Abstract
Este texto pretende mostrar que, do ponto de vista das ciências empíricas,
o projeto de demolição do ceticismo, conduzido por Descartes, perdura
até a VI Meditação e nela não pode ser concluído. Se isto assim ocorre,
é porque há dois modelos de superação do ceticismo em Descartes. O
primeiro modelo diz respeito à superação da dúvida metafísica. Esse modelo
alcança algum êxito já na II Meditação, na qual, por analogia com o
procedimento matemático, a descoberta de uma evidência irrecusável
conduz à primeira certeza, e esta se torna o ponto de partida para a
obtenção de outras. O segundo modelo diz respeito à superação da dúvida
sobre os conteúdos do mundo sensível. Embora pareça que a solução do
segundo modelo decorra diretamente do êxito obtido no domínio do
primeiro, isto não se dá, porque, conquanto Descartes construa os
fundamentos matemáticos de uma teoria do extenso, nela não consegue
resolver os problemas da Física entendida como uma teoria dos objetos
empíricos.