Como ler Platão? Para uma leitura não-apologética dos Diálogos

Dois Pontos 21 (2) (2024)
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Abstract

No vastíssimo campo de estudos da obra de Platão, constatamos que os (as) especialistas mais respeitados (as) têm posições por vezes completamente divergentes. Em parte, por um lado, isso decorre da riqueza e da complexidade dessa obra; em boa medida, por outro lado, também decorre de diferentes métodos ou formas de abordar os Diálogos que os (as) intérpretes adotam. Diante disso, surge naturalmente a questão de como deveríamos ler essas obras. No entanto, analisando as diferentes abordagens usadas, pode-se notar que as respostas a uma questão anterior frequentemente acabam determinando, não raro de modo tácito, as respotas a como ler os Diálogos e a abordagem adotada na prática. Essa questão anterior é a de qual seria a função precípua dos Diálogos, que tende a se confundir com a questão de o que no fundo seriam os Diálogos. Por exemplo, os (as) estudiosos (as) que na sua interpretação tendem a focar nas teses e nos argumentos (em detrimento dos elementos dramáticos e literários) supõem em geral que estão lidando com obras "filosóficas" e que devem cumprir, portanto, funções "filosóficas", como (segundo determinada concepção em geral pressuposta de filosofia) definir um conceito, responder uma questão teórica com argumentos racionais, fundamentar (ou questionar) a possibilidade de uma ciência do mundo e coisas desse jaez. Por outro lado, estudiosos (as) que focam nos aspectos dramáticos e literários consideram que estão interpretando obras literárias e que, portanto, não necessariamente cumpririam funções ou atividades filosóficas, mas antes fariam aquilo que seria próprio de obras literárias. Diante disso, eu gostaria de abordar uma dessas hipóteses frequentemente utilizadas, de forma explícita ou não, acerca da função dos Diálogos, qual seja, a de que essas obras ou pelo menos algumas delas fariam a defesa de Sócrates da acusação pela qual foi condenado à morte. Comparando a acusação com passagens dos Diálogos, pretendo mostrar que deveríamos descartar essa hipótese ao lê-los. Os ganhos exegéticos disso seriam consideráveis; um deles seria pararmos de tentar tornar corretos a todo custo, e muitas vezes em detrimento do próprio texto, os argumentos de Sócrates e passarmos, em vez disso, a analisá-los de forma mais crítica.

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