Elementos de Retórica em Nietzsche

São Paulo: Loyola (2006)
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Abstract

O estudo se detém tanto na teorização que Nietzsche oferece do tema -- em alguns cursos oferecidos na Universidade de Basel nos anos 1870 e no escrito inacabado e póstumo Sobre Verdade e mentira -- quanto nos aspectos discursivos da obra de Nietzsche que podem ser descritos em termos retóricos. Exploro na primeira parte o tratamento temático da retórica nos textos filológicos e acadêmicos de Nietzsche. Argumento no prelúdio contra as escolhas filológicas de Heidegger, que conferem prioridade às notas póstumas do corpus nietzschiano em detrimento das obras por ele publicadas. Na sequência, reconstruo as principais teses nietzschianas sobre a retórica antiga. Aqui me contraponho fundamentalmente à leitura de Paul de Man ao enfatizar a importância que o filósofo confere à dimensão expressiva da linguagem (com destaque para o registro oral, que deve ser emulado pelo registro escrito. Argumento, com base em evidências textuais extraídas tanto dos cursos quanto de obras posteriores, que o interesse de Nietzsche pela retórica não se reduz à sua tentativa de desenvolver uma epistemologia dos tropos que estaria a serviço de um projeto de desconstrução da metafísica. Embora encontremos um movimento nesta direção, há também esforços mais positivos, como a tentativa de elaborar uma teoria da percepção e da mente em analogia com o tipo de inferência que realizamos ao construir e interpretar enunciados semanticamente desviantes (tropos ou figuras de linguagem). Na segunda parte deste estudo, defendo que a dimensão retórica da filosofia de Nietzsche comporta pelo menos quatro aspectos essencialmente distintos: (1)recursos expressivos (estilo, que remeto à noção aristotética de prova ética e que está associado à dimensão material e pré-convencional da linguagem, cujo propósito é comunicar não ideias, mas um pathos específico, um determinado estado fisiológico caracteristico de uma certa organizaçõa pulsional); (2) dispositivos heurísticos (invenção, que associo à presença em Nietzsche do paradigma indiciário e de inferências abdutivas: uso de anedotas, recurso a aproximações etimológicas, atenção a aspectos residuais nos documentos históricos); (3) estratégias argumentativas (aqui me limito a descrever o que julgo ser a estratégia de invalidaçao predominante em Nietzsche, a estratégia polêmica, e que se contrapõe programaticamente ao monopólio do modelo socrático do elenchus, ou refutação) e (4) formas de exposição (gêneros literários da filosofia: embora eu reconheça que Nietzsche experimenta com uma multiplicidade de formas literárias de exposição dos argumentos, defendo que o gênero mais característico de sua prosa filosófica deve ser descrito como um tipo de ensaio aforismático, que combina características tanto do ensaio quanto do aforismo em sua forma pura)

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Rogerio Lopes
Federal University of Minas Gerais

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2023-05-04

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