo. De fato, no entanto, suas concepções de governo nunca poderiam ser executadas com pureza; ou pela chamada “contrarrevolução aristocrática”, ou pela invasão estrangeira subsequente. Essa visão do trabalho que estamos a analisar, como bem sinala Henri Arvon (1914- 1992), conduz a uma sociedade basicamente conservadora e estancada no produtivo. (3) A ideia de liberdade, ócio e contemplação como valores superiores, propõe um desprezo pelo trabalho que, como vimos, é uma atividade puramente transformadora. Há aqueles que, mediante tal contestação, arriscam fundamentar que grande parte do subdesenvolvimento tecnológico na Grécia derive justamente a essa cultura tão peculiar em relação ao trabalho. Caso contrário, se houvesse escravos, por que avançar em conhecimentos que facilitaram o trabalho? Não nos surpreende, nesse sentido, que uma civilização capaz de criar conhecimentos espetaculares em áreas particularmente complexas como a geometria (Euclides), por outro lado, não soubesse (ou não gostaria) de avançar em conhecimentos técnicos aplicáveis ao campo econômico-trabalhista. Já vimos como a cidadania era o escopo da de alguns aristocratas da civilização helênica. Hannah Arendt (1906-1975) sinalava que os gregos distinguiam entre os escravos, os inimigos vencidos (dmôes ou douloi) que estavam encarregados do trabalho doméstico, e os demiourgoi, homens livres para se deslocarem do domínio privado para o público. Somente depois do século V, sinala Arendt, a pólis começou a classificar as ocupações de acordo com os esforços que eles exigiam. Nisso, Aristóteles (384-322 a.C.) teve que desempenhar um papel preponderante que colocou aqueles cujo “corpo está mais deformado” na faixa mais baixa. Ele não admitiria, portanto, aos estrangeiros (os escravos), nem tampouco aos banausoi, antes dos demiourgoi, trabalhadores e artesãos que deviam resignar-se ao mundo dos “oikos”. Estes, não só estavam submetidos à necessidade como eram incapazes de ser livres, mas também incapazes de governar a parte “animal” do seu ser (República, 590). Serão eles, não obstante, aqueles que permitem o florescimento da chamada democracia helênica, pois, quem senão os trabalhadores (escravos ou artesãos) poderia manter com seu esforço o ócio e a contemplação dos “homens livres”, cidadãos do mundo? Como foi supracitado, será Aristóteles quem delimitará ainda mais os direitos de cidadania. Sua cidade ideal, como em Platão, diferenciaria os governantes dos governados. O primeiro, constituído pela classe militar, estadistas, magistrados e sacerdócio. O segundo, pelos agricultores, artesãos e os camponeses. Com os comerciantes há uma certa ambivalência: embora ele considerava uma ocupação antinatural, estava disposto a admiti-los até certo ponto em sua cidade ideal, cuja base seguiria sendo a escravidão. Em sua Política, ele explana: A cidade mais perfeita não fará do trabalhador manual (artesão) um cidadão. Caso o admitir como tal, a definição de virtude cívica [...] não alcança todos os cidadãos, nem apenas os homens livres, mas só os que estão isentos de trabalhos indispensáveis à sobrevivência. Destes, os que estão a serviço de um só indivíduo, são escravos; os que servem a comunidade, são trabalhadores manuais (artesãos) ou trabalhadores não qualificados (ARISTÓTELES, 1998. p. 203). Tampouco compreenderá os agricultores como reivindicava Platão: “Tampouco deverão ser agricultores os futuros cidadãos, pois para a formação de sua virtude e para a atividade política, o ócio é necessário”. Essa prolifera discussão ocorreu em uma civilização onde começaram a surgir as primeiras mudanças produtivas derivadas do crescimento econômico feito do descobrimento do ferro, e sua posterior divisão do trabalho, onde florescem os grupos de comerciantes e a aristocracia proprietária de terras começa a dominar. Os pensadores da época, mais aliados a estes últimos, contrariavam os princípios da acumulação comercial. Em sua Política, Aristóteles aconselha os cidadãos a absterem-se de qualquer profissão mecânica e de toda especulação mercantil. O primeiro, porque limita intelectualmente, e o segundo, porque degrada o ético. Somente o ócio (scholé), para esses pensadores, permite a virtuosidade e a capacidade de julgar. A Koinonia politiké (comunidade dos homens livres) era típica daqueles que não precisavam de trabalho, relegando a população trabalhadora ao mero âmbito da reprodução material (chrematistiké), o que só era possível em um contexto de alta divisão do trabalho onde um grupo minoritário (oligarquia) vivia à custa do trabalho da maioria (muitos deles escravos). O termo “ócio” provém de “scholé”, entendido entre os gregos como tempo para si mesmo, para a contemplação (sjolé) e, portanto, para a formação (scholé = escola). Desse ponto de vista, o ócio para os gregos é um fim em si mesmo. Entre os romanos, no entanto, adquire outra conotação. Em latim octium, designa o campo contraposto ao neo-octium (negócio), ou seja, é o tempo de descanso que permite dedicar-se ao negócio. Tal visão sobre o trabalho e o ócio, respectivamente, não foi, no entanto, como supracitado no início, unanimemente desenvolvida em toda a história da civilização helênica. Os textos de Homero(4) (séculos IX e VIII a.C.) são mais reservados a respeito, mas acima de tudo, na Grécia antiga encontramos autores como Hesíodo (século VIII), que postulavam outras teses. Para o autor de “Os trabalhos e os dias”, o trabalho se constituía em um justo e necessário castigo que Zeus impôs aos homens pelo pecado de Prometeu. Note a similitude com a crença bíblica que veremos adiante. Hesíodo explana: Lembre-se sempre do meu conselho e trabalhe [...] os deuses e os homens se indignam com quem ocioso vive, semelhante em caráter aos zangões sem ferrão, que consomem o esforço das abelhas [...] O trabalho não é nenhuma desonra; desonra é não trabalhar (HESÍODO, 2012. p. 93 e 95). Também entre alguns sofistas (aqueles que vendiam sua sabedoria a quem gostaria de comprá-la), como Protágoras (século V a.C.), “o primeiro e o maior deles”(5), coloca o estudo e a arte (técnica) na mesma faixa, e Antifonte (século V a.C.) disse: “[...] e as honras e preços, e toda a espécie de encorajamento que Deus incumbiu aos homens, devem necessariamente resultar de fadiga e suor”. Como conviveu a cultura grega com essas noções tão diferentes? Tenho a ideia, juntamente com Hopenhayn, que o desprezo dos pensadores gregos pelo manual foi causado pela violência dos guerreiros e dos aristocratas de plantão, que impuseram aos seja derrotados o jugo. Do trabalho árduo e difícil. Porque a aristocracia queria trabalhar nessas condições? A própria divisão do trabalho em si possibilitou o crescimento da civilização helênica, estava gerando diferentes classes com visões distintas sobre o trabalho. Por outro lado, surgiram os camponeses pobres, os derrotados e aqueles que tinham que viver do trabalho artesanal. Essas pessoas, na maioria das vezes isoladas do mundo da “polis”, gerariam suas próprias leituras dos acontecimentos, seus próprios espaços para o desenvolvimento cultural, inclusive sua própria religião, distante daquela imposta pela visão aristocrática, olímpica, contemplativa e estética dos “homens livres”. -/- 2. A VISÃO DOS CALDEUS ACERCA DO TRABALHO -/- A leitura de outros povos e civilizações sobre este tema tem sido diferente. Entre os caldeus, por exemplo, a visão pejorativa analisada entre os gregos não é registrada. Nas escrituras sagradas da religião de Zaratustra (o Avesta), lemos: “É um santo aquele que constrói uma casa, na qual mantém o fogo, o gado, sua mulher, seus filhos, os bons párias. Aquele que faz a terra produzir trigo, que cultiva os frutos do campo, cultiva corretamente a pureza” (HOPENHAYN, 1988. p. 35). Para os caldeus, como se pode observar, o trabalho implica, de uma posição diametralmente oposta à helênica, uma contribuição na ordem econômica, mas também na espiritual. Trabalhar não é só “cultivar o trigo” (dimensão das necessidades fisiológicas), mas também “cultivar a pureza”, dimensão esta, relacionada com a satisfação das necessidades espirituais. Por que apreciamos uma diferença tão acentuada entre essas culturas? Provavelmente, os diferentes graus de desenvolvimento dos povos levaram a isso. Enquanto entre os gregos primava uma divisão do trabalho, onde alguns tinham o status de “homens livres” dedicados à contemplação e ao ócio, outros não tinham escolha a não ser trabalhar, em uma situação de domínio em relação às naturezas daqueles que o empregaram. Esse não foi o caso dos caldeus, que possuía um escasso dividido trabalho, em que a todos se correspondia uma atividade laboriosa. -/- 3. A VISÃO DOS HEBREUS SOBRE O TRABALHO -/- No meio do caminho entre os caldeus e os gregos, encontramos a avaliação do trabalho feita pelos hebreus, dessa vez, tingindo de ambivalências. Tal como ponderava Hesíodo entre os gregos, para os hebreus, o trabalho se constituía de um mal necessário; em um meio para expiar os pecados; dessa vez não de Prometeu, mas de Adão e Eva. Vamos ver, no entanto, alguns aspectos mais complexos. A primeira coisa a se notar da perspectiva hebraica (compartilhada com o cristianismo) é o que se resulta da leitura do livro de Gênesis, aquela história poética e cheia de imagens para elucidar facilmente a origem da criação. Lá se estabelece a ideia de um deus criador-trabalhador: “No princípio Deus criou o céu e a terra [...] No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou [...] de toda a obra que realizara na criação”.(7) Esse Deus como primeira causa (São Tomás de Aquino (1225-1274)) denota laboriosidade seu correspondente descanso, um binômio que será fundamental para compreender a evolução do direito do trabalho e do direito ao descanso semanal contemporâneo. Digamos, em segundo lugar, que o Senhor Deus providenciou o trabalho no Éden: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”.(8) Portanto, não é certa a ideia de que o trabalho é o resultado do pecado: ao contrário, é um trabalho árduo aquele que deriva do pecado segundo a tradição hebraico-cristã. Antes, na ausência do pecado, havia uma espécie de bom trabalho. Foi o pecado original, que levou Deus a condenar Adão e Eva, e por isso a toda a humanidade, a “ganhar o pão com o suor da sua testa”. “Por isso o Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado”. (9) O Talmude diz: “Se o homem não encontra seu alimento como animais e pássaros, precisa ganhá-los, isso se deve ao pecado”. Essa sentença, de caráter histórico, promove a ideia de trabalho como meio para expiar o pecado original, mas também como meio para produzir; isto é, legitimando a mudança inerente a todo trabalho e, portanto, legitimando também aquela vontade transformadora que caracterizou desde sempre os povos hebreus.(10) Agora, ao contrário dos caldeus, para os hebreus da antiguidade, o trabalho nunca teve um fim ético em si mesmo, mas foi constituído apenas como um meio. Essa visão esteve sempre presente, e caracteriza muito claramente a concepção que muitos integrantes de nossas sociedades contemporâneas possuem sobre o trabalho, além da religião de cada um. -/- 4. OS ROMANOS E O TRABALHO -/- Os romanos, por sua vez, deram uma importante contribuição para o desenvolvimento do conceito de trabalho. Se bem que, a grosso modo, não houvesse grandes diferenças com o pensamento dos gregos, com quem eles tinham em comum, além disso, uma maior divisão do trabalho fruto do desenvolvimento econômico e o uso massivo de mão de obra escrava(11); a maior contribuição do ponto de vista de sua originalidade histórica estava presente na tradição jurídica que inauguraria o Império Romano. O maior impacto por meios jurídicos e não filosóficos é explicado pelo fato de que os romanos, ao contrário dos gregos, não conseguiram “inspirar” a produção de grandes pensadores sociais. Com efeito, para os romanos, como o escravo não era considerado uma pessoa, o viam-no desprovido de personalidade jurídica. Isso conduziu a negação da relação de trabalho entre a pessoa encarregada de um trabalho manual (escravo) e seu dono. Tal relação correspondia, acima de tudo, ao direito de propriedade que os juristas romanos haviam garantido quase sem limites para seus cidadãos. O problema, como aponta Hopenhayn, surgiu quando o proprietário não ocupa seu escravo, mas aluga-o para terceiros. Surge assim a figura do arrendamento de serviços, que deriva do arrendamento das coisas. Porém, como na realidade o que se alugava era a força de trabalho, a qualidade jurídica desloca-se para a atividade realizada pelo escravo. Dessa forma, a atividade do trabalhador, primeiro do escravo, posteriormente do homem livre, começa a ser tratada como uma coisa, e se converte em antecedente do arrendamento de serviços do Direito Civil moderno. Ademais, na tradição romana, o trabalho manual estava desprestigiado. Cícero (106-43 a.C.) em De Officiis, estabeleceu com fria claridade “ipsa merces est auctoramentum servitius”(12) (todo trabalho assalariado é trabalho escravo). A vida era difícil para esses trabalhadores: nos territórios sob domínio romano, Augusto (63-14 a.C.) tinha imposto um tributo à todos os homens que exerciam algum tipo de trabalho manual, além do imposto à residência, às valas e outros mais particulares como o imposto para a detenção de porcos. Certamente, aqueles que levaram a pior parte no tempo da Roma Imperial foram os escravos (servi) sob domínio e propriedade de seus donos (domini). Me seus tempos de auge, a demanda de escravos em Roma era de 500.000 ao ano. Se compararmos com os 60.000 escravos negros trazidos a América nos anos de maior tráfico, teremos uma ideia mais ou menos exata da magnitude desse triste fenômeno. -/- 5. O CRISTIANISMO E O TRABALHO -/- As mensagens do cristianismo primitivo, são inseridas logo, nesse tempo histórico, onde Roma se tornava o centro das maiores mobilizações de rebeldia da antiguidade. Isaías, nesse sentido, proclamaria que o Messias viria: “[...] a pregar boas novas aos abatidos, a vendar aos quebrantados de coração, a publicar liberdade aos cativos, e aos presos a abertura do cárcere”.(13) Jesus, efetivamente, incluiu em sua missão, mensagens de libertação aos pobres e oprimidos. Porém, ao contrário do supracitado, como bem sinala Eric Roll (1907-2005), dos antigos profetas hebreus, não o faria saudando as comunidades tribais com seu espírito de grupo; mas animado por uma mensagem mais universal e permanente, proclamando uma mudança mais completa e integral na conduta do homem em sociedade, onde os valores de justiça e amor se colocariam em um primeiro plano. Evidentemente, a mensagem do cristianismo primitivo, e mais concretamente de Cristo, distava muito dos filósofos gregos. Deixemos que Roll explique: Temos visto que as doutrinas econômicas de Platão e, em certa medida, de Aristóteles, nasciam da aversão aristocrática ao desenvolvimento do comercialismo e da democracia. Seus ataques contra os males que acarreta o afã de acumular as riquezas são reacionárias: olham para trás, e o de Cristo olha para frente, pois exige uma mudança total, mas relações humanas. Aqueles sonhavam com um estado ideal destinado a proporcionar a “boa vida” para os cidadãos livres unicamente e cujas fronteiras eram as da cidade-estado daquele tempo; Cristo pretendeu falar por todos e para todos os homens. Platão e Aristóteles haviam justificado a escravidão; os ensinamentos de Cristo sobre a fraternidade entre todos os homens e o amor universal eram incompatíveis com a ideia da escravidão, apesar das opiniões expostas depois por São Tomás de Aquino. Os filósofos gregos, interessados somente pelos cidadãos, sustentaram opiniões muito rígidas sobre a diferente dignidade das classes de trabalho, e consideravam as ocupações servis, com exceção da agricultura, como próprias apenas para os escravos. Cristo, ao dirigir-se aos trabalhadores de seu tempo, proclamou pela primeira vez a dignidade de todas as classes de trabalho, assim materiais como espirituais (1942. p. 42 – Tradução própria). Não pode escapar desse estudo, o fato de que o próprio Jesus Cristo herdou o ofício de carpinteiro de seu “Pai” José; e que escolheu seus discípulos entre os pescadores e artesãos da região. Essa visão primitiva do cristianismo, no entanto, deve ser analisada no quadro das escrituras sagradas do Antigo Testamento que compartilha com a cultura (e obviamente a religião) hebraica. Nesse sentido, o trabalho não deixa de ser um meio, descartando-se como um fim em si mesmo. Mas, agora atribuindo-lhe um novo valor, sempre em tento um meio para um fim virtuoso: o trabalho será fundamental para permitir a satisfação das necessidades de cada um, mas também seus frutos, deverão ser inseridos em uma dimensão comunitária, onde o “próximo” necessitado esperará a contribuição fraterna e solidária do cristão. O trabalho, nessa perspectiva, não só possibilita o “tomar”, mas também o “dar”. Em relação a dupla perspectiva, é onde podemos entender a crítica do cristianismo a acumulação da riqueza. Como aponta o evangelista Mateus, “acumular o tesouro no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não perfuram nem roubam. Onde está o seu tesouro está seu coração”. (14) Com São Paulo se incorpora um novo componente valioso: a obrigatoriedade moral do trabalho. Em sua carta aos Tessalonicenses dita claramente “ao que não trabalha que não coma”. Diz São Paulo: Vocês sabem em que forma têm que nos imitar: nós trabalhamos enquanto estivemos entre vocês, não pedimos a ninguém um pão que não teríamos ganhado, senão que, de noite e dia, trabalhamos duramente até nos cansarmos, para não ser carga para nenhum de vocês [...] Além disso, quando estávamos com vocês lhes demos está regra: se alguém não quiser trabalhar, não coma. Mas agora ouvimos que há entre vocês alguns que vivem sem nenhuma disciplina e não fazem nada, muito ocupados em meter-se em tudo. A estes lhes mandamos e lhes rogamos, por Cristo Jesus, nosso Senhor, que trabalhem tranquilos para ganhar a vida (II Tes. 3:10). Essa frase, entendida somente no contexto de uma sociedade donde não existia um conceito de desemprego tal como entendemos atualmente, é curiosamente reproduzida pelo modelo soviético em pleno século XX. Com efeito, a Constituição da União Soviética estabeleceu em seu Artigo 12: “O trabalho é, na Rússia, uma questão de dever e de honra para todo cidadão fisicamente capaz. Essa obrigação é baseada no princípio: “quem não trabalha não come”. (15)(16) Para São Paulo, o trabalho deve ser o meio para ganhar a vida. Ele quis ser exemplo e enquanto pregava continuava trabalhando, presumivelmente como tecelão de tendas. A obrigatoriedade moral se aplica na medida em que a pessoa está em condições de o fazer. Para os incapacitados a fazê-lo (idosos, crianças, deficientes, doentes, acidentados etc.) existia a obrigatoriedade do socorro segundo a máxima do amor (ágape) ao próximo. Essas sentenças morais têm hoje em dia uma importante quota de explicação para com as contemporâneas políticas sociais. -/- 6. O TRABALHO NA IDADE MÉDIA -/- A Idade Média, período que ocupa desde o crepúsculo do Império Romano do Ocidente no século V pelos bárbaros, até o século XV, com a queda de Constantinopla, evidentemente mostra um conjunto importante de escolas e pensadores que marcaram pautas importantes para discernir o valor do trabalho nas diferentes culturas. A organização econômica mais visível nestes mil anos, onde operou o trabalho, consistia em extensões grandes de latifúndios errados do Império Romano (o sistema econômico denominado feudalismo), onde (mediante a falta de escravos) recorreu-se à mão de obra camponesa para o trabalho. O sistema, implicava o arrendamento de parte dessas terras a ex-escravos ou homens livres, em troca de uma renda em dinheiro e espécies, além do cultivo das próprias terras senhoriais. Por certo, a figura do servo não distava muito da do escravo se tivermos em conta as condições de funcionamento do contrato de trabalho. O comércio também teve seu lugar no sistema feudal, o mesmo adquiriu grande importância em certas regiões ou lugares, à exemplo de Constantinopla. A atividade econômica seguia seu rumo na história, e depois dos séculos IX e X, o crescimento das forças produtivas deu lugar a uma maior acumulação por parte de componentes e artesãos e, por certo, a uma maior apropriação de excedentes por parte do Senhor feudal. Essa situação foi ativante para a construção dos primeiros Burgos ou cidades, onde o comércio e a indústria artesanal teriam um marco mais adequado para o seu desenvolvimento. Essa é a etapa do nascimento dos primeiros grêmios corporativos (17). Então para o século XII, a estrutura feudal começa a desmoronar porque a produção de determinados bens começa a ser mais eficiente em cidades e não no feudo. O dinheiro, então, passou a ganhar maior peso que a terra, o que obriga os senhores feudais a aumentar seus rendimentos. Isso leva a um empobrecimento lógico dos camponeses, o que não dura muito, porque na primeira metade do século XIV, a maior parte dos servos alcança sua liberdade. Por sua vez, nessa apertada síntese da história econômica da Idade Média, devemos assinalar que pelo século XIV, e depois das Cruzadas e o posterior desenvolvimento do comércio internacional entre os impérios arábico e bizantino, inaugura-se uma etapa pré-capitalista que durará três séculos. É lá que se levanta mais energética a voz de alguns homens da Igreja contra a tendência à exaltação da riqueza já começava a avivar-se na Europa. São Tomás de Aquino, nesse sentido, não considerará ao comércio pré-capitalista bom ou natural. No entanto, ele o julgava inevitável uma vez que era o meio ao qual o comerciante tinha que manter a sua família. Dessa forma, os lucros do comércio não era outra coisa senão o fruto do trabalho. Se tratava, então, de colocar o acento na justiça da mudança efetuada, para o qual Aquino recorre a Aristóteles, cuja análise sobre o valor de mudança é figurado no seu estudo da Justiça. Muitos padres da Igreja, desde então, pretenderam formular um conceito de “preço justo”. Nesse sentido, o Cristianismo apresenta uma evolução do seu pensamento sobre o comércio que partia de uma visão absolutamente contrária ao começo da Idade Média (Santo Agostinho (354-430), São Jerônimo (347-420) etc.), a outra mais transacionável, que acompanhou, sobretudo, o pensamento de Aquino. Algo similar ocorreu com outro dos “preceitos” da Igreja em matéria econômica: a usura. Esta era considerada pela igreja como a melhor forma de obter lucro. O mesmo evangelista Lucas (século I d.C.) foi categórico ao rejeitar essa linha de operações. A lei hebraica também fez isso, e podemos encontrar no livro do Êxodo (22,25) tal proibição a respeito. Mais atrás no tempo, há antecedentes de condenação à usura entre os hindus (Rigveda, cerca de 1500 a.C.) e budistas (século VI d.C.), além do Islã mais próximo do nosso tempo (século VI d.C.). Ao princípio da Idade Média, como testemunha Roll, a proibição somente alcançava a Igreja, já que o escasso desenvolvimento mercantil não merecia outra coisa. No final da Idade Média, no entanto, que a situação é outra; e a prática secular foi orientada no sentido de promover o empréstimo de dinheiro cobrando por isso um juro. Alarmada ante esses fatos, a Igreja condena mais uma vez a usura no Terceiro Concílio de Latrão de 1179. No mesmo escreveu e ensinou São Tomé (século I d.C.) e outros discípulos da Igreja. No entanto, as práticas econômicas foram minando a autoridade eclesial e está terminou, através de sucessivas etapas, por aceitar, em certas condições e sob certas circunstâncias, a cobrança de juros sobre a concessão de um empréstimo. Em tal sentido, um dos autores mais representativos só início da Idade Média foi Santo Agostinho. Foi este um dos pilares, em seu tempo, das noções “anticapitalistas” que foram seguidas e complementadas por homens do tamanho de São João (347-407), São Ambrósio (340-397), São Clemente (150-215), São Cipriano (200-258) entre outros. (18) Santo Agostinho valoriza o trabalho recordando em tal sentido a São Paulo, a que cita com muita frequência em seus textos. Segundo o Bispo de Hipona, todo trabalho manual é bom pelas razões dadas pelo cristianismo primitivo. Concilia, além disso, seu dualismo platônico, ao sustentar que enquanto o homem trabalha tem a alma livre, de modo que é perfeitamente compatível pensar em Deus ao mesmo tempo em que se trabalha. Essa particular sintonia entre o trabalho e a oração foi perfeitamente posta a prova pelos monges beneditinos, cujo lema “Ora Et Labora” (orar e trabalhar) é paradigmático. “Trabalha e não desesperes” dizia seu fundador, São Bento de Núrsia (480-547), de seus monastérios distribuídos em um primeiro momento a Subiaco, no início do século VI. Também corresponde a São Bento uma sentença que perdura até o dia de hoje no imaginário moral sobre o trabalho: “Otiositas inimica est animae” (a ociosidade é inimiga da alma), tal qual diz uma expressão popular castelhana: “el ocio es la madre de todos los vicios” (o ócio é a mãe de todos os vícios). Tomás de Aquino, alguns séculos depois, continua a reflexão sobre o trabalho e estabelece uma hierarquia de profissões, onde localiza o trabalho agrícola e artesanal acima do comercial. Uma quota de originalidade na história do pensamento sobre o trabalho consistiu em considerá-lo como uma obrigação somente se necessário para subsistir; ou dito de outra maneira: quem não tem necessidade de trabalhar não tem que fazê-lo. Isso sim, à falta de trabalho, devia dedicar-se à oração e contemplação divina, atividades por certo mais elevadas para o autor da Suma Teológica. Logo, considerará que Deus é a causa primária, a que tudo deve a sua existência; por derivação, o homem é causa segunda, procurando atreves do trabalho “criar” em suas dimensões humanas. “Entre todas as formas com que a criatura humana tenta realizar a semelhança divina, não há outra de relevo mais destacado que a de trabalhar, isto é, ser em o mundo causa novos efeitos”, disse o Santo. (19) Aquino, além disso, utilizando categorias platônicas, hierarquiza o trabalho, considerando o intelectual acima do manual. Chama “artes servis” a estes últimos, enquanto que o trabalho intelectual corresponde ao conjunto das “artes liberais”, dignas de maior remuneração ao fazer uso da inteligência. Esta distinção própria da Escolástica, dá lugar à divisão clássica entre as 7 artes liberais: o Trívium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (astronomia, geometria, aritmética e música). Outras contribuições de São Aquino têm a ver com sua posição diante do trabalho agrícola ao qual o considera como o melhor meio para assegurar a subsistência de um povo; a maior importância dada à vida contemplativa sobre a ativa, embora considerando a primeira como “laboriosa”; sua posição sobre a escravidão, que não considerava como natural, no entanto, entendê-la “útil”(20); e sua interpretação sobre o contrato de trabalho: neste, o operário não vende a si mesmo, nem seu corpo, nem sua inteligência, nem sequer sua faculdade de trabalho. Isso significa que o Direito Natural proíbe considerar o trabalho como um objeto de mudança. Propõe, em vez disso, considerar o contrato como um arrendamento de serviço. Em termos gerais, a valorização que sobre o trabalho se realiza na Idade Média, rebaixando ao trabalho manual em relação a outras tarefas, fica explícita na divisão tripartida que recorre, entre outros, Adalberão Bispo de Laon (947-1030): “Triplex Dei ergo domus est quae Creditor uma nunca oran, alii pugnat, Aliique laborant” (ternária é a casa do Senhor e não uma: aqui sobre a terra uns oram, outros lutam e outros trabalham). Não gostaria de deixar passar por alto, finalmente, entre os movimentos originados na Idade Média, a contribuição que sobre o tema do trabalho teve a ordem franciscana. Essa, contra o que muitos podem crer, é uma ordem não mendicante no sentido estrito, mas sim trabalhadora e de pobreza. São Francisco de Assis (1181/82-1226), no final do século XII, marcaria como ninguém dentro do cristianismo, uma vida ascética baseada no trabalho e na pobreza. Inclui, além disso, um elemento pela primeira vez descoberto na cultura europeia: o sentido da alegria que acompanha o trabalho. “Essa condição de 'suor de sua testa' com 'a alegria de seu coração' outorga ao trabalho uma condição diferenciada”. Avançando então na história da humanidade, entramos na época moderna, caracterizada por cinco grandes eventos: -/- 1. A decadência do poder moral da Igreja e o enfraquecimento de seu poder econômico frente ao da crescente burguesia; -/- 2. O renascimento intelectual e artístico; -/- 3. As viagens paras as índias e a descoberta da América; -/- 4. A formação e a constituição dos Estados-nação; -/- 5. As reformas religiosas de Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564). -/- Nesse contexto, os séculos XV e XVI mostraram como o mercantilismo ia avançando apesar dos esforços de alguns pensadores da Igreja que eventualmente perderam o pulso diante do desenrolar dos acontecimentos. Sucessivas encíclicas papais terminaram por legitimar o interesse nos empréstimos e, por meio desta, levou-se a maior acumulação de riquezas por parte dos banqueiros. Esse foi o meio ideal para o desenvolvimento da atividade do mercador, para quem, o trabalho passou a ser considerado um meio para obter sucesso. Ao dinamizar-se a atividade econômica e mercantil, a visão humanista do trabalho começa a perder valor, realçando-se ao mesmo como um simples meio para fins de enriquecimento. Talvez a exceção a essa noção estendida entre os novos atores tenha sido a proporcionada pelo humanismo renascentista. Para Campanella (1568-1639), por exemplo, sua “Cidade solar”, não existe o divórcio entre trabalho manual e intelectual, isso quando o segundo começa a ser supervalorizado por sua ação no plano das invenções e das novas técnicas.(22) Na mesma linha se situa Thomas More (1478-1535), o autor de “Utopia”, outra reação do cristianismo às projeções que estava adquirindo o cada vez mais influente mercantilismo. Embora o trabalho não seja considerado como um mau, pelo contrário, apresenta características humanizadoras, é sugestivo comprovar como em Utopia a jornada do trabalho não supera as seis horas diárias e na Cidade solar não se devia trabalhar mais que quatro horas. Indubitavelmente, essas versões de sociedades ideais terminariam por impactar sobre maneira a constituição das Missões Jesuítas na América do Sul; e as Franciscanas na Baixa Califórnia. É o Renascimento, o lugar propício, além disso, para renovar o conceito da virtuosidade, agora traduzida na figura do empresário ou financista audacioso e empreendedor. Essa linha foi reforçada logo por Calvino, para quem os negócios são um bom serviço a Deus, e a riqueza não é mais que um fruto de uma vida dedicada ao trabalho desde uma perspectiva ética que analisarei com Weber mais tarde, mas que confere ao trabalho a particularidade de ser um caminho para o sucesso. Esse puritanismo impulsionou sobremaneira a versão do “homo economicus” que mais tarde, em pleno auge do capitalismo pós-industrial, ao qual, segundo Daniel Bell (1919-2011), fora substituído pelos valores hedonistas. -/- REFERENCIAL TEÓRICO AGOSTINHO. Cidade de Deus: contra os pagãos. Trad. O. P. Leme. 2ª ed. Bragança Paulista: Editora Universitária, 2008. (Col. Pensamento humano). _____________. O livre-arbítrio. Trad. N. A. Oliveira. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 1995. AQUINO, T. de. Suma Teológica. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2001. ARENDT, H. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. Posfácio de Celso Lafer. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. ARISTÓTELES. Política. Trad. A. C. Amaral e Carlos Gomes. 1ª ed. Lisboa: Vega, 1998. ARVON, H. A filosofia do trabalho. Trad. João Carlos Cunha. 1ª ed. Lisboa: Socicultur, 1961. AUGUSTI, J. C. W. Corpus Librorum symbolicorum. 1ª ed. Elberfeldi, 1827. BAVA, A. C. Introdução a sociologia do trabalho. 1ª ed. São Paulo: Ática, 1990. BÍBLIA SAGRADA. Trad. J. F. Almeida. Rio de Janeiro: King Cross, 2008. BOMENY, H. et al. Tempos modernos, tempos de sociologia. 2ª ed. São Paulo: Editora do Brasil, 2013. CAMUS, A. O mito de Sísifo. In: FALABRETTI, E.; OLIVEIRA, J. Filosofia: o livro das perguntas. 1ª ed. Curitiba: IESDE, 2011. ELDERS, L. J. O Pensamento de Santo Tomás de Aquino sobre o Trabalho. Trad. D. N. Pêcego. Aquinat, n° 9, (2009), 2-12. ISBN 1808-5733. FOSSIER, R. O trabalho na Idade Média. Trad. Marcelo Barreiro. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 2019. FRIEDMANN, G.; NAVILLE, P. Tratado de Sociologia do Trabalho. 1ª ed. São Paulo: Cultrix, 1973. HERZOG, J. S. Historia del pensamiento económico-social: de la antigüedad al siglo XVI. 4ª ed. México: FCE, 1939. HOPENHAYN, M. El Trabajo, itinerario de um concepto. 1ª ed. Santiago: PET, 1988. _________________. Repensar el trabajo – Historia, profusión y perspectivas de un concepto. 1ª ed. Buenos Aires: Norma, 2001. LUDWIG, E. Stalin. 1ª ed. Rio de Janeiro: Calvino, 1943. MACHADO, I. J. de R.; AMORIM, H. J. D.; BARROS, C. R. de. Sociologia hoje. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2013. MERCURE, D.; SPURK, J. (Orgs.). O Trabalho na história do pensamento Ocidental. Petrópolis: Vozes, 2005. NOGUERA, J. A. El concepto de trabajo y la teoría social crítica. Barcelona: Papers, 2002. O'CONNOR, D. J. Historia crítica de la filosofía occidental. Tomo I – La filosofía en la antigüidad. 1ª ed. Buenos Aires: Paidós, 1967. OLIVEIRA, P. S. de. Introdução a sociologia. 24ª ed. São Paulo: Ática, 2001. PLATÃO. A República. 2ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2000. (Col. A obra-prima de cada autor). _______. Político. Trad. J. C. de Souza, J. Paleikat e J. C. Costa. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Col. Os Pensadores). ROLL, E. Historia de las doctrinas económicas. 1ª ed. México: FCE, 1942. SIMÓN, Y. R. Work, society and culture. 1ª ed. Nova Iorque: Fordham University Press, 1971. SILVA, A. et al. Sociologia em movimento. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2016. THE ZONDERVAN CORPORATION (Ed.). A História – a bíblia contada como uma só história do começo ao fim. Trad. Fabiano Morais. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. (shrink)
Metaphysics and psychology are two of Brentano’s main areas of interest in philosophy. His first writings, the dissertation On the Several Senses of Being in Aristotle (1862) and the habilitation thesis, The Psychology of Aristotle (1867), bear witness to the duality of his concerns. As such, these works were not only significant contributions to the German Aristotelianism of the second half of the XIXth century, but they also played an important role in the development of Brentano’s later philosophy and in (...) defining his school of thought. At the same time, the dissertation, now celebrating the sesquicentennial of its first publication, was received beyond the immediate sphere of the Brentanian school, for its reading played a significant role in young Heidegger’s thought on being, and thus in his development of a new type of phenomenology, distinct from the Husserlian one. The studies comprising this volume examine the relevance of Brentano’s dissertation, of his metaphysics and psychology for contemporary philosophical research. Generally, the papers emphasize a tendency in Brentanian research, which has become more conspicuous in the last two decades, and can be described as a gradual shift in focus from the specific problems of Brentano’s late philosophy, towards his earlier philosophy, especially his first writings and manuscripts. Taking into account both Brentano’s published works, and the manuscripts of the dissertation and the Psychology, the contributions of this volume manage to emphasise unexplored aspects of Brentano’s philosophy and stand witness to the complexity and the historical dimension of a legacy whose richness still awaits full discovery. -/- Table of Contents -/- Ion Tănăsescu, Foreword Edoardo Fugali, Trendelenburg, Brentano und die Aristoteles-Renaissance in der deutschen Philosophie des 19. Jahrhunderts. Die Frage nach dem Ursprung der Kategorien Dale Jacquette, Brentano on Aristotle’s Categories: First Philosophy and the Manifold Senses of Being Klaus Hedwig, „... eine gewisse kongeniale Denkweise“. Brentanos Rückgriffe auf Thomas von Aquin in seiner Dissertation Susan Krantz Gabriel, Heidegger’s Question and the Fundamental Sense of Being in Brentano Ion Tănăsescu, Franz Brentano’s Dissertation and the Problem of Intentionality Josef Seifert, Über das notwendige Dasein Gottes. Eine kritische Antwort auf Franz Brentanos Kritik des ontologischen Gottesbeweises Paul Janssen, Die Gottesrede bei Brentano Robin Rollinger, Brentano's Psychology from an Empirical Standpoint: Its Background and Conception Guillaume Fréchette, Deux aspects de l’intentionnalité dans la Psychologie de Brentano Denis Seron, The Fechner-Brentano Controversy on the Measurement of Sensation Carlo Ierna, Brentano and Mathematics Roberto Poli, Modes and Boundaries Federico Boccaccini, La vérité efficace. L’épistémologie de Brentano entre Evidenzphilosophie et pragmatisme Thomas Binder, Der Nachlass Franz Brentanos. Eine historische Annäherung an einen schwierigen Fall. (shrink)
There are two main ways in which the notion of mereological fusion is usually defined in the current literature in mereology which have been labelled ‘Leśniewski fusion’ and ‘Goodman fusion’. It is well-known that, with Minimal Mereology as the background theory, every Leśniewski fusion also qualifies as a Goodman fusion. However, the converse does not hold unless stronger mereological principles are assumed. In this paper I will discuss how the gap between the two notions can be filled, focussing in particular (...) on two specific sets of principles that appear to be of particular philosophical interest. The first way to make the two notions equivalent can be used to shed some interesting light on the kind of intuition both notions seem to articulate. The second shows the importance of a little-known mereological principle which I will call ‘Mild Supplementation’. As I will show, the mereology obtained by adding Mild Supplementation to Minimal Mereology occupies an interesting position in the landscape of theories that are stronger than Minimal Mereology but weaker than what Achille Varzi and Roberto Casati have labelled ‘Extensional Mereology’. (shrink)
Grounding contingentism is the doctrine according to which grounds are not guaranteed to necessitate what they ground. In this paper I will argue that the most plausible version of contingentism is incompatible with the idea that the grounding relation is transitive, unless either ‘priority monism’ or ‘contrastivism’ are assumed.
This paper is concerned with certain ontological issues in the foundations of geographic representation. It sets out what these basic issues are, describes the tools needed to deal with them, and draws some implications for a general theory of spatial representation. Our approach has ramifications in the domains of mereology, topology, and the theory of location, and the question of the interaction of these three domains within a unified spatial representation theory is addressed. In the final part we also consider (...) the idea of non-standard geographies, which may be associated with geography under a classical conception in the same sense in which non-standard logics are associated with classical logic. (shrink)
In this paper I will present three arguments (based on the notions of constitution, metaphysical reality, and truth, respectively) with the aim of shedding some new light on the structure of Fine’s (2005, 2006) ‘McTaggartian’ arguments against the reality of tense. Along the way, I will also (i) draw a novel map of the main realist positions about tense, (ii) unearth a previously unnoticed but potentially interesting form of external relativism (which I will label ‘hyper-presentism’) and (iii) sketch a novel (...) interpretation of Fine’s fragmentalism (which I contrast with Lipman’s 2015, 2016b, forthcoming). (shrink)
This paper presents a semantical analysis of the Weak Kleene Logics Kw3 and PWK from the tradition of Bochvar and Halldén. These are three-valued logics in which a formula takes the third value if at least one of its components does. The paper establishes two main results: a characterisation result for the relation of logical con- sequence in PWK – that is, we individuate necessary and sufficient conditions for a set.
According to Composition is Identity, a whole is literally identical to the plurality of its parts. According to Mereological Nihilism, nothing has proper parts. In this note, it is argued that Composition is Identity can be shown to entail Mereological Nihilism in a much more simple and direct way than the one recently proposed by Claudio Calosi.
ABSTRACTThe ability of providing an adequate supervenience base for tensed truths may seem to be one of the main theoretical advantages of both the growing-block and the moving-spotlight theory of time over presentism. However, in this paper I will argue that some propositions appear to be as problematic for growing-block theorists as past-directed propositions are for presentists, namely propositions stating that nothing will be the case in the future. Furthermore, I will show that the moving-spotlight theory can adequately address all (...) the main supervenience challenges that can be levelled against A-theories of time. I will, thus, conclude that, at least as far as the supervenience principle is concerned, the moving-spotlight theory should be preferred over both presentism and the growing-block theory. (shrink)
Fine (2005, 2006) has presented a ‘trilemma’ concerning the tense-realist idea that reality is constituted by tensed facts. According to Fine, there are only three ways out of the trilemma, consisting in what he takes to be the three main families of tense-realism: ‘presentism’, ‘(external) relativism’, and ‘fragmentalism’. Importantly, although Fine characterises tense-realism as the thesis that reality is constituted (at least in part) by tensed facts, he explicitly claims that tense realists are not committed to their fundamental existence. Recently, (...) Correia and Rosenkranz (2011, 2012) have claimed that Fine’s tripartite map of tense realism is incomplete as it misses a fourth position they call ‘dynamic absolutism’. In this paper, I will argue that dynamic absolutists are committed to the irreducible existence of tensed facts and that, for this reason, they face a similar trilemma concerning the notion of fact-content. I will thus conclude that a generalised version of Fine’s trilemma, concerning both fact-constitution and fact-content, is indeed inescapable. (shrink)
What is the relation between parts taken together and the whole that they compose? The recent literature appears to be dominated by two different answers to this question, which are normally thought of as being incompatible. According to the first, parts taken together are identical to the whole that they compose. According to the second, the whole is grounded in its parts. The aim of this paper is to make some theoretical room for the view according to which parts ground (...) the whole they compose while being, at the same time, identical to it. (shrink)
According to ‘Strong Composition as Identity’, if an entity is composed of a plurality of entities, it is identical to them. As it has been argued in the literature, SCAI appears to give rise to some serious problems which seem to suggest that SCAI-theorists should take their plural quantifier to be governed by some ‘weak’ plural comprehension principle and, thus, ‘exclude’ some kinds of pluralities from their plural ontology. The aim of this paper is to argue that, contrary to what (...) may appear at first sight, the assumption of a weak plural comprehension principle is perfectly compatible with plural logic and the common uses of plural quantification. As I aim to show, SCAI-theorists can simply claim that their theory must be understood as formulated by means of the most ‘joint-carving’ plural quantifier, thus leaving open the possibility of other, less joint-carving, ‘unrestricted’ plural quantifiers. In the final part of the paper I will also suggest that SCAI-theorists should not only allow for singular quantification over pluralities of entities, but also for plural quantification over ‘super-pluralities’ of entities. (shrink)
Most of the theories of location on the market appear to be ideologically parsimonious at least in the sense that they take as primitive just one locative notion and define all the other locative notions in terms of it. Recently, however, the possibility of some exotic metaphysical scenarios involving gunky mixtures and extended simple regions of space has been argued to pose a significant threat to parsimonious theories of locations. The aim of this paper is to show that a theory (...) taking as primitive a notion of plural pervasive location and allowing for irreducibly plural locative facts can account for all the putatively problematic scenarios for parsimonious theories of location. Furthermore, I will also argue that the notion of plural pervasive location is compatible with the possibility of multilocation. (shrink)
In this paper I address two important objections to the theory called ‘ Composition as Identity’ : the ‘wall-bricks-and-atoms problem’, and the claim that CAI entails mereological nihilism. I aim to argue that the best version of CAI capable of addressing both problems is the theory I will call ‘Atomic Composition as Identity’ which consists in taking the plural quantifier to range only over proper pluralities of mereological atoms and every non-atomic entity to be identical to the plurality of atoms (...) it fuses. I will proceed in three main steps. First, I will defend Sider’s Composition as identity. Oxford University Press, Oxford, pp 211–221, 2014) idea of weakening the comprehension principle for pluralities and I will show that :219–235, 2016a) it can ward off both the WaBrA problem and the threat of mereological nihilism. Second, I will argue that CAI-theorists should uphold an ‘atomic comprehension principle’ which, jointly with CAI, entails that there are only proper pluralities of mereological atoms. Finally, I will present a novel reading of the ‘one of’ relation that not only avoids the problems presented by Yi Composition as identity. Oxford University Press, Oxford, pp 169–191, 2014) and Calosi :429–443, 2016b, Am Philos Q 55:281–292, 2018) but can also help ACAI-theorists to make sense of the idea that a composite entity is both one and many. (shrink)
The possibility of changing the past by means of time-travel appears to depend on the possibility of distinguishing the past as it is ‘before’ and ‘after’ the time-travel. So far, all the metaphysical models that have been proposed to account for the possibility of past-changing time-travels operate this distinction by conceiving of time as multi-dimensional, and thus by significantly inflating our metaphysics of time. The aim of this article is to argue that there is an intuitive sense in which past-changing (...) time-travels are metaphysically possible also in one-dimensional time. (shrink)
The aim of this study is to address the “Grounding Grounding Problem,” that is, the question as to what, if anything, grounds facts about grounding. I aim to show that, if a seemingly plausible principle of modal recombination between fundamental facts and the principle customarily called “Entailment” are assumed, it is possible to prove not only that grounding facts featuring fundamental, contingent grounds are derivative but also that either they are partially grounded in the grounds they feature or they are (...) “abysses”. (shrink)
In its simplest form, a Spritz is an aperitif made with (sparkling) water and (white) wine. A ‘gunky Spritz’, as I will call it, is a Spritz in which the water and the wine are mixed through and through, so that every proper part of the Spritz has a proper part containing both water and wine. In the literature on the notion of location the possibility of mixtures like a gunky Spritz has been thought of as either threatening seemingly intuitive (...) locative principles, or as requiring the position of multiple primitive locative relations. In this paper I present a new theory of location which assumes as primitive only the notion of pervasive location and show that it can account for the possibility of gunky Spritz in an intuitive and adequate way. (shrink)
S’inspirant de Memorias. Entre dos mundos, ce texte se veut un témoignage et des commentaires de la perspective pédagogique développée par Mario Bunge dans le cadre de son enseignement de philosophie des sciences à l’Université de Buenos Aires dans les années soixante du siècle dernier. Perspective socratique du métier de philosophe qui ne renvoie cependant pas à une entreprise de dévoilement de la vérité, mais plutôt aux conditions de sa construction.
In this paper we argue that Socrates is a cognitivist about emotions, but then ask how the beliefs that constitute emotions can come into being, and why those beliefs seem more resistant to change through rational persuasion than other beliefs.
My aim in this paper is to develop and defend a novel answer to a question that has recently generated a considerable amount of controversy. The question concerns the normative significance of peer disagreement. Suppose that you and I have been exposed to the same evidence and arguments that bear on some proposition: there is no relevant consideration which is available to you but not to me, or vice versa. For the sake of concreteness, we might picture.
Alessandro Torza argues that Ted Sider’s Lewisian argument against vague existence is insufficient to rule out the possibility of what he calls ‘super-vague existence’, that is the idea that existence is higher-order vague, for all orders. In this chapter it is argued that the possibility of super-vague existence is ineffective against the conclusion of Sider’s argument since super-vague existence cannot be consistently claimed to be a kind of linguistic vagueness. Torza’s idea of super-vague existence seems to be better suited to (...) model vague existence under the assumption that vague existence is instead a form of ontic indeterminacy, contra what Ted Sider and David Lewis assume. (shrink)
What are the relationships between an entity and the space at which it is located? And between a region of space and the events that take place there? What is the metaphysical structure of localization? What its modal status? This paper addresses some of these questions in an attempt to work out at least the main coordinates of the logical structure of localization. Our task is mostly taxonomic. But we also highlight some of the underlying structural features and we single (...) out the interactions between the notion of localization and nearby notions, such as the notions of part and whole, or of necessity and possibility. A theory of localization—we argue—is needed in order to account for the basic relations between objects and space, and runs afoul a pure part-whole theory. We also provide an axiomatization of the relation of localization and examine cases of localization involving entities different from material objects. (shrink)
A discussion of the relationship between Ricardo and his Unitarian Minister Thomas Belsham, a New Testament scholar and the author of a philosophical treatise inspired by the Hartley-Priestley philosophy.
The project of a 'naive physics' has been the subject of attention in recent years above all in the artificial intelligence field, in connection with work on common-sense reasoning, perceptual representation and robotics. The idea of a theory of the common-sense world is however much older than this, having its roots not least in the work of phenomenologists and Gestalt psychologists such as K hler, Husserl, Schapp and Gibson. This paper seeks to show how contemporary naive physicists can profit from (...) a knowledge of these historical roots of their discipline, which are shown to imply above alla critique of the set-theory-based models of reality typically presupposed by contemporary work in common-sense ontology [1]. (shrink)
Philosophical orthodoxy holds that Thomas Reid is an externalist concerning epistemic justification, characterizing Reid as holding the key to an externalist response to internalism. These externalist accounts of Reid, however, have neglected his work on prejudice, a heretofore unexamined aspect of his epistemology. Reid’s work on prejudice reveals that he is far from an externalist. Despite the views Reid may have inspired, he exemplifies internalism in opting for an accessibility account of justification. For Reid, there are two normative statuses (...) that a belief might satisfy, being blameless and having a just ground. Through reflection, a rational agent is capable of satisfying both of these statuses, making Reid an accessibility internalist about epistemic justification. (shrink)
The supervaluationist approach to branching time (‘SBT-theory’) appears to be threatened by the puzzle of retrospective determinacy: if yesterday I uttered the sentence ‘It will be sunny tomorrow’ and only in some worlds overlapping at the context of utterance it is sunny the next day, my utterance is to be assessed as neither true nor false even if today is indeed a sunny day. John MacFarlane (“Truth in the Garden of Forking Paths” 81) has recently criticized a promising solution to (...) this puzzle for falling short of an adequate account of ‘actually’. In this paper, I aim to rebut MacFarlane's criticism. To this effect, I argue that: (i) ‘actually’ can be construed either as an indexical or as a nonindexical operator; (ii) if ‘actually’ is nonindexical, MacFarlane's criticism is invalid; (iii) there appear to be independent reasons for SBT-theorists to claim that ‘actually’ is a nonindexical expression. (shrink)
In this paper I start from a definition of “culture of the artificial” which might be stated by referring to the background of philosophical, methodological, pragmatical assumptions which characterizes the development of the information processing analysis of mental processes and of some trends in contemporary cognitive science: in a word, the development of AI as a candidate science of mind. The aim of this paper is to show how (with which plausibility and limitations) the discovery of the mentioned background might (...) be dated back to a period preceding the cybernetic era, the decade 1930–1940 at least. Therefore a somewhat detailed analysis of Hull's “robot approach” is given, as well as of some of its independent and future developments. -/- Reprinted in R.L. Chrisley (ed.), Artificial Intelligence: Critical Concepts in Cognitive Science, vol. 1, Routledge, London and New York, 2000, pp. 301-326. (shrink)
This chapter analyzes the concept of an event and of event representation as an umbrella notion. It provides an overview of different ways events have been dealt with in philosophy, linguistics, and cognitive science. This variety of positions has been construed in part as the result of different descriptive and explanatory projects. It is argued that various types of notions — common-sense, theoretically revised, scientific, and internalist psychological — be kept apart.
I present a ‘stage-theoretical’ interpretation of the supervaluationist semantics for the growing-block theory of time according to which the ‘nodes’ on the branching tree of historical possibilities are taken to be possible stages of the growth of the growing-block. As I will argue, the resulting interpretation (i) is very intuitive, (ii) can easily ward off an objection to supervaluationist treatments of the growing-block theory presented by Fabrice Correia and Sven Rosenkranz, and (iii) is also not saddled by the problems affecting (...) the supervaluationist version of the growing-block theory defended by R. A. Briggs and Graeme A. Forbes. (shrink)
Are there objective moral truths, i.e. things that are morally right, wrong, good, or bad independently of what anybody thinks about them? To answer this question more and more scholars have recently turned to evidence from psychology, neuroscience, cultural anthropology, and evolutionary biology. This book investigates this novel scientific approach in a comprehensive, empirically-focused, and partly meta-theoretical way. It suggests that while it is possible for the empirical sciences to contribute to the moral realism/anti-realism debate, most arguments that have so (...) far been proposed fail (because they misrepresent, cherry-pick, or overlook the invalidity of (parts of) the available scientific evidence). The book’s main chapters address five prominent science-based arguments for or against the existence of objective moral truths: the argument from moral disagreement, the evolutionary debunking argument, the sentimentalist argument, the presumptive argument, and the projectivist argument. Thomas Pölzler investigates in which sense the underlying empirical hypotheses would have to be true in order for these arguments to work, and then shows how the available scientific evidence fails to support them. Finally, he makes suggestions as to how to test these hypotheses in a more valid way. Moral Reality and the Empirical Sciences is an important contribution to the moral realism/anti-realism debate that will appeal to philosophers and scientists interested in moral psychology and metaethics. (shrink)
The book is divided into three parts. The first, containing three papers, focuses on the characterization of the central tenets of previii sentism (by Neil McKinnon) and eternalism (by Samuel Baron and Kristie Miller), and on the ‘sceptical stance’ (by Ulrich Meyer), a view to the effect that there is no substantial difference between presentism and eternalism. The second and main section of the book contains three pairs of papers that bring the main problems with presentism to the fore and (...) outlines its defence strategy. Each pair of papers in this section can be read as a discussion between presentists and eternalists, wherein each directly responds to the arguments and objections offered by the other. This is a discussion that is sometimes absent in the literature, or which is at best carried out in a fragmented way. The first two papers of the section deal with the problem of the compatibility of Special Relativity Theory (SRT) and presentism. SRT is often considered to be a theory that contradicts the main tenet of presentism, thereby rendering presentism at odds with one of our most solid scientific theories. Christian Wüthrich’s paper presents arguments for the incompatibility of the two theories (SRT and presentism) within a new framework that includes a discussion of further complications arising from the theory of Qauantum Mechanics. Jonathan Lowe’s paper, by contrast, develops new general arguments against the incompatibility thesis and replies to Wüthrich’s paper. The second pair of papers focuses on the problem that presentists face, in providing grounds for past tensed truths. In the first (by Matthew Davidson), new arguments are provided to defend the idea that the presentist cannot adequately explain how what is now true about the past is grounded, since for the presentist the past is completely devoid of ontological ground. The second paper (by Brian Kierland) takes up the challenge of developing a presentist explanation of past truths, beginning by outlining some existing views in the literature before advancing an original proposal. (shrink)
Create an account to enable off-campus access through your institution's proxy server.
Monitor this page
Be alerted of all new items appearing on this page. Choose how you want to monitor it:
Email
RSS feed
About us
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat. Duis aute irure dolor in reprehenderit in voluptate velit esse cillum dolore eu fugiat nulla pariatur. Excepteur sint occaecat cupidatat non proident, sunt in culpa qui officia deserunt mollit anim id est laborum.