Abstract
A conhecida metafísica imanente de Schopenhauer concebe a existência em geral e todos os seus fenômenos como expressão de uma vontade enquanto essência irracional, infundada, autocontraditória e, por isso, geradora de dor e sofrimento. O caráter inteligível do homem, como um dos referidos fenômenos, diz respeito a um ato de objetivação da vontade genérica que se individualiza e se torna cognoscível no tempo e no espaço por meio do caráter empírico. O caráter inteligível de cada homem é tomado pelo filósofo como “um ato extratemporal, indivisível e imutável da vontade” 1. Já o caráter empírico é a exposição desse mesmo caráter na experiência variegada, ou seja, “no modo de ação e no decurso de vida do homem”2. Assim, se o caráter inteligível é inato e individual, o caráter empírico como simples desdobramento dele é um impulso natural e imutável. Por sua vez, as ações desse caráter imutável são necessárias e, toda vez que um mesmo motivo se apresentar para um mesmo indivíduo, a ação será a mesma. Isso nos permite afirmar que, de acordo com a caracterologia schopenhaueriana, o essencial e determinante para uma ação ou tomada de decisão já estaria determinado
em cada caráter inato, sendo os motivos e as influências externas meros agentes secundários, apenas ocasiões que espelham o caráter individual. Afinal, como enfatiza frequentemente o pensador a partir de uma expressão da filosofia antiga, operari sequitur esse, as ações seguem-se do ser. E o esse de cada indivíduo seria definido pela predominância de uma das três tendências impulsivas fundamentais: o egoísmo, a maldade e a compaixão. A intransigência desses impulsos fundamentais de cada caráter inato gera embates na disputa dos indivíduos pela matéria e pelo bem-estar, gerando sofrimentos e impossibilitando a felicidade em sentido positivo.