Abstract
Kant mostra que uma teoria fundamental da normatividade e da moralidade não pode dar nem uma explanação nem uma prova da normatividade, mas apenas pode articular e explicitar sua origem. Ela pode fazer isso indicando o lugar ou o topos e a virada ou a trope de seu originar. Conforme Kant, o topos da normatividade é a vontade enquanto razão prática e sua trope é o uso geral desta razão que tipicamente é instrumental, no sentido da reflexão. A trope da origem da moralidade é a autonomia, i.e., a virada da razão prática sobre si mesma, tornando-se pura neste ato. Nisso, a razão prática estabelece sua própria forma como lei para si mesma, na forma do imperativo categórico. Em consequência disso, a ética fundamental serve duas funções : formalmente, ela fornece evidência da originalidade e autenticidade da moralidade; materialmente, ela fornece um princípio criteriológico para o conteúdo da moralidade. O artigo argumenta que Kant estava certo em sua visão da fundamentação da ética, mas estava errado com relação à maneira como ele tentou cumprir as exigências estabelecidas. O topos da normatividade e, em consequência disso, da moralidade, não pode ser a razão, mas precisa ser a consciência ou, mais exatamente, o saber de se ; e sua trope fundamental não pode ser reflexão e, depois, autonomia, mas precisa ser o que pode ser descrito como conversão da consciência. Essa conversão pode ser identificada com o philein no sentido de Aristóteles. Este “amar amigável” tem quatro aspectos diferentes: desejo, cognição, benevolência e reconhecimento. Quando este philein for recíproco e estiver continuamente vivido, nasce a philia, a amizade. Essa é descrita, consequentemente, como o topos da origem de normatividade e moralidade.