Abstract
Segundo Kierkegaard, a verdade se sobrepõe ao caráter objetivo que encerra desde uma investigação histórica até um exercício especulativo, guardando correspondência com a subjetividade em um movimento que implica a condição-limite da interioridade. Detendo-se em tal princípio hermenêutico-existencial, o artigo assinala a espiritualidade enquanto experiência epistêmico-existencial envolvendo a verdade como paradoxo em Kierkegaard, que se sobrepõe à mediação lógico-discursiva e implica uma construção dialético-subjetiva que transcende a razão histórico-objetiva (ou finita). Dessa forma, caracterizando a espiritualidade enquanto experiência epistêmico-existencial que encerra como único tipo de evidência a evidência de caráter não racional, o artigo recorre à perspectiva fenomenológica de Rudolf Otto, que sublinha o sagrado e a sua distinção absoluta em relação à realidade natural e ao seu caráter perceptível em uma construção que enfatiza o elemento não racional e a sua natureza suprarracional e implica o numinoso, que escapa aos processos lógico-racionais e, emergindo como a priori, converge para a apreensão do racional e do não racional na noção da Divindade. Assim, se a relação com Deus se sobrepõe às fronteiras que encerram a subjetividade e a objetividade, convergindo para a superação do referido esquema estrutural epistêmico, o artigo, baseado na perspectiva teológico-filosófica de Paul Tillich, detém-se no conceito de Presença Espiritual que, caracterizando a vida sem ambiguidade, implica a união transcendente, correlacionando ágape e gnosis enquanto experiência epistêmico-existencial envolvendo a relação com o sagrado como presença de Deus através de um movimento extático-religioso que converge para a automanifestação, a autorrevelação e a autocomunicação do Absoluto e Transcendente como Deus.