Mulheres Na Filosofia (
2020)
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Abstract
O estudo das Cartas de Descartes a Elisabeth ocupou a literatura, ao passo que a fortuna da contribuição de Elisabeth foi soterrada pela historiografia. Essa negligência intelectual merece registro, visto que as cartas de Elisabeth foram descobertas no Século XIX e publicadas pela primeira vez em 1876 (Ebbersmeyer 2020, p. 4). O fato de que Elisabeth tenha sido ignorada pela historiografia explicita a precariedade a que o viés pode condenar uma narrativa, e torna o estudo sobre Elisabeth da Bohemia difícil. Como se sabe, de 1876 para cá a história do racionalismo moderno levou muito a sério as Respostas de Descartes a Elisabeth, sobretudo quando foram estudados os problemas da interação entre mente e corpo, da união substancial e as concepções de movimento. Assim, uma relevante literatura resultou do estudo de respostas a questões ignoradas.
Somente a partir da década de noventa do Século XX, historiadoras da filosofia começaram a levar a sério que Descartes não estava em um solilóquio diante de Elisabeth. Em um período de intensa troca epistolar, no qual as cartas veicularam larga medida a nova filosofia (tanto do racionalismo como do empirismo), não era comum, estranhamente, a mudança de posições. Este não foi o caso do impacto que as questões de Elisabeth causaram em Descartes e, por isso, a literatura sobre as Respostas de Descartes à filósofa configura um caso paradigmático do viés misógino que contaminou a história da filosofia, desafiando a sua seriedade e rigor. Isto ficará demonstrado a seguir.