Discurso 48 (1):167-191 (
2018)
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Abstract
Maquiavel costuma não ser considerado
nas reconstruções e debates teóricos acerca
do problema da relação entre poder constituinte
e poder constituído. Muito embora
não seja um filósofo jurídico, buscaremos
mostrar que sua teoria conflitual da política
oferece uma contribuição singular para este
paradoxo moderno ao considerar que a oposição
dos humores de grandes e povo abre a
possibilidade da coexistência dos momentos
instituinte e instituído, isto é, dos momentos
factual/político e normativo/jurídico.
Nosso propósito será mostrar que, para
Maquiavel, o povo exerce um papel “instituinte”
do comando político em relação ao
poder “instituído” quando se manifesta, seja
por assembleias e instituições como a dos
Tribunos e da Acusação Pública na Roma
republicana, seja pelas formas espontâneas
do “barulho e da gritaria” nascidas dos tumultos;
contudo, o exercício concreto do
“poder instituído” permanece sempre fora
da esfera de ação direta do povo.