Enfermidades do útero gestante

Ciência Animal 34 (2):93-114 (2024)
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Abstract

RESUMO Os cuidados para atender às necessidades específicas da fêmea gestante são indispensáveis para o sucesso no manejo reprodutivo de qualquer espécie. Entretanto, é necessário entender que podem acontecer problemas em qualquer uma das fases reprodutivas, inclusive na gestação. Antes de tudo, na clínica e na produção, a sobrevivência dos fetos significa êxito no manejo reprodutivo. Durante o período gestacional podem se desenvolver diversas afecções no útero da fêmea, dentre elas podem ser citadas: mumificação fetal, gravidez ectópica, maceração fetal, prenhez múltipla patológica e diversas anomalias que podem acometer os envoltórios e líquidos fetais. Essas doenças representam prognóstico ruim para a fêmea e para o feto, podendo resultar em perdas fetais. O conhecimento acerca das características dessas afecções, bem como a fisiopatologia e diagnóstico são indispensáveis para o sucesso da reprodução animal. Palavras-chave: Ginecologia, reprodução, gestação. ABSTRACT Care to meet the specific needs of pregnant females is essential for the successful reproductive management of any species. However, it is necessary to understand that problems may occur in any of the reproductive stages, including pregnancy. First of all, in the clinic and production, the survival of fetuses means success in reproductive management. During the gestational period, several pathological conditions can develop in the female uterus, among them fetal mummification, ectopic pregnancy, fetal maceration, pathological multiple pregnancy, and the various anomalies that can affect fetal envelopes and fluids. These illnesses represent a poor prognosis for the female and the fetus and may result in fetal loss. Knowledge about the characteristics of these conditions, as well as the pathophysiology and diagnosis are essential for the success of animal reproduction. Keywords: Gynecology, reproduction, gestation. INTRODUÇÃO Na fisiologia da reprodução nos mamíferos, a implantação e a placentação são processos essenciais na nutrição do embrião e do feto e do seu desenvolvimento. Nos bovinos leiteiros, estima-se uma taxa de fertilização de 95%, com apenas 55% desses zigotos se desenvolvendo a termo e com perda de gestações de 35% (SILVA, 2021). Em equinos varia entre 5 e 15% (BRINSKO et al., 2011) e em suínos chega a 40% (VAN DER LENDE et al., 1994). A reprodução permite a manutenção do equilíbrio biótico, entretanto, falhas podem ocorrer, desde a concepção até o parto, incapacitando o pleno desenvolvimento gestacional e acarretando danos à cadeia produtiva (BRAGA e BARROSO, 2014). A taxa de perda gestacional atinge o pico durante o desenvolvimento embrionário e diminui após 45 dias, à medida que a gestação progride e a placentação ativa está completa (REESE et al., 2020). A placenta permite contato vascular eficaz entre as membranas fetais e o endométrio materno, através do qual ocorre a troca de oxigênio e de nutrientes vindos pelo sangue materno, além dos produtos de excreção do sangue fetal. Ela apresenta quatro membranas: a) âmnio, que contém o fluido amniótico que banha o embrião; b) saco vitelínico, que armazena os nutrientes; c) saco alantoide, onde os restos do metabolismo embrionário são estocados e d) córion, que delimita os limites do embrião e interage seletivamente com o ambiente externo, permitindo nutrientes e/ou oxigênio cheguem ao embrião (SILVA, 2020). No aparelho reprodutivo feminino as estruturas internas são presas pelo ligamento mesovário, que sustenta o ovário; o mesossalpinge, que ancora o oviduto e o mesométrio, que mantém o útero no seu lugar. Ele compreende os ovários, tubas, útero, cérvix, vagina, vestíbulo e vulva (KÖNIG e LIEBICH, 2021). O útero é formado por dois cornos, na região mesogástrica, que formam o corpo uterino, dorsal a vesícula urinária e ventral ao cólon descendente (PINTO e LORIGADOS, 2015). A cérvix fica na região caudal do útero (DYCE, 2019) e é composta pelo óstio uterino interno e o externo (KÖNIG e LIEBICH, 2021). O líquido amniótico é um complexo biológico que proporciona proteção mecânica, nutrientes e substâncias para o crescimento fetal e possui efeito antimicrobiano (UNDERWOOD et al., 2005). Ele desempenha várias funções: protege o feto contra traumas, desidratação e mudanças de temperatura; permite o desenvolvimento fetal e sua mobilidade; amplia a lubrificação da vagina após a ruptura da bolsa, inibe o crescimento bacteriano por ação mecânica de limpeza e previne aderências (GRUNERT e BIRGEL, 1984). As enfermidades do trato reprodutivo têm causado problemas reprodutivos, acarretando perdas econômicas (JÚNIOR et al., 2009). Os problemas na esfera da fisiopatologia da reprodução em animais, está associada ao período do periparto (SCOTT, 2005). Entretanto, existem relatos de sua ocorrência em fêmeas não gestantes e também fora do período puerperal (PRESTES et al., 2008; SALES et al., 2011). Devido à importância das diversas patologias que atingem o útero gravídico, esse trabalho tem como objetivo buscar identificar na literatura científica existente as características, diagnóstico e tratamento de cada alteração uterina, pautando discussão crítica sobre os processos de formação de cada uma.

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