Resumo: O problema da intersubjetividade, tal como colocado pela filosofia da consciência, exigiu de Merleau-Ponty uma investigação de alguns aspectos essenciais envolvidos no fenômeno da comunicação, tais como o valor expressivo da palavra e a questão da verdade, o que acabou por inserir o filósofo no cenário das grandes discussões linguísticas. Pelo aprofundamento especulativo em direção à camada pré-reflexiva da existência, a análise da linguagem e da intersubjetividade favoreceram não apenas a compreensão da questão da criação de novos significados: ela (...) também possibilitou uma autêntica experiência de comunicação. Foi pela realização desse estudo que o filósofo radicalizou seu pensamento em direção a uma ontologia indireta, afastando-se da noção de cogito tácito como condição de possibilidade da experiência intersubjetiva. O objetivo desse artigo é acompanhar esse percurso realizado por Merleau-Ponty na década de 1950, a fim de evidenciar a relação entre o fenômeno da criação no domínio da linguagem e a possibilidade da experiência intersubjetiva. Palavras-chave: criação; intersubjetividade; linguagem; verdade. (shrink)

The prevailing judgement concerning Merleau-Ponty’s encounter with Saussure’s linguistics is that, although important for the evolution of Merleau-Ponty’s philosophy of language, it was based on a mistaken or at least highly idiosyncratic interpretation of Saussure’s ideas. Significantly, the rendering of Saussure that has been common both in Merleau-Ponty scholarship and in linguistics hinges on the structuralist development of the Genevan linguist’s ideas. This article argues that another reading of Saussure, in the light of certain passages of the Course of General (...) Linguistics forgotten by the structuralists, and of the manuscripts related to the published works, shows to the contrary that Merleau-Ponty’s account was sustainable. An understanding of Saussure’s ideas that does not flinch from their paradoxical features can elucidate the French phenomenologist’s views on language and expression. Moreover, the “linguistic turn” in Merleau-Ponty’s philosophical development, identified by James Edie for example, does not seem to have been so clear-cut as has previously been believed; the influence of Saussure’s thought had certainly begun before Merleau-Ponty wrote Phenomenology of Perception -/- En français: « La rencontre de Merleau-Ponty avec la linguistique saussurienne : lecture fautive, réinterpretation ou prolongement ? » Inspirée de la linguistique Saussurienne, la philosophie du langage de Merleau-Ponty a souvent été considérée comme une interprétation erronée des idées de Ferdinand de Saussure ou tout du moins comme une traduction singulière de son œuvre. On remarque cependant que la relecture critique du linguiste genevois, qu’elle soit effectuée à partir de l’œuvre merleau-pontienne ou, plus généralement, dans le champ de la linguistique, repose en grande partie sur les modes d’analyse structuralistes. À la lumière de certains passages du Cours de linguistique générale négligés par les structuralistes, et des manuscrits qui se rapportent aux œuvres publiées, cet article défendra l’idée que l’interprétation de la pensée saussurienne par Merleau-Ponty reste à bien des égards pertinente, pour autant qu’elle ne recule pas devant les traits paradoxaux résultant de la pensée saussurienne. Un questionnement de la pensée de Saussure ne reculant pas devant ses traits paradoxaux peut contribuer à accroître notre compréhension des notions de langage et d’expression chez le phénoménologue français. Dans ce cadre, le « tournant linguistique » merleau-pontien, décrit par James Edie, ne paraît pas aussi net que l’on l’a soutenu auparavant : l’influence de la pensée de Saussure s’est certainement faite sentir avant l’écriture de Phénoménologie de la perception. (shrink)