Abstract
RESUMO
Os cuidados para atender às necessidades específicas da fêmea gestante são indispensáveis para o sucesso no
manejo reprodutivo de qualquer espécie. Entretanto, é necessário entender que podem acontecer problemas em
qualquer uma das fases reprodutivas, inclusive na gestação. Antes de tudo, na clínica e na produção, a
sobrevivência dos fetos significa êxito no manejo reprodutivo. Durante o período gestacional podem se
desenvolver diversas afecções no útero da fêmea, dentre elas podem ser citadas: mumificação fetal, gravidez
ectópica, maceração fetal, prenhez múltipla patológica e diversas anomalias que podem acometer os envoltórios
e líquidos fetais. Essas doenças representam prognóstico ruim para a fêmea e para o feto, podendo resultar em
perdas fetais. O conhecimento acerca das características dessas afecções, bem como a fisiopatologia e
diagnóstico são indispensáveis para o sucesso da reprodução animal.
Palavras-chave: Ginecologia, reprodução, gestação.
ABSTRACT
Care to meet the specific needs of pregnant females is essential for the successful reproductive management of
any species. However, it is necessary to understand that problems may occur in any of the reproductive stages,
including pregnancy. First of all, in the clinic and production, the survival of fetuses means success in
reproductive management. During the gestational period, several pathological conditions can develop in the
female uterus, among them fetal mummification, ectopic pregnancy, fetal maceration, pathological multiple
pregnancy, and the various anomalies that can affect fetal envelopes and fluids. These illnesses represent a poor
prognosis for the female and the fetus and may result in fetal loss. Knowledge about the characteristics of these
conditions, as well as the pathophysiology and diagnosis are essential for the success of animal reproduction.
Keywords: Gynecology, reproduction, gestation.
INTRODUÇÃO
Na fisiologia da reprodução nos mamíferos, a implantação e a placentação são
processos essenciais na nutrição do embrião e do feto e do seu desenvolvimento. Nos bovinos
leiteiros, estima-se uma taxa de fertilização de 95%, com apenas 55% desses zigotos se
desenvolvendo a termo e com perda de gestações de 35% (SILVA, 2021). Em equinos varia
entre 5 e 15% (BRINSKO et al., 2011) e em suínos chega a 40% (VAN DER LENDE et al.,
1994). A reprodução permite a manutenção do equilíbrio biótico, entretanto, falhas podem
ocorrer, desde a concepção até o parto, incapacitando o pleno desenvolvimento gestacional e
acarretando danos à cadeia produtiva (BRAGA e BARROSO, 2014). A taxa de perda
gestacional atinge o pico durante o desenvolvimento embrionário e diminui após 45 dias, à
medida que a gestação progride e a placentação ativa está completa (REESE et al., 2020).
A placenta permite contato vascular eficaz entre as membranas fetais e o endométrio
materno, através do qual ocorre a troca de oxigênio e de nutrientes vindos pelo sangue
materno, além dos produtos de excreção do sangue fetal. Ela apresenta quatro membranas: a) âmnio, que contém o fluido amniótico que banha o embrião; b) saco vitelínico, que armazena
os nutrientes; c) saco alantoide, onde os restos do metabolismo embrionário são estocados e
d) córion, que delimita os limites do embrião e interage seletivamente com o ambiente
externo, permitindo nutrientes e/ou oxigênio cheguem ao embrião (SILVA, 2020).
No aparelho reprodutivo feminino as estruturas internas são presas pelo ligamento
mesovário, que sustenta o ovário; o mesossalpinge, que ancora o oviduto e o mesométrio, que
mantém o útero no seu lugar. Ele compreende os ovários, tubas, útero, cérvix, vagina,
vestíbulo e vulva (KÖNIG e LIEBICH, 2021). O útero é formado por dois cornos, na região
mesogástrica, que formam o corpo uterino, dorsal a vesícula urinária e ventral ao cólon
descendente (PINTO e LORIGADOS, 2015). A cérvix fica na região caudal do útero (DYCE,
2019) e é composta pelo óstio uterino interno e o externo (KÖNIG e LIEBICH, 2021).
O líquido amniótico é um complexo biológico que proporciona proteção mecânica,
nutrientes e substâncias para o crescimento fetal e possui efeito antimicrobiano
(UNDERWOOD et al., 2005). Ele desempenha várias funções: protege o feto contra traumas,
desidratação e mudanças de temperatura; permite o desenvolvimento fetal e sua mobilidade;
amplia a lubrificação da vagina após a ruptura da bolsa, inibe o crescimento bacteriano por
ação mecânica de limpeza e previne aderências (GRUNERT e BIRGEL, 1984).
As enfermidades do trato reprodutivo têm causado problemas reprodutivos,
acarretando perdas econômicas (JÚNIOR et al., 2009). Os problemas na esfera da
fisiopatologia da reprodução em animais, está associada ao período do periparto (SCOTT,
2005). Entretanto, existem relatos de sua ocorrência em fêmeas não gestantes e também fora
do período puerperal (PRESTES et al., 2008; SALES et al., 2011). Devido à importância das
diversas patologias que atingem o útero gravídico, esse trabalho tem como objetivo buscar
identificar na literatura científica existente as características, diagnóstico e tratamento de cada
alteração uterina, pautando discussão crítica sobre os processos de formação de cada uma.