O elo entre o passado esquecido e o passado desconhecido

Abstract

A grande maioria das pessoas pouco ou nada sabe sobre o fenício Sanchuniathon e seus registros históricos acerca do pré-sumeriano Taautus, o homem que nos transmitiu a escrita. O que chegou até nós, chegou por graça e obra de Eusébio de Cesaréia, que utilizou partes de seus escritos para refutá-lo, como no livro, “Praeparatio evangelica". Tudo começa com Filo de Biblos, um erudito também fenício, que ao tomar conhecimento da monumental obra de seu compatriota, tratou de traduzi-la para o grego, dando ênfase no prefácio para a importância de Taautus no contexto da Obra: “Sanchuniathon sabia que de todos os homens sob o sol, Taautus foi o primeiro que pensou na invenção das letras e começou a escrita de registros, e ele colocou a fundação de sua história começando com ele, a quem os egípcios chamam Thoyth, os de Alexandria, Thoth e os gregos chamam Hermes”. A veneração de Taautus como “inventor” da escrita, podemos ver em Sócrates, que no Fedro, é descrito como o Deus egípcio Thoth, a que os gregos chamam Hermes. A importância e a legitimidade desse personagem por todos no mundo antigo, sempre foi reconhecida, portanto estamos falando de alguém que pela sabedoria e antiguidade, todos que o sucederam e escreveram a história do mundo ou mesmo a destruíram, nunca o contestou. Contudo devemos ir além, ultrapassar os limites do pensamento vulgar e buscar mais da imaginação. Esse homem que escreveu sobre os acontecimentos cósmicos e os fenômenos da natureza em tempos tão remotos, continua sendo um personagem enigmático e desconhecido. Taautus habitou a região que, por volta do quinto milênio antes de Cristo, viria a ser conhecida por Suméria. No contexto histórico, Taautus é sobrevivente de uma catástrofe de dimensões globais que ficou no imaginário e na história como o grande dilúvio e pela veneração que conquistou, não nos parece ter sido um sujeito simples, primitivo, mas culto, pertencente a uma sociedade desenvolvida possuidora de alfabeto próprio, de escolas de diferentes níveis e de farto registro histórico, de uma época que sequer temos na memória. Foi nesse longínquo tempo fixado nas obras de Taautus, que Sanchuniathon mergulhou em busca do conhecimento antigo. Por volta do ano 100 depois de Cristo, Filo tomou conhecimento da obra de Sanchuniathon e resgatou seus registros. Ficou tão impressionado, que não só a traduziu para o grego em nove volumes, mas ele próprio inspirado no mestre, escreveu também um extenso relato das origens das superstições dos povos, demonstrando ser parte por ignorância, parte por equívoco, as más interpretações posteriores das antigas tradições e dirigindo-se principalmente aos gregos, diz que estes “tomando nomes e fatos em sentido errado, foram enganados pela ambiguidade da tradução”. Filo discorre ainda sobre a necessidade da clareza entre o elemento natural e mítico, dizendo ser necessário afirmar claramente que as populações mais antigas, especialmente os fenícios e egípcios de quem todos os povos receberam suas tradições, consideravam como deuses aqueles homens e mulheres que tinham descoberto as necessidades da vida, ou de alguma forma, feito o bem para as nações. Desse modo prestavam homenagens estimando-os como benfeitores e os cultuavam após a sua morte em santuários, pilares e altares consagrados a seus nomes. Os sumérios e os fenícios tinham grande reverência a esses homens e mulheres e promoviam festivais para lembrar seus feitos, coincidindo com a data de sua morte. Em larga medida, esses personagens eram reis ou rainhas, ou seus filhos, que tinham seus nomes aplicados aos elementos da terra e do cosmos e são os fenícios os primeiros a nos deixar de herança, através de Sanchuniathon, essa antiga tradição, que precede em milhares de anos ao próprio povo fenício. Sanchuniathon, que viveu antes da guerra de Tróia, descreveu como Taautus recebeu as terras de Khēmía (grego antigo), que tardiamente os gregos chamariam Aígyptos. Sua obra diferencia-se não só pela antiguidade, mas por seu testemunho sincero quando diz que é uma transcrição de registros históricos e cosmogônicos extremamente mais antigos, que lhe haviam sido transmitidos tanto pela tradição oral como por escrito. Rochaferreira. A Razão Filosófica.

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