Série Dissertatio Filosofia (
2018)
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Abstract
A proposta deste trabalho é investigar a contribuição da filosofia de Henri
Bergson para as discussões atuais sobre a memória. Atualmente, o debate
concentra-se entre as teorias causalistas e as teorias simulacionistas acerca da
memória. O primeiro grupo defende que entre a representação atual de uma
experiência passada e esta experiência, há uma conexão causal. Por outro lado, o
segundo grupo entende que a principal contribuição para as representações atuais
a respeito de eventos passados surge das condições do momento presente,
dispensando a necessidade de uma relação entre a experiência e a representação
atual. Henri Bergson, no final do século XIX, apresentou a memória como uma
faculdade prática, cuja função é auxiliar na tomada de decisões a partir das
informações adquiridas anteriormente. De modo que são as condições do sujeito
no momento presente que indicarão quais lembranças serão evocadas. Os
conteúdos destas lembranças não são idênticos aos conteúdos do momento em
que foram apreendidos, pois as lembranças, na sua concepção, alteram-se ao
longo do tempo conforme novas informações são obtidas. Até este ponto, parece
haver uma grande aproximação entre a filosofia bergsoniana acerca da memória e
a compreensão simulacionista. Contudo, Bergson também entende que a
lembrança retida depende da percepção, ocasionando uma representação, que o
sujeito teve no momento da experiência, afirmando a existência de uma relação
causal entre a representação no momento passado e a representação no momento
em que a lembrança é evocada. Portanto, podemos reconhecer aspectos da
memória na concepção bergsoniana tanto no modelo causalista, quanto no modelo
simulacionista apresentados no debate contemporâneo. A nossa pretensão é, a
partir da verificação sobre quais aspectos a filosofia de Bergson se aproxima e se
afasta das teorias atuais, reconhecer a quais objeções ela está exposta, bem como
que vantagens tem na pesquisa contemporânea em filosofia da memória. Assim
como todo estudo relacionado à mente, o trabalho em torno da memória trouxe
diversas descobertas e hipóteses no último século, ou seja, o conhecimento a
respeito do tema avançou significativamente desde as considerações realizadas
por Bergson. Acreditamos que o resgate histórico é importante para evitar a
possibilidade de que elementos inclusos em constatações filosóficas mais antigas,
e que podem ser de interesse para a pesquisa atual, não sejam vistos. Dividiremos
a apresentação deste trabalho em três seções: na primeira, abordaremos as
teorias causalista e simulacionista da memória; na segunda, exporemos a filosofia
da memória de Bergson; por fim, relacionaremos a compreensão bergsoniana
acerca da memória com o debate atual para detectarmos quais aspectos foram
derrotados e quais têm se mantido ao longo de todos estes anos após a
publicação de Bergson.