Abstract
Neste artigo, discuto o problema das propriedades emergentes, começando por apresentar uma concepção tradicional de acordo com a qual estas propriedades exibem três características definidoras: elas dependem de propriedades e relações físicas, mas constituem, em relação a estas, uma novidade e, como tal, não são delas deduzíveis. Em primeiro lugar, discuto algumas das razões gerais que explicam o facto de tradicionalmente se supor que este tipo de novidade – e.g. causal ou qualitativa – parece exigir que as propriedades emergentes não se encontram, de todo, fisicamente fundadas, não podendo ser deduzidas das suas bases físicas. Portanto, a dependência física das propriedades emergentes não pode ser explicada, o que é normalmente tido como misterioso. Recorrendo a uma concepção funcionalista de dedutibilidade, discuto de seguida, com mais detalhe, a relação entre a novidade e a não-dedutibilidade, realçando o modo como os diferentes tipos de não-dedutibilidade conduzem a diferentes tipos de novidade e, como tal, a diferentes formas de emergência. Finalmente, considero algumas abordagens científicas modernas que rejeitam a não-dedutibilidade enquanto condição necessária da emergência. Segundo tais abordagens, o tipo de novidade associado às propriedades emergentes é compatível com uma fundação física, o que, por sua vez, faz desvanecer o mistério e confere respeitabilidade científica à noção de emergência. Concluirei estabelecendo comparações entre estas abordagens e o hilomorfismo neo-Aristotélico.