Abstract
Neste artigo pretendo evidenciar como a relação entre sujeito anímico e sujeito espiritual é fundamental para a compreensão da intersubjetividade e do mundo da vida (Lebenswelt). Em Ideias II, Husserl explica como, a partir do eu, sujeito e objeto são constituídos no mundo: natureza, alma e espírito. Estes três estratos do sendo são conhecidos a partir da atitude teorética e da atitude espiritual e, no processo, se dá a explicitação do eu. Numa atitude teorética, temos constituição da natureza, para o que o corpo (Körper/Leib) é fundamental. Em seguida, a constituição de objetos de natureza anímica, humana ou animal, incluindo a autopercepção. Assumindo a atitude espiritual, o outro é percebido (Urpräsenz), inicialmente, como corpo junto às coisas e, ao lado desta percepção, há uma apercepção (Appräsenz) dos horizontes co-dados. Há uma identidade entre o corpo alheio e o meu, é o momento da empatia (Einfühlung). O mundo constituído a partir de uma atitude naturalista ou teórica é uma redução do mundo circundante (Umwelt), mas o mundo cotidiano da atitude personalista ou espiritual lhe antecede, o mundo vital (Lebenswelt). É, portanto, através da atitude personalista ou espiritual, que se constitui uma comunidade de sujeitos espirituais.