in this article, we experience the exercise of a screen ethnocartography in agency with the film Beasts of the southern wild by the director Benh Zeitlin. We tested a film experimentation that led to a renewed writing ways of life. We bet on cinema and childhood as possibilities for creating cracks and a stutter of language for the creation of new worlds and ways of living. In cinema images less as a representation, and more as art that proposes incompleteness, fissure, (...) a hole in appearances. In childhood as an exercise of differentiation and resistance to dominant narratives in a given context. In childhood as a limiting experience of/in language, tirelessly exposing the human condition in front of the world. Thus, accompanying the main character of the plot, little Hushpuppy — a six-year-old resident of the “Charles Doucet Island”, experienced as “the Bathtub” —, we are shaken by the forms of life there, considered bestial and not recognized by city humans. Hushpuppy, his father and friends resist attempts to destroy their existence by the forms of the state that try to domesticate them, imbued with the logic that primitives must come to civilization, just as children must become adults. (shrink)
A new reprogenetic technology, mitochondrial replacement, is making its appearance and, unsurprisingly given its promise to wash off our earthly stains --or at least the scourges of sexual reproduction--, John Harris finds only reasons to celebrate this new scientific feat.1 In fact, he finds mitochondrial replacement techniques (MRTs) so “unreservedly welcome” that he believes those who reject them suffer from “a large degree of desperation and not a little callousness.”2 Believing myself to be neither desperate nor callous, but finding myself (...) also no closer at all – not even after reading his article—to following Harris in welcoming these technologies wholeheartedly, it seems appropriate to respond. (shrink)
Este artigo tem a pretensão de analisar a construção de alguns processos conceituais que levaram a justificativa da legitimação da dominação, subjugação e eliminação do corpo de seres humanos de pele escura, especificamente procedentes do continente africano e as respectivas terras para onde foram levados a força para serem escravizados. Ao receber a alcunha de negro pelo colonizador europeu, o africano começa a ser inserido em um estágio de construção de não-ser, não-humanidade e não-racionalidade. Classificado dessa forma o seu corpo (...) (a força de trabalho) foi utilizado como combustível para o desenvolvimento do capitalismo. Um corpo que poderia ser utilizado e descartado assim que se tornasse inútil para ser explorado. Mesmo após o sistema econômico escravagista ter sido extinto, as estratégias de eliminação do corpo negro não cessaram. Agora, como ameaça biológica, os sistemas políticos contemporâneos, atualizando técnicas coloniais executam esse mesmo corpo em forma de necropolítica. (shrink)
This paper introduces new logical systems which axiomatize a formal representation of inconsistency (here taken to be equivalent to contradictoriness) in classical logic. We start from an intuitive semantical account of inconsistent data, fixing some basic requirements, and provide two distinct sound and complete axiomatics for such semantics, LFI1 and LFI2, as well as their first-order extensions, LFI1* and LFI2*, depending on which additional requirements are considered. These formal systems are examples of what we dub Logics of Formal Inconsistency (LFI) (...) and form part of a much larger family of similar logics. We also show that there are translations from classical and paraconsistent first-order logics into LFI1* and LFI2*, and back. Hence, despite their status as subsystems of classical logic, LFI1* and LFI2* can codify any classical or paraconsistent reasoning. (shrink)
Proponents of moral enhancement believe that we should pursue and apply biotechnological means to morally enhance human beings, as failing to do so is likely to lead to humanity's demise. Unsurprisingly, these proposals have generated a substantial amount of debate about the moral permissibility of using such interventions. Here I put aside concerns about the permissibility of moral enhancement and focus on the conceptual and evidentiary grounds for the moral enhancement project. I argue that such grounds are quite precarious.
1. Hume e a Magna Carta: em torno do círculo da justiça, Maria Isabel Limongi; 2. Hume e o problema da justificação da resistência ao governo, Stephanie Hamdan Zahreddine; 3 O surgimento dos costumes da sociedade comercial e as paixões do trabalho, Pedro Vianna da Costa e Faria; 4. O sentido da crença: suas funções epistêmicas e implicações para a teoria política de Hume, Lilian Piraine Laranja; 5. O Status do Fideísmo na Crítica de Hume à Religião Natural, Marília Côrtes (...) de Ferraz; 6. Da imaterialidade da alma: a desconstrução mais incisiva de Hume de um pressuposto metafísico, Marcos César Seneda; 7. A “irresistibilidade” e a “inevitabilidade” das crenças naturais e o caráter normativo da epistemologia de Hume, Claudiney José de Sousa; 8. Filosofia e vida comum na epistemologia de Hume, Marcos Fonseca Ribeiro Balieiro; 9. Hume e o relativismo moral, Flávio Zimmermann; 10. Hume e a vivacidade das crenças morais, André Luiz Olivier da Silva; 11. Virtudes sociais e refinamento na filosofia moral de David Hume, Andreh Sabino Ribeiro; 12. O movimento razão-crença na interpretação da teoria da motivação de Hume, Franco Nero Antunes Soares; 13. Sentimentos e Normatividade em David Hume segundo Annette Baier, Giovani Lunardi; 14. Simpatia e aprovação moral da justiça na filosofia de David Hume, Denize Carolina da Cunha & Nivaldo Machado; 15. Do eu como feixe de percepções ao eu das paixões: Hume e a identidade pessoal no Tratado, Susie Kovalczyk dos Santos; 16. Imaginação em Hobbes e Hume: cadeias mentais reguladas e princípios de associação, Andrea Cachel; 17. Hume e o princípio fundamental da filosofia moderna, Rafael Bittencourt Santos; 18. A conexão necessária entre Hume e Malebranche, Bruna Frascolla; 19. Realismo ontológico e antirrealismo epistemológico na problemática sobre o mundo externo em Hume, Leandro Hollanda; 20. Uma possível inversão kantiana da tese humeana da inércia da razão, Carlos Eduardo Moreno Pires; Nota sobre João Paulo Monteiro, Rolf Nelson Kuntz. (shrink)
Este trabalho é uma investigação sobre os conceitos de espaço presentes tanto no livro IV da Física de Aristóteles, bem como no Livro 1, parte 2, do Tratado da Natureza Humana de David Hume. Nosso ponto de partida são os paradoxos de Zenão. Sabemos que Aristóteles debate diretamente com Zenão no livro IV da Física, enquanto Hume, no Tratado da Natureza Humana discute com a posição de Zenão acerca do espaço renovada por Bayle. Tendo isto em vista, o principal objetivo (...) deste trabalho é o de expor como Aristóteles enfrenta o paradoxo proposto por Zenão acerca do lugar, e como Hume enfrentou o paradoxo proposto por Bayle sobre a constituição do espaço, através de uma apropriação do método de Zenão. (shrink)
At the end of 2017, Kristen Roupenian’s short story, Cat Person, went viral. Published at the height of the #MeToo movement, it depicted a ‘toxic date’ and a disturbing sexual encounter between Margot, a college student, and Robert, an older man she meets at work. The story was widely viewed as a relatable denunciation of women’s powerlessness and routine victimization. In this paper, I push against this common reading. I propose an alternative feminist interpretation through the lens of Simone de (...) Beauvoir’s notion of narcissism: a form of alienation that consists in making oneself both the subject and the ultimate project of one’s life. Framing Margot as a narcissist casts her as engaging, not in subtly coerced, undesired sex, but rather in sex that is desired in a tragically alienated way. I argue that Beauvoir’s notion of narcissism is an important tool for feminists today – well beyond the interpretation of Cat Person. It presses us to see systematic subordination not just as something done to women, but also as something women do to themselves. This in turn highlights the neglected role of self-transformation as a key aspect of feminist political resistance. (shrink)
Esse texto procura explicitar a tese da compreensão atual que Simmel pressupõe como lócus de apreensão e interpretação dos processos humanos dotados de sentido. Para explicitá-la, confronta as posições de Dilthey e Simmel sobre o papel da vivência na fundamentação do conhecimento histórico. Ao contrário de Dilthey, no entanto, Simmel não pressupõe uma vivência que possa ser apreendida em outrem ou circunscrita a partir de um objeto, porque põe o fundamento da compreensão na atualidade daquele que compreende. Assim, opera com (...) possibilidades objetivas da construção de conexões de sentido por meio da projeção de processos psíquicos. Conquanto dificilmente seja lembrado no debate sobre a compreensão ou sobre a filosofia da história, Simmel possui uma posição própria e consistente acerca da fundamentação do conhecimento histórico, que pode ou abrir novos ângulos de pesquisa ou ser fecunda para se reexaminar perspectivas já consolidadas. (shrink)
Com toda uma vida dedicada à reflexão, Fausto Castilho teve a sua trajetória marcada por duas grandes paixões: a Filosofia e o Brasil. Ambas o acompanharam desde a infância e a adolescência, tendo atravessado o seu caminho personagens emblemáticos, que o ajudaram a demarcar o traçado peculiar do seu destino. Formado na Sorbonne, numa época em que ela reunia, com seu corpo docente, um dos mais significativos e completos departamentos de filosofia do ocidente, Fausto Castilho trouxe consigo diversos métodos rigorosos (...) de trabalhar um texto filosófico, sem jamais deixar de ter um pensamento e uma posição refletida sobre os temas aos quais se dedicou. Essa mesma postura sempre marcou sua profunda reflexão sobre o Brasil, que sempre coadunou assuntos estratégicos, vocação tecnológica e formação política, ocupando-se não tanto com a identidade do país – tema que marcou sua geração –, mas muito mais com o seu desenvolvimento e sua inserção cosmopolita. (shrink)
A distinção entre conhecimento filosófico e conhecimento matemático constitui um dos temas centrais da construção do pensamento kantiano durante a década de 1760. Conquanto operasse com a distinção entre Filosofia e Matemática, Wolff não pressupunha uma radical oposição entre o modo de operação dessas duas ciências. Essa oposição radical surge pela distinção entre conceitos arbitrários e conceitos dados, que Kant propõe já em 1764, no texto Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da moral. Tomando essa distinção (...) como ponto de partida, este texto pretende executar os seguintes passos: expor a incompatibilidade entre procedimento filosófico e procedimento matemático, que surge do modo de definir cada uma dessas ciências; examinar a transposição de tarefas que Kant projeta sobre a Filosofia e a Matemática, a partir do modo como cada uma pode operar com o conceito de espaço; e fazer uma apresentação inicial dos elementos da estética, particularmente do espaço, como fonte de possibilidade de toda a síntese teórica. Esse último passo do texto será realizado a partir de uma análise dos elementos da estética contidos na Dissertação de 1770. (shrink)
Este texto pretende mostrar que, do ponto de vista das ciências empíricas, o projeto de demolição do ceticismo, conduzido por Descartes, perdura até a VI Meditação e nela não pode ser concluído. Se isto assim ocorre, é porque há dois modelos de superação do ceticismo em Descartes. O primeiro modelo diz respeito à superação da dúvida metafísica. Esse modelo alcança algum êxito já na II Meditação, na qual, por analogia com o procedimento matemático, a descoberta de uma evidência irrecusável conduz (...) à primeira certeza, e esta se torna o ponto de partida para a obtenção de outras. O segundo modelo diz respeito à superação da dúvida sobre os conteúdos do mundo sensível. Embora pareça que a solução do segundo modelo decorra diretamente do êxito obtido no domínio do primeiro, isto não se dá, porque, conquanto Descartes construa os fundamentos matemáticos de uma teoria do extenso, nela não consegue resolver os problemas da Física entendida como uma teoria dos objetos empíricos. (shrink)
A obra ora noticiada foi apresentada inicialmente como tese de doutorado à Sorbonne, perante banca de doutorado presidida pelo Professor Ferdinand Alquié , e da qual participaram os Professores De Gaudillac e Paul Ricoeur.
De acordo com Aristóteles, conhecemos algo cientificamente quando apreendemos a causa pela qual essa coisa é e apreendemos, também, certa relação necessária entre aquilo que pretendemos conhecer e o que descobrimos ser a causa adequada que explica por que tal fato é o caso. Além disso, o filósofo identifica o conhecimento científico com a posse de um silogismo científico ou demonstração. Neste trabalho, analisamos a relação entre a teoria demonstrativa que Aristóteles desenvolve, principalmente, no livro I dos Segundos Analíticos e (...) sua teoria silogística dos Primeiros Analíticos I e tentamos responder por que o conhecimento científico deve ser via silogismo. Também procuramos explicitar como as noções de causa e de necessidade, pelas quais Aristóteles define o conhecimento científico, são contempladas pela exigência de que as proposições de uma demonstração sejam per se. Finalmente, discutiremos como essas noções de per se, necessidade e causa se encaixam na estrutura silogística, uma vez que conhecer algo cientificamente é possuir um silogismo científico. (shrink)
Resenha - DIAS, Maria Clara (org.). O que é filosofia? Ouro Preto: Instituto de Filosofia, Artes e Cultura / Universidade Federal de Ouro Preto, 1996. 154 p.
Este texto pretende discutir, do ponto de vista kantiano, o que pode ser ensinado e o que pode ser aprendido em Filosofia. Seu objetivo é construir os argumentos hipotéticos de Kant em face do método estruturalista de leitura de textos filosóficos. Para circunscrever este tema, aparentemente muito amplo, tomaremos como fio condutor um célebre texto de aula de I. Kant, publicado por G. B. Jäsche sob o título Manual dos Cursos de Lógica Geral. Kant ministrou este curso por mais de (...) quarenta anos, até o término de suas atividades docentes em 1797, e nele apresenta considerações bastante fecundas e atuais sobre o ensino da História da Filosofia e sobre a formação do filósofo. A partir da distinção entre conhecimento histórico e conhecimento racional, e da distinção entre o conceito de filosofia na escola e o conceito de filosofia no mundo (AK 9:24), procuraremos apresentar as contribuições kantianas que podem ainda ser consideradas pertinentes para se discutir o modo de ensinar Filosofia e a formação do filósofo. (shrink)
The literature provides different methodologies for sampling social wasps, including, flight intercept trap type Malaise and Attractive trap, however, there is no consensus on its use. In this respect, the aim of this study was to evaluate the best use of Malaise traps and Attractive trap in biodiversity work of social wasps, and generate a collection protocol for the use of these traps. The study was conducted in the Parque Estadual do Rio Doce, located in the east of the state (...) of Minas Gerais, in the years 2000, 2001, 2002 and 2004 and in the Botanical Garden of the Federal University of Juiz de Fora, located in the southeastern state of Minas Gerais, in years 2011, 2012 and 2013. 15 species were collected using Malaise traps, and, 26 species of social wasps were collected using Attractive traps. Although the negative aspects of both traps, complementary methodologies surveys varying social wasps are useful and it is recommended to choose for using in accordance with the logistical field. (shrink)
The work of Richard H. Popkin both introduced the concept of skeptical fideism and served to impressively document its importance in the philosophies of a diverse range of thinkers, including Montaigne, Pascal, Huet, and Bayle. Popkin’s landmark History of Scepticism, however, begins its coverage with the Renaissance. In this paper I explore the roots of skeptical fideism in ancient Greek and Roman philosophy, with special attention to Cicero’s De Natura Deorum, the oldest surviving text to clearly develop a skeptical fideist (...) perspective. (shrink)
El constante interés de Freud por la historia ha sido, generalmente, menospreciado. Sin embargo, de la lectura de sus obras se desprende que llegó a elaborar y a manejar una teoría propia, con la que pretendía tener la llave para acceder a los ingredientes capaces de explicar los aspectos fundamentales de la evolución histórica de la humanidad. Sin conocer esta concepción de la historia no puede apreciarse en sus justas dimensiones el edificio teórico freudiano ni valorarse adecuadamente su posición respecto (...) a los límites de la terapia psicoanalítica. (shrink)
Este texto compara duas possibilidades epistêmicas de se construir conhecimento a partir da experiência registrada pelos sentidos: a defendida por Tomás de Aquino e a proposta por David Hume. O objetivo do texto é mostrar em que se separam autores assumidos como tão distanciados um do outro, mas que principiam aparentemente de uma noção cognoscitiva que parte da apreensão dos sentidos. O texto defende, por um lado, que os pressupostos ontológicos de Tomás de Aquino geram um modelo em que a (...) forma migra da matéria para o intelecto. Portanto, em relação ao conhecimento empírico, não há forma no intelecto que não tenha sido retirada da matéria já informada. Por outro lado, o projeto anti-metafísico de David Hume retira de todos os dados coletados pelos sentidos toda e qualquer informação que seja prévia, exigindo, assim, um uso da linguagem em que memória e imaginação se defrontem com dados que não estavam previamente ordenados. O debate ontológico, portanto, é examinado a partir de uma investigação semântica, em que se avalia o uso dos termos linguísticos em vista dos pressupostos epistemológicos de cada sistema filosófico. (shrink)
A obra de Dilthey desempenha um papel fundamental para a filosofia contemporânea, na medida em que Dilthey distingue duas esferas por meio das quais temos acesso ao todo da realidade: a experiência objetiva ( die Erfahrung ) e a vivência ( das Erlebnis ). É esta distinçáo que possibilita a Dilthey, em oposiçáo às ciências da natureza, conceber as condições de evidência e validade das ciências do espírito. Ainda que náo nomeada com estes termos, esta distinçáo vai estar na base (...) dos textos de muitos autores do final do século XIX e do século XX. Conquanto Dilthey elabore sua teoria no decorrer de uma vasta obra, nosso objetivo é reconstruir a distinçáo que ele estabelece a partir do modo como ele reinterpreta o princípio de razáo suficiente, conforme formulado por Leibniz e Wolff. Também procuramos mostrar, a seguir, como esta reinterpretaçáo permite a Dilthey opor, à esfera dos conhecimentos teóricos circunscrita por Kant, a esfera dos conhecimentos relativos à vivência. Assim, o argumento principal aqui exposto estabelece um vínculo entre o modo como Dilthey reinterpreta o princípio de razáo suficiente e o modo como reconstrói cientificamente a fundamentaçáo das ciências do espírito, concebendo-as a partir de uma relaçáo específica entre evidência e validade. (shrink)
Reduzindo a fonte dos conhecimentos aos dados sensíveis, o empirismo pode ser concebido basicamente de dois modos: a partir da aquisição dos conteúdos do pensamento, ou a partir da constituição empírica da própria subjetividade. A segunda hipótese, em suas linhas gerais, foi apresentada explicitamente por G. Deleuze. Este texto, ao examinar esta segunda hipótese, restringe-se a uma análise exaustiva da memória e da imaginação, procurando expor os passos pelos quais Hume constitui distintos modos de operar da mente humana em conformidade (...) com os pressupostos radicais do que denominou filosofia experimental. (shrink)
A distinção entre filosofia e matemática enquanto modos de operação da razão tem presença marcante nos cursos de Lógica de Kant, mas igualmente articula diversas soluções de problemas no interior do pensamento crítico. No entanto, ela data do período pré-crítico, tendo se tornado bem explícita já na obra Investigação sobre a distinção dos princípios da teologia natural e da moral (1764). Quase duas décadas depois, essa distinção será retomada na “Doutrina transcendental do método”, contida na Crítica da razão pura (1781). (...) Ao contrário de Christian Wolff, que propunha uma divisão tripartite do conhecimento, distinguindo conhecimentos históricos, filosóficos e matemáticos, Kant aloca os conhecimentos filosóficos e matemáticos no interior da mesma divisão epistemológica: ambos são conhecimentos racionais. No entanto, um é conhecimento racional por conceitos (filosofia) e outro é conhecimento racional por construção de conceitos (matemática). Por meio dessa distinção e das oposições que ela comporta, Kant vai definir o método de trabalho do filósofo e do matemático e o modo de resolução de problemas específico de cada uma dessas disciplinas. Comparando os dois textos citados acima, pretendemos esclarecer os procedimentos metodológicos concebidos mediante essa distinção, e as respectivas tarefas epistemológicas que ela comporta. (shrink)
Romance sui generis, sua estrutura narrativa se tece a partir de contos interconectados, sempre eivados de paixões intensas a ponto de pôr em cheque não só os limites entre fantasia e fato, como também a própria noção de realidade. Sua densa trama psicológica, exuberantemente simbólica, toca aspectos profundos da existência humana. Seu título é uma referência à menção de G.W. Hegel à 'Coruja de Minerva', em que afirma que apenas quando as civilizações aproximam-se de sua decadência final, de sua derradeira (...) agonia, pode a Filosofia expressar algo de substancial conteíudo acerca de sua história, pois tais verdades mais profundas a respeito só poderiam ser capturadas ao saírem de cena ao sobrevir do "crepúsculo", ou seja, apenas em retrospecto. Portanto, a reflexão dos filósofos abordaria a história humana de maneira análoga ao olhar da coruja de caça ao sobrevoar os campos ao cair da noite. Estaria uma última 'Coruja de Minerva' já pairando sobre a humanidade neste século 21, tão obscurecido por temores e sinais apocalípticos? (shrink)
Abstract: Our soul, as Plato proposed, responds to the nature, functions and interaction of the three parts of which it is composed, without this preventing it from possessing a unitary character. His model of psychism respected the universal perception of the diversity of soul entities, but, by using the tools provided by Greek thought, he turned them into components of a process of opposition and dialectical ascent that reproduced within man the structure of the cosmos. The triangular systems of Aristotle, (...) Kant and Freud are indebted to the power of the Platonic scheme and, at the same time, they have contributed to making the strategy of the tripartite soul one of the fundamental references in philosophy. Key words: tripartite soul, dialectical ascent, unitary character, cosmos, triangular systems. --------------- Resumen: Nuestra alma, propuso Platón, responde a la naturaleza, funciones e interacción de las tres partes de las que se compone, sin que ello impida que, a la vez, posea un carácter unitario. Su modelo de psiquismo respetaba la percepción universal de la diversidad de las entidades anímicas, pero, valiéndose de las herramientas proporcionadas por el pensamiento griego, las convertía en componentes de un proceso de oposición y ascenso dialéctico que reproducía en el interior del hombre la estructura del cosmos. Los sistemas triangulares de Aristóteles, Kant y Freud son deudores de la potencia del esquema platónico y, a la vez, han contribuido a que la estrategia del alma tripartita sea uno de los referentes fundamentales de la filosofía. Palabras clave: alma tripartita, ascenso dialéctico, carácter unitario, cosmos, sistemas triangulares. (shrink)
Conquanto seja utilizada somente no terceiro capítulo da Doutrina Transcendental do Método, designado “A arquitetônica da razão pura”, a distinção entre conhecimento histórico e conhecimento racional é um topos básico das Lógicas de Kant, marcando a diacronia de suas reflexões metafísicas. No percurso aqui proposto para esclarecer essas duas noções, remontamos a Christian Wolff. Para situar a posição epistemológica da Filosofia, no Discurso preliminar sobre a filosofia em geral, Wolff explicita a diferença entre os conhecimentos histórico, filosófico e matemático, na (...) tentativa de alocar toda a aquisição do nosso conhecimento no interior dessa tripartição. Kant acolhe essa divisão tripartite, mas vai reduzi-la à oposição entre conhecimento histórico e conhecimento racional, equacionando o conhecimento empírico com o histórico, e situando filosofia e matemática no interior do último modo de conhecimento. Procurou-se aqui mostrar que essas duas noções decisivas e contrapostas são conversíveis entre si, articulando-se no interior daquilo que Kant denomina uma arquitetônica. Mediante essa distinção, Kant procura um princípio metodológico de unificação, opondo as noções de agregação e subordinação, que darão origem às noções de agregado e sistema. Sendo ciência sistemática, a filosofia é projetada no vértice da disposição racional de todas as ciências, guardando consigo a responsabilidade de abrigar a meta final de todo o uso da razão humana. (shrink)
Este texto pretende discutir, do ponto de vista kantiano, o que pode ser ensinado e o que pode ser aprendido em Filosofia. Seu objetivo é construir os argumentos hipotéticos de Kant em face do método estruturalista de leitura de textos filosóficos. Para circunscrever este tema, aparentemente muito amplo, tomaremos como fi o condutor um célebre texto de aula de I. Kant, publicado por G. B. Jäsche sob o título Manual dos Cursos de Lógica Geral. Kant ministrou este curso por mais (...) de quarenta anos, até o término de suas atividades docentes em 1797, e nele apresenta considerações bastante fecundas e atuais sobre o ensino da História da Filosofia e sobre a formação do filósofo. A partir da distinção entre conhecimento histórico e conhecimento racional, e da distinção entre o conceito de filosofia na escola e o conceito de filosofia no mundo (AK 9:24), procuraremos apresentar as contribuições kantianas que podem ainda ser consideradas pertinentes para se discutir o modo de ensinar Filosofia e a formação do filósofo. (shrink)
Esse texto procura investigar a seguinte questão: como pode ser conduzido um processo de Esclarecimento que não seja apenas individual, mas social e político? Uma resposta para esta questão pode ser obtida na medida em que concebemos o conceito de autonomia como fundamento da estratégia do Esclarecimento, que aqui será compreendido como um processo arquetípico de educação da humanidade. Nosso objetivo é mostrar que a proposta de educação elaborada por Kant tem de ser compreendida de um ponto de vista cosmopolita.
A Estética Transcendental é uma peça chave no programa de pesquisa que Kant desenvolveu e nomeou de filosofia transcendental. Ela se anuncia na Dissertação de 1770 e se configura de forma bem explícita na primeira edição da Crítica da razão pura, de 1781. O modo como Kant a concebeu permitiu-lhe separar radicalmente intelecto e sensibilidade, mas seria importante compreender a raiz dessa separação. Nesse texto procuramos mostrar que o opúsculo “Sobre o primeiro fundamento da distinção de direções no espaço”, de (...) 1768, traz características bastante decisivas para a estética proposta no período crítico. Para evidenciar isso, expusemos ideias marcantes do texto sobre as contrapartidas incongruentes e as cotejamos com as reflexões expostas nos itens 3 e 4 relativos à Exposição Metafísica do conceito de espaço e aquelas apresentadas nos itens 4 e 5 relativos à Exposição Metafísica do conceito de tempo. (shrink)
Sumário: 1. O conceito de revolução, Amélia de Jesus Oliveira; 2. Mudanças de concepção de mundo, Artur Bezzi Günther; 3. Habilidade e causalidade: uma proposta confiabilista para casos típicos de conhecimento, Breno Ricardo Guimarães Santos; 4. El realismo interno de Putnam y sus implicaciones en la filosofía de la ciencia y para el realismo científico, Marcos Antonio da Silva; 5.O papel da observação na atividade científica segundo Peirce, Max Rogério Vicentini; 6.Fact and Value entanglement: a collapse of objective reality?, (...) Oswaldo Melo Souza Filho; 7.Realismo interno e o paradoxo de Putnam, Renato Mendes Rocha; 8.Uma informação, dois formatos, dois destinos, Cícero Antônio Cavalcante Barroso; 9.O Mentiroso e as intuições acerca da noção de verdade na perspectiva de Saul Kripke, Ederson Safra Melo; 10.A conceptual difficulty with some definitions of behavior, Filipe Lazzeri; 11.A faceta epistêmica do problema da referência, Saulo Moraes de Assis; 12.Princípios metafísicos do método newtoniano, Bruno Camilo de Oliveira; 13.A resposta aristotélica para a aporia do regresso ao infinito nas demonstrações, Daniel Lourenço; 14.O uso da doutrina da ponderação aplicado ao principialismo, Cinthia Berwanger Pereira; 15.A fenomenologia da vida interior em Hannah Arendt, Elizabete Olinda Guerra; 16.Por que achar que o direito é formado por ordens é um fracasso?, ria Alice da Silva; 17 Por que ainda há poucas mulheres na filosofia? Uma versão modificada do modelo das “vozes diferentes”, Tânia A. Kuhnen; 18.Algumas considerações sobre Substância, Forma e Matéria na Metafísica de Aristóteles, Gabriel Geller Xavier. (shrink)
El proceso de aprehensión de lo cognoscible, en la filosofía contemporánea, ha sido tratado desde diversas perspectivas, entre ellas la fenomenológica y la analítica. Cada una de estas perspectivas aportan unos presupuestos filosóficos y procesos metodológicos que nos proporcionan marcos de trabajo para indagar en las vías de aprehensión del conocimiento; sin embargo, empleadas por separado son insuficientes y limitadas. En absoluto se trata de procurar un método universal, sino de integrar e indagar sobre diversos presupuestos, procesos, patrones y (...) estructuras para avanzar en la indagación de la aprehensión del conocimiento. En este sentido, en la primera parte, abordaremos la necesidad de tener reglas (definitorias y estratégicas) para ser parte y avanzar en cualquier «juego», en especial el del conocimiento. En la segunda y tercera, describiremos los «métodos» desarrollados por José Ferrater Mora (operaciones filosóficas) y Nicolai Hartmann (pensar sistemático), los que pueden ser un punto de partida, vías a considerar en este proceso. En la parte final, a modo de contraste, se ofrece en un gráfico un esquema metodológico de los dos métodos analizados. (shrink)
En este documento se discuten las recientes tendencias de la epistemología (entendida como teoría de la ciencia y de la investigación), desde un punto de vista explicativo que las considera como variaciones observacionales que aparecen en un cierto lapso, pero que son generadas por marcos subyacentes de carácter ahistórico y preteórico, llamados “enfoques epistemológicos”, de modo isomórfico a las conocidas diferencias entre estructuras “superficial” y “profunda” o entre “type” y “token”, etc. Dentro de esta presuposición hipotética, alejada de una (...) descripción meramente narrativa o histórica, y dentro de algunos otros criterios, en la primera parte se caracteriza una referencia esencial, el período entre 1920 y 1990, como clave para entender las variaciones y tendencias en los últimos 16 años de desarrollo de la epistemología. En la segunda parte se discuten y explican esas tendencias recientes. En la última sección se hace énfasis en una visión más general y profunda que tiene que ver con la aplicabilidad de la epistemología a la práctica cotidiana de la investigación. (shrink)
Panel de discusión del Cuerpo Académico de Estética y Arte realizado en los marcos del Tercer Coloquio Nacional de la Asociación Mexicana de Estudios en Estética, en el que fueron expositores los doctores José Ramón Fabelo Corzo, Gerardo de la Fuente Lora e Isabel Fraile Martín. El doctor Fabelo realizó una presentación general sobre los antecedentes del tema, su significación y perspectivas de desarrollo, en particular sobre las posibilidades de introducción de nuevas categorías, entre ellas la de la “colonialidad (...) del valer”. El doctor De la Fuente, por su parte, centró su intervención en las contradicciones que debe resolver la teoría de la colonialidad para no terminar realizando ella misma una apología a la colonialidad, refiriéndose al papel que en ello puede y debe desempeñar la estética. La doctora Fraile llama la atención sobre lo que podría considerarse el lado positivo de las relaciones de colonialidad que permitieron, entre otras consecuencias, un mutuo enriquecimiento cultural, algo que muestra mediante el análisis del traspaso de imaginarios visuales para los artistas de América Latina. (shrink)
O ensino de filosofia seguiu uma rota tortuosa desde a colônia até os tempos atuais. O breve histórico desse percurso tem o objetivo de reafirmar a necessidade dessa disciplina no currículo escolar, sobretudo porque sempre há aqueles que a consideram de pouca importância. No entanto, em um mundo cada vez mais pragmático, a formação exclusivamente técnica de nossos jovens dificulta o processo de conscientização crítica, além de desprezar a herança de uma sabedoria milenar. Os primeiros tempos No Brasil, desde o (...) século XVI, o ensino de filosofia fazia parte do chamado curso de artes oferecido pelos jesuítas aos filhos de colonos que concluíam o primeiro nível de letras humanas. É bem verdade que apenas alguns colégios dispunham desse curso, voltado exclusivamente para a elite colonial portuguesa. A base do ensino de filosofia era a tradição escolástica, e, mesmo durante os séculos seguintes, não houve interesse em abordar as conquistas das ciências modernas, já vigentes desde o século XVII, na perspectiva de Francis Bacon e das descobertas de Galileu Galilei. Do mesmo modo, não eram ensinadas as teorias de René Descartes e John Locke. Inspirado nos ideais da Contrarreforma, o ensino jesuítico reafirmava a autoridade da Igreja e dos clássicos, com o controle sobre as informações a que os alunos teriam acesso. No século XVIII, os fundamentos aristotélico-tomistas perduraram, com raras exceções, apesar de o marquês de Pombal ter expulsado os jesuítas. O próprio Pombal permitiu a divulgação de algumas dessas obras "esclarecidas", mas cuidou de elencar uma lista das proibidas. Contrariando o controle, as novas ideias circulavam no Brasil por meio de estudantes formados pela Universidade de Coimbra e também pela venda clandestina de panfletos e cópias manuscritas. Desse modo, nas aulas régias, instituídas por Pombal para substituir as escolas dos jesuítas, no geral foi mantida a educação elitista, livresca, desfocada da realidade brasileira durante o império e a república. Apesar do controle, havia exceções, nas poucas vezes em que intelectuais, professores e conhecedores de bibliografia atualizada ensinavam disciplinas como ciências modernas, filosofia e matemática. Algumas congregações religiosas, como a dos franciscanos, também se interessavam pelas contribuições científicas e filosóficas de seu tempo. Ensino de filosofia: entre facultativa e obrigatória A partir do século XIX, predominou um vaivém entre a filosofia como disciplina obrigatória ou facultativa. Com a criação de cursos jurídicos no Brasil, na década de 1820 - em São Paulo e Recife -, a filosofia tornou-se disciplina obrigatória do ensino médio, como pré- requisito para o ingresso ao curso superior, reforçando o caráter propedêutico daquele curso. Em 1915, uma reforma de ensino tornou a filosofia disciplina facultativa, mas o ministro Francisco Campos tentou reverter esse quadro em 1932, tornando-a novamente obrigatória. Conhecido pela atuação no movimento da Escola Nova, Campos aliou seus esforços aos de figuras importantes da pedagogia brasileira, como o sociólogo Fernando de Azevedo e o filósofo e educador Anísio Teixeira. A tendência escolanovista era renovadora e se fazia necessária diante da situação econômica do Brasil. Com o início da industrialização, surgia a necessidade de melhorar a escolarização, sobretudo para os segmentos urbanos. Francisco Campos introduziu as disciplinas de lógica, sociologia e história da filosofia no currículo escolar. Com a Reforma Capanema, em 19142, o ensino secundário dividiu-se em ginasial e colegial. Este último foi subdividido em científico, com ênfase no estudo de ciências, e clássico, que privilegiava a formação em humanidades. Nesse contexto, a filosofia se constituiu como disciplina obrigatória em um dos três anos do científico e em dois anos do curso clássico, com proposta de programa bastante extenso. No entanto, uma sequência de portarias reduziu gradativamente o número de horas-aula da disciplina, por fim, restrita ao último ano do colegial. Em 1961, foi promulgada a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBJ, a Lei n. 4.024, ocasião em que o ensino de filosofia perdeu a obrigatoriedade. Período da ditadura militar Durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), as aulas de filosofia foram extintas pela Lei n. 5.692, de 1971. Essa lei reformou o então chamado ensino de 1º e 2º graus e introduziu o ensino profissionalizante, de acordo com a tendência tecnicista proposta pelos acordos entre militares e tecnocratas. Um dos objetivos era adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, com economia de tempo, esforços e custos. A educação tecnicista encontrava-se imbuída dos ideais de racionalidade, organização, objetividade, eficiência e produtividade, como se fosse uma empresa: esperava-se que, ao terminar cada um dos níveis, o aluno estivesse capacitado para ingressar no mercado como força de trabalho, caso necessário. Para implantar o projeto de educação proposto, o governo militar não revogou a LDB de 1961, mas introduziu alterações e fez atualizações. Enquanto a aprovação da LDB resultara de amplo debate na sociedade civil, o governo autoritário regulamentou as leis do ensino universitário (Lei n. 5.540/1968) e do ensino de 1º e 2º graus (Lei n. 5.692/1971) de maneira impositiva. Diversos acordos, conhecidos como MEC-Usaid (Ministério da Educação e Cultura e United States Agency for International Development), ofereceram assistência técnica e cooperação financeira para implantar a reforma. A habilitação profissional constituiu-se em um emaranhado de "ofertas" que chegavam a 130 habilitações profissionais distribuídas conforme os cursos e as regiões do país. Algumas disciplinas desapareceram, como a de filosofia, e outras foram aglutinadas. Por sua vez, a inclusão de Moral e Cívica no primeiro nível e de Organização Social e Política no segundo exerceu a clara intenção de doutrinamento político. Há controvérsias em torno da extinção da filosofia do currículo escolar. Para alguns, a extinção revelava a intenção explícita dos governos militares de evitarem o desenvolvimento do pensamento crítico. Outros analisam de modo diferente, alegando que, com raríssimas exceções, o ensino da filosofia reduzia-se à história da filosofia, com ênfase na memorização, não representando, portanto, nenhuma ameaça ao regime de exceção, por desempenhar papel submisso e nada subversivo. Além disso, de acordo com o viés tecnicista da reforma, havia necessidade de mais espaço para incluir disciplinas voltadas para a habilitação profissional. Já nas universidades, era possível notar o crescente desprestígio da filosofia, tendo ocorrido perseguição a professores, muitos deles exilados. Todavia, o propósito de formar profissionais, conforme propunha a nova lei, não se concretizou. A escola pública se fragilizou ainda mais, enquanto algumas boas escolas da rede particular encontraram meios de contornar a lei e oferecer um ensino de qualidade com os mesmos conteúdos que visavam desenvolver o espírito crítico e, portanto, a capacidade de seus alunos pensarem por si mesmos. Em 1982, no clima da abertura democrática, a Lei n. 7.01-114 permitiu a reinserção da filosofia no currículo como optativa, a critério do estabelecimento de ensino. Nada foi conseguido sem esforço, mas com trabalho intenso e pressão da sociedade civil. Associações especialmente criadas para esse fim aglutinaram professores de cursos secundários e superiores para promoverem encontros, movimentos de protesto e contatos com autoridades governamentais, no esforço conjunto para alcançar aquele objetivo. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/1996 Após a aprovação da Constituição brasileira de 1988, restava elaborar a lei complementar para tratar das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A primeira LDB, de 1961, levara muito tempo para ser aprovada e ofereceu no final um texto já envelhecido. Devido a esse fato, havia interesse em acelerar a regulamentação da nova LDB, o que ocorreu em dezembro de 1996, com a publicação da Lei n. 9.394. O primeiro projeto da nova LDB baseou-se em amplo debate, não só na Câmara, mas também na sociedade civil, além de várias entidades sindicais, científicas, estudantis e segmentos organizados da educação. O projeto original exigiu do relator Jorge Hage importante trabalho de finalização, já que a nova lei não resultaria de exclusiva iniciativa do Executivo, e sim do debate democrático da comunidade educacional. No entanto, com apoio do governo e do ministro da Educação, o senador Darcy Ribeiro apresentou outro projeto que começara a ser discutido paralelamente e que terminou por ser aprovado. Como ficou a situação do ensino de filosofia? Apesar do movimento consistente que continuava defendendo o retorno da filosofia ao ensino médio, foi grande a decepção. Vejamos por quê. Ao estabelecer as finalidades da educação básica e as diretrizes dos conteúdos curriculares, essa lei destacava a importância da formação para o exercício da cidadania, a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos e de respeito ao bem comum e à ordem democrática. Foi recomendado também o aprimoramento do educando como pessoa humana, por meio de formação ética e desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Conforme a LDB sob Lei 9.394/98: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II – consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III – orientação para o trabalho; IV – promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não- formais. Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Por fim, ficou claro no artigo 36, parágrafo 1º, inciso III (revogado pela Lei n. 11.684, de 2008), que os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação deveriam ser organizados de tal maneira que ao final do ensino médio o educando demonstrasse "domínio dos conhecimentos de filosofia e de sociologia necessários ao exercício da cidadania". Embora a educação para a cidadania constituísse um objetivo visado por qualquer disciplina, com mais razão o professor de filosofia teria condições de abordá-la explicitamente, não só por tomá-la como um de seus conteúdos, mas principalmente pelo seu caráter problematizador e argumentativo, próprio da filosofia. Portanto, seria válido supor que o artigo 36 definisse a reinserção da filosofia no currículo, ministrada por profissional formado na área, o que de fato não se concretizou, e o ensino de filosofia permaneceu como não obrigatório. Posteriormente, conforme a Resolução CEB n. 3/1998, "as propostas pedagógicas das escolas deverão assegurar o tratamento interdisciplinar e contextualizado para os conhecimentos de filosofia e de sociologia necessários ao exercício da cidadania" (artigo 10, parágrafo 2º, alínea b]. Ou seja, professores de outras disciplinas seriam responsáveis por esses "temas transversais", orientação que prevaleceu nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Um pouco antes, em 1997, dando continuidade a anseios de educadores, o deputado federal Padre Roque Zimmermann apresentara projeto de lei para tornar obrigatório o ensino de filosofia e sociologia no currículo do ensino médio. Após sua aprovação no Senado, em 2001, o projeto foi vetado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Finalmente, em 2008, o artigo 36 da LDB sofreu alteração, tornando obrigatório o ensino de filosofia e de sociologia no currículo do ensino médio, por meio da Lei n. 11.684/2008. Na sequência da aprovação, continua em andamento a implantação desse projeto de ensino. Esperamos que o espaço conquistado não venha a sofrer mais tarde nova retração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 6ª ed. São Paulo: Moderna, 2016. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Ciências humanas e suas tecnologias. In: Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2006. ______________________________________. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. Disponível em: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Biblioteca do Senado. Acesso em: 11 Jun. 2019. ______________________________________. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio: Bases Legais. Brasília: MEC, 1999. ______________________________________. Resolução CEB n° 3 de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 1998. Disponível em: Resolução CEB n° 3 de 1998. Acesso em: 11 Jun. 2019. KOHAN, W. O. (Org.). Políticas do ensino de filosofia. Rio de Janeiro: DP6A, 2014. (shrink)
Publicado originalmente como “Prólogo” al libro Risieri Frondizi. Pensamiento Axiológico. Antología ([Selección, Prólogo y Epílogo de José Ramón Fabelo]. Biblioteca Americana, Universidad del Valle-Instituto Cubano del Libro, Cali-La Habana, 1993, pp. VII-XXIII). El texto busca ubicar al filósofo Risieri Frondizi en los marcos del pensamiento sobre los valores en el contexto latinoamericano.
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