Abstract
Conquanto seja utilizada somente no terceiro capítulo da Doutrina Transcendental do Método, designado “A arquitetônica da razão pura”, a distinção entre conhecimento histórico e conhecimento racional é um topos básico das Lógicas de Kant, marcando a diacronia de suas reflexões metafísicas. No percurso aqui proposto para esclarecer essas duas noções, remontamos a Christian Wolff. Para situar a posição epistemológica da Filosofia, no Discurso preliminar sobre a filosofia em geral, Wolff explicita a diferença entre os conhecimentos histórico, filosófico e matemático, na tentativa de alocar toda a aquisição do nosso conhecimento no interior dessa tripartição. Kant acolhe essa divisão tripartite, mas vai reduzi-la à oposição entre conhecimento histórico e conhecimento racional, equacionando o conhecimento empírico com o histórico, e situando filosofia e matemática no interior do último modo de conhecimento. Procurou-se aqui mostrar que essas duas noções decisivas e contrapostas são conversíveis entre si, articulando-se no interior daquilo que Kant denomina uma arquitetônica. Mediante essa distinção, Kant procura um princípio metodológico de unificação, opondo as noções de agregação e subordinação, que darão origem às noções de agregado e sistema. Sendo ciência sistemática, a filosofia é projetada no vértice da disposição racional de todas as ciências, guardando consigo a responsabilidade de abrigar a meta final de todo o uso da razão humana.