Abstract
Ontologia é, em linhas gerais, a pergunta pelo que existe. Como ramo da filosofia, ela
perdurou ao longo de milênios, passando desde a pergunta pela natureza dos objetos
comuns até as questões sobre as entidades matemáticas. Com tanta história e
debate transcorrido, a ontologia de fato se consagrou e, mesmo quando questionada
(como Kant o fez, por exemplo) ela ainda assim mantinha sua soberania, garantida
por seus próprios críticos. Isso, contudo, mudou no século XIX e especialmente no
início do século XX. Quando os membros do Círculo de Viena puseram seus esforços
na análise da linguagem e afirmaram a ciência como meio de conhecimento do
mundo, o resultado foi o questionamento da ontologia e da metafísica, uma vez que
as verdades viriam da lógica e da ciência. Por outro lado, W. V. Quine (1908-2000)
tentava manter uma certa forma de ontologia, mas colocando-a como submetida ao
que nossas melhores teorias científicas disponíveis dizem que há. Ou seja, o século
XX foi palco de um esvaziamento da ontologia enquanto âmbito até então
consagrado, questionando seu próprio significado e sua validade. Esta apresentação
terá o intuito de investigar os principais argumentos utilizados então em favor de tal
esvaziamento. Se a ontologia se baseia num erro, se é um mero jogo de palavras sem
sentido ou se só se trataria de uma confusão arrastada ao longo de séculos pelo
simples fato de, até então, não sermos capazes de empreender uma análise lógica da
linguagem de maneira eficaz. Para isso, serão analisados especialmente os
argumentos de Rudolf Carnap (1891-1970) e de Quine e, quando necessário, também
serão abordados textos de outros autores a respeito da discussão. Nosso objetivo
será compreender de forma clara (embora, de modo algum, definitiva) a disputa em
torno do estatuto da ontologia surgida nessa época e que se desenrolou em um
debate que até hoje rende muitas discussões na filosofia. Compreender a pergunta
pelo que há nos levará a compreender nossos comprometimentos quanto ao que
afirmamos existir e quanto ao que nossas teorias científicas disponíveis postulam.
Tal definição é de suma importância em outros ramos da filosofia, como a metaética,
a filosofia da mente e a filosofia da ciência e, portanto, deve ser discutida com
esmero, como propomos neste trabalho.