Abstract
The article works out the thesis that to the excessive desire
of the powerful for the absolute appropriation/domination it is opposed a not less excessive and absolute desire from people in order not to be appropriated/dominated: two desires of a distinct nature which are neither the desire for the same things nor the desire for different things, but desires in which the act of desiring is different. Taking into account that each desire aims at its absolute effectiveness, each one of them tries to impose itself universally becoming doubly absolute: for one side it is inclined to the absolute domination (the powerful) or to the plain liberty (the people); for the other side, tries to impose itself to
the whole political body. Each desire is only sustained by its heterogeneous desire. Each one pursues its own purposes whose realization will be the ruin of all collective life. Good institutions and good laws ensure liberty as long as they are capable to prevent the powerful or the people to consummate its desire or abandon its own desire to assume the other’s. However, having inscribed the order of law in the disorder of dissent, Machiavelli discarded the idea of an institutional order as a defi nitive solution to the disorder of dissent. Consequently, no law or institution is able to defi nitively resist the risk of corruption. This requires a periodic return to the origins: the experience of the constitutive moment of the original violence which, exposing men to risks, restores the initial reputation and strength of States and institutions.
O artigo parte da enunciação da tese de que ao desejo
desmesurado dos grandes pela apropriação/dominação absoluta opõe-se
um desejo não menos desmesurado e absoluto do povo de não sê-lo: dois
desejos de natureza diferente que não são nem o desejo das mesmas coisas
nem desejo de coisas diferentes, mas desejos cujo ato de desejar é diferente.
Considerando que cada desejo visa sua efetividade absoluta, cada um tenta se
impor universalmente tornando-se duplamente absoluto: por um lado, tende à
dominação total (os grandes) ou à liberdade plena (o povo); por outro, tenta
se impor ao conjunto do corpo político. Cada desejo somente se sustenta do
desejo que lhe é heterogêneo. Cada um persegue uma fi nalidade própria cuja
realização plena será a ruína de toda vida coletiva. Boas instituições e boas
leis asseguram a liberdade na medida em que forem capazes de impedir que
grandes ou povo consumam seu desejo ou que abandonem seu desejo próprio
para assumir o do outro. Contudo, ao inscrever a ordem da lei na desordem
dos dissensos, Maquiavel descartou a ideia de uma ordem institucional como
solução defi nitiva da desordem dos dissensos. Consequentemente, nenhuma lei
ou instituição é capaz de resistir defi nitivamente ao risco da corrupção. Isso
obriga ao retorno periódico às origens: a experiência do momento constitutivo
da violência originária que, expondo os homens ao risco, restaura o prestígio
e vigor iniciais de Estados e instituições.