In Felipe Nogueira de Carvalho, Breno Augusto Costa, Rodrigo Marcos Jesus, Milena Oliveira Pires & Leonardo Rennó Santos (eds.),
Libertação, Raça e Decolonialidade. Toledo, PR: Editora Quero Saber. pp. 79-101 (
2024)
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Abstract
Durante as últimas décadas, pesquisas empíricas em psicologia social têm mostrado uma influência significativa de vieses implícitos sobre o modo como pessoas negras são percebidas e categorizadas. Ainda não é claro, no entanto, que a mesma metodologia possa ser empregada para aferir a presença de vieses implícitos na percepção espacial. O objetivo deste artigo será argumentar que a percepção do espaço é também racialmente enviesada, embora não no mesmo sentido pressuposto por grande parte da psicologia empírica. De acordo com a presente proposta, vieses implícitos serão entendidos como hábitos perceptuais corporificados. Tais hábitos são moldados por categorias raciais e podem tomar a forma do que chamaremos de “expansividade branca”, em que o espaço é percebido em termos de expansão e permissibilidade. Essa permissibilidade, no entanto, é uma marca de privilégio e não de competência, constituindo-se em uma percepção racialmente enviesada do espaço. Confrontar a racialidade implícita desses espaços demanda o que o filósofo George Yancy chama de “de-suturação”, uma abertura afetiva e epistêmica que expõe a ilusão de neutralidade do espaço e a reconceitualiza como opressora para os não-brancos que ocupam esses mesmos espaços.