Dissertation, Pontifícia Universidade Católica Do Paraná (
2021)
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Abstract
A presente dissertação tem como horizonte de pesquisa o conjunto de postulados e reflexões do filósofo espanhol Paul B. Preciado, a partir do qual este afirma que a noção de Multidão, tal como pensada por Michael Hardt e Antonio Negri, pode ser compreendida em termos de um “devir-revolucionário, multitudinário, constituído por singularidades diferenciadas”. Enquanto movimentos contraculturais, os deslocamentos subversivos onto-epístemo-políticos deflagrados pela Multidão comportam a possibilidade de promover a emancipação das singularidades que os compõem, bem como das políticas identitárias estabelecidas. Neste sentido, a pesquisa propõe investigar como ocorre este processo de emancipação das subjetividades e singularidades, de modo a compreender como de fato é mobilizado o conceito de Multidão na teoria preciadiana, primeiro como “sujeito queer” e, posteriormente, como força des-identitária, isto é, como novo “sujeito político contemporâneo”. Para tal, será necessário estabelecer e analisar como o assujeitamento e a exploração capitalística são compreendidos na atualidade. Será utilizada como ferramenta hermenêutica para tal objetivo certos aspectos do pensamento de Judith Butler que permitem elucidar a produção concreta dos sujeitos, a exigência sistemática de assujeitamento ao cis-heteropatriarcado e a vulnerabilização dos sujeitos-individuados. Além disso, serão utilizados certos aspectos da teoria hardt-negriana que permitem esclarecer quais são as origens do conceito de Multidão e como os autores propõem a completa metamorfose da democracia enquanto plataforma para políticas emancipatórias, enfatizando o poder constituinte da biopolítica afirmativa da Multidão. Esta abertura conceitual possibilita contextualizar o recorte têmporo-espacial salientado por Preciado, a partir do qual fundamenta o conceito de farmacopornografia para identificar as mutações do capitalismo e seus mecanismos de exploração, como a sujeição social e a servidão maquínica. Desse modo, ao se reconhecer os mecanismos de dominação e exploração, torna-se viável a proposição de estratégias de subversão e práticas micropolíticas enquanto linhas de fuga que convergem com o conceito de Multidão, relida como insurgência contrafarmacopornográfica de desestabilização capitalística.