Abstract
INTRODUÇÃO
Para compreender como a Sociologia nasceu e se desenvolveu, é essencial analisar as
transformações que ocorreram a partir do século XIV, na Europa ocidental, marcando a
passagem da sociedade feudal para a sociedade capitalista, ou a passagem da sociedade
medieval para a sociedade moderna. Para isso, é necessário realizar uma pequena viagem
histórica, já que, para entender as ideias de um autor e de determinada época, é fundamental
contextualizá-las historicamente.
Em cada sociedade, em todos os tempos, os seres humanos elaboraram explicações
religiosas, míticas, culturais, étnicas etc. para as situações em que vivem. No século XIX, a
busca por outro tipo de explicação para os fenômenos da sociedade – a explicação científica –
deu origem à Sociologia.
Para demonstrar como o pensamento social organizou-se historicamente e como a
Sociologia estruturou o saber sobre a sociedade humana, este trabalho terá como objetivo
estudar alguns autores que se sobressaíram no processo de desenvolvimento dessa ciência.
PREMISSA
A Sociologia surgiu como um corpo de ideias a respeito do processo de constituição,
consolidação e desenvolvimento da sociedade moderna. É fruto da Revolução Industrial e,
nesse sentido, é denominada “ciência da crise”, porque, com base nela, procurou-se dar
respostas às questões sociais desencadeadas pelo processo revolucionário que, num primeiro
momento, alterou a sociedade europeia e, depois, a maior parte do mundo.
Como todas as ciências, a Sociologia não despontou de repente ou da reflexão de algum
autor iluminado. Constituiu-se com base em conhecimentos sobre a natureza e a sociedade que
se desenvolveram a partir do século XIV, acompanhando as mudanças que marcaram a
transformação da sociedade feudal e a constituição da sociedade capitalista. Entre essas
mudanças, a expansão marítima europeia e a ampliação do comércio ultramarino, a Reforma
protestante e o desenvolvimento científico e tecnológico podem destacados. São o pano de
fundo do movimento intelectual que alterou profundamente as formas de explicar a natureza e
a sociedade. Essas mudanças estão todas vinculadas e não podem ser entendidas como eventos
isolados.
1 A EXPANSÃO MARÍTIMA
Com a circum-navegação da África e o descobrimento da rota para as Índias e para a
América, a concepção de mundo dos europeus foi consideravelmente ampliada. A definição de
um mundo territorialmente bem mais vasto, com outros povos, outras culturas e outros modos
de explicar as coisas, requereu a reformulação da maneira de ver e de pensar dos europeus.
Assim, ao mesmo tempo que conheciam novos povos e novas culturas, os europeus
instalavam colônias na África, na Ásia e na América. Em razão disso, expandiu-se o comércio
de mercadorias (sedas, especiarias e produtos tropicais, como açúcar, milho, tabaco e café) entre
as metrópoles e as colônias, bem como entre os países europeus. Surgiu a possibilidade de um
mercado muito mais amplo e com características mundiais. Este seria o primeiro grande
movimento de globalização.
A exploração de metais preciosos, principalmente na América, e o tráfico de escravos
para suprir a mão de obra nas colônias deram grande impulso ao comércio, que não mais ficou
restrito aos mercadores das cidades-repúblicas (Veneza, Florença ou Flandres), passando
também para as mãos de grandes comerciantes e de soberanos dos Estados nacionais em
formação na Europa.
Toda essa expansão territorial e comercial acelerou o desenvolvimento da economia
monetária, com a acumulação de capitais pela burguesia comercial, que, mais tarde, teve
importância decisiva na gestação do processo de industrialização da Europa.
2 A REFORMA PROTESTANTE
No século XVI, assistiu-se também ao movimento que ficaria conhecido como Reforma
protestante. Os reformistas questionavam as condutas do clero, a estrutura da Igreja católica e
a autoridade do Papa. Os líderes do movimento promoviam a valorização do indivíduo ao
pregar a livre leitura das Escrituras Sagradas e dispensar a intermediação dos ministros da Igreja
nas práticas religiosas e nos assuntos relativos à fé.
A Reforma contribuiu, assim, para alimentar um movimento de resistência à autoridade
e à tradição que desembocaria na Ilustração. Entre seus principais líderes figuram Martinho
Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564).
3 O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
A nova maneira de se relacionar com as coisas sagradas foi acompanhada de uma nova
forma de analisar o universo e a vida em sociedade. A razão passou a ser considerada essencial
para conhecer o mundo; com base nela, as pessoas se consideraram livres para julgar, avaliar,
pensar e emitir opiniões sem se submeter a nenhuma autoridade transcendente ou divina.
A análise do universo e da vida em sociedade com base no conhecimento racional,
fundado na observação e na experimentação, difundiu-se de maneira lenta, entre os séculos XV
e XVII. Os pensadores que adotaram essa forma de análise enfrentaram o dogmatismo e a
autoridade da Igreja. Por meio do Concílio de Trento (1545-1563) e dos processos da
Inquisição, por exemplo, os membros do clero procuraram impedir toda e qualquer
manifestação que pudesse pôr em dúvida a autoridade eclesiástica, fosse no campo da fé, fosse
no das explicações que se propunham para a sociedade e a natureza.
Os principais representantes do pensamento racional nos séculos XV a XVII foram
Nicolau Maquiavel (1469-1527), Erasmo de Roterdã (1466-1536), Nicolau Copérnico (1473-
1543), Galileu Galilei (1564 -1642), Thomas Hobbes (1588 -1679), Francis Bacon (1561-
1626), René Descartes (1596 -1650) e Baruch Spinoza (1632 -1677). Os conhecimentos desses
precursores alimentaram outros pensadores, como John Locke (1632-1704), Gottfried Leibniz (1646-1716) e Isaac Newton (1643-1727), que propuseram novos princípios para a
compreensão da sociedade e da natureza.
Vale salientar, por fim, que os pensadores europeus dos séculos XV a XVII buscaram
compreender os fenômenos da natureza e da sociedade por meio da observação e da
experimentação.
4 AS TRANSFORMAÇÕES NO SÉCULO XVIII
No final do século XVIII, na maioria dos países europeus, a burguesia comercial,
formada basicamente por comerciantes e banqueiros, constituía uma classe poderosa, em razão,
na maior parte das vezes, das ligações econômicas que mantinha com as monarquias. Além de
sustentar o comércio entre os países europeus, a burguesia europeia lançava seus tentáculos a
vários pontos do mundo, até onde pudesse chegar, comprando e vendendo mercadorias.
O capital mercantil estendia-se também a outro ramo de atividade: gradativamente se
organizava a produção manufatureira. A compra de matérias-primas e a organização da
produção, por meio do trabalho domiciliar ou do trabalho em oficinas, levavam ao
desenvolvimento de um novo processo produtivo em contraposição ao das corporações de
ofício.
Os organizadores das manufaturas passaram a se interessar cada vez mais pelo
aperfeiçoamento das técnicas de produção, a fim de produzir mais com menos gente e aumentar
significativamente seus lucros. Para tanto, procuraram financiar a invenção de máquinas que
pudessem ser utilizadas no processo produtivo.
Com a invenção das máquinas de tecer e de descaroçar algodão, e a aplicação industrial
da máquina a vapor e de outros tantos inventos destinados a aumentar a produtividade do
trabalho, desenvolveu-se o fenômeno que veio a ser chamado de maquinofatura. O trabalho
que as pessoas faziam com as mãos ou com ferramentas passava, a partir de então, a ser
realizado por máquinas, elevando muito o volume da produção de mercadorias.
A utilização da máquina a vapor, que podia mover outras tantas, impulsionou a indústria
construtora de máquinas e, consequentemente, a indústria voltada para a produção de ferro e,
posteriormente, de aço.
Nesse contexto de profundas alterações no processo produtivo, no qual a utilização do
trabalho mecânico era cada vez mais frequente, o trabalho artesanal continuou a existir. A maquinofatura se completou com o trabalho assalariado, no qual eram utilizadas, numa escala
crescente, a mão de obra feminina e a infantil.
Longe da Europa, explorava-se ouro no Brasil, prata no México e algodão nos Estados
Unidos da América e na Índia. A maioria dessas atividades era realizada com a utilização do
trabalho escravo ou servil. Esses elementos, conjugados, asseguraram as bases do processo de
acumulação necessária para a expansão da indústria na Europa.
Essas mudanças, somadas à herança cultural e intelectual do século XVII, definiram o
século XVIII como explosivo. Se no século anterior a Revolução Inglesa determinou novas
formas de organização política, no século XVIII a Revolução Americana e a Francesa alteraram
o quadro político ocidental e serviram de exemplo e parâmetro para as revoluções políticas
posteriores.
As transformações na esfera da produção, a emergência de novas formas de organização
política e a exigência da representação popular conferiram características muito específicas a
esse século, em que pensadores como Charles de Montesquieu (1689 -1755), Voltaire (1694 -
1778), Denis Diderot (1713 -1784), Jean le Rond d’Alembert (1717 -1783), David Hume (1711
-1776), Jean-Jacques Rousseau (1712 -1778), Adam Smith (1723 -1790) e Immanuel Kant
(1724 -1804) procuraram, por caminhos às vezes divergentes, refletir sobre a realidade, na
tentativa de explicá-la.