Neuroenhancement involves the use of neurotechnologies to improve cognitive, affective or behavioural functioning, where these are not judged to be clinically impaired. Questions about enhancement have become one of the key topics of neuroethics over the past decade. The current study draws on in-depth public engagement activities in ten European countries giving a bottom-up perspective on the ethics and desirability of enhancement. This informed the design of an online contrastive vignette experiment that was administered to representative samples of 1000 respondents (...) in the ten countries and the United States. The experiment investigated how the gender of the protagonist, his or her level of performance, the efficacy of the enhancer and the mode of enhancement affected support for neuroenhancement in both educational and employment contexts. Of these, higher efficacy and lower performance were found to increase willingness to support enhancement. A series of commonly articulated claims about the individual and societal dimensions of neuroenhancement were derived from the public engagement activities. Underlying these claims, multivariate analysis identified two social values. The Societal/Protective highlights counter normative consequences and opposes the use enhancers. The Individual/Proactionary highlights opportunities and supports use. For most respondents these values are not mutually exclusive. This suggests that for many neuroenhancement is viewed simultaneously as a source of both promise and concern. (shrink)
Neuroenhancement involves the use of neurotechnologies to improve cognitive, affective or behavioural functioning, where these are not judged to be clinically impaired. Questions about enhancement have become one of the key topics of neuroethics over the past decade. The current study draws on in-depth public engagement activities in ten European countries giving a bottom-up perspective on the ethics and desirability of enhancement. This informed the design of an online contrastive vignette experiment that was administered to representative samples of 1000 respondents (...) in the ten countries and the United States. The experiment investigated how the gender of the protagonist, his or her level of performance, the efficacy of the enhancer and the mode of enhancement affected support for neuroenhancement in both educational and employment contexts. Of these, higher efficacy and lower performance were found to increase willingness to support enhancement. A series of commonly articulated claims about the individual and societal dimensions of neuroenhancement were derived from the public engagement activities. Underlying these claims, multivariate analysis identified two social values. The Societal/protective highlights counter normative consequences and opposes the use enhancers. The Individual/proactionary highlights opportunities and supports use. For most respondents these values are not mutually exclusive. This suggests that for many neuroenhancement is viewed simultaneously as a source of both promise and concern. (shrink)
RESUMO:O objetivo deste artigo é discutir sobre os conceitos de obrigação e lei natural, tendo como referência o polêmico debate moderno envolvendo intelectualismo e voluntarismo. Em um primeiro momento, destacaremos a rejeição de Wolff ao voluntarismo de Pufendorf e sua orientação em direção ao intelectualismo de Leibniz. Conforme essa nova orientação, uma teoria da lei natural não deve basear seu conceito de obrigação na autoridade das leis e em seu poder coercitivo, mas, por outro lado, unicamente na ideia de necessidade (...) moral, interpretada como expressão da ligação natural universal dos seres racionais com o dever. Em um segundo momento, apresentaremos os efeitos dessa discussão no pensamento inicial de Kant, que, se posicionando diante mesmo de Wolff e Baumgarten, vai empreender a superação de seus predecessores, através de uma revisão conceitual do problema, a qual culminará nos pressupostos de sua doutrina ética madura. -/- ABSTRACT:This paper highlights the debate around the concepts of obligationand natural law, with reference to the controversial modern discussion involving intellectualism and voluntarism. Firstly, we highlight Wolff’s rejection of the voluntarism of Pufendorf and Wolff’s orientation toward the intellectualism of Leibniz. For intellectualism, a theory of natural law should not ground the concept of obligation in the authority of laws and in their coercive power, but in the idea of moral necessity, understood as an expression of the universal natural connection of rational beings with duty. We then present the effects of this discussion on Kant’s early thought. Kant undertook to go beyond Wolff and Baumgarten through a conceptual review of the problem, which culminated in the assumptions of his mature ethics -/- This paper highlights the debate around the concepts of obligation and natural law , with reference to the controversial modern discussion involving intellectualism and voluntarism. Firstly, we highlight Wolff’s rejection of the voluntarism of Pufendorf and Wolff’s orientation toward the intellectualism of Leibniz. For intellectualism, a theory of natural law should not ground the concept of obligation in the authority of laws (established as an arbitrary decree of God) and in their coercive power (interpreted as fear of punishment), but in the idea of moral necessity, understood as an expression of the universal natural connection of rational beings with duty. We then present the effects of this discussion on Kant’s early thought. Kant undertook to go beyond Wolff and Baumgarten through a conceptual review of the problem, which culminated in the assumptions of his mature ethics. (shrink)
The extent of the originality and relevance of Kant's ethics is undeniable. But it is not so evident the fact that the Kant's moral philosophy as a whole was not suddenly built, but it was dependent on a profound debate with the philosophical tradition, especially with the German scholastic tradition, a debate which led to the assimilation or appropriation of several of its aspects. With special regard to the history of the development of the categorical imperative, it is not possible (...) to be indifferent to the influence of the practical philosophy of the Enlightenment German philosopher and theologian, Christian August Crusius. The aim of this article is thus to try to identify, taking into account the distinction of praxis in problematic and moral and the contrast between prudence and morality, some points of intersection between the moral philosophy of Crusius and Kant in its origin. (shrink)
In this paper, my aim is to reconstruct, through the material presented in the handschrifter Nachlaß, Kant`s criticism to Hutcheson and to the doctrine of moral feeling in the 1770s in the so called silent decade. As we can note, this criticism generally is addressed to the fact that the doctrine of moral feeling is lacking an objective ground on which can be established a categorical conception of ethics. Moreover, I argue that in this context Kant already demonstrates, from his (...) critical position in the Reflexionen and Vorlesungen, the general lines of his mature conception on moral feeling as something strictly linked to our awareness of the law. (shrink)
É possível constatar, mesmo em uma leitura superficial, que Kant tem o propósito de empreender em seu opúsculo de 1795, À Paz Perpétua, uma defesa dos princípios normativos do direito em todas as esferas da vida pública. Isso se evidencia na tentativa de desenvolver uma teoria da paz erigida sobre uma teoria tríplice do direito público, dividida nos âmbitos do direito estatal, das gentes e cosmopolita. Mas, se a questão é, por um lado, adequar os princípios puros da doutrina do (...) direito à teoria da paz, por outro, o problema com o qual Kant tem de lidar é essencialmente histórico. Não se trata apenas de justificar, em um contexto abrangente, a normatividade dos princípios do direito, mas também de demonstrar a sua aplicabilidade. Por conseguinte, em seu empreendimento, Kant encontra-se diante do desafio de demonstrar a inconsistência da “expressão corrente”, com a qual teve que lidar antes, que diz que “isto pode ser correto na teoria, mas nada vale na prática”. Tal preocupação pode ser observada direta e indiretamente, em várias passagens, no decorrer do texto, explicitando-se ,sobretudo, na discussão apresentada no Suplemento Primeiro no qual a questão suscitada pelo problema da teoria e prática, acerca das condições de possibilidade de realização do ideal da paz, é discutida no contexto de sua filosofia da história e também no Apêndice I, no qual, através de uma reflexão sobre o consenso entre moral e política, o que se põe em questão é a possibilidade da concordância entre teoria e prática no contexto da filosofia e da prática política. Ocupar-me-ei nesse texto apenas em tratar da questão sob esse segundo aspecto, tentando destacar que a estratégia kantiana para superar o problema da teoria e prática, no âmbito da filosofia política, depende do desenvolvimento de uma “renovada” doutrina da prudência. Como observa Castillo1, “[p]ara provar que a teoria jurídica da paz se aplica na teoria e na prática ao mesmo tempo”, Kant “deve fazer um exame crítico do conceito de prudência do Estado”2 . Esta análise deve nos permitir concluir, em primeiro lugar, que, bem diferente da visão antes difundida de que a filosofia política de Kant é expressão de um moralismo “que é certamente sincero, mas basicamente ingênuo”3, o objetivo de Kant, na verdade, nunca foi o de se afastar da realidade concreta da política em nome de um ideal abstrato de virtude política. Sua preocupação foi, em vez disso, a de ajustar os co. (shrink)
O termo respeito é derivado do latim respectus, que corresponde ao uso substantivo do particípio passado do verbo respicere, cujo significado literal é "olhar para trás", "olhar de volta", "olhar novamente", "considerar" (do latim re "de novo" e spicere "olhar"). Derivações do termo latino respectus são encontradas tanto no francês antigo (sec. VIII-XIX), cujo termo respit significa "descansar", "repousar", quanto no inglês médio (sec. XI-XV), cujo termo respect aparece, assumindo a função de nome, no sentido de "relação ou referência a (...) uma coisa ou situação específica" e, na função de verbo, no sentido de "ser digno de consideração ou estima". Na linguagem comum, respeito é uma das palavras cotidianas que aparece em uma multiplicidade de contextos. De um modo mais amplo, poder-se-ia definir respeito como o reconhecimento do valor e da dignidade de algo, do qual decorre um conjunto de comportamentos e estados de ânimo como resposta. Em primeira instância, é importante observar que o conceito de respeito implica sempre uma relação, como no caso em que utilizamos a locução "a respeito de". O respeito leva em conta uma relação responsiva entre sujeito e objeto na qual o sujeito responde ao objeto devido ao reconhecimento de certas características nele. Como o termo latino nos sugere, essa relação envolve um "olhar de volta" que é, ao mesmo tempo, um "considerar", ou seja, trata-se de um certo tipo de apreciação do objeto baseada em elementos tais como a atenção, o julgamento, o conhecimento, a valorização e a deferência. Nesse sentido, respeitar é uma maneira particular de se apreender objeto, na qual uma atenção especial é requerida com o propósito de reconhecer o objeto, não segundo as distorções perpetradas pela nossa subjetividade, mas em sua própria dignidade. Embora o ato de respeitar tenha origem no sujeito, ele não diz respeito primariamente ao sujeito, mas, em vez disso, ao objeto, na medida em que envolve o reconhecimento de uma propriedade que o objeto reivindica para si. Este é o motivo pelo qual respeitar não é meramente uma questão discricionária, baseada em nosso querer e não querer, mas uma experiência [...]. (shrink)
O presente trabalho visa demonstrar como a relação entre corpo e alma são indispensáveis para o viver. Para tanto, considera a tese de que o ser animado é uma substância composta de matéria e forma, que também pode ser analisada sob a perspectiva de potência e ato. Neste sentido, o trabalho inicia com a compreensão sobre o que é uma substância, qual tipo de substância é o ser vivo para, em seguida, mediante as definições de alma presentes no livro Β (...) do De Anima, perceber como se dá a relação entre corpo e alma e porque tal relação é necessária ao viver. (shrink)
The article On the Miscarriage of All Philosophical Trials in Theodicy was published in 1791 on the pages of the monthly periodical berlinische Monatsschrift. By itself, the title of the article already seems to us quite enlightening. What would it be but a criticism of every attempt to justify the God's cause? Nevertheless, there are evidences that there is much more at stake. Thus, the purpose of this paper is to raise the question about the true meaning of the Kant`s (...) text, arguing in favor of the fact that, for some reasons, the essay should not be interpreted exclusively as a criticism, but otherwise as a effort to establish a positive foundation of theodicy. If, indeed, the limits of reason prohibit any attempt to defend the good cause of God by speculative means, on the other hand, practical reason opens the way, throught of the concept of a "authentic theodicy", to answer the objections which the experience raises against the government and justice of God. My purpose, from this, is to stress the important role of theodicy in the system of reason of Kantian philosophy. (shrink)
This essay is part of a doctoral dissertation presented to the Department of Philosophy, University of São Paulo, in 1993, named 'Genealogy of the Real' . Its core idea is a Nietzschean approach to a masterpiece among philosophical inspired movies, namely, Akira Kurosawa's Rashomon, which surely touches deep groundings of the concept of truth and reality.
Why did human beings throughout the millennia so often think about a doomsday? Could there be a profit to our inner pleasure and pain equilibrium, when believing that doomsday is nearing, an idea suggested by Sigmund Freud? An analogous instinctive dynamics was thought by Nietzsche who wrote that human beings do prefer to want the nothingness rather than not to want anything at all. In this essay, 'Melancholia', a movie by Lars von Trier, is taken as an exquisite masterpiece, a (...) grandiose exposition of Schopenhauer and Nietzsche Philosophies.. (shrink)
Apresentamos aqui a tradução de uma pequena seleção das notas kantianas sobre ética. A maioria dos fragmento traduzidos é parte das chamadas Reflexões de Filosofia Moral publicadas no tomo XIX de Kants gesammelte Schriften, que se constituem, em sua maior parte, como as anotações de Kant (algumas em folhas soltas) na margem de um dos exemplares de referência para seus cursos de ética17, a Initia philosophiae practicae primae de Alexander Baumgarten, em sua edição de 1760. Acrescentamos à mesma seleção, no (...) entanto, algumas Reflexões presentes em outros volumes do Legado Manuscrito que, de alguma maneira, abordam os mesmos temas. As Reflexões foram dispostas em ordem numérica e separadas de acordo com seus respectivos assuntos. Considerando a diversidade dos temas comentados por Kant, de acordo com o manual, tais como obrigação, coerção, imputação, lei, justiça, punição etc, tentamos selecionar alguns tópicos que assumem uma função basilar dentro da teoria moral kantiana. Dessa forma, o primeiro grupo de Reflexões contém algumas notas que tratam com o problema da liberdade e da lei moral. O segundo é um compilado contendo comentários sobre o sentimento moral. O terceiro apresenta algumas reflexões esparsas sobre imputabilidade e o mal moral e o quarto grupo traz algumas notas comentadas sobre o problema do sumo bem, sendo, em alguns casos, apenas trechos de anotações maiores. As traduções foram realizadas diretamente a partir dos fragmentos originais, embora, em alguns casos, tenha sido feito o cotejamento com outras versões, dentre as quais cito a tradução para o espanhol, Reflexiones sobre Filosofia Moral, publicada por J. Herceg, a seleção de notas da Cambridge Edition intitulada Notes and Fragments e a tradução francesa de Luc Langlois, Réflexions Sur La Philosophie Morale. Com o objetivo de dar mais clareza aos apontamentos, facilitando a interpretação, optei por completar, em alguns casos, as sentenças de Kant nas quais certas palavras ficam subentendidas. Este complemento está apresentado entre colchetes. Para fins comparativos, todas as Reflexões traduzidas são acompanhadas por sua correspondente original nas notas de rodapé. Ciente de todas as dificuldades desse tipo de trabalho, desde já, deixo aberto à comunidade acadêmica o espaço para críticas, sugestões e correções. (shrink)
No centro da filosofia moral de Kant está sem dúvida sua doutrina do imperativo categórico. Por esse motivo não é de se surpreender que a Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), na qual Kant explica, em detalhes, essa doutrina pela primeira vez, tenha sido o foco da atenção por décadas. Mas há alguns anos é observável uma significativa mudança na literatura que é univocamente bem vinda: ao lado da pesquisa das Doutrinas da Virtude e do Direito publicadas por Kant nos (...) anos noventa do século 18, agora também são intensamente estudadas suas perspectivas filosófico-morais desenvolvidas antes de 1781. Nesse sentido assume uma posição de destaque o manuscrito estudantil de uma lição de ética ministrada no meio dos anos 70, que é publicada aqui, em língua portuguesa, pela primeira vez em uma tradução comentada. Ainda hoje, esta lição serve como uma introdução à ética de Kant, muito embora pareça divergir, em alguns aspectos, da doutrina crítica do imperativo categórico. As Lições de Ética são um „trabalho em andamento“. Por um lado, somos capazes de assistir Kant "pensando" e compreender como ele se reporta ao livro de Alexander Baumgarten sobre os Príncípios da Metafísica Prática (Initia philosophiae practicae primae, 1760). E, por outro lado, somos capazes de vivenciar como ele desenvolve suas próprias perspectivas filosófico-morais em contraste a Baumgarten. Para todos que se interessam pela filosofia moral de Kant e pela história da ética na época da Aufklärung, o estudo desse manuscrito é indispensável. -/- Heiner F. Klemme (Martin Luther Universität - Halle-Wittenberg) . (shrink)
The different approaches of the mind-body problem a fortiori have implications on the foundations of Psychology, Psychopathology and Psychiatry, leading to many clashing theories about the determinants of "normal" human behavior, as well of the mental illnesses. These schools of research on the human mind may on a first approach be divided in two main branches: 1) the neurogenetic ones; 2) the psychogenetic ones. This paper sprang up from a lifelong pondering on its subject by its author, while working as (...) a Clinical Psychiatrist and conducting a Ph D in Philosophy. (shrink)
Em 1795, a maneira sarcástica com a qual Kant inaugura um de seus textos mais influentes referindo-se ao letreiro de uma pousada holandesa sobre o qual está pintado um cemitério cujo lema é a “paz perpétua”, diz muito sobre a situação permanente de guerra em que se encontrava não só os países europeus daquele tempo, mas também, de um modo geral, os povos na história da humanidade. Com o objetivo de colocar um fim definitivo em todas as guerras, Kant propõe (...) os fundamentos de uma teoria integral do direito público tripartida nos âmbitos do 1) direito do Estado, 2) do direito das gentes e 3) do direito cosmopolita. Exige-se, na primeira esfera, a instituição da constituição republicana, o que deve tornar os Estados sistemas políticos representativos. Em relação à segunda esfera, os Estados republicanos devem se reunir em uma liga livre de povos contrária à guerra E, na última, os seres humanos devem ser reconhecidos como cidadãos do mundo, o que lhes garante um direito à hospitalidade. Não é de se surpreender, levando em conta estas inovações, que o opúsculo kantiano “À paz Perpétua” tenha se tornado tão rapidamente popular e que a sua influência tenha se estendido para o contexto jurídico-político do século XX, materializando-se no aparecimento de organizações internacionais como a Liga das Nações (1919) e a Organização das Nações Unidas (1945). (shrink)
A publicação do volume XX dos escritos completos de Kant publicado pela Academia de Berlin, editado por Lehmann em 1942, representou uma contribuição fundamental para a interpretação do desenvolvimento da filosofia moral de Kant, uma vez que, pela primeira vez, os intérpretes tiveram acesso ao extrato completo das decisivas Anotações (Bemerkungen) kantianas em seu exemplar particular de Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime. De fato, pouca progressão havia sido observada no trabalho dos primeiros intérpretes do desenvolvimento, que, (...) com acesso apenas aos excertos incompletos organizados anteriormente por Schubert, não foram capazes de avaliar adequadamente os problemas fundamentais da filosofia moral com os quais Kant, em sigilo, estava preocupado nesse contexto. Em certo ponto, estas anotações deixam de ser um adendo aos temas da obra de Observações para tornarem-se reflexões críticas profundas sobre os escritos rousseaunianos, que, surpreendentemente,nos permite reconhecer os traços mais básicos da teoria ética que, mais tarde, seria apresentada na Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Com efeito, isso levou a literatura, desde a segunda metade do século XX, a reconhecer“uma perfeição inicial” da ética kantiana, uma vez que, já naquele tempo, Kant parece compreendera consciência moral “totalmente a partir da essência da vontade”, o que o conduz à“fórmula do imperativo categórico a partir da universalidade da vontade”. (shrink)
As Reflexões sobre o otimismo são as mais antigas reflexões kantianas sobre metafísica que aparecem no legado manuscrito [ handschiftlicher Nachlass ], remetendo-se ao fecho de 1753 ou 1754. Para justificar a importância de sua tradução, eu argumento que as consequências oriundas do problema da teodicéia, que cerceiam sua problemática, apresentam-se como alguns dos aspectos fundamentais do desenvolvimento intelectual kantiano no que concerne aos âmbitos da teologia racional e da ética. Por um lado, argumento que a crítica à teodicéia de (...) Leibniz abre espaço para as primeiras reflexões kantianas em torno da teologia racional, proporcionando as bases para o fundamento da prova apresentada em o Único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Por outro, eu deixo indicado que as reflexões são, do mesmo modo, o ponto de partida para profundas investigações em torno do conceito de perfeição, investigações essas que vão incidir diretamente no próprio modo kantiano de caracterização da vontade. (shrink)
The present article aims to analyze systematically the formularization of Kant on the dignity of the human person, in order to offer a interpretative direction to the jurists at the moment of the application of this principle, which today appears as one of the beddings of the Democratic State of Law(art. 1o, III, of the Federal Constitution of 1988). To carry through such task, the work is divided in two parts: the first one studies the conceptual elements of the moral (...) philosophy of Kant, having as base the book Groundwork of the Metaphysics of Morals. The second one investigates the main aspects of the principle of the dignity of the human person - its origin, its meaning and its limits - according to the thought of this philosopher. In this perspective, the kantian's categorical imperative prescribes that the rational being never must be treated merely as a mean, but always as end in itself. (shrink)
RESUMO Neste artigo, busco identificar, por meio de algumas passagens da "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" e da "Crítica da Razão Prática", o debate de Kant com a Filosofia Prática Universal de Wolff. Em um primeiro momento, apresento, de forma sucinta, alguns aspectos gerais da metafísica e da ética wolffiana com o intuito de, em um segundo momento, explicitar como algumas considerações de Kant, em suas duas primeiras obras morais, incidem diretamente nas teses de seu predecessor. A crítica de Kant (...) é apresentada nas seguintes etapas. Primeiro, destaco, diante das teses de Wolff, o argumento kantiano sobre a impossibilidade de se estabelecerem os princípios da faculdade superior de apetição e da obrigação moral a partir do prazer baseado nas representações e, por conseguinte, no princípio da felicidade. Em um segundo momento, sublinho a reivindicação kantiana de uma razão prática pura como a única base da faculdade superior de apetição. A partir disso, é notável o surgimento dos novos conceitos kantianos de lei formal, de liberdade e de perfeição moral. Por último, destaco, ainda em diálogo com Wolff, como a razão prática pura, compreendida como faculdade superior de apetição, pode representar não apenas as bases da necessidade moral, mas também uma fonte adequada de motivação. ABSTRACT In this Paper, I seek to identify Kant's debate with Wolff`s Universal Practical Philosophy in some passages of the "Foundations of Metaphysics of Morals" and of the "Critique of Practical Reason". At first, I briefly present some general aspects of Wolff`s metaphysics and ethics aiming at, in a second step, stressing how some of Kant's considerations, in his first two moral works, have a direct impact on the theses of his predecessor. First, stressing the discussion with Wolff, I highlight Kant's argument about the impossibility of establishing the principles of the superior faculty of desire and of moral obligation from the pleasure on the representations and, therefore, in the principle of happiness. In a second step, I stress the Kantian claim of pure practical reason as the basis of the superior faculty of desire. Thence, I show how the new Kantian concepts of formal law, freedom and moral perfection emerge. Finally, I highlight, still in a dialogue with Wolff, how the pure practical reason may represent not only the foundations of moral necessity, but also how it may be a proper source of motivation. (shrink)
Romance sui generis, sua estrutura narrativa se tece a partir de contos interconectados, sempre eivados de paixões intensas a ponto de pôr em cheque não só os limites entre fantasia e fato, como também a própria noção de realidade. Sua densa trama psicológica, exuberantemente simbólica, toca aspectos profundos da existência humana. Seu título é uma referência à menção de G.W. Hegel à 'Coruja de Minerva', em que afirma que apenas quando as civilizações aproximam-se de sua decadência final, de sua derradeira (...) agonia, pode a Filosofia expressar algo de substancial conteíudo acerca de sua história, pois tais verdades mais profundas a respeito só poderiam ser capturadas ao saírem de cena ao sobrevir do "crepúsculo", ou seja, apenas em retrospecto. Portanto, a reflexão dos filósofos abordaria a história humana de maneira análoga ao olhar da coruja de caça ao sobrevoar os campos ao cair da noite. Estaria uma última 'Coruja de Minerva' já pairando sobre a humanidade neste século 21, tão obscurecido por temores e sinais apocalípticos? (shrink)
Romanzo filosofico sui generis, la cui struttura narrativa viene tessuta da racconti interconnessi, sempre pieni di intense passioni da mettere in discussione non solo i limiti tra fantasia e fatto, ma la nozione stessa di realtà. Suo denso tessuto psicologico è vividamente simbolico e tocca aspetti davvero profondi dell'esistenza umana. Il titolo è un riferimento alla "Civetta di Minerva" del filosofo tedesco GW Hegel, su cui lui afferma che solo quando le civiltà si avvicinano al loro decadimento finale, alla loro (...) agonia, può la filosofia dire qualcosa di sostanziale sulla loro storia, dal fatto che loro più profonde verità solo si lasciono catturare durante l'uscita da scena quando viene il loro "crepuscolo", cioè solo come tarda retrospettiva. (shrink)
Kant‘s moral philosophy is one of the great cornerstones of the Western ethical reflection. The little that is known is that the basic conception on which Kantian ethics was built – videlicet, the concept of autonomy of the will – was developed from the attempt to solve a set of problems of metaphysical and theological character that could only have been overcome through the adoption of a new practical metaphysics. With this in mind, this research is an attempt at a (...) reconstruction of the Kantian moral thought in its development, having as a higher aim the emphasis on the importance of the problem of theodicy in the genesis of Kant‘s original conceptions of freedom and the moral world, which emerged from the middle of the 1760s and only came to a bloom on the next decade. Such an attempt at a reconstruction will be guided by the chronological sequel of the pre-critical writings and Kant‘s reflections on the Manuscript Legacy, besides his Lectures on Ethics, sources that are temporally circumscribed from the late 1750s and the first half of the 1780 decade. In a first moment, the genesis of the moral problem will be analyzed from Kant‘s critical position – due to the objections that were raised precisely by the theodicy – in front of the intellectualistic comprehension of the concepts of perfection and will such as they were received by the German Scholastic. In a second moment, the beginning of a reformulation directly influenced by Crusius and the British moralists will be highlighted, and it will culminate in a repositioning of the ethical problem, having in mind the roles of reason and feeling. The third moment is marked by the Kantian assimilation of Rousseau‘s thought. Rousseau‘s influence will propel the emergency of a new understanding of the concept of perfection as an inner attribute of the will, enabling support for a new concept of practical philosophy. Indeed, a solution to the ethical problem regarding the conditions of possibility of free actions within the natural world will emerge and, besides that, a path to an adequate answer to the problem of theodicy will rise by means of the concept of a practical rational faith. Finally, the development of the Kantian doctrine of the categorical imperative will be highlighted – by means of the debate with Baumgarten‘s compendium – as the first attempts to lay down a systematic and unified view of morality that will try to establish a connection between the concepts of virtue and happiness – in this contexts, approach from the perspective of the highest Good. (shrink)
Partindo de uma crítica à condenação kantiana de toda e qualquer mentira, faz-se uma análise da relação entre a decisão de revelar a verdade e as instâncias de poder em que o sujeito se insere. Dada a introjeção das estruturas de poder e seu papel nas deliberações do Eu Consciente, concluímos que mentir implica num reconhecimento do poder da figura a quem se mente. Do ato leviano de mentir decorre prejuízo irreparável ao teste de realidade de quem mente.
Starting from a critique of the Kantian condemnation of any and all lies, an analysis is made of the relationship between the decision to reveal the truth and the instances of power in which the subject is inserted. Given the introjection of power structures and their role in the deliberations of the Conscious Self, we conclude that lying implies a recognition of the power of the figure to whom one lies. The light act of lying results in irreparable damage to (...) the reality test of the person who lies . (shrink)
Lars von Trier's works give us allways plenty of exquisite philosophical food for thought, mostly in very dense and hermetic language. 'Melancholia' , a 2011 movie, has been seen by us as a brilliant dramatization of Schopenhauer's and Nietzsche's philosophy, also available on PhilArchives. 'Antichrist', another movies of his from 2009, deploys a similar doom perspective regarding our times, now focusing the perpetual struggle between men and women as a leitomotiv. This brief review, however, does not intend to go beyond (...) an exposition of the mental structures which grounds both so different reactions: the husband's, and the wife's. (shrink)
Nietzsche's Ewige Wiederkunft; (Eternal Return), as a possible interpretation of 'The Third River Bank';, a poignant tale by the great Brazilian writer João Guimarães Rosa [1908-1967]. As such, this paper is a part of 'Genealogy of the Real. Nietzsche, Freud'; a Doctorate Dissertation at the Institute of Philosophy of the University of São Paulo (1993).
'The Last Owl' is a very singular novel built from interconnected poetic tales, culminating in an apocalyptic love. Its dense psychological symbolic plot intends to touch deep realms of the human condition. As for the title it relates to Hegel's phrase mentioning the Owl of Minerva, stating that only when civilizations are nearing their ultimate decay, their final throes, is philosophy able to utter something substantial on them, since deepest truths about history may be caught only during their agony, as (...) they leave scene during "dusk". Accordingly, Philosophers' ponderings approach human history in a analogous way to the hunting owl's gaze while flying over fields at nightfall. Would a last 'Owl of Minerva' be already flying over humankind in this 21st century so obscured by dooming signs ? (shrink)
In the recent past, Vietnam has dramatically increased its investment relationship and trade with the United States. At the same time, United States foreign direct investment and trade with China has been decreasing. This is even more significant when we are in a period of internal growth within the United States. Using comparative business system analysis theory and a mixed method approach we conclude that Vietnam is turning into the new China for United States firms due to the fewer differences (...) that exist between their business systems. The Chinese business system has major differences when compared with the economic system of the United States, whereas the Vietnam system has closer resemblance to the United States system. We have laid out inferences of our arguments for future research, particularly in the area of institutional comparative advantage. (shrink)
This is the report on the XVI BRAZILIAN LOGIC CONFERENCE (EBL 2011) held in Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil between May 9–13, 2011 published in The Bulletin of Symbolic Logic Volume 18, Number 1, March 2012. -/- The 16th Brazilian Logic Conference (EBL 2011) was held in Petro ́polis, from May 9th to 13th, 2011, at the Laboratório Nacional de Computação o Científica (LNCC). It was the sixteenth in a series of conferences that started in 1977 with the aim of (...) congregating logicians from Brazil and abroad, furthering interest in logic and its applications, stimulating cooperation, and contributing to the development of this branch of science. EBL 2011 included more than one-hundred and fifty participants, all of them belonging to prominent research institutes from Brazil and abroad, especially Latin America. The conference was sponsored by the Academia Brasileira de Ciências (ABC), the As- sociation for Symbolic Logic (ASL), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Centre for Logic, Epistemology and the History of Sciences (CLE), Laboratório Nacional de Computação o Científica (LNCC), Pontif ́ıcia Universidade Cato ́lica do Rio de Janeiro (PUC- Rio), Sociedade Brasileira de Lógica (SBL), and Universidade Federal Fluminense (UFF). Funding was provided by Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient ́ıfico e Tecnolo ́ gico (CNPq), Fundac ̧a ̃o de Amparo `a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Fundação Euclides da Cunha (FEC), and Universidade Federal Fluminense (UFF). The members of the Scientific Committee were: Mário Folhadela Benevides (COPPE- UFRJ), Fa ́bio Bertato (CLE-IFCH-UNICAMP), Jean-Yves Béziau (UFRJ), Ricardo Bianconi (USP), Juliana Bueno-Soler (UFABC), Xavier Caicedo (Universidad de Los An- des), Walter Carnielli (CLE-IFCH-UNICAMP), Oswaldo Chateaubriand Filho (PUC-Rio), Marcelo Esteban Coniglio (CLE-IFCH-UNICAMP), Newton da Costa (UFSC, President), Antonio Carlos da Rocha Costa (UFRG), Alexandre Costa-Leite (UnB), I ́tala M. Loffredo D’Ottaviano (CLE-IFCH-UNICAMP), Marcelo Finger (USP), Edward Hermann Haeusler (PUC-Rio), Décio Krause (UFSC), João Marcos (UFRN), Ana Teresa de Castro Martins (UFC), Maria da Paz Nunes de Medeiros (UFRN), Francisco Miraglia (USP), Luiz Car- los Pereira (PUC-Rio and UFRJ), Elaine Pimentel (UFMG), and Samuel Gomes da Silva (UFBA). The members of the Organizing Committee were: Anderson de Araujo (UNICAMP), Walter Carnielli (CLE-IFCH-UNICAMP), Oswaldo Chateaubriand Filho (PUC-Rio, Co- chair), Marcelo Correa (UFF), Renata de Freitas (UFF), Edward Hermann Haeusler (PUC- RJ), Hugo Nobrega (COPPE-UFRJ), Luiz Carlos Pereira (PUC-Rio e IFCS/UFRJ), Leandro Suguitani (UNICAMP), Rafael Testa (UNICAMP), Leonardo Bruno Vana (UFF), and Petrucio Viana (UFF, Co-chair). (shrink)
Nếu nền kinh tế quốc gia là một cơ thể sống, thì hệ thống tài chính là cơ chế tạo, cung cấp và lưu thông máu tới từng tế bào, bộ phận. Thiếu hay thừa đều phát sinh các vấn đề cần giải quyết. Với quá trình chuyển đổi kinh tế và hội nhập quốc tế mạnh mẽ, liên tục giám sát, kịp thời dự đoán sát thực các dấu hiệu và biến động của thị trường để từ đó xây (...) dựng chính sách điều tiết thị trường tài chính và toàn bộ nền kinh tế một cách hợp lý là việc làm cần thiết bảo đảm tăng trưởng kinh tế bền vững, đúng định hướng. Đối với nền tài chính của Việt Nam, hiện đang tồn tại bảy dấu hiệu cảnh báo cần được các nhà nghiên cứu và hoạch định chính sách quan tâm. (shrink)
1. Hume e a Magna Carta: em torno do círculo da justiça, Maria Isabel Limongi; 2. Hume e o problema da justificação da resistência ao governo, Stephanie Hamdan Zahreddine; 3 O surgimento dos costumes da sociedade comercial e as paixões do trabalho, Pedro Vianna da Costa e Faria; 4. O sentido da crença: suas funções epistêmicas e implicações para a teoria política de Hume, Lilian Piraine Laranja; 5. O Status do Fideísmo na Crítica de Hume à Religião Natural, Marília Côrtes (...) de Ferraz; 6. Da imaterialidade da alma: a desconstrução mais incisiva de Hume de um pressuposto metafísico, Marcos César Seneda; 7. A “irresistibilidade” e a “inevitabilidade” das crenças naturais e o caráter normativo da epistemologia de Hume, Claudiney José de Sousa; 8. Filosofia e vida comum na epistemologia de Hume, Marcos Fonseca Ribeiro Balieiro; 9. Hume e o relativismo moral, Flávio Zimmermann; 10. Hume e a vivacidade das crenças morais, André Luiz Olivier da Silva; 11. Virtudes sociais e refinamento na filosofia moral de David Hume, Andreh Sabino Ribeiro; 12. O movimento razão-crença na interpretação da teoria da motivação de Hume, Franco Nero Antunes Soares; 13. Sentimentos e Normatividade em David Hume segundo Annette Baier, Giovani Lunardi; 14. Simpatia e aprovação moral da justiça na filosofia de David Hume, Denize Carolina da Cunha & Nivaldo Machado; 15. Do eu como feixe de percepções ao eu das paixões: Hume e a identidade pessoal no Tratado, Susie Kovalczyk dos Santos; 16. Imaginação em Hobbes e Hume: cadeias mentais reguladas e princípios de associação, Andrea Cachel; 17. Hume e o princípio fundamental da filosofia moderna, Rafael Bittencourt Santos; 18. A conexão necessária entre Hume e Malebranche, Bruna Frascolla; 19. Realismo ontológico e antirrealismo epistemológico na problemática sobre o mundo externo em Hume, Leandro Hollanda; 20. Uma possível inversão kantiana da tese humeana da inércia da razão, Carlos Eduardo Moreno Pires; Nota sobre João Paulo Monteiro, Rolf Nelson Kuntz. (shrink)
Bài nghiên cứu kiểm tra hiệu ứng bất cân xứng của đòn bẩy tài chính trên thị trường tài chính cận biên của Việt Nam. Thông qua việc áp dụng mô hình kinh tế lượng EGARCH và TARCH, bài nghiên cứu đã xác nhận sự tồn tại của hiệu ứng bất cân xứng của tin tức đến mức độ rủi ro trên thị trường chứng khoán Việt Nam. Cụ thể, tin tức tiêu cực có tác động mạnh hơn so với (...) tin tức tích cực đến sự biến động của giá tài sản trong tương lai. Ngoài ra, mô hình TARCH có sự phù hợp hơn so với mô hình EGARCH dựa trên sự kiểm tra chỉ tiêu tiêu chuẩn thông tin Akaike (AIC) và tiêu chuẩn thông tin Bayesian (BIC). (shrink)
Formulação de Ração para Caprinos -/- APRESENTAÇÃO -/- O material Formulação de Ração para Caprinos, assim como a edição para ovinos, visa servir de alicerce para demonstrar as exigências nutricionais atualizadas dos caprinos, além das equações que servem para determinar a exigência do animal em uma determinada situação. Além disso, demonstra a avaliação bromatológica dos principais alimentos utilizados para a alimentação do rebanho no Brasil, esses valores da composição nutricional servem de base, assim como as exigências para as técnicas matemáticas (...) empregadas na formulação manual de dietas. A abordagem desse material é a apresentação das exigências nutricionais dos caprinos mediante as bases científicas como o NRC (2007); e, através de equações de predileções, apresentar as exigências nutricionais sob as condições brasileiras, principalmente sob condições em que deverão ser incrementados uma dada porcentagem das exigências, por exemplo para os caprinos em atividade intensa e/ou moderada no semiárido nordestino. Posteriormente, apresentar exemplos práticos de formulação de dietas mediante as técnicas matemáticas empregadas para tal. Será abordada situações reais onde um profissional pode se deparar no cotidiano de propriedades caprinocultoras. O texto também é dividido em três capítulos com as exigências nutricionais, composição dos principais alimentos e a formulação prática de dietas que visem suprir as necessidades dos animais de forma clara e objetiva, com a finalidade de servir de ferramenta para que os produtores rurais, técnicos, zootecnistas, nutricionistas etc. possam conseguir elaborar dietas para fornecer uma ração de boa qualidade física e nutricional. -/- SUMÁRIO -/- EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS CAPRINOS 1 Equações de predição do consumo de matéria seca (CMS) 2 Algumas exigências para caprinos 4 Tabelas de requerimentos nutricionais dos caprinos 6 Concentrações de nutrientes necessárias em rações de caprinos (% da MS) 12 Energia metabolizável para caprinos 15 Relação volumoso:concentrado (v:c) para caprinos 17 ALIMENTOS PARA CAPRINOS 19 FORMULAÇÃO DE RAÇÃO PARA CAPRINOS 34 RAÇÕES PRONTAS PARA CAPRINOS 78 CONCLUSÕES 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 87 -/- -/- EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS CAPRINOS -/- Para formular dieta para os caprinos, devemos seguir os mesmos passos tal qual para as demais espécies de interesse zootécnico. Os passos a serem seguidos para a elaboração de rações são: Após a caracterização do rebanho a ser alimentado, devemos buscar as equações de predileção para estimar as exigências nutricionais do lote servindo de alicerce para que a ração final obtenha as mesmas quantidades de nutrientes tal qual os animais requerem, por exemplo, um caprino reprodutor da raça Boer de 50 kg de PV sob condições de trabalho moderado, onde devemos incluir 50% da exigência da mantença, exige cerca de 795 g de NDT/ kg de MS ingerida, então após estabelecer os alimentos disponíveis e a composição bromatológica dos mesmos, o resultado final do balanceamento deverá ser igual a exigência de NDT do animal, podendo haver pouco excesso ou pouco défice. Como citado em outros trabalhos, as exigências dos animais variam em função do peso, idade, estado fisiológico etc. e que, para a elaboração de dietas, os nutrientes mais comumente trabalhados são a proteína bruta (PB), as necessidades energéticas podendo-se utilizar os nutrientes digestíveis totais (NDT), energia metabolizável (EM), energia digestível (ED) ou energia líquida (EL), as necessidades minerais dando ênfase aos de maior importância que são cálcio e fósforo e, raramente, as necessidades vitamínicas. Existem diferentes fontes teóricas e científicas que dispõem de tabelas de requerimentos nutricionais da espécie caprina de acordo com diferentes fatores, sendo eles os de peso vivo; ganho ou perda de peso; estado produtivo ou improdutivo de carne ou leite; animal em início, meio ou fim da gestação com um ou dois fetos; fêmeas paridas em lactação com uma ou duas crias ao pé etc. Também, segundo o NRC para caprinos (1981) e o para pequenos ruminantes (2007), os fatores de atividade leve, moderada ou intensa são levados em consideração. Apresentarei aqui algumas equações para predizer as exigências líquidas e as principais tabelas de requerimentos nutricionais dos caprinos expressas com base na necessidade do animal ou em percentual da ração, que servirão de base teórica para a formulação prática de rações para animais em diferentes situações. Equações de predição do consumo de matéria seca (CMS) É comum, na literatura acerca da criação e, principalmente, sobre a nutrição de caprinos observar que os especialistas trabalham com porcentagens de fornecimento de ingestão ou consumo de matéria seca (IMS ou CMS) para os animais de acordo com três fatores, um leva em consideração a origem do animal, outro o estado fisiológico e outro a categoria do animal. Para aclarar melhor vejamos a tabela 1 sobre as porcentagens de matéria seca em função do peso vivo para os caprinos. Tabela 1: Porcentagens ideais de consumo de matéria seca de acordo com o peso vivo de caprinos em diferentes etapas e origens Tipo de animal CMS em % do PV Cabras de origem temperada 5 a 6 Cabras de origem tropical 4 a 5 Mantença 3 Cabras gestantes 2,2 a 2,8 Cabras em lactação 3 a 5 Cabritos em crescimento 2,5 a 3 Fonte: Adaptações de BORGES & GONÇALVES, 2011 e SILVA & VALLE, 2018. No entanto, existem diferentes fórmulas para estimas as exigências de consumo de matéria seca dos caprinos, uma, apesar de não completa, é estabelecida pelo INRA, outras apresentadas pelo AFRC estimam para caprinos em mantença e lactação. Outras formas simplificadas indicam um consumo em porcentagem de acordo com o estado fisiológico ou origem. A equação de ingestão de matéria seca (IMS) determinada pelo INRA (1988) leva em consideração a produção de leite (se houver), o ganho diário de peso (se houver) e a porcentagem de volumoso fornecida ao caprino. IMS (g/dia) = (423,2 x kg leite/dia) + 27,8 x kg0,75 + (440 x kg de GPD) + (6,75 x %de volumoso) -/- Para um exemplo prático utilizando a fórmula proposta, suponhamos um caprino macho adulto (descartar a produção de leite = 0) com 50 kg PV, com ganho de peso diário de 100 g e recebendo uma dieta baseada em 80% de volumoso de boa qualidade, a IMS será: IMS (g/dia) = 27,8 x 50 kg0,75 + (440 x 0,1) + (6,75 x 80) = 1974 g MS/dia = 3,5% PV Outro exemplo prático utilizando a fórmula proposta pelo INRA, suponhamos uma cabra da raça Saanen com 60 kg de PV e produzindo 5 litros de leite/dia com 3,5% de gordura, com ganho de peso diário de 30 g e recebendo apenas concentrado, logo descartamos a parte volumosa então, a IMS será: IMS (g/dia) = (423,2 x 5) + (27,8 x 60 kg0,75) + (440 x 0,03) = 2730 g MS/dia = 4,54% PV Agora, a mesma cabra recebe suplementação volumosa à base de 40%, então: IMS (g/dia) = (423,2 x 5) + (27,8 x 60 kg0,75) + (440 x 0,03) + (6,75 x 40) = 3000 g MS/dia = 5% PV Outra forma de estimar a ingestão de matéria seca em gramas por dia é a proposta pelo AFRC (1993) que leva em consideração dois fatores, o peso vivo e a produção leiteira (com 3,5% de gordura), se houver, para cabras leiteiras prenhes e em lactação: CMS (kg/animal/dia) = 0,062 x PV0,75 + 0,305 x PL -/- Para utilizar essa fórmula, suponhamos uma cabra da raça Saanen, de 50 kg de PV, produzindo 5 kg de leite com 3,5% de gordura. Qual deverá ser seu consumo em matéria seca? CMS = 0,062 x 500,75 + 0,305 x 5 = 2,69 kg de MS/dia ou 5,38% do PV em MS Para caprinos adultos em mantença, o AFRC sugere a fórmula: CMS (kg/animal/dia) = 0,522 + 0,0135 x PV -/- Utilizando essa fórmula, qual deverá ser o CMS de um caprino da raça Alpina em mantença, que possui peso vivo de 45 kg? CMS = 0,522 + 0,0135 x 45 = 1,13 kg de MS/dia ou 2,5% do PV em MS Algumas exigências para caprinos Energia metabolizável (EM): 101,38 kcal/kg de PV0,75 para mantença, ou 2,0 a 2,4 Mcal/kg de MS 7,25 kcal/g de ganho de peso para animais em crescimento 1,25 Mcal/kg de leite com 4% de gordura para cabras em lactação Proteína bruta (PB): 32 g PB/Mcal de Energia digestível (ED) (EM = ED x 0,82) 4,15 g de PB/kg de PV0,75 para animais em mantença 0,284 g de PB/g de ganho para animais em crescimento 7,76 g de PB/kg de PV0,75 para cabras gestantes 96,9 g PB/kg de leite com 4% de gordura para cabras em lactação Minerais: Os principais minerais usados na formulação de ração para ruminantes são Ca e P, logo a estimativa de suas exigências são imprescindíveis, uma vez que a mistura elaborada pode apresentar deficiência de um ou ambos os minerais. O NRC (2007) propõe as seguintes equações para o cálculo dos requerimentos de Ca e P, em diferentes categorias: 1. Mantença: Cálcio (g) = ((0,623 x CMS) + 0,228)/0,45 Fósforo (g) = (0,081 + (0,88 x CMS))/0,65 Onde: CMS = consumo de matéria seca em kg/dia. 2. Crescimento: Cálcio (g) = (11 x GPD)/0,45 Fósforo (g) = (6,50 x GPD)/0,65 Onde: GPD = ganho de peso diário em kg. 3. Produção de leite: Cálcio (g) = (1,40 x L)/0,45 Fósforo (g) = (1,00 x L)/0,65 Onde: L = produção de leite em kg. É importante ressaltar que os requerimentos para cabras em lactação devem ser somados com os de mantença; dessa forma, como exemplo prático, uma cabra com 50 kg de PV que produz 3 kg de leite/dia requer cerca de 11,5 g de Ca (9,3 g de mantença + 2,2 g de produção). -/- 4. Gestação: Cálcio (g) = (0,23 x NC x PMnasc.)/0,45 Fósforo (g) = (0,132 x NC x PMnasc.)/0,65 Onde: NC = número de crias e PMnasc. = peso médio esperado da cria ou crias ao nascimento. Resumidamente, o NRC (2007) apresenta algumas indicações: 2 a 3 g de cálcio/kg de leite produzido ou 0,114 a 0,163% de Ca da MS 1,4 a 2,1 g de fósforo/kg de leite produzido ou 0,084 a 0,122% de P da MS Sal (NaCl): 0,5% da MS diariamente Potássio (K): 0,8% da MS diariamente Enxofre (S): 0,16% da MS diariamente Magnésio (Mg): 0,2% da MS diariamente -/- Tabelas de requerimentos nutricionais dos caprinos Resumidamente, a composição do concentrado dos caprinos, de acordo com a categoria, e as quantidades a serem fornecidas/animal/dia é a seguinte: Tabela 2: Composição do concentrado e quantidades fornecidas Fonte: CODEVASF, 2011. Agora, vamos dividir os requerimentos dos caprinos de acordo com situações, conforme os dados obtidos por NRC (2007), NUNES (1998) e RIBEIRO (1997): Tabela 3: Caprinos em mantença PV (kg) CMS (kg/animal¹) CMS (% PV) PB (g) PB (%) EM (Mcal) NDT² (g) NDT (%) Ca (g) P (g) 10 0,28 2,8 25 9 0,57 160 57 1 1 20 0,49 2,4 40 8,2 0,96 270 55 1 1 30 0,66 2,2 50 7,6 1,30 360 55 2 1,5 40 0,82 2,0 65 8 1,60 450 55 2 1,5 50 0,97 1,9 80 8,2 1,90 530 55 3,5 2,5 60 1,11 1,8 90 8 2,20 610 55 3,5 2,5 70 1,25 1,8 95 7,6 2,50 680 55 4 3 80 1,40 1,7 105 7,5 2,70 750 54 4 3 90 1,50 1,65 120 8 3,00 820 55 4 3 100 1,62 1,6 130 8 3,20 900 56 5 3,5 -/- 1 – para converter matéria seca em matéria natural, dividir o valor em MS pela porcentagem de MS do ingrediente. Por exemplo, em uma ração encontrou-se 100 g MS de milho, sabendo-se que a % de MS do milho é 90%, então: 100/0,9 = 112 g de milho com base na matéria natural. 2 – 1 kg de NDT equivale a 4,4 Mcal de energia digestível (ED) e 1 Mcal de ED = 0,82 Mcal de EM. Tabela 4: Mantença e baixa atividade (incremento de 25% dos valores de mantença da tabela 3) – manejo extensivo, pastagem tropical e gestação inicial PV (kg) CMS (kg/cab./dia) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 10 0,3 30 0,71 200 1 0,7 20 0,5 50 1,20 335 2 1,4 30 0,67 60 1,62 452 2 1,4 40 0,84 80 2,02 560 3 2,1 50 0,99 90 2,38 662 4 2,8 60 1,14 105 2,73 760 4 2,8 70 1,28 120 3,07 852 5 3,5 80 1,41 130 3,39 942 5 3,5 90 1,54 145 3,70 1030 6 4,2 100 1,67 155 4,01 1114 6 4,2 Por exemplo, um animal com 40 kg de PV em mantença e submetido a baixa atividade, deverá receber PB na base de: Mantença: 65 g/dia + (65 x 25%) = 80 g/dia de PB Tabela 5: Mantença e média atividade (incremento de 50% dos valores de mantença da tabela 3) – terreno semiárido, pastagens levemente acidentadas (em encosta) e gestação inicial PV (kg) CMS (kg/cab./dia) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 10 0,36 33 0,86 239 1 0,7 20 0,60 55 1,44 400 2 1,4 30 0,81 74 1,95 543 3 2,1 40 1,01 93 2,42 672 4 2,8 50 1,19 110 2,86 795 4 2,8 60 1,37 126 3,28 912 5 3,5 70 1,53 141 3,68 1023 6 4,2 80 1,69 156 4,06 1131 6 4,2 90 1,85 170 4,44 1236 7 4,9 100 2,01 184 4,82 1336 7 4,9 -/- Por exemplo, um animal com 50 kg de PV em mantença e vivendo sob condições de média atividade (clima semiárido como algumas regiões de Pernambuco), deverá receber NDT na base de: Mantença: 530 g/dia + (530 x 50%) = 795 g/dia de NDT Tabela 6: Mantença e alta atividade (incremento de 75% dos valores de mantença da tabela 3) – terreno árido, vegetação escassa, pastagens montanhosas e gestação inicial PV (kg) CMS (kg/cab./dia) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 10 0,42 38 1,00 278 2 1,4 20 0,70 64 1,68 467 2 1,4 30 0,95 87 2,78 634 3 2,1 40 1,18 108 3,46 784 4 2,8 50 1,39 128 4,10 928 5 3,5 60 1,60 146 4,69 1064 6 4,2 70 1,79 165 5,27 1194 6 4,2 80 1,98 182 5,81 1320 7 4,9 90 2,16 198 6,35 1442 8 5,6 100 2,34 215 6,88 1559 8 5,6 -/- Por exemplo, um animal com 30 kg de PV em mantença, sob condições de clima árido e alta atividade, deverá receber NDT na base de: Mantença: 360 g/dia + (360 x 75%) = 630 g/dia ou 634 g como está na tabela 6 Tabela 7: Exigência para 100 g de ganho de peso diário PV (kg) CMS (kg/animal) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 10 0,1 29 0,42 116 1,32 0,73 20 0,2 29 0,57 159 1,43 0,71 30 0,3 28 0,72 199 1,49 0,7 40 0,4 27 0,88 245 1,54 0,69 50 0,4 26 1,03 286 1,58 0,68 60 0,5 25 1,19 331 1,61 0,67 70 0,5 24 1,36 379 1,64 0,67 -/- Tabela 8: Exigências para gestação de cabras em diferentes períodos PV (kg) Período CMS (kg/cab./dia) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 40 Início 1,07 77 2,45 680 3 2 4º mês 1,07 159 2,94 816 5 2,5 5º mês 0,97 215 4,10 1141 7 3 50 Início 1,20 91 2,84 789 3,5 2,5 4º mês 1,20 173 3,35 932 6 3,1 5º mês 1,09 235 4,56 1268 8,5 3,7 60 Início 1,33 105 3,19 887 4 3 4º mês 1,33 187 3,70 1027 7 3,8 5º mês 1,21 253 4,90 1363 10 4,5 70 Início 1,47 118 3,51 975 4,5 3,5 4º mês 1,47 200 4,01 1114 8 4,4 5º mês 1,34 273 5,23 1454 11,5 5,3 80 Início 1,60 130 3,84 1068 5 4 4º mês 1,60 212 4,25 1458 9 5 5º mês 1,46 293 5,41 1504 13 6 -/- Tabela 9: Requerimentos adicionais para a produção de 1 kg de leite segundo a % de gordura. Incluem-se os requisitos para aleitamento de filhote único, gêmeos ou trigêmeos no respectivo nível de produção leiteira Gordura (%) PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 2,5 60 1,20 330 2 1,5 3,0 65 1,21 335 2 1,5 3,5 70 1,23 340 2 1,5 4,0 75 1,25 345 3,5 2,5 4,5 80 1,26 350 3,5 2,5 5,0 85 1,28 355 3,5 2,5 5,5 90 1,29 360 4 3 6,0 95 1,31 365 4 3 -/- Tabela 10: Requerimentos por kg de leite com 3,5% de gordura – cabras alpinas PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 70 1,22 345 4 2 -/- Tabela 11: Requerimentos por kg de leite com 4,7% de gordura – cabras anglo-nubianas PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 80 1,50 415 6 4 -/- Tabela 12: Requerimentos para cada 0,1% de variação no teor de gordura do leite PB (g) EM (Mcal) NDT (g) Ca (g) P (g) 10 0,30 80 0,5 0,5 -/- Tabela 13: Requerimentos adicionais para gestação tardia CMS (kg/cab./dia) PB (g) PB (%) EM (Mcal) NDT (g) NDT (%) Ca (g) P (g) 0,71 80 11 1,42 395 56 2 1,5 -/- Tabela 14: Requerimentos adicionais para ganho de peso diário (GPD) de 50 g CMS (kg/cab./dia) PB (g) PB (%) EM (Mcal) NDT (g) NDT (%) Ca (g) P (g) 0,18 15 8,5 0,36 100 55,5 1 1 -/- Tabela 15: Requerimentos adicionais para ganho de peso diário (GPD) de 100 g CMS (kg/cab./dia) PB (g) PB (%) EM (Mcal) NDT (g) NDT (%) Ca (g) P (g) 0,36 30 8,5 0,88 200 55,5 1 1 -/- Tabela 16: Requerimentos adicionais para ganho de peso diário (GPD) de 150 g CMS (kg/cab./dia) PB (g) PB (%) EM (Mcal) NDT (g) NDT (%) Ca (g) P (g) 0,54 45 8,5 1,32 300 55,5 2 1,5 -/- Seguindo o mesmo raciocínio da tabela 2 da CODEVASF, a tabela 17 apresenta valores de proteína bruta e quantidade de MS para caprinos de corte e leite em diferentes estágios produtivos. Tabela 17: Exigências de PB e quantidade de MS de caprinos em diferentes estágios Etapa produtiva PB % Quantidade/cab./dia Caprinos de corte Pré-desmame 18 110 – 150 g Pós-desmame 16 230 – 340 g Crescimento/engorda 14 450 g Flushing 14 – 16 450 g – 1,4 kg Gestação (2º e 3º mês) 14 – 16 230 – 450 g Gestação (último mês) 14 – 16 340 – 910 g Lactação (1 cria) 14 – 16 340 – 570 g Lactação (2 crias) 14 – 16 910 g Fêmeas de reposição 16 230 – 450 g Machos adultos 14 < 230 g Caprinos leiteiros Pré-desmame (2-4 meses) 18 Ad libitum Crescimento (4º mês até 6-8 semanas antes do parto) 14 – 16 450 – 680 g Fêmeas secas 14 – 16 450 – 910 g Fêmeas lactantes 14 – 16 330 g/kg de leite Machos adultos 14 – 16 450 – 910 g Fonte: adaptação de PARDO RINCÓN, 2007. pp. 567-568. Concentrações de nutrientes necessárias em rações de caprinos (% da MS) De forma geral, as rações para os caprinos seguem os mesmos padrões das dietas elaboradas e fornecidas para os ovinos. No entanto, sabendo-se que as exigências de ambas as espécies são diferentes, é necessário compreendermos que mesmo uma ração servindo para os ovinos e caprinos, esta pode não fornecer as quantidades desejadas pelos caprinos, ou ainda, a ração poderá conter excesso de nutrientes para este animal e acarretar problemas metabólicos e de eficiência alimentar, além das perdas econômicas uma vez que será adquirida e fornecida uma ração que não irá alcançar seu objetivo. Dito isto, através da literatura acerca da produção, nutrição e alimentação de caprinos de corte e leiteiros, a tabela 18 apresenta os níveis recomendados de rações para os caprinos de acordo com a categoria e estado fisiológico do animal, levando-se em consideração os requerimentos das tabelas 2 a 16 e os níveis de nutrientes de acordo com as grandes fábricas de ração recomendam e formulam as dietas. Tabela 18: Concentrações de nutrientes para rações de caprinos com base na % da MS Mantença CMS 1,5-3% PV - PB 10% - NDT 55% - EM (Mcal/kg) 2,0 - Ca 0,35% MS – P 0,25% MS Mantença CMS 1,8-2,4% PV – PB 7% - NDT 53% - Ca 0,3-0,8% MS – P 0,25-0,40% MS Gestação precoce CMS 2,4-3,0% PV – PB 9-10% - NDT 53% - Ca 0,3-0,9% MS – P 0,2-0,4% MS Gestação tardia CMS 2,4-3,0% PV – PB 13-14% - NDT 53% - Ca 0,3-0,9% MS – P 0,2-0,4% MS Lactação CMS 2,8-4,6% PV – PB 12-17% - NDT 53-66% - Ca 0,3-0,8% MS – P 0,25-0,45% MS Caprinos leiteiros castrados ganhando 100-150 g/diaa CMS 3,3-3,8% PV – PB 12% - NDT 67% - Ca 0,3-0,4% MS – P 0,3-0,35% MS Caprinos de corte castrados ganhando 100-150 g/diaa CMS 3,0-3,4% PV – PB 15-17% - NDT 67% - Ca 0,4% MS – P 0,3% MS Caprinos leiteiros inteiros ganhando 100-150 g/diaa CMS 3,2-3,7% PV – PB 10-15% - NDT 67-86% - Ca 0,4% MS – P 0,3% MS Caprinos de corte inteiros ganhando 100-150 g/diaa CMS 3,3-3,7% PV – PB 15% - NDT 67% - Ca 0,4% MS – P 0,3% MS Cabras gestantes CMS 2,2-2,8% PV – PB 20-24% - NDT 55-65% - Suplemento mineral 3% Cabras em lactação CMS 3,0-5,0% PV – PB 16-24% - NDT 65% - Ca 0,75 g/kg – P 0,3 Creep-feeding para cabritos CMS Ad libtum – PB 12-18% - NDT 80% Caprinos em crescimento CMS 2,5-3,0% PV – PB 14% - NDT 55-70% - Relação Ca:P 2:1 Machos adultos CMS 2,5-3,5% PV – PB 14-16% - NDT 60% - Relação Ca:P 2:1 Reprodutores em serviço CMS 2,5-3,0% PV – PB 10% - NDT 65% Confinamento de caprinos PB 14% - NDT 65% - Ca 0,8 % – P 0,4% Fonte: adaptação de BORGES & GONÇALVES, 2011 e NRC, 2007. A tabela 19 apresenta os valores de energia metabolizável (EM) em MJ/dia e a concentração proteica para formular rações para caprinos. Para transformar MJ em Mcal, saiba que 1 MJ equivale a 0,24 Mcal. Note que as concentrações de energia, proteína e/ou NDT, aportados nas tabelas aqui presentes variam em função das equações de predição ao qual são calculados os requerimentos. Tabela 19: Valores simples para formular rações para ovinos e caprinos em diferentes cenários de produção Estágio produtivo EM (MJ/dia) PB (%) Mantença EMm = 0,12 x PV + 1,5 6 – 8 Rápido crescimento EMm x 2 14 – 16 Gestação (3-4 meses) 1 feto EMm + 3 8 – 10 2 fetos EMm + 4 Gestação (último mês) 1 feto EMm + 4 8 – 10 2 fetos EMm + 8 Lactação (1º mês) 1 cria EMm + 8 12 – 14 2 crias EMm + 12 Fonte: DA SILVA, 2021. Por exemplo, utilizando a tabela 19, calcular a EM requerida em Mcal/dia para cabra Saanen de 60 kg de PV em mantença e depois para a mesma cabra em lactação com 1 cria: Mantença: 0,12 x 60 + 1,5 = 8,7 MJ para Mcal: 8,7 x 0,24 = 2,09 Mcal/dia Lactação: 8,7 + 8 = 16,7 MJ para Mcal: 4 Mcal/dia Note que os valores de produção devem ser adicionados aos de mantença. As exigências minerais dos caprinos, segundo autores, e o nível máximo tolerável na dieta são apresentadas na tabela 20. Tabela 20: Exigências minerais de caprinos MACROMINERAIS CHURCH (2002) (% MS) HART (2011) (% MS) NRC (2005) Nível máximo (% MS) Ca 0,2 – 0,8 0,3 – 0,8 1,5 P 0,2 – 0,4 0,25 – 0,4 0,6 Mg 0,1 – 0,2 0,18 – 0,4 0,6 K 0,5 – 0,8 0,8 – 2,0 2 S 0,15 – 0,25 0,2 – 0,32 0,3 – 0,5 Na 0,09 – 0,18 0,2 4 Cl 0,09 – 0,18 0,2 MICROMINERAIS CHURCH (2002) mg/kg MS HART (2011) mg/kg MS NRC (2005) Nível máximo (mg/kg MS) Co 0,1 – 0,2 0,1 – 10 25 Cu 7 – 11 10 – 80 15 Fe 30 – 50 50 – 1000 500 I 0,1 – 0,8 0,5 – 50 50 Mn 20 – 40 0,1 – 3 2000 Mo 0,5 0,1 – 3 5 Se 0,1 – 0,2 0,1 – 3 5 Zn 20 – 33 40 – 500 300 -/- Energia metabolizável para caprinos A energia metabolizável é a parte da energia bruta que não aparece em fezes, urinas e nos gases produtos da fermentação (principalmente metano). É determinada pela subtração das perdas de energia na urina e gases combustíveis da energia digestível (ED) consumida. É um pouco mais precisa que a ED em termos de estimativa da energia disponível, porém mais caro para determiná-la. Compara-se com a energia proveniente do NDT menos a energia dos gases da fermentação. Determinamos através da fórmula: EM = EB (energia bruta) – (energia perdida em fezes + energia perdida em gases da fermentação + energia perdida na urina) -/- Em muitos cálculos da formulação de dietas para animais de produção é utilizada a energia metabolizável no lugar do NDT. Logo, apresentamos as exigências de energia metabolizável dos caprinos em função do peso e da categoria fisiológica do animal. 1. Mantença (EMm): Pré-desmame (nascimento aos 3 meses de idade): Fêmeas e machos castrados 0,107 Mcal/kg PV0,75 Machos inteiros 0,125 Mcal/kg PV0,75 -/- Crescimento (do desmame aos 18 meses de idade): Fêmeas e machos castrados 0,128 Mcal/kg PV0,75 Machos inteiros 0,149 Mcal/kg PV0,75 -/- Adultos (> 18 meses de idade): Fêmeas e machos castrados 0,120 Mcal/kg PV0,75 Machos inteiros 0,138 Mcal/kg PV0,75 -/- 2. Ganho de peso (EMg): Pré-desmame 0,00320 Mcal/kg PV0,75 Crescimento 0,00552 Mcal/kg PV0,75 Adultos 0,00681 Mcal/kg PV0,75 -/- 3. Produção de leite (EMl): EMl (Mcal/dia) = (kg de leite x 1,179943) x ((1,4694 + (0,4025 x %gordura))/3,079) 4. Gestação (EMgest): EMgest (Mcal/dia) = (- 15,467 - (1,1439 x PMnasc) + (0,26316 x D) - (0,0021667 x NC) – (0,0010963 x D2) + (0,011772 x PMnasc x D) - (0,98352 x PMnasc x NC) + (0,011735 x PMnasc x D x NC)) x 0,239 Onde: PMnasc = peso médio esperado da cria ou crias ao nascimento em kg; D = dias de gestação e NC = número de crias. As exigências nutricionais dos caprinos servem de alicerce para a elaboração de uma dieta, uma vez que, diante os cálculos, é necessário estimar uma quantidade x de um dado alimento para suprir uma exigência final seja proteica, energética ou qualquer outra. Essas tabelas de exigências dos caprinos servem de base após a caracterização do lote para que deve ser elaborada uma mistura. Por exemplo, um lote de caprinos com 30 kg de peso vivo em mantença, quais são as exigências de cada animal? Basta consultar a tabela 3 deste manual para depois ser levantado os alimentos e a composição destes e começar a elaborar a dieta. Relação volumoso:concentrado (v:c) para caprinos Além do balanceamento dos nutrientes necessários, a relação v:c da dieta depende, basicamente, da qualidade do volumoso e da ração concentrada. Se o volumoso possuir boa qualidade, consequentemente seu valor nutricional será melhor e, para caprinos em mantença por exemplo, pode ser empregado em 100% da ração; por sua vez, se o volumoso possuir péssima qualidade nutricional será necessária a adição de concentrado na dieta diária do animal, não esquecendo de que essa ração concentrada deverá atender os requisitos do animal, logo a ração deverá ser de boa qualidade e balanceada. Além da qualidade do volumoso e/ou concentrado, a relação v:c depende também do objetivo final de criação, isto é, se é necessário engordar os animais em menos tempo para abate, ou em pastagem etc., portanto, também depende da necessidade de ganho de peso diário para os animais, uma vez que a finalidade é um GPD maior é utilizada uma relação concentrada maior que a volumosa. Segundo estudos, a relação volumoso:concentrado influencia diretamente em padrões como consumo de matéria seca, presença de fibras, digestibilidade da matéria seca e nutrientes e atividades de mastigação e ruminação. Segundo esses estudos, uma relação mais próxima de 50:50 aumenta o teor de fibra, aumenta a ingestão de MS e aumenta a digestibilidade da MS, mas diminui a da fibra, e diminuem as atividades físicas da mastigação e o processo de ruminação. O NRC, 2007 sugere as proporções de v:c para caprinos as mesmas dos ovinos, que são divididas em diferentes situações. -/- Exemplos de proporções de volumoso e concentrado na dieta de caprinos PV Kg VOLUMOSO % CONCENTRADO % Mantença 70 100 0 Cabras secas 70 100 0 Últimas 4 semanas de gestação 70 85 15 Últimas 4-6 semanas de lactação 1 cria 70 85 15 Últimas 4 semanas de gestação 70 65 35 Primeiras 6-8 semanas de lactação com 1 cria 70 65 35 Últimas 4-6 semanas de lactação com 2 crias 70 65 35 Primeiras 6-8 semanas de lactação com 2 crias 70 65 35 Cabras secas – primeiras 15 semanas de gestação 55 85 15 Cabras – últimas 4 semanas de gestação 55 70 30 Cabras – últimas 4 semanas de gestação 55 60 40 Cabras – primeiras 6-8 semanas de lactação com 1 cria 55 60 40 Cabras – primeiras 6-8 semanas de lactação com 2 crias 55 50 50 Cabras de reposição 30 65 35 40 65 35 50-70 85 15 Machos para reposição 40 70 30 60 70 30 80-100 70 30 Engorda 30 40 60 40 25 75 50 20 80 Cabritos recém-desmamados até adultos 10 10 90 20 15 85 30 15 85 40-60 15 85 Fonte: DA SILVA, 2021. -/- ALIMENTOS PARA CAPRINOS -/- De forma geral, sabemos que os alimentos dividem-se em dois grupos os alimentos volumosos e os concentrados. Os volumosos são aqueles que possuem carga nutritiva menor e que o animal deve consumir em maior quantidade para suprir suas exigências nutricionais, o teor de proteína desses alimentos é variável, mas, na maior parte, não ultrapassa os 20%; por sua vez, a quantidade de fibra é grande já que esse grupo engloba as forragens, pastagens, fenos, palhas, silagens, raízes, tubérculos etc. Dentro da classificação de alimentos volumosos, ainda encontramos os volumosos “proteicos” que são representados pelas forrageiras leguminosas e algumas gramíneas. Os concentrados, por sua vez, são aqueles com alta carga nutricional e que o animal, mesmo consumindo poucas quantidades (em torno de 1 kg), supre todas suas exigências nutricionais; estes são divididos em alimentos que fornecem mais energia do que proteína (energéticos) como o milho, e nos que fornecem mais proteína que energia (proteicos) como o farelo de soja. Existem uma série de alimentos que podem ser utilizados na alimentação dos caprinos. Existem ainda, os alimentos provenientes da caatinga com alto potencial para a alimentação dos caprinos; a composição proteica desses alimentos e a parte comestível que pode ser fornecida aos caprinos é apresentada na tabela 21. Como a maioria dos caprinos são criados em regiões onde há escassez alimentar e baixas oportunidades de fornecimento de ração concentrada, há os alimentos não usuais que possuem enorme capacidade para manter os animais ou para que continuem produzindo em períodos de seca, por exemplo. Na região semiárida do Brasil, os alimentos não-convencionais mais comumente utilizados são cactáceas como coroa de frade, mandacaru e a palma; e outros como algaroba, faveira, moringa, umbu, maniçoba, leucena, aveloz etc. Uma das melhores alternativas alimentares em épocas de escassez é a produção e o fornecimento de fenos de gramíneas locais, silagem de sorgo e girassol. Tabela 21: Forragens nativas do nordeste brasileiro usadas como alimento Fonte: CODEVASF, 2011. A composição bromatológica dos ingredientes utilizados na alimentação dos caprinos, que é indispensável para a elaboração de dietas que supram os requisitos é apresentada na tabela 22. Tabela 22: Composição bromatológica dos alimentos utilizados na alimentação de caprinos Alimento MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Concentrados energéticos Algaroba farelo integral 85 8,6 0,54 - - 0,31 0,14 Arroz farelo desengordurado 88,2 16,8 1,66 2,1 24,9 0,09 1,8 Arroz farelo desfinitizado 90,8 18 1,65 - - 0,31 2,04 Arroz farelo integral 88,9 13,4 16,4 3,3 87,5 0,11 1,73 Arroz farelo parboilizado 91,2 16,2 24,25 - - - 0,09 Arroz grão c/casca 89,1 8,2 3,9 2,0 56,1 0,09 0,08 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Arroz grão s/casca 86,2 8,5 1,2 - - 0,04 0,16 Aveia grão 90,4 14,6 3,8 3,2 83,3 0,13 0,35 Batata 29,1 3,1 0,3 3,1 84,6 0,33 0,08 Batata doce - 6 0,6 - - 0,05 0,11 Beterraba 14 2 0,4 - - 0,18 0,12 Cacau farelo 88,8 15,9 4,5 2,4 64,5 0,74 0,5 Centeio grão 88,4 18,1 1,9 - - 0,68 0,42 Cevada grão 89,9 12,4 1,5 2,8 76,8 0,05 0,37 Dendê torta 91 15,4 9,3 3,1 82,3 0,2 0,75 Faveira vagem 77,3 11,2 1,25 - 72,5 - - Mandioca raspa 87,7 2,8 0,5 3,0 82,2 0,21 0,07 Milheto grão 88,1 12,1 3,2 - - - - Milho grão/fubá 88 9 4 3,3 87,7 0,03 0,26 MDPS 87,9 7,1 3,15 2,8 75,9 0,04 0,22 Milho espiga silagem 55,2 8,1 3,7 3,2 85,9 0,05 0,27 Milho gérmen farelo 89,9 11 22,9 3,9 103,8 0,03 0,42 Milho grão reidratado silagem 65,8 9,3 4,7 3,75 99,6 - - Milho silagem grão úmido 66,7 9,2 4,6 3,3 88,2 0,03 0,25 Polpa cítrica 88,4 6,9 3,1 2,9 78,3 1,8 0,13 Soja casca 90,1 12,6 2,2 2,7 72,5 0,52 0,16 Sorgo grão 88 9,3 2,9 3,1 84,4 0,07 0,29 Sorgo grão reidratado silagem 65,3 9,15 3,4 3,0 79,9 - - Trigo farelo 87,6 16,7 3,6 2,95 77,3 0,17 1,01 Trigo grão 89,1 14,2 1,45 - - - - Concentrados proteicos Algodão caroço 90,6 23,1 19,2 3,45 88,2 0,27 0,75 Algodão farelo 28 89,8 28 2,0 2,8 68,1 0,26 0,77 Algodão farelo 38 89,7 38 1,5 2,7 65,6 0,24 0,97 Algodão farelo 42 90,5 42 1,6 3,0 69,8 0,22 0,96 Algodão torta 90,4 29,6 9,5 3,0 75,6 0,28 0,58 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Amendoim farelo 89,4 56 1,3 3,9 89,5 0,18 0,62 Amiréia 90,6 200 5,0 - 22 0,12 0,08 Babaçu farelo 90 20,6 1,6 2,75 71,9 0,13 0,36 Babaçu torta 90,8 19,3 8,0 3,0 78 0,15 0,69 Crambe farelo 89,1 35,9 1,2 3,1 73,9 0,29 0,47 Canola farelo 89,4 40,1 2,5 3,5 83,4 0,62 0,82 Colza farelo 91,2 40 5,2 - - 0,65 1,34 Colza grão 93,3 23,6 43,7 - - 0,24 0,81 Farinha de ostras 95,7 33,7 - - - 36,2 5,3 Fava grão 87,1 22,2 0,9 2,6 - 0,12 0,53 Feijão moído 89,6 24,2 1,5 3,2 80,8 0,54 0,43 Guandu grão 88,5 21,1 0,8 2,5 - 0,1 0,32 Guandu grão tostado 89,3 20,3 0,8 2,5 - 0,1 0,31 Girassol farelo 90,2 31,4 1,9 2,9 71,1 0,3 0,9 Linhaça integral 90 21 34 - - 0,25 0,5 Linhaça torta - 32 3,5 - 75 0,4 0,8 Linhaça farelo 92 34 1,0 - - 0,6 0,6 Mamona farelo 89,6 38 2,7 2,95 70,9 0,7 0,77 Mamona farelo detoxificado 89,2 38,1 1,5 2,9 69,3 1,46 0,65 Mamona torta 89,2 31,8 7,0 3,3 81,6 0,72 0,84 Mamona torta detoxificada 86,3 34 5,5 3,0 73,9 2,14 0,8 Milho glúten 60 90,6 60 2,8 3,8 83,9 0,05 0,44 Milho glúten farelo 21 88,8 21 2,8 3,0 76,7 0,16 0,7 Nabo forrageiro torta 91,9 37,3 18,1 3,7 91,2 0,36 1,71 Milho (DDGS) 91,2 31,8 8,2 - 89 0,05 0,86 Resíduo de cervejaria 22,3 25,6 6,3 3,6 92,2 0,33 0,78 Milho – (DDG) 87,5 23,6 12,7 3,4 86,2 0,05 0,32 Milho (WDG) 31,8 32 6,7 - 93 0,05 0,35 Soja farelo 87 45 2,0 3,4 73 0,3 0,61 Soja farelo extrusado 96,7 41 10,6 3,7 89,7 0,07 0,57 Soja grão 92,8 37 18,8 4,1 87 0,25 0,58 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Soja grão tostado 91,7 39,1 21 3,9 94,2 0,25 0,49 Ureia 97,9 280 - - - - - Coprodutos e/ou subprodutos Arroz palha 89 4,4 - - - - - Abacaxi desidratado 87,1 8,8 1,5 2,1 58,8 0,41 0,18 Acerola subproduto 84,2 11,7 2,4 1,85 51,2 0,41 0,18 Aveia palha 88,8 4,6 2,3 - - - - Batata doce folha - 26,8 - - - - - Batata doce rama 17,4 11,5 2,3 2,4 66,8 1,44 0,32 Cana-de-açúcar bagaço 91 2,0 0,69 1,7 46,6 0,21 0,07 Café casca 84,8 10,1 1,6 1,8 49,7 0,33 0,13 Capim elefante colmo 22 5,8 - 2,0 55,9 - - Caju subproduto suco 88,7 13,9 3,1 - 47,2 0,43 0,1 Maça bagaço 9,9 9,8 - - - - - Mandioca casca 88,6 4,5 1,15 2,7 74,5 0,48 0,06 Maracujá subproduto 85,8 11,9 2,4 1,85 50,8 0,53 0,13 Trigo palha 90 3,9 - - - - - Uva bagaço 35,2 15,9 - - - - - Forragens secas Alfafa feno 85,8 18,7 2,0 2,1 66,4 1,17 0,33 Alfafa feno peletizado 90 25 - - - - - Aveia feno 90 10 2,3 2,0 54 0,4 0,27 Aveia preta feno 87,7 9,9 1,75 - - - - Azevém feno 93 13,5 1,4 - - - - Brachiaria B. feno 88 4,2 1,2 1,9 54 0,33 0,11 Brachiaria D. feno 89 7 1,35 1,9 54,5 0,27 0,14 Cevada feno 90 9 2,1 2,1 57 0,3 0,28 Coast-cross feno 87 10,5 1,75 1,9 53 0,27 0,38 Capim elefante feno 87,3 6 1,8 1,8 52 0,24 0,18 Capim gordura feno 90,7 4,5 2,2 1,5 45 - - Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Capim jaraguá feno 90 6,5 - - 53 0,47 0,12 Capim tifton 85 feno 88 9,9 1,45 2,2 57,7 0,33 0,27 Jureminha feno 88 15,9 2,0 1,9 51,7 - - Maniçoba feno 86 12 4,2 2,1 56,2 - - Trevo feno 89 16 2,2 2,1 57 1,73 0,24 Trigo feno 90 9 2,0 2,1 57 0,21 0,22 Triticale feno 90 10 - 2,0 56 0,3 0,26 Silagens (pré-secado) Alfafa silagem 30 18 3,0 2,0 55 1,4 0,29 Arroz silagem planta 37 8,5 - - - - - Aveia preta silagem 23,4 11 2,9 - - - - Aveia silagem 35 12 3,2 2,2 60 0,34 0,3 Azevém silagem 22,4 10,6 1,9 - - - - Cana-de-açúcar silagem 25,7 3,5 1,7 1,9 54,8 0,3 0,05 Cana silagem 0-0,5% CAO 28,9 2,8 1,1 2,2 62 - - Cana silagem 0,5% ureia 28,6 10 - - - - - Cana silagem 1% ureia 31 15 - - - - - Cana silagem 1,5% ureia 29 18 - - - - - Capim-colonião silagem 32 6,6 2,6 1,5 47,3 - - Capim-colonião silagem 2% melaço 26 2,3 1,2 1,5 54 - - Capim elefante silagem 27,5 5,5 2,2 1,7 50 0,31 0,2 Capim elefante silagem 1,5% melaço 23,7 1,5 0,9 0,25 13,3 - - Capim elefante silagem 3% melaço 19,2 1,1 0,8 0,2 11 - - Capim elefante silagem 4% melaço 18,8 1,1 0,7 0,2 10,3 - - Capim elefante silagem 7,5% melaço 19,3 1 0,7 - 11 - - Capim jaraguá silagem 32,2 1,4 0,9 - 15,4 - - Capim mombaça silagem 24,4 7,4 1,7 1,7 49,4 0,44 0,12 Cevada silagem 30 18 3,0 2,0 55 1,4 0,29 Estilosantes silagem 29,3 11,8 1,8 1,8 49 - - Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Girassol silagem 24,7 9,6 12,4 2,0 56,1 1,02 0,24 Mandioca silagem raiz 40,4 1,2 0,2 1,4 - 0,09 0,04 Milho silagem 31,1 7,2 2,9 2,3 63,8 0,28 0,19 Milheto silagem 19 15 3,8 2,3 62,7 - - Milho silagem sem espiga 21,3 6,4 1,4 1,9 53,6 - - Soja silagem 25,8 17,8 9,5 2,3 60 - - Sorgo silagem 32 9 2,7 2,1 59 0,48 0,21 Sorgo forrageiro silagem 28,1 6,3 3,4 2,3 63,9 0,14 0,14 Sorgo silagem com tanino 27,6 7,1 2,1 2,2 61,7 - - Sorgo silagem sem tanino 28 7,4 2,2 2,2 61 - - Triticale silagem 26,3 14 1,4 2,1 58 0,66 0,4 Trigo silagem 33 12 3,2 2,1 59 0,4 0,28 Forragens verdes Amendoim forrageiro 22,8 18,4 1,9 2,1 54,5 2,1 0,22 Cana-de-açúcar 28,9 2,8 1,5 2,3 64,5 0,24 0,08 Capim-angola 92 4,2 - - 42,6 0,1 0,19 Capim braquiária brizantha 34 6,9 2,0 1,8 52 0,31 0,11 Capim bb (46-60 dias) 20,8 9,5 4,0 2,0 55,7 0,71 0,47 Capim bb (61-90 dias) 24,9 6,5 4,0 2,1 58 0,46 0,38 Capim bb (91-120 dias) 27,7 4,8 1,2 1,9 54 0,58 0,17 Capim braquiária marandu 33,2 7,7 2,0 1,8 51,5 0,28 0,09 Capim bm (61-90 dias) 37,8 5,5 1,8 1,8 53 0,08 0,05 Capim braq. marandu outono 31 11,8 1,4 2,0 55 - - Capim bm primavera 27 11,3 2,0 2,1 58,7 - - Capim bm verão 29 12,3 1,8 2,0 54 - - Capim bb MG4 23 9,2 1,9 1,9 52,6 - - Capim bb MG4 (61-90 dias) 29 6,4 1,5 1,9 53 - - Capim bb piatã (61-90 dias) 34 4,7 1,7 1,9 55,8 - - Capim bb xaraés 23 9,3 1,5 2,0 56 0,6 0,09 Capim braquiária decumbens 28,5 6,7 1,8 1,8 51,5 0,4 0,1 Capim bd (61-90 dias) 27,8 7,2 2,1 1,7 49,3 0,3 0,19 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Capim bb (91-120 dias) 30 5,7 2,1 1,9 55,2 0,3 0,2 Capim bd (121-150 dias) 43,7 5,1 2,1 2,0 56,7 0,72 0,28 Capim braquiária humidícola 28 7,4 2,5 1,9 54,8 0,38 0,12 Capim buffel (61-90 dias) 34,6 7,8 1,8 1,8 52,3 - - Capim coast cross 32,6 12,2 2,5 - 65,4 0,46 0,16 Capim colonião outono 29,4 14,7 1,3 - - - - Capim colonião primavera 23,4 14,6 1,6 - - - - Capim colonião verão 26,7 16,5 2,6 - - - - Capim elefante 21,7 7 2,3 1,7 50 0,36 0,23 Capim elefante pastejo 24,5 3,3 0,8 0,3 15,7 - - Capim gordura 28 6,9 1,3 2,1 58 0,24 0,07 Capim gordura pastejo 24,8 1,7 0,8 - 8,5 - - Capim jaraguá 29,7 2,7 0,8 - 16,3 - - Capim massai (61-90 dias) 29,5 8 2,1 1,8 51,6 - - Capim mombaça 27 11 1,7 1,9 53 0,74 0,19 Capim mombaça (61-90 dias) 26,8 8,3 1,4 1,8 52 - 0,11 Capim setária (61-90 dias) 21,7 9 1,4 1,9 53,7 - - Capim sudão 19 12,9 2,9 2,0 55 - - Capim tanzânia 23,4 9,5 2,4 1,8 51 0,59 0,14 Capim tanzânia (61-90 dias) 31 5,6 1,7 1,8 53 - - Capim tifton 68 23 13,4 2,9 - - - 0,08 Capim tifton 85 27 12,9 2,0 1,4 39,5 0,54 0,5 Capim-de-rhodes 89 9,6 3,2 - 56,6 - - Crotalária 88,6 15,9 2,7 - 48,9 - - Cunhã 29 16,6 5,1 2,6 69,5 - 0,18 Galáxia 90 13,8 3,6 - 53,5 - - Gliricídia 22 17 5,4 2,2 59 - - Leucena 32 21,2 3,9 2,7 69 0,86 0,18 Maniçoba 24,8 19,4 7,1 2,5 65,3 - 0,18 Milheto 20 12,2 3,1 2,2 60 0,72 0,26 Mororó 47,4 11,3 3,8 2,3 62 - - Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Palma miúda 11,3 4,1 2,6 2,3 64,2 3,84 0,22 Sabiá 43,6 12 4,3 2,3 62,2 - - Sorgo forrageiro 24 6,9 3,0 1,8 51,6 0,13 0,13 Forragens verdes e cultivadas Alfafa 25 22 2,7 - 65 1,64 0,23 Aveia branca 90 15 - - - - - Aveia preta 21 8 1,6 2,2 61,5 0,31 0,25 Aveia + Azevém (cultivada) 19 19 4,8 - - - - Azevém 15 15 3,6 - 68 0,43 0,28 Azevém pré-florescimento 17,5 15 1,7 2,4 66,6 0,42 0,3 Azevém início floresc. 22,4 12 1,5 2,3 63 0,45 0,27 Cana-de-açúcar caule 26 2,9 3,2 - - - - Cana-de-açúcar caule+folhas 24 7 3,0 2,3 63,5 0,23 0,21 Centeio 25 13 1,5 2,2 60 0,26 0,29 Cornichão 21 18 2,0 2,3 63 0,92 0,27 Festuca 24 8,5 1,8 2,3 64 0,32 0,3 Trevo branco 16 19 2,1 2,4 64 1,1 0,37 Amendoim branco 36,6 16,8 2,4 2,4 67 1,23 0,18 Braquiarão - 9 1,7 2,3 57 0,3 0,17 Capim colonião (20-60 dias) - 11-5 - - 61-47 0,45¹ 0,24² Capim pangola 35 7,5 - - 55 - - Guandu (40->90 dias) - 21-13 - - - - - Fontes alternativas (Nordeste) Coroa de frade 11 8 3,5 2,5 - 2,06 0,17 Facheiro 10,5 7,5 2,4 2,5 - 5,03 0,12 Mandacaru 14,5 3,5 1,8 2,5 - 3,06 0,07 Palma gigante 12 5 1,9 2,5 - 2,35 0,13 Xique-xique 13 6 1,3 1,7 48,3 3,12 0,07 Cana-de-açúcar caldo 23 0,3 - 2,0 - 0,01 0,02 Cana-de-açúcar levedura 89 35 1,9 2,0 - 0,48 0,73 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Coco farelo 91 24 9,0 3,0 - 0,29 0,51 Capim buffel feno 87 4,5 1,2 1,2 - 0,21 0,06 Capim tifton feno 91 8,5 1,6 1,75 53 0,49 0,14 Cunhã feno 90,5 18 2,7 3,0 - 0,43 0,18 Erva-sal feno 89 9 1,6 - - 0,77 0,04 Feijão bravo feno 80 11,5 3,3 3,0 51 - - Flor de seda feno 75 14 6 1,9 - 2,6 0,22 Guandu feno - 14 2,7 - - - 0,11 Leucena feno 91 21 3,2 2,8 55 1,18 0,29 Mata-pasto feno 89 9,5 - - - 1,75 0,12 Sorgo forrageiro feno 90,8 4,2 - 2,0 - 0,4 0,22 Canafístula 40,8 12,9 4,6 2,0 54 - - Capim elefante roxo 20 8,5 3,5 - - 0,42 0,41 Géria 88 16 1,0 - - 1,17 0,21 Feijão dos arrozais 24 17 5,0 2,7 69 2,6 0,04 Glicirídia casca - 13 0,9 - - 2,06 0,18 Glicirídia caule - 5,6 0,4 - - 0,44 0,07 Glicirídia folha - 22,7 2,0 - - 2,44 0,18 Guandu parte aérea 35 19 5,0 - - 0,89 0,12 Jurema preta 35 12 9,0 - - 0,67 0,25 Leucena caule 49,4 7,5 2,1 - - 0,56 0,69 Leucena folha 35,5 24 2,2 - - 2,18 0,2 Mandioca folha 45 22 5,5 2,5 - 0,91 0,23 Siratro 25 16 2,7 - - 1,02 0,16 Umbuzeiro folha 15 15 8,6 - - 1,29 0,22 Mandioca parte aérea silagem 12,3 18 3,6 2,0 53 1,21 0,14 Caju castanha 97,5 21,9 40,1 5,5 128,9 - - Caju castanha farelo amêndoa 95 23,5 47 3,5 - 0,6 0,25 Caju farelo pseudofruto 89,5 14,8 6,0 - 75 0,06 0,04 Coco amêndoa farelo 96 25 21,7 2,7 - 0,31 0,26 Goiaba subproduto 55 8 4,7 - 35,7 0,15 0,36 Continuação MS% PB% EE% EM (Mcal/kg) NDT% Ca% P% Mandioca bagaço 87,6 2 0,6 - 65 0,14 1,8 Maracujá subproduto 92 11 0,7 1,8 52 0,42 0,22 Melão subproduto 92 14 2,1 0,95 37 0,56 0,8 Milho palha 92,3 5,1 0,4 2,5 54 0,15 0,13 Fontes de minerais Calcário 100% MS – 38% Ca e 1% Mg Calcário calcítico 100% MS – 33,6% Ca Calcário dolomítico 92% MS – 20,3% Ca e 9,6% Mg Cloreto de potássio 100% MS – 39,6% K Flor de enxofre 100% MS – 96% S Fosfato bicálcico 100% MS – 23% Ca – 18% P – 1% Mg – 0,08% K e 0,13% Na Fosfato tricálcico 99,6% MS – 40,2% Ca e 16% P Iodato de potássio 100% MS – 59,3% I Óxido de magnésio 98% MS – 0,58% Ca – 53,8% Mg e 0,03% Na Sal comum 99% MS – 39,5% Na – 2,7% Mn e 9,9% Zn – 1,3% Cu Selenito de sódio 100% MS – 45,6% Se Sulfato de cobalto 100% MS – 20% Co Sulfato de cobre 100% MS – 25,4% Cu Sulfato de manganês 100% MS – 32,5% Mn Sulfato de zinco 100% MS – 35% Zn Fontes proteicas de origem animal³ Proibidos na alimentação de ruminantes dada a IN MAPA – 8/2004 Art. 1º Fonte: DA SILVA, 2021. Na formulação de ração para os animais de produção, é importante levar em consideração que dos mais variados alimentos citados supra, e de tantos outros usados na alimentação e que não são usuais, existem perigos dado os fatores antinutricionais presentes nestes. Por exemplo, os taninos presentes no sorgo, as aflatoxinas presentes no farelo de amendoim, a sojina presente no farelo de soja, o efeito laxativo do farelo de trigo etc. Logo, quando se deseja formular uma dieta, é necessário obedecer às recomendações e nível de uso do ingrediente em quantidade ou porcentagem na ração. A tabela 23 mostra os níveis recomendados dos principais ingredientes para rações de caprinos. Tabela 23: Níveis recomendados de ingredientes para rações de caprinos Ingrediente Quantidade Milho 70% ou mais (depende) Farelo de soja Sem restrição de uso Grão de sorgo Substitui 100% do milho Farelo de trigo 10 – 40% Farelo de arroz Até 20% Farelo de arroz desengordurado 10 – 30% Farelo de amendoim 100 – 400 g/cab./dia Farelo de algodão Até 40% (não recomendável para reprodutores) Casca de amendoim 5% Aveia 70% Centeio moído 40% Polpa seca de cevada 40% Farelo de linhaça 15% Fubá de milho 50% Proteinoso de milho 25% Glúten de milho 10 – 25% Sabugo de milho desintegrado 5% Caroço de algodão 25% Farelo de girassol 30% Ureia 2% Casca de algodão 40% Casca de arroz 15% Torta de girassol Até 30% Torta de colza Até 20% Torta de linhaça Até 20% Torta de mamona 5 – 10% Torta de gergelim Até 30% Raiz fresca mandioca 1 – 2% do PV Polpa cítrica Até 30% Melaço de cana 150 – 230 g/cab./dia Melaço de cana em pó Até 5% Farelo de coco Até 30% Feijão Até 15% Gergelim Até 30% Girassol 20 – 30% Ureia 50 g/100 kg PV Bananeira Até 20% Farelo de cacau Até 30% Farelo de café Até 20% Bagaço de cana Até 30% Cana-de-açúcar picada fresca 1 – 2 kg/cab./dia Centeio 40 – 40% Cevada 40 – 60% Semente de girassol 400 – 500 g/cab./dia Torta de girassol 200 – 300 g/cab./dia Farelo integral de mandioca Até 50% Farelinho de trigo 150 g/cab./dia Grão de trigo Até 50% Fonte: DA SILVA, 2021; NUNES, 1998 e TEIXEIRA, 1998. Além dos alimentos convencionais ou não acima citados, existem os alimentos chamados de subprodutos que possuem alto potencial nutricional para a alimentação animal. A tabela 24 apresenta a composição de subprodutos da agricultura com alto potencial para serem utilizados na formulação de ração como ingrediente e/ou suplemento. Tabela 24: Composição de subprodutos e alimentos não usuais para rações de caprinos Alimento MS (%) PB (%) NDT (%) EE (%) FB (%) Ca (%) P (%) Abacate, farelo desengordurado 91 20,3 50 1,2 19,3 - - Abacate, casca 24 6,9 90 34,9 24,5 0,11 0,18 Continuação MS (%) PB (%) NDT (%) EE (%) FB (%) Ca (%) P (%) Abacate, semente 41 4,9 90 3,8 5,9 0,04 0,20 Abacaxi 14,7 2,7 80,1 1,4 2,7 0,14 0,07 Abacaxi, bagaço 87 4,6 68 1,5 20,9 0,27 0,13 Abacaxi, coroa 16 10 42,8 3,1 23,1 - - Abacaxi, cortado verde 18 7,8 56 2,2 27 0,28 0,08 Arroz, casca 92 3,3 12 0,8 42,9 0,10 0,08 Banana, polpa fruto 24 4,5 84 0,8 2,1 0,03 0,11 Batata, farelo tubérculo 89 8,4 90 0,4 7,3 0,16 0,25 Batata, tubérculo fresco 23 9,5 81 0,4 2,4 0,04 0,24 Batata, silagem tubérculo 25 7,6 82 0,4 4 0,04 0,23 Batata-doce, planta 20 19,5 49,4 2,5 14,5 - - Batata-doce, tubérculo 31 5 80 1,3 6 0,09 0,13 Batata-doce, farelo tubérculo 90 5,4 80 1 3,7 0,17 0,16 Beterraba-forrageira 13,8 11,3 79,2 0,6 7,5 0,22 0,22 Cenoura 12 9,9 84 1,4 9,1 0,4 0,35 Cenoura, planta 16 13,1 74 3,8 18,1 1,94 0,19 Cenoura, polpa 14 6,4 62,8 7,8 18,6 - - Cevada, palha 91 4,3 49 1,9 42 0,3 0,07 Laranja, silagem do bagaço 11,3 8,8 65 2,2 17,7 - - Limão, bagaço 93 6,9 77 1,5 15,9 - - Ervilha, feno da planta 88 13,6 58 2,5 30,2 1,39 0,28 Ervilha, silagem da rama 25 13,1 57 3,3 29,8 1,31 0,24 Ervilha, farelo da vagem 90 19,7 84 1,6 26,3 - - Feijão, palha 90 6,8 51 1,5 44,5 1,85 0,14 Feijão, farelo da palha 92,1 7,7 44,1 1,5 39,6 - - Gergelim, torta da semente 94,7 38 88,8 26 4 - - Maça, bagaço 89 4,9 69 5,1 17 0,13 0,12 Maça, silagem do bagaço 21,4 7,8 74 6,3 20,6 0,1 0,1 Maça, fruto 17 2,8 70 2,2 7,3 0,06 0,06 Melão 4,1 11,5 70,7 3,3 23 - - Melão, torta 6,1 11,5 74,6 3,3 23 - - Continuação MS (%) PB (%) NDT (%) EE (%) FB (%) Ca (%) P (%) Pera 17,3 - 86,7 - - - - Pera, bagaço 91,5 6,1 70,6 2,1 23,8 2,38 0,12 Pêssego 10 8,7 80 3,7 10,3 - - Repolho 9,5 25,3 85,3 4,2 15,8 0,64 0,35 Repolho, folhas 14,8 14,4 66,7 2,5 14,3 0,63 0,21 Romã, bagaço 26 8,4 68,4 4,9 16,6 - - Soja, palha 88 5,2 44 1,4 44 1,59 0,06 Tomate, bagaço 92 23,5 58 10,3 26,4 0,43 0,60 Tomate, silagem do bagaço 29,5 19,2 63,9 14,6 44,9 0,5 0,47 Tomate, fruto 6 16,4 69 5 9,1 0,16 0,49 Uva, bagaço 91 13 33 7,9 31,9 0,61 0,06 Uva, farelo 90 30,2 - - - - - Fonte: NUNES, 1998. -/- FORMULAÇÃO DE RAÇÃO PARA CAPRINOS -/- A formulação de dietas para caprinos de corte ou leiteiros é análoga ao esquema de formulação para os demais ruminantes. Sempre é necessário categorizar os animais para determinar situações como peso vivo do animal, estado fisiológico, isto é, se está produzindo ou não, idade etc.; posteriormente, faz-se necessário a busca pelas exigências nutricionais dos animais mediante a literatura, seja através das publicações do NRC, AFRC ou CSIRO, caso o lote possua peso diferente das tabelas, por exemplo média de 27 kg de PV, basta utilizar as equações de predição para determinar as exigências de MS, PB, NDT ou EM, Ca e P; encontrada as exigências dos caprinos é necessário a avaliação de quais são os ingredientes disponíveis na propriedade e sua composição nutricional para ser utilizado de métodos matemáticos ou programações de computador para balancear as quantidades de cada um para que possam suprir a exigência do animal. Aqui, apresentarei situações de formulação práticas, que o profissional poderá se deparar no cotidiano profissional, dos quais os animais serão alimentados com o uso do creep-feeding; e animais em mantença, confinados para o ganho de peso, sob pastejo, gestantes e, por fim, em lactação. Para a determinação das exigências dos animais utilizarei os valores aqui descritos que foram compilados do NRC, 2007 e NUNES, 1998 descritos nas tabelas do capítulo 1. Para os alimentos serão usados os valores aqui presentes e compilados de diversos autores e descritos na tabela 20 do capítulo 2. A abordagem matemática utilizada para formular as dietas serão explicadas pelos métodos de formulação do quadrado de Pearson simples, que balanceia apenas um nutriente, ou duplo, que balanceia mais de um nutriente; pelo método algébrico com duas equações e dois ingredientes, ou três equações e três ou mais ingredientes, do qual esse método é capaz de sempre balancear dois ou três nutrientes, sendo os usados a PB e NDT. Os cálculos serão explicados de forma didática visando a facilidade para todos. EXEMPLO 1: formular dieta para uso em creep-feeding, para lote de cabritos com média de 10 kg PV e CMS à vontade. A ração deverá conter 20% PB e 80% de NDT. Os alimentos disponíveis são fubá de milho, raspa de mandioca e farelo de soja. Deixar 2% para suplemento mineral e sal. Determine o aporte mineral da dieta final. 1º passo: determinação da composição dos alimentos: Ingrediente MS % PB % NDT % Ca % P % Fubá de milho 91 10 86 0,02 0,29 Raspa de mandioca 88 3 69 0,15 0,80 Farelo de soja 89 47 81 0,25 0,65 -/- 2º passo: montar o sistema com 3 equações e 3 incógnitas onde x é milho, y raspa de mandioca e z farelo de soja: Equação MS: x + y + z = 98 Equação PB: 0,1x + 0,03y + 0,47z = 20 Equação NDT: 0,86x + 0,69y + 0,81z = 80 3º passo: resolvendo o sistema, vamos obter: x +y +z = 98 0,1x +0,03y +0,47z = 20 0,86x +0,69y +0,81z = 80 x +y +z = 98 0,1x +0,03y +0,47z = 20 0,432y -3,232z = -92 (-8,6 foi adicionada a linha 3) x +y +z = 98 -0,07y +0,37z = 10,2 0,432y -3,232z = -92 ( -0,1 foi adicionada a linha 2) x +y +z = 98 -0,07y +0,37z = 10,2 -0,949z = -29,051 (6,171 foi adicionada a linha 3) x + y +z = 98 y -5,286z = -145,714 -0,949z = -29,051 (a 2ª linha foi dividida -0,07) x +y +z = 98 y -5,286z = -145,714 z = 30,627 (a 3ª linha foi dividida -0,949) -/- 3ª linha: z = 30,6 -/- 2ª linha: y -5,286z = -145,714 -/- Use as variáveis já calculadas: y -5,286⋅30,627 = -145,714 -/- Resolva y: y = 16,2 -/- 1ª linha: x +y +z = 98 -/- Use as variáveis já calculadas: x +⋅16,169 +⋅30,627 = 98 -/- Resolva x: x = 51,2 -/- 4º passo: verificação da ração: Ingrediente MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Fubá de milho 51,2 5,1 44 10,2 148,5 Raspa de mandioca 16,2 0,5 11,2 24,3 129,6 Farelo de soja 30,6 14,4 24,8 76,5 198,9 TOTAL 98 20 80 111 477 Exigência 98 20 80 - - DÉFICE - - - - - -/- 5º passo: a relação Ca:P é de 0,23:1, como para ruminantes o ideal é entre 1:1 e 2:1, é necessário a adição de uma fonte de Ca para aumentar a quantidade do mesmo na ração e aumentar a relação. Usando 2 kg (ER de 2%) de calcário, teremos: 1 kg calc. ---------- 0,38 kg Ca 2 kg calc. ---------- x kg Ca X = 0,76 kg de Ca. O total de Ca na ração será 871 g. E a relação agora será de 1,8:1, ideal. 6º passo: composição final da ração para creep-feeding para cabritos: Ingrediente MS kg MN kg % final MN PB kg NDT kg Ca g P g Fubá de milho 51,2 56,3 50,6 5,1 44 10,2 148,5 Raspa de mandioca 16,2 18,4 16,6 0,5 11,2 24,3 129,6 Farelo de soja 30,6 34,4 31 14,4 24,8 76,5 198,9 Calcário 2 2 1,8 - - 760 - TOTAL 100 111,1 100 20 80 871 477 Exigência 100 - 100 20 80 - - DÉFICE - - - - - - - -/- 7º passo: segundo o NRC, o CMS de um cabrito com essas características é de 0,3 kg/dia. Então a ração deverá ser composta por: Ingrediente CMS g MS g MN g PB g NDT g Fubá de milho 300 153,6 168,8 15,4 132,1 Raspa de mandioca 48,6 55,2 1,5 33,5 Farelo de soja 91,8 103,1 43,2 74,4 Calcário 6 6 - - TOTAL 300 300 333,1 60 240 -/- As 60 g da PB equivalem aos 20% e os 240 g de NDT equivalem a 80%. Por fim, para uma boa ração de uso em creep-feeding para cabritos com 10 kg PV, são necessários 170 g de milho moído, 60 g de raspa de mandioca, 110 g de farelo de soja e 6 g de calcário. -/- EXEMPLO 2: você foi convidado para trabalhar em uma fazenda que produz leite de cabras da raça Saanen, a média da produção leiteira é de 5 kg/dia com um teor de 3,5% de gordura. Forneça ração volumosa em até 20% da MS total. Os alimentos disponíveis para a ração volumosa são silagem de milho e feno de braquiária; para a mistura concentrada são milho moído, ureia e farelo de soja. Dados o CMS é de 3 kg/dia e o peso médio do lote de 50 kg. 1º passo: determinação das exigências nutricionais da cabra: Exigência CMS kg PB kg NDT kg Ca g P g (1) Mantença 3,0 0,075 0,530 3 2,1 Prod./kg 0,068 0,342 4 1,5 (2) Prod./kg x 5 0,340 1,71 20 7,5 (1 + 2) TOTAL 3,0 0,415 2,24 23 9,6 TOTAL % 100 13,8 74,7 0,77 0,32 -/- 2º passo: composição dos alimentos disponíveis: Ingrediente MS % PB % NDT % Ca % P % Silagem de milho 27 8 65 0,52 0,16 Feno de braquiária 89 8 60 0,23 0,10 Milho moído 90 9 86 0,02 0,29 Ureia 100 280 - - - Farelo de soja 90 45 84 0,29 0,65 -/- 3º passo: como 600 g (20% CMS) deverá ser aportada pela ração volumosa, vamos fornecer 300 g MS de ambos os volumosos. Teremos, então: Volumosos MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Silagem 0,3 0,024 0,195 1,6 0,5 Feno 0,3 0,024 0,180 0,7 0,3 TOTAL 0,6 0,048 0,375 2,3 0,8 Exigência 3,0 0,415 2,24 23 9,6 DÉFICE 2,4 0,367 1,865 20,7 8,8 -/- 4º passo: a ração concentrada deverá conter 0,367 kg de PB e 1,865 kg de NDT. Vamos fornecer uma quantidade fixa de 50 g de ureia, então: 50 x 280/100 = 140 g PB Calculando o novo défice da PB: 0,367 – 0,140 = 0,227 5º passo: montamos o sistema de duas equações e duas incógnitas para determinar a quantidade de x milho moído e y farelo de soja necessárias para suprir 0,227 kg PB e 1,865 kg de NDT. Lembrando que o défice de MS é de 2,4, ou seja, o total final de x + y não deverá ser superior. Equação PB: 0,09x + 0,45y = 0,227 Equação NDT: 0,86x + 0,84y = 1,865 Respondendo direto, já que aprendemos o método de resolução anteriormente: 0,86x + 0,84y = 1,865 0,86x + 4,30y = 2,17 0 - 3,46y = 0,305 y = 0,305/3,46 y = 0,088 kg de farelo de soja, ou 90 g. Substituindo y na equação PB: 0,09x + 0,45(0,09) = 0,227 0,09x + 0,0405 = 0,227 0,09x = 0,227 – 0,0405 0,09x = 0,1865 x = 2,07 kg de milho moído, ou 2,1 kg. 6º passo: verificação da ração concentrada: Ingrediente MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Milho 2,1 0,189 1,8 0,42 6,1 Ureia 0,05 0,140 - - - Farelo de soja 0,09 0,040 0,07 0,26 0,6 TOTAL 2,24 0,369 1,87 0,68 6,7 Exigência 2,4 0,367 1,865 20,7 8,8 DÉFICE 0,16 - - 20 2,1 -/- 7º passo: ajuste mineral para suprir o défice de 2,1 g de P com fosfato bicálcico e 20 g de Ca com calcário. Fazendo as relações, análogas a anteriores, e sabendo-se que o FB contém 18% de P e 23% de Ca e o calcário possui 38% de Ca, encontramos: Para P: 11,7 ou 12 g de fosfato bicálcico contendo 2,1 g de P e 2,8 g de Ca Para Ca: 45,5 g de calcário contendo 17,2 g de Ca 8º passo: composição final da dieta: Volumosos MS kg MN kg % final PB kg NDT kg Ca g P g Silagem de milho 0,3 1,1 27,6 0,024 0,195 1,6 0,5 Feno de braquiária 0,3 0,34 8,5 0,024 0,180 0,7 0,3 Concentrados Milho moído 2,1 2,33 58,6 0,189 1,8 0,42 6,1 Ureia 0,05 0,05 1,3 0,140 - - - Farelo de soja 0,09 0,1 2,5 0,040 0,07 0,26 0,6 Calcário 0,046 0,046 1,2 - - 17,4 - Fosfato bicálcico 0,012 0,012 0,3 - - 2,7 2,1 TOTAL 2,9 3,98 100 0,417 2,24 23,1 9,9 Exigência 3,0 - 100 0,415 2,24 23 9,6 DÉFICE - - - - - - -/- Por fim, uma ração para cabras Saanen com 50 kg PV e produzindo 5 kg leite/dia com 3,5% de gordura, são necessários 600 g de mistura volumosa à base de 50% de silagem de milho e 50% de feno de braquiária e 2,6 kg de ração concentrada à base de 2,4 kg de milho, 100 g de farelo de soja, 50 g de ureia e 50 g para calcário e fosfato bicálcico. O CMS de cada cabra com essa ração será de 2,9 kg/dia, ou seja, dentro dos limites de 3 kg/dia, segundo o NRC, 2007. A relação Ca:P é 2,3:1, sendo uma relação aceitável, já que ruminantes suportam uma relação até 3:1. -/- EXEMPLO 3: formule uma dieta para animais em mantença situados na região semiárida de Pernambuco. Os animais possuem peso médio de 40 kg e estão em condições de atividade média, ou seja, 50% a mais dos requisitos de mantença segundo o NRC, 2007. Os alimentos disponíveis são capim tifton verde e fubá de milho. Dados o CMS é de 1,1 kg/dia. 1º passo: determinação das exigências nutricionais do animal: Exigência MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Mantença 1,1 0,064 0,448 3 2 X50% 0,032 0,224 2 1,5 TOTAL 1,1 0,096 0,672 5 3,5 TOTAL % 100 8,8 61,1 0,45 0,32 -/- 2º passo: composição dos alimentos disponíveis: Ingrediente MS % PB % NDT % Ca % P % Capim tifton 27 13 40 0,54 0,50 Fubá de milho 90 9 85 0,02 0,29 -/- 3º passo: montando o sistema de equações onde x milho e y capim terão que fornecer 0,096 kg de PB e 0,672 kg de NDT: Equação PB: 0,09x + 0,13y = 0,096 Equação NDT: 0,85x + 0,40y = 0,672 Resolvendo o sistema direto, temos: 0,85x + 0,40y = 0,672 0,85x + 1,223y = 0,907 0 + 0,823y = 0,235 y = 0,235/0,823 y = 0,286 kg de capim tifton, ou 290 g. Substituindo y na equação PB: 0,09x + 0,40(0,286) = 0,096 0,09x + 0,037 = 0,096 0,09x = 0,096 – 0,037 0,09x = 0,059 x = 0,656 kg de milho moído, ou 660 g. 4º passo: verificação da ração: Ingrediente MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Milho 0,656 0,059 0,558 0,1 1,9 Capim tifton 0,286 0,037 0,114 1,5 1,4 TOTAL 0,942 0,096 0,672 1,6 3,3 Exigência 1,1 0,096 0,672 5 3,5 DÉFICE 0,158 - - 3,4 0,2 -/- 5º passo: adição de fosfato bicálcico e calcário ao milho para suprir o défice de P e Ca: Para P: 1,2 g de fosfato bicálcico fornecerá 0,2 g de P e 0,28 g de Ca. Para Ca: 8,2 g de calcário fornecerá 3,1 g de Ca. 6º passo: verificação final da dieta: Ingrediente MS g MN g % final PB g NDT g Ca g P g Capim tifton 286 1060 58,9 37 114 1,5 1,4 Fubá de milho 656 729 40,6 59 558 0,1 1,9 Calcário 8,2 8,2 0,45 - - 3,12 - Fosfato bicálcico 1,2 1,2 0,05 - - 0,28 0,2 TOTAL 951,4 1798,4 100 96 672 5 3,5 Exigência 1100 - 100 96 672 5 3,5 DÉFICE - - - - - - - -/- Por fim, para mantença de lote de caprinos no semiárido com atividade média e 40 kg de PV, são necessários, para fins práticos, 1,1 kg de capim tifton, 730 g de milho misturado com 9 g de calcário e 1,5 g de fosfato bicálcico. A MS da ração satisfaz completamente as exigências de CMS do animal e sobre espaço de 0,149 kg de MS que o animal poderá ingerir com outras fontes de alimentos para um possível início de ganho de peso. A relação Ca:P da mistura é de 1,4:1. -/- EXEMPLO 4: um pequeno produtor de caprinos de Belo Jardim-PE deseja manter seu lote de animais no período da seca, onde a vegetação é escassa e o clima semiárido. Os alimentos disponíveis na propriedade são algarobeira e sementes de guandu. O lote de animais possui média de 40 kg PV. O CMS é de 1,1 kg/dia. 1º passo: exigências nutricionais do animal: Segundo o NRC, 1981 para uma seca e um clima tipicamente semiárido como o de Belo Jardim, são necessários acréscimos de 75% das exigências de mantença, ou seja, é necessário adicionar 75% a mais do valor de mantença para obter as exigências finais. Logo: Exigência MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Mantença 1,1 0,063 0,448 3 2 X75% 0,047 0,336 3 2 TOTAL 1,1 0,110 0,784 6 4 TOTAL % 100 10 71,3 0,55 0,36 -/- 2º passo: composição dos alimentos disponíveis: Ingrediente MS % PB % NDT % Ca % P % Algaroba 89 9 70 0,4 0,15 Guandu 89 23 80 0,15 0,45 -/- 3º passo: montando o sistema e respondendo direto vamos obter: Equação PB: 0,09x + 0,23y = 0,110 Equação NDT: 0,70x + 0,80y = 0,784 Resolvendo o sistema direto, temos: 0,70x + 0,80y = 0,784 0,70x + 1,789y = 0,856 0 - 0,989y = -0,072 y = -0,072/-0,989 y = 0,073 kg de sementes de guandu, ou 80 g. Substituindo y na equação PB: 0,09x + 0,23(0,08) = 0,110 0,09x + 0,0184 = 0,110 0,09x = 0,110 – 0,0184 0,09x = 0,0916 x = 1,02 kg de algaroba, ou 1,1 kg. 4º passo: verificação da ração: Ingrediente MS kg PB kg NDT kg Ca g P g Algaroba 1,02 0,092 0,715 4,1 1,5 Guandu 0,08 0,018 0,65 0,1 0,4 TOTAL 1,1 0,110 0,780 4,2 1,9 Exigência 1,1 0,110 0,784 6 4 DÉFICE - - - 1,8 2,1 -/- 5º passo: ajuste mineral para suprir Ca e P: Para P: 12 g de fosfato bicálcico tem 2,1 g de P e 2,7 g de Ca 6º passo: composição final da dieta: Ingrediente MS g MN g % final PB g NDT g Ca g P g Algaroba 1020 1146 91,8 92 715 4,1 1,5 Guandu 80 90 7,2 18 65 0,1 0,4 Fosfato bicálcico 12 12 1,0 - - 2,7 2,1 TOTAL 1112 1248 100 110 780 6,9 4 Exigência 1100 - 100 110 784 6 4 DÉFICE - - - - - - - -/- Por fim, para manter um lote de caprinos na seca com média de 40 kg PV, é necessário o fornecimento de, para fins práticos, 1200 g de algaroba, 100 g de sementes de guandu e 12 g de fosfato bicálcico. O CMS da dieta é ideal e a relação Ca:P é de 1,7:1. -/- EXEMPLO 5: formular dieta para caprinos reprodutores. Os alimentos disponíveis são palma miúda, triticale e farelo de algodão. O peso médio do reprodutor é de 70 kg e o CMS de 1,26 kg/dia. Por fim, calcular o aporte mineral da dieta. Será fornecido 1 kg de palma in natura/cabeça. 1º passo: exigências para caprino reprodutor com 70 kg PV: Exigência CMS kg PB g NDT g Ca g P g TOTAL 1,26 203 695 5 3 TOTAL % 100 16 55,1 0,4 0,24 -/- 2º passo: composição dos alimentos disponíveis: Ingrediente MS % PB % NDT % Ca % P % Palma 9 4 70 2 0,31 Triticale 87 14 85 0,04 0,32 Farelo de algodão 90 33 70 0,2 0,8 -/- 3º passo: fornecimento fixo de 1 kg de palma: Volumoso MS g PB g NDT g Ca g P g Palma 90 3,6 63 1,8 0,3 Exigência 1260 203 695 5 3 DÉFICE 1170 199,4 632 3,2 2,7 -/- 4º passo: calcular mistura de x triticale e y farelo de algodão que atenda a demanda de 0,1994 kg de PB e 0,632 kg de NDT. Montando a equação e resolvendo direto teremos: Equação PB: 0,14x 0,33y = 0,1994 Equação NDT: 0,85x + 0,70y = 0,632 Fator de multiplicação: 6,071 (0,85/0,14) Equação NDT: 0,85x + 0,70y = 0,632 Equação 3: 0,85x + 2,00y = 1,211 0 - 1,30y = 0,579 y = 0,445 kg de farelo de algodão Substituindo na equação PB: 0,14x + 0,33 x 0,445 = 0,1994 0,14x + 0,1469 = 0,1994 0,14x = 0,1994 – 0,1469 0,14x = 0,0525 x = 0,375 kg de triticale 5º passo: verificação da ração: Ingrediente MS g PB g NDT g Ca g P g Triticale 375 52,5 319 0,15 1,2 Farelo de algodão 445 146,9 312 0,9 3,6 TOTAL 820 199,4 631 1,05 4,8 Exigência 1170 199,4 632 3,2 2,7 DÉFICE - - - 2,15 - -/- 6º passo: ajuste mineral com calcário para suprir o défice de 2,15 g de Ca: 5,7 ou 6 g de calcário tem 2,3 g de Ca 7º passo: composição final da dieta: Ingrediente MS g MN g % final PB g NDT g Ca g P g Palma 90 1000 51,8 3,6 63 1,8 0,3 Triticale 375 431 22,3 52,5 319 0,15 1,2 Farelo de algodão 445 494,5 25,6 149,9 312 0,90 3,6 Calcário 6 6 0,3 - - 2,3 - TOTAL 916 1931,5 100 203 695 5 3 Exigência 1260 - 100 203 694 5,15 5,1 DÉFICE 344 - - - - - - -/- O CMS é inferior do que o recomendado, no entanto, as exigências foram supridas pelos alimentos. São necessários 1 kg de palma e uma mistura concentrada de 430 g de triticale, 500 g de farelo de algodão e 6 g de calcário/cabeça/dia. A relação Ca:P é de 1:1. -/- EXEMPLO 6: formular dieta para caprinos reprodutores que necessitam de 16% de PB e 60% de NDT. Os alimentos disponíveis são milho, silagem de capim-elefante e farelo de soja. Deixar 2% de ER para suplement. (shrink)
SOCIOLOGIA DO TRABALHO: O CONCEITO DO TRABALHO DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XVI -/- SOCIOLOGY OF WORK: THE CONCEPT OF WORK OF ANTIQUITY FROM TO THE XVI CENTURY -/- RESUMO -/- Ao longo da história da humanidade, o trabalho figurou-se em distintas posições na sociedade. Na Grécia antiga era um assunto pouco, ou quase nada, discutido entre os cidadãos. Pensadores renomados de tal época, como Platão e Aristóteles, deixaram a discussão do trabalho para um último plano. Após várias transformações sociais entre (...) diferentes eras e povos, o trabalho foi ganhando espaço nos debates entre os povos, como os caldeus, hebreus e romanos. O trabalho conferiu-se no escopo da discussão social. Na Idade Média, com Agostinho, Santo Aquino e outros o labor foi concebido como algo benéfico e divino. O que se via como algo “escravo” ao povo, transformou-se em necessidade e benevolência divina. -/- Palavras-chave: Conceito; Trabalho; História; Definição. -/- ABSTRACT -/- Throughout the history of mankind, work has figured itself in different positions in society. In ancient Greece it was a little matter, or almost nothing, discussed among the citizens. Renowned thinkers of such a time, like Plato and Aristotle, left the discussion of the work for a last plan. After several social transformations between different eras and peoples, work was gaining space in the debates among peoples, such as the Chaldeans, Hebrews and Romans. The work has taken place within the scope of social discussion. In the Middle Ages, with Augustine, Saint Aquinas and others the work was conceived as something beneficial and divine. What was seen as something “slave” to the people, became need and divine benevolence. -/- Keywords: Concept; Work; History; Definition. -/- BASES TEMÁTICAS DESSE TRABALHO -/- ➢ O trabalho é um conceito construído socialmente; -/- ➢ A modernidade trouxe consigo mudanças significativas quanto à valorização do trabalho; -/- ➢ A origem dos mercados de trabalho, juntamente com o surgimento do capitalismo, minimizou o trabalho como um mero emprego assalariado; -/- ➢ O trabalho, no entanto, apresenta múltiplas manifestações nas nossas sociedades. -/- 1. A VISÃO GREGA DE TRABALHO -/- Comecemos pelos gregos, uma civilização excitante que, durante muitos séculos antes de Cristo, já começava a elaborar riquíssimas reflexões sobre vários aspectos da vida humana. No entanto, surpreende aqueles de nós que já ler os primeiros filósofos gregos, como entre tantas análises rigorosas e “diálogos”, um elemento tão central na vida social dos povos, como o trabalho havia tido escassa repercussão. A explicação só faz sentido, justamente, ao analisar a valorização que esses grandes pensadores tinham acerca do nosso objeto de estudo que é o trabalho. Embora, como supracitado, os gregos não tivessem uma visão unânime sobre o trabalho, não é menos certo assinalar que para esta civilização o trabalho foi considerado um fato altamente desvalorizado. O trabalho, para eles, dado a sua vinculação com a dimensão de constrangimento e necessidades, limitava a liberdade dos indivíduos, condição indispensável para integrar o mundo da “pólis” na qualidade de cidadão. O homem livre realizava atividades absolutamente desinteressadas: a atividade intelectual (que não era considerada trabalho) fazia parte do ócio e da contemplação. O trabalho, reservado apenas aos escravos, como bem sinala Hopenhayn (1955), significava uma mera função produtiva. Portanto, o escravo passou a ser unicamente uma força de trabalho. Como tal, ele não tem personalidade e pertence ao seu mestre, como uma coisa entre muitas. Como objeto de propriedade, escapa ao pensamento antropológico que domina a filosofia sofista e socrática, porque para o cidadão grego falar de escravo não implica um sujeito pensante, senão uma coisa ou, no máximo, a força. Também escapa ao pensamento platônico, porque, como uma coisa, parece totalmente desvalorizado na construção idealista-dualista da realidade (HOPENHAYN, 1988. p. 23 – Tradução própria). -/- Três termos fundamentais que devemos recordar da tradição grega: -/- 1 – Ponos: penalidade, fadiga; -/- 2 – Banausia: trabalho mecânico, e -/- 3 – Ergon: realização. -/- Vejamos como essa noção de trabalho é construída como algo servil (ponos), ao qual uma visão positiva de lazer e contemplação foram contrastadas como uma atividade puramente humana e libertadora. As raízes do supracitado são encontradas no valor eticamente supremo da autarquia socrática. Segundo essa noção alcunhada por Sócrates (469-399 a.C.), todo aquele que trabalha está submetido tanto à matéria como aos homens para quem trabalha. Nessa medida, sua vida carece de autonomia e, portanto, de valor moral. Naturalmente, não só os escravos, mas também qualquer trabalhador dedicado a todos os tipos de tarefas manuais, foram desprezados por um pensamento helênico indubitavelmente aristocrático. Para Platão (427-347 a.C.), de origem aristocrática, descendente do último rei de Atenas e discípulo de Sócrates, a autarquia continua a ser perpetrada como um valor ético supremo e, em consonância com os interesses da aristocracia fundiária, afirmava que somente a agricultura evocava autêntica autonomia. Dessa forma, o pensamento platônico restringiu a participação política a escravos, comerciantes e artesãos. Todos eles têm em comum a dependência das condições materiais em que produzem e trocam mercadorias. O plano político estará intimamente relacionado ao econômico-trabalhista: somente quem é capaz de governar a si mesmo (e como sabemos, acontece com aqueles que não trabalham ou possuem terras), pode governar os outros. Somente a liberação total da prática mundana do trabalho abre as possibilidades de dedicar-se, como fez Platão, à contemplação (σχολή), à filosofia e às ciências, e por meio disso saber distinguir o bem do mal, o justo do injusto, o verdadeiro do falso. Quem poderia dedicar-se a tais “tarefas nobres”? Evidentemente, aqueles que não precisam fazer parte da população trabalhadora, isto é, a aristocracia. Esse sistema de governo aristocrático foi defendido, obviamente, por Platão. Em sua “A República” sinala que o governo perfeito é o aristocrático, e que a este se sucedem a timocracia (governo dos guerreiros), a oligarquia (dos ricos) e a democracia (“governo daqueles que amam o prazer, a mudança e a liberdade), que perece por seus excessos nas mãos de alguns homem audaz que se coloca à frente do povo para defender a democracia e “do tronco desses protetores do povo nasce o tirano”, dando origem à tirania.(2) Em seu diálogo “Político” podemos ler: Aqueles que possuem a si mesmos através da compra, e aqueles que podem ser chamados sem nenhuma discussão de escravos, não participam da arte real [...] E todos aqueles que são livres, se dedicam espontaneamente a atividades servis como as supracitadas, transportando e trocando produtos da agricultura e de outras artes; que nos mercados, indo de cidade em cidade por mar e terra, trocando dinheiro por outras coisas ou por dinheiro, o que chamamos de banqueiros, comerciantes, marinheiros e revendedores, poderão, por acaso, reivindicar para eles algo da ciência política? [...], mas também aqueles que estão dispostos a prestar serviços a todos por salários ou por subsídios, nunca os encontramos participantes na arte de governar [...] Como os chamaremos? Como você acabou de dizer agora: servidores, mas não governantes dos estados (PLATÃO, 1983. pp. 237-8 – adaptado). Esse estado ideal que Platão projetou em seus ensinamentos estava longe, a propósito, da democracia ateniense defendida por Péricles. De certa forma, Platão só confiava em uma elite no poder constituída por uns poucos (oligarquia) que não deveriam se render às tarefas servis da produção e circulação das riquezas. Para ele, as crianças aristocráticas deveriam ser selecionadas desde a infância, recebendo uma educação suficiente tanto em filosofia quanto nas “artes da guerra”. Aos trinta anos, eles já seriam capazes de passar por um exame donde seriam selecionados os “filósofos-reis” encarregados do governo. De fato, no entanto, suas concepções de governo nunca poderiam ser executadas com pureza; ou pela chamada “contrarrevolução aristocrática”, ou pela invasão estrangeira subsequente. Essa visão do trabalho que estamos a analisar, como bem sinala Henri Arvon (1914- 1992), conduz a uma sociedade basicamente conservadora e estancada no produtivo. (3) A ideia de liberdade, ócio e contemplação como valores superiores, propõe um desprezo pelo trabalho que, como vimos, é uma atividade puramente transformadora. Há aqueles que, mediante tal contestação, arriscam fundamentar que grande parte do subdesenvolvimento tecnológico na Grécia derive justamente a essa cultura tão peculiar em relação ao trabalho. Caso contrário, se houvesse escravos, por que avançar em conhecimentos que facilitaram o trabalho? Não nos surpreende, nesse sentido, que uma civilização capaz de criar conhecimentos espetaculares em áreas particularmente complexas como a geometria (Euclides), por outro lado, não soubesse (ou não gostaria) de avançar em conhecimentos técnicos aplicáveis ao campo econômico-trabalhista. Já vimos como a cidadania era o escopo da de alguns aristocratas da civilização helênica. Hannah Arendt (1906-1975) sinalava que os gregos distinguiam entre os escravos, os inimigos vencidos (dmôes ou douloi) que estavam encarregados do trabalho doméstico, e os demiourgoi, homens livres para se deslocarem do domínio privado para o público. Somente depois do século V, sinala Arendt, a pólis começou a classificar as ocupações de acordo com os esforços que eles exigiam. Nisso, Aristóteles (384-322 a.C.) teve que desempenhar um papel preponderante que colocou aqueles cujo “corpo está mais deformado” na faixa mais baixa. Ele não admitiria, portanto, aos estrangeiros (os escravos), nem tampouco aos banausoi, antes dos demiourgoi, trabalhadores e artesãos que deviam resignar-se ao mundo dos “oikos”. Estes, não só estavam submetidos à necessidade como eram incapazes de ser livres, mas também incapazes de governar a parte “animal” do seu ser (República, 590). Serão eles, não obstante, aqueles que permitem o florescimento da chamada democracia helênica, pois, quem senão os trabalhadores (escravos ou artesãos) poderia manter com seu esforço o ócio e a contemplação dos “homens livres”, cidadãos do mundo? Como foi supracitado, será Aristóteles quem delimitará ainda mais os direitos de cidadania. Sua cidade ideal, como em Platão, diferenciaria os governantes dos governados. O primeiro, constituído pela classe militar, estadistas, magistrados e sacerdócio. O segundo, pelos agricultores, artesãos e os camponeses. Com os comerciantes há uma certa ambivalência: embora ele considerava uma ocupação antinatural, estava disposto a admiti-los até certo ponto em sua cidade ideal, cuja base seguiria sendo a escravidão. Em sua Política, ele explana: A cidade mais perfeita não fará do trabalhador manual (artesão) um cidadão. Caso o admitir como tal, a definição de virtude cívica [...] não alcança todos os cidadãos, nem apenas os homens livres, mas só os que estão isentos de trabalhos indispensáveis à sobrevivência. Destes, os que estão a serviço de um só indivíduo, são escravos; os que servem a comunidade, são trabalhadores manuais (artesãos) ou trabalhadores não qualificados (ARISTÓTELES, 1998. p. 203). Tampouco compreenderá os agricultores como reivindicava Platão: “Tampouco deverão ser agricultores os futuros cidadãos, pois para a formação de sua virtude e para a atividade política, o ócio é necessário”. Essa prolifera discussão ocorreu em uma civilização onde começaram a surgir as primeiras mudanças produtivas derivadas do crescimento econômico feito do descobrimento do ferro, e sua posterior divisão do trabalho, onde florescem os grupos de comerciantes e a aristocracia proprietária de terras começa a dominar. Os pensadores da época, mais aliados a estes últimos, contrariavam os princípios da acumulação comercial. Em sua Política, Aristóteles aconselha os cidadãos a absterem-se de qualquer profissão mecânica e de toda especulação mercantil. O primeiro, porque limita intelectualmente, e o segundo, porque degrada o ético. Somente o ócio (scholé), para esses pensadores, permite a virtuosidade e a capacidade de julgar. A Koinonia politiké (comunidade dos homens livres) era típica daqueles que não precisavam de trabalho, relegando a população trabalhadora ao mero âmbito da reprodução material (chrematistiké), o que só era possível em um contexto de alta divisão do trabalho onde um grupo minoritário (oligarquia) vivia à custa do trabalho da maioria (muitos deles escravos). O termo “ócio” provém de “scholé”, entendido entre os gregos como tempo para si mesmo, para a contemplação (sjolé) e, portanto, para a formação (scholé = escola). Desse ponto de vista, o ócio para os gregos é um fim em si mesmo. Entre os romanos, no entanto, adquire outra conotação. Em latim octium, designa o campo contraposto ao neo-octium (negócio), ou seja, é o tempo de descanso que permite dedicar-se ao negócio. Tal visão sobre o trabalho e o ócio, respectivamente, não foi, no entanto, como supracitado no início, unanimemente desenvolvida em toda a história da civilização helênica. Os textos de Homero(4) (séculos IX e VIII a.C.) são mais reservados a respeito, mas acima de tudo, na Grécia antiga encontramos autores como Hesíodo (século VIII), que postulavam outras teses. Para o autor de “Os trabalhos e os dias”, o trabalho se constituía em um justo e necessário castigo que Zeus impôs aos homens pelo pecado de Prometeu. Note a similitude com a crença bíblica que veremos adiante. Hesíodo explana: Lembre-se sempre do meu conselho e trabalhe [...] os deuses e os homens se indignam com quem ocioso vive, semelhante em caráter aos zangões sem ferrão, que consomem o esforço das abelhas [...] O trabalho não é nenhuma desonra; desonra é não trabalhar (HESÍODO, 2012. p. 93 e 95). Também entre alguns sofistas (aqueles que vendiam sua sabedoria a quem gostaria de comprá-la), como Protágoras (século V a.C.), “o primeiro e o maior deles”(5), coloca o estudo e a arte (técnica) na mesma faixa, e Antifonte (século V a.C.) disse: “[...] e as honras e preços, e toda a espécie de encorajamento que Deus incumbiu aos homens, devem necessariamente resultar de fadiga e suor”. Como conviveu a cultura grega com essas noções tão diferentes? Tenho a ideia, juntamente com Hopenhayn, que o desprezo dos pensadores gregos pelo manual foi causado pela violência dos guerreiros e dos aristocratas de plantão, que impuseram aos seja derrotados o jugo. Do trabalho árduo e difícil. Porque a aristocracia queria trabalhar nessas condições? A própria divisão do trabalho em si possibilitou o crescimento da civilização helênica, estava gerando diferentes classes com visões distintas sobre o trabalho. Por outro lado, surgiram os camponeses pobres, os derrotados e aqueles que tinham que viver do trabalho artesanal. Essas pessoas, na maioria das vezes isoladas do mundo da “polis”, gerariam suas próprias leituras dos acontecimentos, seus próprios espaços para o desenvolvimento cultural, inclusive sua própria religião, distante daquela imposta pela visão aristocrática, olímpica, contemplativa e estética dos “homens livres”. -/- 2. A VISÃO DOS CALDEUS ACERCA DO TRABALHO -/- A leitura de outros povos e civilizações sobre este tema tem sido diferente. Entre os caldeus, por exemplo, a visão pejorativa analisada entre os gregos não é registrada. Nas escrituras sagradas da religião de Zaratustra (o Avesta), lemos: “É um santo aquele que constrói uma casa, na qual mantém o fogo, o gado, sua mulher, seus filhos, os bons párias. Aquele que faz a terra produzir trigo, que cultiva os frutos do campo, cultiva corretamente a pureza” (HOPENHAYN, 1988. p. 35). Para os caldeus, como se pode observar, o trabalho implica, de uma posição diametralmente oposta à helênica, uma contribuição na ordem econômica, mas também na espiritual. Trabalhar não é só “cultivar o trigo” (dimensão das necessidades fisiológicas), mas também “cultivar a pureza”, dimensão esta, relacionada com a satisfação das necessidades espirituais. Por que apreciamos uma diferença tão acentuada entre essas culturas? Provavelmente, os diferentes graus de desenvolvimento dos povos levaram a isso. Enquanto entre os gregos primava uma divisão do trabalho, onde alguns tinham o status de “homens livres” dedicados à contemplação e ao ócio, outros não tinham escolha a não ser trabalhar, em uma situação de domínio em relação às naturezas daqueles que o empregaram. Esse não foi o caso dos caldeus, que possuía um escasso dividido trabalho, em que a todos se correspondia uma atividade laboriosa. -/- 3. A VISÃO DOS HEBREUS SOBRE O TRABALHO -/- No meio do caminho entre os caldeus e os gregos, encontramos a avaliação do trabalho feita pelos hebreus, dessa vez, tingindo de ambivalências. Tal como ponderava Hesíodo entre os gregos, para os hebreus, o trabalho se constituía de um mal necessário; em um meio para expiar os pecados; dessa vez não de Prometeu, mas de Adão e Eva. Vamos ver, no entanto, alguns aspectos mais complexos. A primeira coisa a se notar da perspectiva hebraica (compartilhada com o cristianismo) é o que se resulta da leitura do livro de Gênesis, aquela história poética e cheia de imagens para elucidar facilmente a origem da criação. Lá se estabelece a ideia de um deus criador-trabalhador: “No princípio Deus criou o céu e a terra [...] No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou [...] de toda a obra que realizara na criação”.(7) Esse Deus como primeira causa (São Tomás de Aquino (1225-1274)) denota laboriosidade seu correspondente descanso, um binômio que será fundamental para compreender a evolução do direito do trabalho e do direito ao descanso semanal contemporâneo. Digamos, em segundo lugar, que o Senhor Deus providenciou o trabalho no Éden: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”.(8) Portanto, não é certa a ideia de que o trabalho é o resultado do pecado: ao contrário, é um trabalho árduo aquele que deriva do pecado segundo a tradição hebraico-cristã. Antes, na ausência do pecado, havia uma espécie de bom trabalho. Foi o pecado original, que levou Deus a condenar Adão e Eva, e por isso a toda a humanidade, a “ganhar o pão com o suor da sua testa”. “Por isso o Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado”. (9) O Talmude diz: “Se o homem não encontra seu alimento como animais e pássaros, precisa ganhá-los, isso se deve ao pecado”. Essa sentença, de caráter histórico, promove a ideia de trabalho como meio para expiar o pecado original, mas também como meio para produzir; isto é, legitimando a mudança inerente a todo trabalho e, portanto, legitimando também aquela vontade transformadora que caracterizou desde sempre os povos hebreus.(10) Agora, ao contrário dos caldeus, para os hebreus da antiguidade, o trabalho nunca teve um fim ético em si mesmo, mas foi constituído apenas como um meio. Essa visão esteve sempre presente, e caracteriza muito claramente a concepção que muitos integrantes de nossas sociedades contemporâneas possuem sobre o trabalho, além da religião de cada um. -/- 4. OS ROMANOS E O TRABALHO -/- Os romanos, por sua vez, deram uma importante contribuição para o desenvolvimento do conceito de trabalho. Se bem que, a grosso modo, não houvesse grandes diferenças com o pensamento dos gregos, com quem eles tinham em comum, além disso, uma maior divisão do trabalho fruto do desenvolvimento econômico e o uso massivo de mão de obra escrava(11); a maior contribuição do ponto de vista de sua originalidade histórica estava presente na tradição jurídica que inauguraria o Império Romano. O maior impacto por meios jurídicos e não filosóficos é explicado pelo fato de que os romanos, ao contrário dos gregos, não conseguiram “inspirar” a produção de grandes pensadores sociais. Com efeito, para os romanos, como o escravo não era considerado uma pessoa, o viam-no desprovido de personalidade jurídica. Isso conduziu a negação da relação de trabalho entre a pessoa encarregada de um trabalho manual (escravo) e seu dono. Tal relação correspondia, acima de tudo, ao direito de propriedade que os juristas romanos haviam garantido quase sem limites para seus cidadãos. O problema, como aponta Hopenhayn, surgiu quando o proprietário não ocupa seu escravo, mas aluga-o para terceiros. Surge assim a figura do arrendamento de serviços, que deriva do arrendamento das coisas. Porém, como na realidade o que se alugava era a força de trabalho, a qualidade jurídica desloca-se para a atividade realizada pelo escravo. Dessa forma, a atividade do trabalhador, primeiro do escravo, posteriormente do homem livre, começa a ser tratada como uma coisa, e se converte em antecedente do arrendamento de serviços do Direito Civil moderno. Ademais, na tradição romana, o trabalho manual estava desprestigiado. Cícero (106-43 a.C.) em De Officiis, estabeleceu com fria claridade “ipsa merces est auctoramentum servitius”(12) (todo trabalho assalariado é trabalho escravo). A vida era difícil para esses trabalhadores: nos territórios sob domínio romano, Augusto (63-14 a.C.) tinha imposto um tributo à todos os homens que exerciam algum tipo de trabalho manual, além do imposto à residência, às valas e outros mais particulares como o imposto para a detenção de porcos. Certamente, aqueles que levaram a pior parte no tempo da Roma Imperial foram os escravos (servi) sob domínio e propriedade de seus donos (domini). Me seus tempos de auge, a demanda de escravos em Roma era de 500.000 ao ano. Se compararmos com os 60.000 escravos negros trazidos a América nos anos de maior tráfico, teremos uma ideia mais ou menos exata da magnitude desse triste fenômeno. -/- 5. O CRISTIANISMO E O TRABALHO -/- As mensagens do cristianismo primitivo, são inseridas logo, nesse tempo histórico, onde Roma se tornava o centro das maiores mobilizações de rebeldia da antiguidade. Isaías, nesse sentido, proclamaria que o Messias viria: “[...] a pregar boas novas aos abatidos, a vendar aos quebrantados de coração, a publicar liberdade aos cativos, e aos presos a abertura do cárcere”.(13) Jesus, efetivamente, incluiu em sua missão, mensagens de libertação aos pobres e oprimidos. Porém, ao contrário do supracitado, como bem sinala Eric Roll (1907-2005), dos antigos profetas hebreus, não o faria saudando as comunidades tribais com seu espírito de grupo; mas animado por uma mensagem mais universal e permanente, proclamando uma mudança mais completa e integral na conduta do homem em sociedade, onde os valores de justiça e amor se colocariam em um primeiro plano. Evidentemente, a mensagem do cristianismo primitivo, e mais concretamente de Cristo, distava muito dos filósofos gregos. Deixemos que Roll explique: Temos visto que as doutrinas econômicas de Platão e, em certa medida, de Aristóteles, nasciam da aversão aristocrática ao desenvolvimento do comercialismo e da democracia. Seus ataques contra os males que acarreta o afã de acumular as riquezas são reacionárias: olham para trás, e o de Cristo olha para frente, pois exige uma mudança total, mas relações humanas. Aqueles sonhavam com um estado ideal destinado a proporcionar a “boa vida” para os cidadãos livres unicamente e cujas fronteiras eram as da cidade-estado daquele tempo; Cristo pretendeu falar por todos e para todos os homens. Platão e Aristóteles haviam justificado a escravidão; os ensinamentos de Cristo sobre a fraternidade entre todos os homens e o amor universal eram incompatíveis com a ideia da escravidão, apesar das opiniões expostas depois por São Tomás de Aquino. Os filósofos gregos, interessados somente pelos cidadãos, sustentaram opiniões muito rígidas sobre a diferente dignidade das classes de trabalho, e consideravam as ocupações servis, com exceção da agricultura, como próprias apenas para os escravos. Cristo, ao dirigir-se aos trabalhadores de seu tempo, proclamou pela primeira vez a dignidade de todas as classes de trabalho, assim materiais como espirituais (1942. p. 42 – Tradução própria). Não pode escapar desse estudo, o fato de que o próprio Jesus Cristo herdou o ofício de carpinteiro de seu “Pai” José; e que escolheu seus discípulos entre os pescadores e artesãos da região. Essa visão primitiva do cristianismo, no entanto, deve ser analisada no quadro das escrituras sagradas do Antigo Testamento que compartilha com a cultura (e obviamente a religião) hebraica. Nesse sentido, o trabalho não deixa de ser um meio, descartando-se como um fim em si mesmo. Mas, agora atribuindo-lhe um novo valor, sempre em tento um meio para um fim virtuoso: o trabalho será fundamental para permitir a satisfação das necessidades de cada um, mas também seus frutos, deverão ser inseridos em uma dimensão comunitária, onde o “próximo” necessitado esperará a contribuição fraterna e solidária do cristão. O trabalho, nessa perspectiva, não só possibilita o “tomar”, mas também o “dar”. Em relação a dupla perspectiva, é onde podemos entender a crítica do cristianismo a acumulação da riqueza. Como aponta o evangelista Mateus, “acumular o tesouro no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não perfuram nem roubam. Onde está o seu tesouro está seu coração”. (14) Com São Paulo se incorpora um novo componente valioso: a obrigatoriedade moral do trabalho. Em sua carta aos Tessalonicenses dita claramente “ao que não trabalha que não coma”. Diz São Paulo: Vocês sabem em que forma têm que nos imitar: nós trabalhamos enquanto estivemos entre vocês, não pedimos a ninguém um pão que não teríamos ganhado, senão que, de noite e dia, trabalhamos duramente até nos cansarmos, para não ser carga para nenhum de vocês [...] Além disso, quando estávamos com vocês lhes demos está regra: se alguém não quiser trabalhar, não coma. Mas agora ouvimos que há entre vocês alguns que vivem sem nenhuma disciplina e não fazem nada, muito ocupados em meter-se em tudo. A estes lhes mandamos e lhes rogamos, por Cristo Jesus, nosso Senhor, que trabalhem tranquilos para ganhar a vida (II Tes. 3:10). Essa frase, entendida somente no contexto de uma sociedade donde não existia um conceito de desemprego tal como entendemos atualmente, é curiosamente reproduzida pelo modelo soviético em pleno século XX. Com efeito, a Constituição da União Soviética estabeleceu em seu Artigo 12: “O trabalho é, na Rússia, uma questão de dever e de honra para todo cidadão fisicamente capaz. Essa obrigação é baseada no princípio: “quem não trabalha não come”. (15)(16) Para São Paulo, o trabalho deve ser o meio para ganhar a vida. Ele quis ser exemplo e enquanto pregava continuava trabalhando, presumivelmente como tecelão de tendas. A obrigatoriedade moral se aplica na medida em que a pessoa está em condições de o fazer. Para os incapacitados a fazê-lo (idosos, crianças, deficientes, doentes, acidentados etc.) existia a obrigatoriedade do socorro segundo a máxima do amor (ágape) ao próximo. Essas sentenças morais têm hoje em dia uma importante quota de explicação para com as contemporâneas políticas sociais. -/- 6. O TRABALHO NA IDADE MÉDIA -/- A Idade Média, período que ocupa desde o crepúsculo do Império Romano do Ocidente no século V pelos bárbaros, até o século XV, com a queda de Constantinopla, evidentemente mostra um conjunto importante de escolas e pensadores que marcaram pautas importantes para discernir o valor do trabalho nas diferentes culturas. A organização econômica mais visível nestes mil anos, onde operou o trabalho, consistia em extensões grandes de latifúndios errados do Império Romano (o sistema econômico denominado feudalismo), onde (mediante a falta de escravos) recorreu-se à mão de obra camponesa para o trabalho. O sistema, implicava o arrendamento de parte dessas terras a ex-escravos ou homens livres, em troca de uma renda em dinheiro e espécies, além do cultivo das próprias terras senhoriais. Por certo, a figura do servo não distava muito da do escravo se tivermos em conta as condições de funcionamento do contrato de trabalho. O comércio também teve seu lugar no sistema feudal, o mesmo adquiriu grande importância em certas regiões ou lugares, à exemplo de Constantinopla. A atividade econômica seguia seu rumo na história, e depois dos séculos IX e X, o crescimento das forças produtivas deu lugar a uma maior acumulação por parte de componentes e artesãos e, por certo, a uma maior apropriação de excedentes por parte do Senhor feudal. Essa situação foi ativante para a construção dos primeiros Burgos ou cidades, onde o comércio e a indústria artesanal teriam um marco mais adequado para o seu desenvolvimento. Essa é a etapa do nascimento dos primeiros grêmios corporativos (17). Então para o século XII, a estrutura feudal começa a desmoronar porque a produção de determinados bens começa a ser mais eficiente em cidades e não no feudo. O dinheiro, então, passou a ganhar maior peso que a terra, o que obriga os senhores feudais a aumentar seus rendimentos. Isso leva a um empobrecimento lógico dos camponeses, o que não dura muito, porque na primeira metade do século XIV, a maior parte dos servos alcança sua liberdade. Por sua vez, nessa apertada síntese da história econômica da Idade Média, devemos assinalar que pelo século XIV, e depois das Cruzadas e o posterior desenvolvimento do comércio internacional entre os impérios arábico e bizantino, inaugura-se uma etapa pré-capitalista que durará três séculos. É lá que se levanta mais energética a voz de alguns homens da Igreja contra a tendência à exaltação da riqueza já começava a avivar-se na Europa. São Tomás de Aquino, nesse sentido, não considerará ao comércio pré-capitalista bom ou natural. No entanto, ele o julgava inevitável uma vez que era o meio ao qual o comerciante tinha que manter a sua família. Dessa forma, os lucros do comércio não era outra coisa senão o fruto do trabalho. Se tratava, então, de colocar o acento na justiça da mudança efetuada, para o qual Aquino recorre a Aristóteles, cuja análise sobre o valor de mudança é figurado no seu estudo da Justiça. Muitos padres da Igreja, desde então, pretenderam formular um conceito de “preço justo”. Nesse sentido, o Cristianismo apresenta uma evolução do seu pensamento sobre o comércio que partia de uma visão absolutamente contrária ao começo da Idade Média (Santo Agostinho (354-430), São Jerônimo (347-420) etc.), a outra mais transacionável, que acompanhou, sobretudo, o pensamento de Aquino. Algo similar ocorreu com outro dos “preceitos” da Igreja em matéria econômica: a usura. Esta era considerada pela igreja como a melhor forma de obter lucro. O mesmo evangelista Lucas (século I d.C.) foi categórico ao rejeitar essa linha de operações. A lei hebraica também fez isso, e podemos encontrar no livro do Êxodo (22,25) tal proibição a respeito. Mais atrás no tempo, há antecedentes de condenação à usura entre os hindus (Rigveda, cerca de 1500 a.C.) e budistas (século VI d.C.), além do Islã mais próximo do nosso tempo (século VI d.C.). Ao princípio da Idade Média, como testemunha Roll, a proibição somente alcançava a Igreja, já que o escasso desenvolvimento mercantil não merecia outra coisa. No final da Idade Média, no entanto, que a situação é outra; e a prática secular foi orientada no sentido de promover o empréstimo de dinheiro cobrando por isso um juro. Alarmada ante esses fatos, a Igreja condena mais uma vez a usura no Terceiro Concílio de Latrão de 1179. No mesmo escreveu e ensinou São Tomé (século I d.C.) e outros discípulos da Igreja. No entanto, as práticas econômicas foram minando a autoridade eclesial e está terminou, através de sucessivas etapas, por aceitar, em certas condições e sob certas circunstâncias, a cobrança de juros sobre a concessão de um empréstimo. Em tal sentido, um dos autores mais representativos só início da Idade Média foi Santo Agostinho. Foi este um dos pilares, em seu tempo, das noções “anticapitalistas” que foram seguidas e complementadas por homens do tamanho de São João (347-407), São Ambrósio (340-397), São Clemente (150-215), São Cipriano (200-258) entre outros. (18) Santo Agostinho valoriza o trabalho recordando em tal sentido a São Paulo, a que cita com muita frequência em seus textos. Segundo o Bispo de Hipona, todo trabalho manual é bom pelas razões dadas pelo cristianismo primitivo. Concilia, além disso, seu dualismo platônico, ao sustentar que enquanto o homem trabalha tem a alma livre, de modo que é perfeitamente compatível pensar em Deus ao mesmo tempo em que se trabalha. Essa particular sintonia entre o trabalho e a oração foi perfeitamente posta a prova pelos monges beneditinos, cujo lema “Ora Et Labora” (orar e trabalhar) é paradigmático. “Trabalha e não desesperes” dizia seu fundador, São Bento de Núrsia (480-547), de seus monastérios distribuídos em um primeiro momento a Subiaco, no início do século VI. Também corresponde a São Bento uma sentença que perdura até o dia de hoje no imaginário moral sobre o trabalho: “Otiositas inimica est animae” (a ociosidade é inimiga da alma), tal qual diz uma expressão popular castelhana: “el ocio es la madre de todos los vicios” (o ócio é a mãe de todos os vícios). Tomás de Aquino, alguns séculos depois, continua a reflexão sobre o trabalho e estabelece uma hierarquia de profissões, onde localiza o trabalho agrícola e artesanal acima do comercial. Uma quota de originalidade na história do pensamento sobre o trabalho consistiu em considerá-lo como uma obrigação somente se necessário para subsistir; ou dito de outra maneira: quem não tem necessidade de trabalhar não tem que fazê-lo. Isso sim, à falta de trabalho, devia dedicar-se à oração e contemplação divina, atividades por certo mais elevadas para o autor da Suma Teológica. Logo, considerará que Deus é a causa primária, a que tudo deve a sua existência; por derivação, o homem é causa segunda, procurando atreves do trabalho “criar” em suas dimensões humanas. “Entre todas as formas com que a criatura humana tenta realizar a semelhança divina, não há outra de relevo mais destacado que a de trabalhar, isto é, ser em o mundo causa novos efeitos”, disse o Santo. (19) Aquino, além disso, utilizando categorias platônicas, hierarquiza o trabalho, considerando o intelectual acima do manual. Chama “artes servis” a estes últimos, enquanto que o trabalho intelectual corresponde ao conjunto das “artes liberais”, dignas de maior remuneração ao fazer uso da inteligência. Esta distinção própria da Escolástica, dá lugar à divisão clássica entre as 7 artes liberais: o Trívium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (astronomia, geometria, aritmética e música). Outras contribuições de São Aquino têm a ver com sua posição diante do trabalho agrícola ao qual o considera como o melhor meio para assegurar a subsistência de um povo; a maior importância dada à vida contemplativa sobre a ativa, embora considerando a primeira como “laboriosa”; sua posição sobre a escravidão, que não considerava como natural, no entanto, entendê-la “útil”(20); e sua interpretação sobre o contrato de trabalho: neste, o operário não vende a si mesmo, nem seu corpo, nem sua inteligência, nem sequer sua faculdade de trabalho. Isso significa que o Direito Natural proíbe considerar o trabalho como um objeto de mudança. Propõe, em vez disso, considerar o contrato como um arrendamento de serviço. Em termos gerais, a valorização que sobre o trabalho se realiza na Idade Média, rebaixando ao trabalho manual em relação a outras tarefas, fica explícita na divisão tripartida que recorre, entre outros, Adalberão Bispo de Laon (947-1030): “Triplex Dei ergo domus est quae Creditor uma nunca oran, alii pugnat, Aliique laborant” (ternária é a casa do Senhor e não uma: aqui sobre a terra uns oram, outros lutam e outros trabalham). Não gostaria de deixar passar por alto, finalmente, entre os movimentos originados na Idade Média, a contribuição que sobre o tema do trabalho teve a ordem franciscana. Essa, contra o que muitos podem crer, é uma ordem não mendicante no sentido estrito, mas sim trabalhadora e de pobreza. São Francisco de Assis (1181/82-1226), no final do século XII, marcaria como ninguém dentro do cristianismo, uma vida ascética baseada no trabalho e na pobreza. Inclui, além disso, um elemento pela primeira vez descoberto na cultura europeia: o sentido da alegria que acompanha o trabalho. “Essa condição de 'suor de sua testa' com 'a alegria de seu coração' outorga ao trabalho uma condição diferenciada”. Avançando então na história da humanidade, entramos na época moderna, caracterizada por cinco grandes eventos: -/- 1. A decadência do poder moral da Igreja e o enfraquecimento de seu poder econômico frente ao da crescente burguesia; -/- 2. O renascimento intelectual e artístico; -/- 3. As viagens paras as índias e a descoberta da América; -/- 4. A formação e a constituição dos Estados-nação; -/- 5. As reformas religiosas de Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564). -/- Nesse contexto, os séculos XV e XVI mostraram como o mercantilismo ia avançando apesar dos esforços de alguns pensadores da Igreja que eventualmente perderam o pulso diante do desenrolar dos acontecimentos. Sucessivas encíclicas papais terminaram por legitimar o interesse nos empréstimos e, por meio desta, levou-se a maior acumulação de riquezas por parte dos banqueiros. Esse foi o meio ideal para o desenvolvimento da atividade do mercador, para quem, o trabalho passou a ser considerado um meio para obter sucesso. Ao dinamizar-se a atividade econômica e mercantil, a visão humanista do trabalho começa a perder valor, realçando-se ao mesmo como um simples meio para fins de enriquecimento. Talvez a exceção a essa noção estendida entre os novos atores tenha sido a proporcionada pelo humanismo renascentista. Para Campanella (1568-1639), por exemplo, sua “Cidade solar”, não existe o divórcio entre trabalho manual e intelectual, isso quando o segundo começa a ser supervalorizado por sua ação no plano das invenções e das novas técnicas.(22) Na mesma linha se situa Thomas More (1478-1535), o autor de “Utopia”, outra reação do cristianismo às projeções que estava adquirindo o cada vez mais influente mercantilismo. Embora o trabalho não seja considerado como um mau, pelo contrário, apresenta características humanizadoras, é sugestivo comprovar como em Utopia a jornada do trabalho não supera as seis horas diárias e na Cidade solar não se devia trabalhar mais que quatro horas. Indubitavelmente, essas versões de sociedades ideais terminariam por impactar sobre maneira a constituição das Missões Jesuítas na América do Sul; e as Franciscanas na Baixa Califórnia. É o Renascimento, o lugar propício, além disso, para renovar o conceito da virtuosidade, agora traduzida na figura do empresário ou financista audacioso e empreendedor. Essa linha foi reforçada logo por Calvino, para quem os negócios são um bom serviço a Deus, e a riqueza não é mais que um fruto de uma vida dedicada ao trabalho desde uma perspectiva ética que analisarei com Weber mais tarde, mas que confere ao trabalho a particularidade de ser um caminho para o sucesso. Esse puritanismo impulsionou sobremaneira a versão do “homo economicus” que mais tarde, em pleno auge do capitalismo pós-industrial, ao qual, segundo Daniel Bell (1919-2011), fora substituído pelos valores hedonistas. -/- REFERENCIAL TEÓRICO AGOSTINHO. Cidade de Deus: contra os pagãos. Trad. O. P. Leme. 2ª ed. Bragança Paulista: Editora Universitária, 2008. (Col. Pensamento humano). _____________. O livre-arbítrio. Trad. N. A. Oliveira. 1ª ed. São Paulo: Paulus, 1995. AQUINO, T. de. Suma Teológica. 2ª ed. 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PRINCÍPIOS DA DIGESTÃO DOS ALIMENTOS NOS BEZERROS -/- -/- E. I. C. da Silva -/- Departamento de Agropecuária – IFPE Campus Belo Jardim -/- Departamento de Zootecnia – UFRPE sede -/- -/- PRINCÍPIOS DA DIGESTÃO DOS ALIMENTOS NOS BEZERROS -/- -/- INTRODUÇÃO -/- Se todos os bezerros pudessem ser criados por suas mães, haveria pouca necessidade de inúmeros livros, artigos e trabalhos, como esse, sobre a criação e o manejo básico desses animais. A maioria das vacas desempenha um ótimo papel (...) na criação dos seus descendentes, desde que sejam tomados os devidos cuidados com relação a alimentação, saúde e a outros aspectos relativos à criação desses neonatos. A essência da pecuária bovina relativa à criação de bezerros é manter esses animais vivos e aptos o suficiente para desempenhar atividades produtivas de grande importância na propriedade. Para tanto, os criadores necessitam entender o desenvolvimento do trato digestivo do bezerro e os conceitos básicos da digestão dos alimentos por ele, e é isso que pretendo aclarar de forma clara e concisa com esse trabalho. -/- -/- 1.1 O TRATO DIGESTIVO DO BEZERRO -/- Um animal adulto necessita de quatro estômagos funcionais para dar-lhe a capacidade de utilizar a ampla gama de alimentos disponíveis. -/- O retículo e o rúmen abrigam milhões de micróbios que fermentam e digerem o material vegetal, em especial às presentes nas forragens. O omaso permite a absorção de água do conteúdo do intestino. O abomaso, ou quarto estômago, é o verdadeiro estômago, comparável ao dos humanos, e permite a digestão ácida dos alimentos. -/- O bezerro muito jovem não desenvolve a capacidade de digerir o pasto, sendo assim o abomaso é o único estômago funcional ao nascer. Tanto os animais recém-nascidos como os adultos têm um intestino delgado funcional que permite a digestão alcalina dos alimentos. -/- A figura 1 ilustra a anatomia dos estômagos e intestino delgado de um bezerro recém-nascido. Esse diagrama esquemático mostra as dimensões relativas dos quatro estômagos, o sulco esofágico, que vai do esôfago até o abomaso, e o esfíncter pilórico ou válvula no fundo do abomaso, que controla a velocidade de movimento do conteúdo do intestino no duodeno. -/- O omaso e o abomaso representam cerca de 70% da capacidade total do estômago no bezerro recém-nascido. Por outro lado, nas vacas adultas, eles compõem apenas 30% da capacidade total do estômago (figura 2). -/- A digestão dos alimentos é auxiliada pela secreção de certos produtos químicos denominados enzimas, que estão presentes nas várias partes do intestino. Por exemplo, os bezerros produzem a enzima renina na parede do abomasal para auxiliar na digestão das proteínas do leite, enquanto a lactase é produzida na parede do duodeno para a digestão do açúcar do leite (lactose). Estas enzimas operam mais eficazmente em diferentes níveis de acidez no conteúdo do intestino, ácido no abomaso e alcalino no duodeno. Para conseguir isso, o bezerro segrega eletrólitos, ou sais minerais, com as enzimas, para mudar o conteúdo do intestino de um tipo para outro. -/- Os produtos finais da digestão dos diferentes componentes dos alimentos são absorvidos através da parede do intestino, mediante as vilosidades intestinais, para a corrente sanguínea, onde são levados para as diferentes partes do corpo para o crescimento e desenvolvimento do animal. -/- -/- 1.2 O BEZERRO ALIMENTADO COM LEITE -/- O Leite ou substituto do leite, quer seja apreendido através de uma teta ou bebido de um balde, é canalizado do esôfago através do sulco esofágico para o abomaso. Este sulco é um pequeno canal na parede do rúmen que é controlado por músculos que permitem que os líquidos sejam diretamente enviados para o abomaso e que não entrem no rúmen. O sulco é ativado em resposta a diferentes estímulos. Funciona bem quando os bezerros amamentam-se através das tetas das mães, mas às vezes não funciona quando bebem de um balde. Essa parece ser uma condição psicológica em resposta aos bezerros separados de suas mães. A maioria dos bezerros podem ser treinados pelo tratador para beber o leite do balde rapidamente e bem, a metodologia empregada é a da persuasão do animal, ao qual o mesmo possa responder positivamente à nova rotina diária e à mãe substituta na forma do criador do bezerro. Quando o leite ou o substituto do leite entra no abomaso, forma um coágulo firme dentro de alguns minutos sob a influência das enzimas renina e pepsina. Este é o mesmo processo envolvido na fabricação de queijo ou junket, usando renina para coagular a proteína do leite. A coagulação do leite retarda a taxa em que flui para fora do abomaso, permitindo assim uma liberação constante de nutrientes alimentares em todo o intestino e, eventualmente, para a corrente sanguínea. Pode levar de 12 a 18 horas para que a coalhada de leite seja totalmente digerida. -/- As enzimas que atuam nas proteínas do leite requerem um ambiente ácido e esse é fornecido pela secreção do ácido clorídrico no abomaso. No entanto, até que a digestão ácida esteja operando de forma eficiente, e isso pode levar até sete dias, a única forma de proteína que pode ser digerida é a caseína. Não há substituto para a caseína no bezerro muito jovem. Os substitutos do leite que contêm outras formas de proteína não podem ser devidamente digeridos até que os bezerros sejam mais velhos. Logo, é necessário muito cuidado para não fornecer substitutos ou sucedâneos que contenham fontes proteicas que não possam ser digeridas pelo estômago do animal, para que não ocasione complicações gastrintestinais. -/- A digestão do leite pode ser melhorada com a inclusão de coalho, que pode ser obtido a partir de fábricas de queijo ou aditivos comerciais de leite de bezerro para a primeira semana ou mais. Esses produtos comerciais podem fornecer ácidos adicionais para reduzir o pH abomasal e incrementar a quantidade de enzimas e bactérias específicas para aumentar a taxa de degradação da coalhada de leite. Tais aditivos são chamados probióticos, na medida em que ajudam nos processos digestivos normais. A pesquisa nem sempre os encontrou para melhorar o desempenho e a saúde dos bezerros, e eles são mais propensos a ser benéficos quando os bezerros estão sofrendo de problemas de saúde. Além disso, a sua eficácia, em termos de custo-benefício é, por vezes, questionada. -/- Qualquer leite de uma alimentação anterior está envolvido neste coágulo recém-formado. As proteínas líquidas de soro de leite e a lactose são rapidamente separadas da coalhada de leite e passam para o abomaso. A gordura do leite contida na coalhada de leite é decomposta por outra enzima, a lipase. Esta é secretado na boca pela saliva e incorporada quando o leite é engolido. A alimentação pelas tetas em vez da alimentação através do balde parece produzir mais saliva e, portanto, mais lipase. A digestão adicional da proteína do leite e da gordura ocorre no duodeno com a ajuda das enzimas produzidas no pâncreas. -/- A lactose, que é rapidamente liberada da coalhada de leite no abomaso, é dividida em glicose e galactose e estas são absorvidas na corrente sanguínea para formar a principal fonte de energia para os bezerros jovens. -/- As gorduras são divididas em ácidos graxos e glicerol para absorção e uso como energia, enquanto as proteínas são divididas em aminoácidos e peptídeos para absorção e uso como fontes de proteína corporal. -/- O amido de cereais, por exemplo, é uma importante fonte de energia em bezerros mais velhos, mas esses animais, nas suas primeiras semanas de vida, não conseguem digerir o amido. -/- O abomaso não é ácido até que o bezerro tenha 1-2 dias de idade e isso apresenta vantagens e desvantagens. A principal vantagem é que as proteínas imunes no colostro não podem ser digeridas nesse compartimento estomacal, por isso são absorvidas na corrente sanguínea na mesma forma quando produzidas pela vaca. Isso garante o seu papel como anticorpos para proteger contra as doenças e infecções. A baixa acidez do conteúdo abomasal no bezerro recém-nascido constitui um risco potencial das bactérias (e provavelmente vírus) tomadas através da boca. Estes não serão mortos pela digestão ácida, sendo assim podem passar para os intestinos, onde podem fazer mal ao bezerro recém-nascido. -/- Todos os bezerros pegam bactérias nos primeiros dias de vida e isso é essencial para o desenvolvimento normal do rúmen (flora microbiana). No entanto, a primeira bactéria a colonizar o intestino também pode causar danos. Desde que o bezerro tenha bebido colostro, os anticorpos maternos podem controlar a propagação dessas bactérias mais nocivas. -/- O bezerro alimentado com leite deve, então, produzir uma digestão ácida no abomaso e uma digestão alcalina no duodeno. Isto é conseguido pela produção de eletrólitos na parede do intestino. -/- Bezerros que sofrem de escoriações devido a distúrbios nutricionais ou infecções bacterianas podem perder grandes quantidades de água e eletrólitos em suas fezes. Estes devem ser reabastecidos como parte do tratamento para as escoriações. -/- O colostro é o primeiro leite produzido por vacas recém-paridas. Além de fornecer nutrientes essenciais para a alimentação animal, fornece anticorpos maternos que permitem a transferência passiva de imunidade contra doenças. As recomendações para a alimentação com colostro serão abordadas brevemente em outro trabalho. -/- -/- 1.3 DESENVOLVIMENTO DO RÚMEN E O PROCESSO DE DESMAME -/- Quando os bezerros são desmamados, o custo da criação diminui acentuadamente. Os custos de alimentação são mais baixos, os insumos de trabalho são reduzidos e a incidência de problemas de saúde é menor. No sentido econômico, faz sentido desmamar os bezerros assim que for razoável. No entanto, o bezerro é forçado a sofrer várias mudanças dramáticas, a saber: -/- A fonte primária de nutrientes muda de líquido para sólido. -/- A quantidade de matéria seca que o bezerro recebe é reduzida. -/- O bezerro deve adaptar-se de um tipo monogástrico a um ruminante de digestão, que inclui a fermentação de alimentos. -/- Mudanças na habitação e no manejo muitas vezes ocorrem em torno do desmame, o que pode aumentar o estresse. -/- Ao nascer, o rúmen é uma parte pequena e estéril do intestino que, ao desmame deve se tornar o compartimento mais importante dos quatro estômagos. Deve aumentar em tamanho, atividade metabólica interna e fluxo sanguíneo externo. Os cinco requisitos para o desenvolvimento ruminal são: -/- Estabelecimento de bactérias. -/- Líquido. -/- Saída de material (ação muscular). -/- Capacidade absortiva do tecido. -/- Substrato para permitir o crescimento bacteriano, tais como minerais reciclados, bem como nutrientes para alimentação. -/- Antes do consumo de alimentos sólidos, as bactérias existentes fermentam o cabelo ingerido, o estrato e o leite que flui do abomaso para o rúmen. A maior parte da água que entra no rúmen provém da água livre (água real não contida no leite ou na solução substituta do leite). O leite contornará o rúmen através do sulco esofágico, enquanto a água livre não. -/- O rúmen se desenvolve a partir de um órgão muito pequeno em bezerros recém-nascidos (1-2 L) para a parte mais importante do intestino (25-30 L) por 3 meses de idade. Ele pode aumentar muito rapidamente durante as primeiras semanas de vida, dado o manejo da alimentação direita. -/- O crescimento do rúmen ocorre apenas sob a influência dos produtos finais da digestão no mesmo, que resultam da fermentação de alimentos sólidos pelos micróbios presentes nesse compartimento. O desenvolvimento ocorre em grande parte através do crescimento das papilas ruminais (figura 5 e 6) na parede ruminal (estruturas semelhantes a folhas na superfície interna), que aumentam a área superficial do rúmen e, portanto, a sua capacidade de absorver estes produtos finais de digestão. Portanto, os concentrados favorecem melhor o desenvolvimento dessas papilas ruminais. Para tanto, é necessário, com um tempo, ir incrementando a dieta sólida gradativamente para que esses animais deixem de consumir o leite das vacas produtoras e possam alimentar-se de ração e pastagens, que é a finalidade da criação de bovinos, ou seja, criar animais com menor custo possível e engordá-los através de ração, mas principalmente de pastagens. -/- A capacidade do rúmen e a ingestão de alimentos sólidos estão intimamente relacionadas. O desenvolvimento do rúmen é muito lento em bezerros alimentados com grandes quantidades de leite. O leite satisfaz seus apetites para que eles não tenham fome suficiente para comer qualquer alimento sólido. Logo, é necessário diminuir paulatinamente o fornecedor do leite para esses animais, favorecendo a ingestão de alimentos sólidos e desenvolvendo o rúmen, estômago que digere as fibras das forragens e que os tona animais peculiares. -/- A ruminação pode ocorrer com cerca de 2 semanas de idade e é uma boa indicação de que o rúmen está se desenvolvendo. Alimentos sólidos, bem como a ruminação, estimulam a produção de saliva e isso fornece nutrientes como ureia e bicarbonato de sódio para produzir os substratos para o crescimento e desenvolvimento da flora bacteriana. -/- No desmame precoce, é importante limitar a quantidade de leite oferecida e a sua disponibilidade durante todo o dia. Também é essencial fornecer alimentos sólidos. Os grosseiros (de baixa ou alta qualidade) devem ser oferecidos em combinação com concentrados de alta qualidade. -/- O criador deve tomar cuidado com o fornecimento de alimentos como a ração farelada, uma vez que essa ração pode entrar pelas vias nasais e ocasionar complicações respiratórias; há alguns relatos de bezerros mortos após a ingestão de ração farelada, na autópsia de um dos casos foi diagnosticada uma morte por esses grãos farelados presentes no pulmão. Portanto, para evitar complicações o ideal é que se forneça uma ração denominada peletizada. -/- Os alimentos grosseiros (volumosos) estimulam o desenvolvimento do rúmen, enquanto os concentrados fornecem nutrientes para a alimentação animal que não são fornecidos pelas quantidades limitadas de leite oferecidas. Sem os concentrados, o crescimento dos bezerros é lento, mas o rúmen ainda se desenvolve, resultando em animais barrigudos. -/- A ureia fornece nitrogênio para os micróbios, enquanto o bicarbonato de sódio atua como um tampão ruminal, ajudando a manter um pH estável no conteúdo do rúmen. Isso é, particularmente, importante quando os bezerros comem grandes quantidades de grãos de cereais na vida adulta, pois os micróbios do rúmen podem produzir muito ácido lático durante a fermentação desse material. -/- Envenenamento por grãos ou acidose ocorre quando os níveis de ácido lático são excessivamente elevados e tornam-se tóxicos para os micróbios do rúmen e, eventualmente, para o animal. Assim como os produtos finais que são absorvidos através da parede do rúmen, a fermentação microbiana produz os gases dióxido de carbono e metano e estes são normalmente exalados. Quando algo impede a fuga destes gases do rúmen, o inchaço pode se manifestar em qualquer fase da vida, diz-se do animal estufado. -/- -/- 1.4 O PAPEL DA FORRAGEM NO PROCESSO DE DESMAME -/- Existem inúmeras controvérsias acerca do papel da forragem no processo de desmame. Pesquisas realizadas na década de 1980 indicaram claramente que a forragem era benéfica, enquanto pesquisas da década de 1990 descobriram que nem sempre era necessário o fornecimento da forragem para que os bezerros fossem desmamados e que não sofresse estresse e nem apresentasse baixa eficiência produtiva e reprodutiva no futuro. Na maioria das pesquisas anteriores, os bezerros eram desmamados com a oferta de concentrados moídos como pellets com ou sem a presença de feno longo ou palha. Porém, a inclusão de forragens na dieta melhorou a ingestão e o desempenho, além de permitir o desmame precoce. -/- Na pesquisa posterior, os bezerros geralmente alimentavam-se de concentrados grosseiramente moídos, além de alguns volumosos, enquanto alguns até incluíam volumosos picados finos na mistura (às vezes chamados de mistura muesli por apresentar o capim e a ração). Nesses estudos, verificou-se que a inclusão de feno ou palha adicional teve pouco efeito no desempenho pré-desmame. -/- Os sistemas de criação de bezerros australianos frequentemente diferem dos demais, especialmente em áreas de parto sazonais. Um número excessivo elevado de bezerros precisam ser criados de uma só vez para lhes fornecer, a todos, currais individuais durante todo o seu período de amamentação. Consequentemente, os bezerros são criados em grupos. Além disso, os ingredientes da maioria dos concentrados para esses animais são finamente moídos. Nessas situações, descobriu-se que a palha limpa é um alimento útil e que deve ser incluso no período pré-desmame. Alguns agricultores preferem feno de boa qualidade, porém estes agricultores geralmente têm bezerros em grupos muito pequenos, muitas vezes um ou dois, por isso possuem maior controle sobre a ingestão de forragem. -/- Figura 7: A alimentação volumosa de bezerros alimentados com leite é uma questão controversa. Imagem cedida pelo IPA -/- É difícil e, portanto, mais caro que os produtores de rações incorporem feno picado nas refeições dos bezerros. Os pellets são muito mais fáceis, pois eles vão fluir para silos. Por fim, os produtores de leite devem incluir o componente volumoso no regime alimentar pré-desmame. A pastagem não é a fonte ideal de forragem volumosa para os bezerros alimentados com leite, uma vez que possui muito pouca fibra e uma baixa densidade de energia alimentar. O seu elevado teor de água limita a sua capacidade de fornecer energia alimentar adequada aos animais em crescimento. Para ingerir a pastagem a capacidade ruminal deveria ser maior, bezerros jovens simplesmente não conseguem comer pasto suficiente, a menos que seja de alta em qualidade. -/- Os bezerros criados com leite e fornecimento gradual de concentrados apresentam uma boa função ruminal às 3 semanas de vida, além de possuírem uma suficiente capacidade ruminal para o desmame entre às 4-6 semanas de idade. No entanto, se a dieta for baseada em leite restrito e pastagem de alta qualidade, a capacidade do rúmen pode não ser suficiente para o desmame até às 8-10 semanas de vida. Mesmo assim, as taxas de crescimento seriam menores em bezerros desmamados com base alimentar somente à pasto, uma vez que a ingestão de energia é insuficiente devido às limitações físicas da capacidade ruminal. -/- Se a qualidade for muito boa e produza apetite, os bezerros preferem volumosos ao invés do concentrado, o que leva a uma ingestão reduzida de nutrientes durante alimentação, tendo como efeito um crescimento mais lento. Quando volumosos e concentrados fornecem apetite no animal, juntamente com o leite limitado, os bezerros podem comer cerca de 10% de palha e 90% de concentrados. Sem o volumoso e a ruminação resultante, o desenvolvimento do rúmen será mais lento devido à falta de saliva e produtos finais da digestão de fibras presentes na parede celular das forragens. -/- -/- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -/- -/- BEN ASHER, Aharon. Manual de cría de becerras. 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Monografia apresentada à banca examinadora da Escola Municipal Manuel Teodoro de Arruda, anexa do Colégio Frei Cassiano de Comacchio em Belo Jardim, para a obtenção do título de concluinte do curso de Normal Médio, oferecido pela instituição. A natureza do trabalho, em suma, consiste em apresentar perspectivas de trans formação social para a comunidade de jovens e adultos, o principal programa cunho do trabalho é a Educação de Jovens e Adultos a EJA, e como esse programa intervém na sociabilidade e (...) na mudança do meio social do educando, além de tratar a educação como a principal fonte e meio de mudança de vida dessas pessoas que voltam às escolas. Orientador(a): professora Maria Angelita Pinheiro BELO JARDIM 2017 DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho primeiramente a todos que acreditaram em sua realização, em especial à professora de práticas pedagógicas e também orientadora, Maria Angelita Pinheiro, pelo incentivo e esforço à nossa preparação ao dia de hoje. Bem como, dedicamos este à Alana Thais da Silva, que em todo o desenvolvimento deste, esteve ao nosso lado. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, que pôde nos proporcionar saúde e sabedoria para a conclusão deste. Agradecemos também à todos que acreditaram na realização deste trabalho, como fruto da realização de um sonho, que é tornarmos normalistas. A nossos colegas de classe que puderam nos proporcionar alegria para continuarmos. Agradecemos em especial mesmo, à Alana Thais da Silva e a Dawson de Barros Monteiro, ambos por oferecer amor e carinho quando o cansaço chegava, e também pela colaboração nas pesquisas que adentravam noites e dias. Enfim, agradecemos a todos que puderam plantar uma semente nesse nosso terreno, para que no futuro pudéssemos colher bons frutos nessa etapa decisiva em nossas vidas. À todos nosso muito obrigado. EPÍGRAFE “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Paulo Freire RESUMO Este trabalho teve por objetivo abordar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como transformação social na vida daquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar ou, por motivo maior, tiveram que abandonar os estudos na idade própria. Muitos vão à procura dos estudos por motivo de conquistar um emprego melhor, outros por motivos de se sociabilizar melhor, e por vários outros motivos. Também é possível afirmar que o retorno para a escola na terceira idade é possível, e que para os jovens, os estudos abrirão as portas para o mundo do trabalho, mostrando que o indivíduo alfabetizado tem valor na sociedade, e que a escola, como um ambiente de aprendizagem, tem o poder de transformar o indivíduo e torná-lo um cidadão crítico, democrático e participativo. Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos. Aprendizagem. Transformação Social. ABSTRACT The purpose of this study was to approach the education of young people and adults (EJA) as a social transformation in the lives of people who did not have the opportunity to study or, for greater reason, had to drop out of school at their own age. Many go in search of their studies for the sake of gaining a better job, others for the sake of socializing better, and for many other reasons. It is also possible to state that the return to school in the third age is possible, and that for the youngest, studies will open the door to the world of work, showing that the literate individual has value in society and that the school as a learning environment, has the power to transform the individual and make him / her a critical, democratic and participatory citizen. Keywords: Education for Youth and Adults. Learning. Social transformation LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Gráfico sobre o percentual do Analfabetismo..............................................................27 FIGURA 2 – Gráfico sobre o Analfabetismo por região do Brasil....................................................28 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................... ..................................... 10 CAPÍTULO 1 – CONTRIBUIÇÕES DA TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL E PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO........................................................................ 13 1.1 Históricos da Educação de Jovens e Adultos em seu Contexto Inicial............................ 13 1.1.1 Do Brasil Colônia ao Varguismo: Jesuítas, Pombal, Corte Imperial e Governo Vargas.............................................................................................. ................................. 13 1.2 A Educação de Jovens e Adultos Pós-Varguismo............................................................ 15 1.3 Acerca do Movimento Brasileiro de Alfabetização(Mobral)............................................ 15 1.3.1 Metodologia de Ensino no Mobral: Uma Abordagem Superficial.......................... 16 1.4 A Evolução da Educação de Jovens e Adultos: do Regime Militar ao seu Contexto Atual............................................................................................... .................................................. 17 CAPÍTULO 2 – REFLEXÕES ACERCA DA ALFABETIZAÇÃO............................................... 20 2.1 Análises Histórico-Antropológica Acerca da Escrita e a Alfabetização........................... 20 2.2 Alfabetização e Pragmatismo: Conceitos Acerca da Leitura e Escrita no Âmbito Educacional......................................................................................... ............................................. 21 2.3 O Analfabetismo como Antagonia ao Alfabetismo........................................................... 25 CAPÍTULO 3 – REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS............................................................................................. .......................................... 29 3.1 Pensamentos de Paulo Freire Sobre a Educação Popular................................................. 29 3.2 Acerca do Método Freiriano........................................................................................... .. 31 3.2.1 Etapas do Método.............................................................................................. ...... 31 3.2.2 O Método.............................................................................................. ................... 31 3.2.3 As Fases de Aplicação do Método........................................................................... 32 3.2.4 História............................................................................................ ........................ 33 3.3 O Perfil do Professor Alfabetizador.................................................................................. 33 3.4 Perfil do Estudante da Educação de Jovens e Adultos e os Motivos de Evasão............... 35 3.5 Pensando em Métodos............................................................................................. ......... 37 CONCLUSÃO........................................................................................... ...................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... ...... 43 10 INTODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo abordar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como modelo, espelho ou meio de uma transformação social, na vida daquelas pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, ou por motivos maiores, tiveram que abandonar os estudos na idade ideal, essa visão é explicada pelos motivos da evasão escolar. Foram pesquisados os motivos que levaram essas pessoas a desistirem de estudar e porque retornaram as salas de aula muito tempo depois, destacando principalmente como cunho primordial, os alunos das turmas da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que, em suma, pode-se concluir que o principal motivo de evasão na idade adequada era as baixas condições que eram submetidos, e por isso, abandonavam a escola para trabalhar, por isso que a maioria dos estudantes da EJA, são trabalhadores e pessoas que já carregam e possuem uma experiência de vida. Educação de jovens e adultos (EJA) é uma modalidade da qual participam aqueles que não frequentaram a escola durante a infância ou na idade ideal. Os motivos apresentados pelos quais não conseguiram estudar são, na maioria das vezes, alheios a vontade de cada um, a exemplo foi-se citado: o fato de se ter que trabalhar para sobreviver, não ter acesso a escola no local onde mora e até mesmo a evasão escolar. Por isso é comum ainda haver escolas que alfabetizam jovens e adultos. Alfabetizar jovens e adultos é uma ocupação antiga que não se limita a uma tarefa meramente escolar, está intimamente ligada a sonhos, expectativas e a anseios de mudança. E com isso, a escolha do tema deste trabalho se deu com o convívio com jovens e adultos durante o estágio supervisionado na EJA. Geralmente, é depois da adolescência que o indivíduo reconhece que necessita do conhecimento escolar e passa a buscá-lo. Pois, é muito gratificante para uma pessoa leiga poder aprender a ler e a escrever, consciente da necessidade e importância de tal ato para sua vida, um mundo novo se abre, e o indivíduo é posto num contexto “como se fosse cega e de repente abrisse os olhos e enxergasse coisas que até então não via” . Alfabetizar tais pessoas é proporcionar para elas grandes mudanças, uma nova visão de mundo, a chance de ter uma vida melhor, pelo menos com mais oportunidades. Por isso remete-se, então, para além de uma alfabetização e sim de uma transformação social destes indivíduos. A EJA é um direito assegurado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)2, é assegurado gratuitamente aos que não tiveram acesso a escola na idade própria e segundo a LDBEN o poder público deverá estimular o acesso e permanência do jovem e do adulto na escola. Porém, esse estímulo é a cada dia deixado de lado, como afirma o professor doutor em filosofia e educação do Instituto Federal de Pernambuco campus Belo Jardim, Dawson de Barros Monteiro. “[...] as atuais políticas públicas educacionais, mostram um exemplo de problemas, pois aqui na perspectiva contemporânea, é deveras nítida a deficiência da incentivação pública a estes indivíduos.” (Monteiro 2016, PROEJA p. 185). Abordando acerca dos objetivos, destacamos a abordagem do surgimento da EJA ante o alto índice de pessoas analfabetas no Estado, que por inúmeros motivos tiveram que abandonar os estudos por um longo período de tempo, ou para muitos, que nunca sequer tinham ido à escola. É necessário também dar luz e enaltecer a primordialidade da socialização dos que ingressam em uma escola mesmo depois da idade certa; nessa linha de raciocínio é necessário abordar e enaltecer as concepções ideológicas da transformação social no espaço da EJA, bem como compreender a importância desta para a atual sociedade. Por fim, abordar, entender e compreender as questões antropológicas dos motivos de evasão escolar; enxergar a EJA e a transformação social como utopia do indivíduo que retorna ao espaço educacional. E com isso, vislumbrar que em toda a sociedade a questão do Analfabetismo é um problema público educacional e social. 12 1. CONTRIBUIÇÕES DA TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL E PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO A educação de Jovens e Adultos antecede até mesmo as datas documentadas: de forma indireta, adultos interessavam-se em aprender as primeiras letras do alfabeto, sendo considerado o alicerce para a aprendizagem, ou seja, codificar cada símbolo daquele para formular palavras; ou ao menos também, interessar-se à escrever o próprio nome. Este Capítulo abordará a trajetória da Educação de Jovens e Adultos EJA, no Brasil, e sua contribuição para a população brasileira e ao mesmo tempo os processos de alfabetização que são contribuições para que esta aconteça de maneira eficaz. 1.1 HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM SEU CONTEXTO INICIAL 1.1.1 DO BRASIL COLÔNIA AO VARGUISMO: JESUÍTAS, POMBAL, CORTE IMPERIAL E GOVERNO VARGAS Alfabetizar jovens e adultos não é um ato de ensino-aprendizagem, é a construção de uma perspectiva de mudança: no início, época da colonização do Brasil, as poucas escolas existentes era para o privilégio das classes média e a burguesia da colônia, nessas famílias os filhos possuíam acompanhamento escolar na infância; não havia a necessidade de uma alfabetização pra jovens e adultos, esse bloco etário não tinha acesso a uma instrução escolar e quando a recebiam era de forma indireta, de acordo com Ghiraldelli Jr. a educação brasileira teve seu início com o fim dos regimes das capitanias hereditárias, ele cita que: “[...] A educação escolar no período colonial, ou seja, a educação regular e mais ou menos institucional de tal época, teve três fases: a do predomínio dos jesuítas; a das reformas do Marquês de Pombal, principalmente a partir da expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a do período em que Dom João VI, então rei de Portugal, trouxe a corte para o Brasil (1808-1821)”. (Ghiraldelli Jr. 2008, p. 24). O ensino dos jesuítas tinha como fim não apenas a transmissão de conhecimento científico escolar, mas a propagação da fé cristã. A história da EJA no Brasil no período colonial deu-se de forma assistemática, nesta época não se constatou iniciativas governamentais significativas. Os métodos jesuíticos permaneceram até o período pombalino com a expulsão dos jesuítas, neste período, Pombal organizava as escolas de acordo com os interesses do Estado, com a chegada da coroa portuguesa na colônia, a educação perdeu o seu foco que já não era amplo. Após a proclamação da Independência do Brasil foi outorgada a primeira constituição brasileira, e no artigo 179 dela constava que a “instrução primária era gratuita para todos os cidadãos”; mesmo a instrução sendo gratuita não favorecia as classes pobres, pois estes não tinham acesso à escola, ou seja, a escola era para todos, porém inacessível a quase todos. No decorrer dos séculos houve várias reformas, Soares cita que: “[...] No Brasil, o discurso em favor da Educação popular é antigo: precedeu mesmo a proclamação da República. Já em 1882, Ruy Barbosa, baseado em exaustivo diagnóstico da realidade brasileira da época, denunciava a vergonhosa precariedade do ensino para o povo do Brasil e apresentava propostas de multiplicação de escolas e de melhoria qualitativa do ensino” (SOARES, 2002, p. 8). A constituição de 1934, no governo ditatorial de Getúlio Vargas não teve êxito, sendo assim criase uma nova constituição escrita por Francisco Campos. Para a constituição de 1937 que Ghiraldelli Jr. Cita que: “[...] A constituição de 1937, fez o Estado abrir mão da responsabilidade para com a educação publica, uma vez que ela afirmava que o Estado desempenharia um papel de subsidiário, e não central, em relação ao ensino”. O ordenamento democrático alcançado em 1934, quando a letra da lei determinou a educação como direito de todos, e obrigação dos poderes públicos, foi substituído por um texto que desobrigou o Estado de manter e expandir o ensino” (GHIRALDELLI Jr., 2008, p. 78). Nessa perspectiva, o Estado passou a não ter mais o papel de bancar os educadores para levar o conhecimento para toda a nação, num plano ideológico mundial, vemos que a educação é um princípio fundamental para o crescimento do país e deixar esta ferramenta de lado, acarreta num colapso conhecido como “grande taxa de Analfabetismo”. A constituição de 1937, foi criada no intuito de estabelecer o favorecimento do Estado pois o mesmo tira sua responsabilidade; “gera nesse contexto histórico-social uma população sem educação, ou a educação para poucos, uma sociedade frágil e suscetível a aceitar tudo que lhe é imposto pelo poder coercitivo” afirma o professor doutor em filosofia do Instituto Federal de Pernambuco campus Belo Jardim, Dawson de Barros Monteiro: logo se entende que esta constituição não tinha o interesse que o conhecimento crítico se propagasse, mas buscava favorecer o ensino profissionalizante, pois dentro do contexto histórico o Brasil precisava mais capacitar os jovens e adultos para o trabalho nas indústrias. 1.2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS PÓS-VARGUISMO Segundo Cunha (1999), o fim do Estado Novo trouxe ao país um processo de redemocratização e a necessidade de aumento da quantidade de eleitores. Nesse sentido, o primeiro projeto lançado pelo governo foi uma campanha que previa a alfabetização do educando em três meses, além da conclusão do curso primário num prazo bem menor que o convencional. A educação era considerada unilateral e tinha o professor como transmissor de conhecimento. O educador, que era voluntário ou mal remunerado, seria o único sujeito deste processo. A campanha extinta em 1963, não rendeu bons resultados, mas ajudou a ideia preconceituosa de que o adulto não precisaria mais aprender a ler e que já havia encontrado seu lugar no mundo. Esse desprezo pela classe trabalhadora, o proletariado, ainda persistiu na década de 1990, quando o então ministro da Educação do governo Collor de Mello, o professor, físico e político José Goldemberg, afirmou que a tentativa de alfabetização de adultos não diminuiria o índice de analfabetos; ao contrário, perturbaria a ordem social. Com os resultados insatisfatórios dessa campanha, surgiram críticas a esse projeto: seria necessária a qualificação dos professores e a adequação do programa, do material didático e dos métodos de ensino à clientela atendida. No final dos anos 1950, Paulo Freire propunha uma nova pedagogia, posteriormente trabalhada neste trabalho. Apesar de ser encarregado de desenvolver o Programa Nacional de Alfabetização de Adultos, com o golpe militar de 1964, Paulo Freire foi exilado e um programa assistencialista e conservador foi criado: o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). 1.3 ACERCA DO MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO (Mobral) Na época do regime militar (1964-1985), surge um movimento de alfabetização de jovens e adultos, na tentativa de erradicar o analfabetismo, pelo menos é o que se tinha em teoria; chamado MOBRAL, esse método tinha como foco o ato de ler e escrever, essa metodologia assemelha-se a de Paulo Freire com codificações, cartazes com famílias silábicas, quadros, fichas e etc., porém, não utilizava o diálogo como ideologia educacional de Freire e não se preocupava com a formação crítica dos educandos. A principal ideologia objetiva do Mobral era apenas a alfabetização funcional que em seu conceito é o ensino alicerce da compreensão de textos simples, capacitando os educandos a decodificação mínima de letras para a interpretação de textos, sem a apropriação da leitura e da escrita de pessoas entre 15 e 30 anos. A respeito do Mobral Bello cita que: “[...] O projeto Mobral permite compreender bem esta fase ditatorial por que passou o Brasil. A proposta de educação era toda baseada em aos interesses políticos vigentes na época. Por ter de repassar o sentimento de bom comportamento para o povo e justificar os atos da ditadura, esta instituição estendeu seus braços a uma boa parte das populações carentes, através de seus diversos programas.” (BELLO, 1993, p. 56). 1.3.1 METODOLOGIA DE ENSINO NO MOBRAL: UMA ABORDAGEM SUPERFICIAL A metodologia utilizada pelo Programa de Alfabetização Funcional baseava-se em seis objetivos: 1. Desenvolver nos alunos as habilidades de leitura, escrita e contagem 2. Desenvolver um vocabulário que permita o enriquecimento de seus alunos; 3. Desenvolver o raciocínio, visando facilitar a resolução de seus problemas e os de sua comunidade; 4. Formar hábitos e atitudes positivas, em relação ao trabalho; 5. Desenvolver a criatividade, a fim de melhorar as condições de vida, aproveitando os recursos disponíveis; 6. Levar os alunos: • A conhecerem seus direitos e deveres e as melhores formas de participação comunitária; • A se empenharem na conservação da saúde e melhoria das condições de higiene pessoal, familiar e da comunidade; • A se certificarem da responsabilidade de cada um, na manutenção e melhoria dos serviços públicos de sua comunidade e na conservação dos bens e instituições; • A participarem do desenvolvimento da comunidade, tendo em vista o bem-estar das pessoas. Os técnicos do MOBRAL defendiam que o método utilizado baseava-se no aproveitamento das experiências significativas dos alunos. Desta forma, embora divergisse ideologicamente do método de Paulo Freire utilizava-se, semelhantemente a este, de palavras geradoras e de uma série de procedimentos para o processo de alfabetização: 1. Apresentação e exploração do cartaz gerador; 2. Estudo da palavra geradora, depreendida do cartaz; 3. Decomposição silábica da palavra geradora; 4. Estudo das famílias silábicas, com base nas palavras geradoras; 5. Formação e estudos de palavras novas; 6. Formação e estudos de frases e textos A principal e essencial diferença na utilização destes procedimentos em relação ao método Paulo Freire era o fato de no Mobral haver uma uniformização do material utilizado em todo o território nacional, não traduzindo assim a linguagem e as necessidades do povo de cada região, principal característica da metodologia freiriana. 1.4 A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DO REGIME MILITAR AO SEU CONTEXTO ATUAL Em 1974, foi implantado o CES (Centro de Estudos Supletivos), que dava a oportunidade de uma certificação rápida, mas superficial, com um ensino tecnicista e auto instrucional. Esse ensino supletivo foi implantado em acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDBE 5592/71. Nesta lei um capítulo foi dedicado especificamente a Educação de Jovens e Adultos. Em 1974 o MEC lança o CES. A década de 1980 foi marcada pelo desenvolvimento de projetos e pesquisas na área da alfabetização de adultos. Em 1985, o Mobral foi cessado, dando lugar a Fundação EDUCAR que apoiava tecnicamente e financeiramente as iniciativas de alfabetização existentes. Nos anos 80, difundiram-se várias pesquisas acerca da língua escrita que de certa forma refletiam na EJA. Com a promulgação da constituição de 1988 o Estado passou a ampliar o seu dever ante a Educação de Jovens e Adultos. De acordo com o artigo 208 da constituição brasileira de 1988: “O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.” A importância da Educação de Jovens e Adultos passou a ser reconhecida internacionalmente mediante as conferências organizadas pela UNESCO nos anos 1990. A partir de então, surgiu no Brasil uma mobilização nacional no sentido de diagnosticar metas e ações da EJA. A LDBE de 1996 garante igualdade de acesso e permanência na escola e ensino de qualidade, além da valorização experiência extraescolar. Ainda nos anos 1990, emergiram iniciativas em favor da EJA, onde o governo incumbiu também a municípios a engajarem-se nesta política, ocorrem parcerias com ONG’s, municípios, universidades, grupos informais, populares, fóruns estaduais e nacionais e através de fóruns a história da EJA passou a ser registrada no intitulado “Boletim da Ação Educativa”. O antigo ensino supletivo passou a se chamar Educação de Jovens e Adultos, e ganhou um sentido mais amplo: preparar e inserir ou reinserir o estudante no mercado de trabalho. Os objetivos da educação no país são revistos, cabendo agora à escola a responsabilidade de formar o adulto trabalhador. Recentemente, novas iniciativas como a EJA e o Proeja, têm surgido a fim de garantir metodologias adequadas a discentes com esse perfil. Em 2000, o Conselho Nacional de Educação estabeleceu, no parecer nº 11, (das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos), as funções e as bases legais da EJA fundamentadas na LDBE, nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Diretrizes Curriculares Nacionais O decreto nº 5478/05, institui o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Proeja, abrangendo a formação inicial e continuada de trabalhadores e a Educação Profissional Técnica de nível médio. Eventos onde são gerados debates e trocadas experiências, como os fóruns EJA, têm sido importantes e primordiais na estruturação da EJA e de seus objetivos. É notório que nesta fase da história da Educação brasileira, a EJA possui foco amplo. Para haver uma sociedade igualitária e uma Educação eficaz é necessário que todas as áreas da Educação sejam focadas e valorizadas, não é possível desvencilhar uma da outra. 2. REFLEXÕES ACERCA DA ALFABETIZAÇÃO A alfabetização é definida como o processo de aprendizagem onde se desenvolve a habilidade de ler e escrever de maneira adequada e a utilizar esta habilidade como um código de comunicação com o seu meio. É o processo onde os educadores procuram dar mais atenção durante o período de educação inicial escolar, através do desenvolvimento das atividades da alfabetização, que envolvem o aprendizado do alfabeto e dos números, a coordenação motora e a formação de palavras, sílabas e pequenas frases. Através destas tarefas, o indivíduo consegue adquirir a habilidade de leitura, de compreensão de textos e da linguagem de maneira geral, incluindo a operação de números, que são competências necessárias para avançar aos níveis escolares seguintes. A alfabetização consegue desenvolver também a capacidade de socialização do indivíduo, uma vez que possibilita novas trocas simbólicas com a sociedade, além de possibilitar o acesso a bens culturais e outras facilidades das instituições sociais. A incapacidade de adquirir a habilidade da leitura e da escrita é chamada de analfabetismo ou iliteracia. 2.1 ANÁLISE HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICA ACERCA DA ESCRITA E A ALFABETIZAÇÃO A comunicação oral antecede a comunicação escrita. É oralmente que se expressam a maioria das pessoas desde os tempos mais remotos. A história nos mostra que até mesmo os povos humanos da pré-história utilizavam símbolos gráficos para fazer registros em cavernas, em grutas, em rochas e etc., ou seja, já havia a necessidade de expressão gráfica. Bajard diz que: “[...] A escrita surgiu na mesopotâmia por volta do ano 4000 a.C., entre os Sumérios. Era uma escrita representada por desenhos, figuras rupestres e etc. que indicavam ações cotidianas e corriqueiras desses povos como a caça ou a pesca; essa fase ficou conhecida como pictográfica, após ela veio a fase ideográfica, onde os símbolos já representavam também alguma ideia, tornou-se fonética, depois alfabética e a partir daí a escrita foi evoluindo-se, alfabetos foram surgindo de acordo com as particularidades de cada língua.”(BAJARD, 2001, p. 15). A fase alfabética determinou a necessidade da transformação de códigos alfabéticos escritos, dando início ao que hoje chamamos de alfabetização. Ferreiro cita que: “[...] A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo de codificação. Uma vez construído, poder-se-ia pensar que o sistema de representação é aprendido pelos novos usuários, como um sistema de codificação. Entretanto, não é assim, no caso dos dois sistemas envolvidos no início da escolarização (o sistema de codificação seria dos números e o sistema de representação seria da linguagem). As dificuldades que as crianças enfrentam são dificuldades conceituais semelhantes as da construção do sistema, e por isso pode-se dizer em ambos os casos que a criança reinventa esses sistemas, no caso da Educação para Jovens e Adultos, esse processo também poderá acontecer mediante a participação ativa do estudante e o empenho do mestre que para ele leciona. Bem entendido, não se trata de que as crianças reinventem as letras nem os números, mas que para poderem se servir desses elementos como elementos de um sistema, deve compreender seu processo de construção e suas regras de produção, o que coloca o problema epistemológico fundamental: Qual é a natureza da relação entre o real e a sua representação?” (FERREIRO, 2001, p. 12). A alfabetização não é uma ação prioritária para a fase infantil da vida. Ferreiro cita que: “[...] é recente a tomada de consciência sobre a importância da alfabetização inicial como a única solução real para o problema da alfabetização remediativa (de adolescentes e adultos)”. (FERREIRO, 2001, p. 09). 2.2 ALFABETIZAÇÃO E PRAGMATISMO: CONCEITOS ACERCA DA LEITURA E ESCRITA NO ÂMBITO EDUCACIONAL Alfabetizar é um tema que está ligado ao ensino da leitura e da escrita de códigos alfabéticos, existem inúmeros significados para essa problemática atual. Larousse limita o significado de alfabetizar a ensinar a ler. “[...] Vários conceitos definem alfabetizar como o ato de ensinar a ler, aos poucos esses conceitos vem mudando, ainda que livros e dicionários definam-no assim. Hoje muitos educadores e alfabetizadores utilizam o termo “letramento”, letrar vai além de alfabetizar, se trata da compreensão da leitura e escrita, a criança, o jovem ou o adulto estão alfabetizados ao saberem ler e escrever e letrados ao compreenderem o que leram e escreveram, estão letrados quando dominam a leitura e a escrita e fazem o uso social de ambos.” (LAROUSSE, 2003, p. 21). Soares, acerca do assunto, cita ao ser questionada sobre tal definição: “Letramento é de certa forma o contrário de analfabetismo, aliás, houve um momento em que as palavras letramento e alfabetismo se alteravam para nomear o mesmo conceito. Ainda hoje há quem prefira a palavra letramento, eu mesmo acho a palavra alfabetismo mais vernácula que letramento, que é uma tentativa da palavra inglesa literary, mas curvo-me ao poder das tendências linguísticas, que estão dando preferência a letramento. Analfabetismo é definido como o estado de quem não sabe ler e escrever, seu contrário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever, ou seja, letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas que poderá exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vivem.” (SOARES, 2007). . Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) da Língua Portuguesa (Brasil, 2001, p. 21) fala explicitamente sobre este termo, mas a sua proposta vai de encontro as propostas do letramento, isso é perceptível ao observar o que é citado nos PCN’s a respeito de pesquisas e investigações referentes a alfabetização nas séries escolares. A alfabetização é um processo contínuo, inicia-se desde os primeiros anos de vida, com a linguagem e a partir daí tudo que a pessoa aprende serve como base para uma aprendizagem eficaz. A alfabetização, como a educação em geral, é um direito de todos, infelizmente para muitos ela não pode acontecer na infância, a preocupação de como fazê-la com qualidade e êxito impulsiona investigações de como alfabetizar para compreender a leitura e a escrita. Ferreiro cita que: “[...] É difícil falar de alfabetização evitando as posturas dominantes neste campo, por um lado, o discurso oficial e, por outro, o discurso meramente ideologizante, que chamarei “discurso da denúncia”. O discurso oficial centra-se nas estatísticas, o outro despreza essas cifras tratando de desvelar “a face oculta” da alfabetização, onde o discurso oficial fala de quantidade de escolas inauguradas, o discurso da denúncia enfatiza a má qualidade dessas construções ou desses locais improvisados que carecem do indispensável para a realização de ações propriamente educativas.” (FERREIRO, 2005, p. 09). A Alfabetização de Jovens e Adultos não é uma ação recente, teve início desde a colonização apesar de ter sido reconhecida oficialmente somente após o ano de 1945, muitos motivos interferem o processo de alfabetização na infância de alguns jovens e adultos, outros nem sequer iniciam esse processo, logo nesta fase e ao longo dos anos sentem a necessidade de alfabetizar-se. Segundo Moll: “[...] Nesse sentido, quando falamos “em adultos em processo de alfabetização” no contexto social brasileiro, nos referimos a homens e mulheres marcados por experiências de infância na qual não puderam permanecer na escola pela necessidade de trabalhar, por concepções que as afastavam da escola como de que “mulher não precisa aprender” ou “saber os rudimentos da escrita já é suficiente”, ou ainda, pela seletividade construída internamente na rede escolar que produz ainda hoje itinerários descontínuos de aprendizagens formais. Referimo-nos a homens e mulheres que viveram e vivem situações limite nas quais os tempos de infância foi, via de regra, tempo de trabalho e de sustento das famílias.” (MOLL, 2004, p. 11). Ler e escrever são uma arte, principalmente para muitos que não aprenderam a ler e escrever na infância e consequentemente na vida adulta sentem falta desses atos, nas últimas décadas a oferta de ensino aumentou bastante, porém o acesso ainda é limitado para muitos, nem todos os brasileiros tiveram ou tem a oportunidade de alfabetizar-se na infância diversos fatores contribuem ou contribuíram para isso, como a necessidade de trabalhar nessa fase da vida, a falta de acesso a escola, ou até mesmo a falta de interesse, ao chegar na juventude ou na fase adulta a pessoa percebe o quanto a educação básica lhe faz falta e começa a persistir em busca do conhecimento. No decorrer da história da educação a alfabetização de jovens e adultos teve diferentes focos e contou com significantes projetos de alfabetização como o MOBRAL e Método Paulo Freire que será visto neste trabalho. O processo de aquisição da leitura e da escrita não é uma preocupação apenas de professores e alfabetizadores, a alfabetização é a base para uma educação eficaz, portanto para o aluno estar bem nas séries posteriores ele precisa de uma alfabetização sólida. Vivemos atualmente na sociedade do conhecimento, não só do conhecimento do senso comum como sempre foi, mas do conhecimento científico que facilita aos indivíduos uma vivência social de acordo com as imposições do meio e para tal o conhecimento transferido no ambiente escolar é fundamental. Atualmente a EJA tem objetivos maiores além da alfabetização por parte dos alunos, da necessidade de estar capacitado para o mercado de trabalho, ser atuante na sociedade e também o interesse político de reduzir o máximo a estatística de analfabetismo no país, este fator favorecerá com a pretensão de um dia o Brasil se tornar uma grande potência mundial. As primeiras formas de alcançar melhores condições de trabalho e ampliar conhecimento é que faz com que muitos jovens e adultos que não se alfabetizaram na infância ingressem em uma turma de EJA oferecida pelas escolas ou por grupos comunitários que desenvolvem projetos de alfabetização, ser alfabetizado nestas fases da vida depende de muita motivação e força de vontade, não basta apenas querer, a alfabetização de jovens e adultos ocorre de maneira intencional e consciente, segundo Pinto: “Os conceitos de “necessitar saber” vem da origem do interior do ser, considerado em sua plena realidade, enquanto o de “saber” e “não saber” (como fatos empíricos) coloca-se na superfície do ser humano, é um acidente social, além de ser impossível definir com rigor absoluto os limites entre o “saber e o não saber” (daí que não há uma fronteira exata entre o alfabetizado e o analfabeto). Porque o “necessitar” é uma coisa que ou é satisfeita (se é exigência interior) ou, se não é, não permite ao indivíduo subsistir como tal entre (por exemplo: as necessidades biológicas). O “necessitar” ao qual se referem a leitura e a escrita é de caráter social (uma vez que tem por fundamento o trabalho).” (PINTO, 2007, p. 92). É válido ressaltar que o direito a educação de Jovens e Adultos é assegurado por lei e as instituições de ensino devem realizá-la de maneira que atenda tal clientela sem ignorar suas limitações. Alfabetizar jovens e adultos é muito mais que transferir-lhes noções de leitura e escrita, o jovem ou adulto ao ingressar em uma escola ele tem um objetivo delimitado e compreende a escola como um meio para alcançar tal objetivo, o professor alfabetizador se torna então um mediador entre o aluno e o conhecimento, por isso ele precisa estar bem informado, motivado e querendo realizar um trabalho de construção. Há algumas décadas era comum grupos de pessoas adultas se reunirem para aprender escrever o nome e conhecer as letras do alfabeto, tais pessoas ficavam extremamente maravilhadas, pois dentro do contexto delas tal aprendizado era suficientemente satisfatório. Atualmente grupos ainda se reúnem, mas as expectativas são outras, só o aprendizado do próprio nome não é suficiente, o mercado de trabalho exige mais, até mesmo o simples fato de precisar identificar o itinerário do ônibus requer leitura. Segundo Libâneo: “A escola de hoje precisa não apenas conviver com outras modalidades de educação não formal, informal e profissional, mas também articular-se e integrar-se a elas, a fim de formar cidadãos mais preparados e qualificados para um novo tempo”. (LIBÂNEO, 2003, p. 53). Para isso o ensino escolar deve contribuir para: • Formar indivíduos capazes de pensar e de aprender permanentemente; • Prover formação global para atender à necessidade de maior e melhor qualificação profissional; • Desenvolver conhecimentos, capacidades e qualidades para o exercício consciente da cidadania; • Formar cidadãos éticos e solidários. A motivação é a chave para o sucesso da educação de jovens e adultos, desmotivados eles não conseguirão enfrentar as barreiras cotidianas, tudo se tornará mais difícil, cabe aos professores e a escola em geral incentivá-los para que não desistam. 2.3 O ANALFABETISMO COMO ANTAGONIA AO ALFABETISMO O analfabetismo é a qualidade de analfabeto, uma palavra de origem latina (analphabētus) que se refere àquelas pessoas que não sabem ler nem escrever. Porém, o termo costuma ter um uso mais extenso e é usado para fazer alusão aos indivíduos que são ignorantes ou que carecem de instrução elementar em alguma disciplina. O analfabetismo surge perante a falta de aprendizagem. Por isso, nos países que contam com programas de escolarização obrigatória, o analfabetismo é minoritário, mesmo para além do facto de que a compreensão de leitura das pessoas possa ser deficiente. Analfabeto é a pessoa que não sabe ler nem escrever. Segundo definição da UNESCO, “uma pessoa funcionalmente analfabeta é aquela que não pode participar de todas as atividades nas quais a alfabetização é requerida para uma atuação eficaz em seu grupo e comunidade, e que lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço do seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento de sua comunidade”. O analfabetismo no país ainda continua sendo um obstáculo para o progresso e desenvolvimento da humanidade. O importante é ressaltar que não estamos falando de ignorância. Analfabeto Funcional: sabe ler e escrever textos e frases curtas, mas não consegue interpretá-los, também não sabem realizar operações de matemática. Existem três níveis de Analfabetismo funcional: Existem três níveis distintos de alfabetização funcional, a saber: • Nível 1 - também conhecido como alfabetização rudimentar, compreende aqueles que apenas conseguem ler e compreender títulos de textos e frases curtas; e apesar de saber contar, têm dificuldades com a compreensão de números grandes e em fazer as operações aritméticas básicas; • Nível 2 - também conhecido como alfabetização básica, compreende aqueles que conseguem ler textos curtos, mas só conseguem extrair informações espessas no texto e não conseguem tirar uma conclusão a respeito do mesmo; e também conseguem entender números grandes, conseguem realizar as operações aritméticas básicas, entretanto sentem dificuldades quando é exigida uma maior quantidade de cálculos, ou em operações matemáticas mais complexas. • Nível 3 - também conhecido como alfabetização plena, compreende aqueles que detêm pleno domínio da leitura, escrita, dos números e das operações matemáticas (das mais básicas às mais complexas). Pode-se afirmar que, nos dias de hoje, a sociedade está experimentando uma nova forma de analfabetismo, chamado de analfabetismo digital. Este tipo de carência está relacionado com a falta de conhecimento necessário para utilizar computadores pessoais, celulares e agendas eletrônicas e dominar os sistemas que operam estas máquinas como, por exemplo, navegar na rede mundial de computadores. O grave problema do analfabetismo no mundo continua sendo um dos grandes temas prioritários a solucionar desde que se realizou a Conferência Mundial da Educação para Todos, ocorrida em 1990, em Jomtiem, Tailândia. Esta conferência foi assistida por representantes do mundo todo e chegou-se à conclusão de que a alfabetização é um dos fatores chave para resolver um dos problemas mais urgentes da sociedade, que a realização plena do ser humano só se dá através da educação e promovê-la é fundamental para o desenvolvimento das nações. Assim sendo, a educação é uma ferramenta extremamente útil para combater a pobreza e a desigualdade, elevar os níveis de saúde e bem estar social, criar as bases para um desenvolvimento econômico sustentável e a manutenção de uma democracia duradoura. Por este motivo a educação foi incluída na lista dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, que fixou para o ano de 2015 a data limite para alcançar 100% de educação primária para todas as crianças do planeta. Para o plano ideológico da história da Educação de Jovens e Adultos, pode-se afirmar que tais medidas, no Estado brasileiro, refletiram na queda da taxa de analfabetismo ao longo dos anos. Segundo o professor doutor em filosofia do Instituto Federal de Pernambuco campus Belo Jardim, Dawson de Barros Monteiro, o modelo teórico das iniciativas de alfabetização de jovens e adultos, mesmo tendo um cunho mais político no processo, este pôde remeter-se na queda do índice de habitantes analfabetos no Brasil, desde o Estado Novo ao governo Lula, esta ideologia teórica levou à pratica, uma nova visão de Brasil, uma perspectiva de habitantes mais preocupados com sua educação, ao menos ter o alicerce de poder gozar pelo menos do próprio saber a ler e a escrever, mesmo em um plano inicial. Mostra-se aí que as políticas educacionais mesmo sem o principal intuito de alfabetizar a população geraram programas que foram fomentados e mastigados pela população, que estes puderam ao menos voltar às salas de aula, a quem desistira quando jovem; ou mesmo entrar no âmbito educacional e conhecer de perto o ensino e a escola para aqueles que não puderam nem entrar nesta. A seguir o gráfico mostra como o índice de analfabetos decaiu a partir dos programas para a erradicação do analfabetismo primordialmente com a Educação de Jovens e Adultos. Figura 1. Gráfico com a queda da taxa de analfabetismo no Brasil no período de 1940 e 2010 É observado que a partir dos anos 1940, no governo Getúlio Vargas e o Estado Novo, o índice era de que em cada 100 pessoas quase 56 encontravam-se vítimas do analfabetismo no Brasil, número que ao passar dos anos vai declinando, chegando em 2010 com um índice em torno que, em cada 100 pessoas quase 10 encontravam-se analfabetas, isso é uma conquista tanto para o Estado que cresce no plano internacional, para a educação nacional que remete a ideia que os programas funcionam de forma ótima, e para o estudante que ingressa em uma sala da EJA. O próximo gráfico traz o índice por regiões brasileiras entre um plano de uma década, 2000 a 2010. Trazendo luz a queda no índice da taxa percentual. Figura 2. Gráfico com a taxa de analfabetismo por regiões do Brasil entre 2000 e 2010 Por fim, concluísse que com os programas educacionais de Educação de Jovens e Adultos, pôsse à erradicação e diminuição brusca do índice de percentual de analfabetos no país, uma vez que esses tendem ao cunho da erradicação dessas taxas que fazem com que a perspectiva do Brasil seja favorável ou desfavorável no plano internacional, já que a educação na contemporaneidade é fundamental para o crescimento do país. 3. REFEXÕES TEÓRICAS SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Ao abordar a Educação de Jovens e Adultos como tema é fundamental conhecer e destacar o pensamento de alguns autores e educadores como Paulo Freire e outros que ao longo da vida profissional dedicaram-se a alfabetizar e que contribuem para a formação docente continuada. Este capítulo aborda tais reflexões e as particularidades do tema. 3.1 PENSAMENTO DE PAULO FREIRE SOBRE A EDUCAÇÃO POPULAR Educação popular é uma educação comprometida e participativa orientada pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo. Quando se pensa em educação popular nos remetemos à imagem de Paulo Freire que foi o grande mentor, é uma educação que visa à formação do indivíduo com valores, conhecimento e consciência de cidadania, busca utilizar o que a pessoa já tem de conhecimento popular para transformar na matéria-prima do ensino. Esta educação popular é muito utilizada em assentamentos rurais, favelas, aldeias indígenas, pequenas comunidades, ONG’s dentre outras; por se tratar de uma educação que atende as necessidades em comum de um povo, uma educação em que tem os mesmos interesses em ampliar os seus conhecimentos e tornar cidadãos conscientes do seu papel na sociedade. Paulo Freire, o mais célebre educador brasileiro, tinha o pensamento de que a escola tinha que ensinar o aluno a “ler o mundo” para obter transformações, tendo em vista que se o aluno não saber a realidade do mundo em que vive não é possível lutar em busca de melhorias; para que haja transformação é essencial a conscientização, por isso Paulo Freire criou o seu método de ensino, pois não acreditava que uma pessoa adulta dor nordeste por exemplo que não conhecia “uva” pudesse aprender a ler e escrever apenas utilizando cartilhas com frases: EVA VIU UVA, pensou em aproximar os alunos a sua própria realidade, à sua rotina do dia a dia com as palavras geradoras. De acordo com a revista Nova Escola “Grandes Pensadores”: Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas, os homens se educam entre si mediados pelo mundo. O pensamento de Paulo Freire é que o professor não é detentor do conhecimento e que não domina todas as áreas do conhecimento e é de fundamental importância a troca de experiências entre professor e aluno, o conhecimento de um completa o outro, todos nós somos dotados de inteligências e exercemos inteligências, porém nem todos a desenvolvem para a mesma área, muitas vezes um professor é excelente na sua profissão e não tem habilidades como pedreiro e o pedreiro constrói lindas casas e edifícios, mas não é alfabetizado e quando esse professor encontra este pedreiro podem trocar experiências distintas e ambos aprendem entre si. Para Freire um professor dedicado para a educação popular tem que acreditar em mudanças, não pode ensinar apenas a ler e escrever, é preciso haver uma mudança de paradigma, e transmitir esperanças, fazer com que o aluno se transforme em sujeito pensante, crítico e consciente do que lhe envolve no dia a dia, o professor tem que ter prazer, alegria e transmitir aos alunos. Paulo Freire diz que: “Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria. Na verdade, do ponto de vista da natureza humana a esperança não é algo que a ela se justaponha. A esperança faz parte da natureza humana.” (FREIRE, 2002, p. 80). Para Freire é importante que o professor tenha esperança, uma vez que os jovens e adultos se espelham nos professores, e com esperança pode se acreditar em uma mudança de direção para a vida e para o mundo, para a sociedade, cita uma história popular que um passarinho viu um incêndio na floresta e correu para chamar os amigos para apagar o fogo, mas ninguém quis ir, então resolveu ir sozinho apagar o fogo, viu um rio e foi pegando água e jogando no fogo, certamente esse pássaro sabia que sozinho não poderia apagar toso o fogo, mas teve esperança que tomando a iniciativa talvez os outros pudessem acreditar que também seria capaz. Podemos comparar Paulo Freire a este passarinho, pois ele apenas deu início a essa educação e a cada dia pessoas se juntam a suas ideologias a fim de transformar a educação no nosso país e começam a mudar este paradigma. 3.2 ACERCA DO MÉTODO FREIRIANO O Método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização de adultos desenvolvidos pelo educador Paulo Freire, que em sua implementação concorreu com programas como o de Frank Laubach. Freire afirmou ter desenvolvido o método enquanto era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife, quando formou um grupo para testar o método na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. 3.2.1 ETAPAS DO MÉTODO 1. Etapa de investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive. 2. Etapa de tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras. 3. Etapa de problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada. 3.2.2 O MÉTODO • As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade e, assim, seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, elas são apresentadas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura, inicia-se uma discussão para dar-lhes significado dentro da realidade daquela turma. • A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. Por exemplo: BA-BE-BI-BO-BU. • As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas. • A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social. 3.2.3 AS FASES DE APLICAÇÃO DO MÉTODO Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes: • 1ª fase: levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase, ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico. • 2ª fase: escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonética, dificuldades fonéticas - numa sequência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade. • 3ª fase: criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais. • 4ª fase: criação das fichas-roteiro neles havia indicações de possíveis subtemas ligadas as palavras geradoras e sugestões de encaminhamentos para análise dos temas selecionados que funcionam como roteiro para os debates, as quais fossem apenas sugestões esses roteiros eram de grande valia, principalmente no inicio do trabalho quando a alfabetizador era também iniciante. • 5ª fase: criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras. 3.2.4 HISTÓRIA Freire aplicou publicamente seu método pela primeira vez no Centro de Cultura Dona Olegarinha, um círculo de cultura do Movimento de Cultura Popular no Recife. Foi aplicado inicialmente a cinco alunos, dos quais três aprenderam a ler e escrever em 30 horas e outros dois desistiram antes de concluir. Baseado na experiência de Angicos, em janeiro de 1963, onde em 45 dias, alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, presidente do Brasil na época, chamou Paulo Freire para organizar o Plano Nacional de Alfabetização. Este plano, iniciado em janeiro de 1964, tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas em 20 000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara, se inscreveram 6 000 pessoas. Mas, com o Golpe de Estado no Brasil em 1964, em abril, toda essa mobilização social foi reprimida e Paulo Freire foi considerado subversivo, sendo preso e, depois, exilado. Assim, esse projeto foi abortado. Em seu lugar, surgiu o Movimento Brasileiro de Alfabetização, igualmente uma iniciativa para a alfabetização, porém distinta do método freiriano. 3.3 O PERFIL DO PROFESSOR ALFABETIZADOR Alfabetizar jovens e adultos é uma ação peculiar e nem sempre se dá da mesma forma com se alfabetiza uma criança na infância o professor alfabetizador deve partir dor princípios de açãoreflexão-ação e deve estar aliado à formação continuada. A formação continuada permite refletir suas ações e repensar a sua prática, elaborando planos e/ou projetos que possam aprimorar a sua prática educativa. Alfabetizar na EJA envolve também a afetividade, o gosto e a responsabilidade. É fundamental que o professor da EJA tenha a consciência da valorização do outro, é importante valorizar o conhecimento que este aluno possui, pois durante toda a vida o aluno adquire um vasto conhecimento do senso comum e valorize também as suas experiências de vida, entretanto o diálogo tem que estar presente nas aulas, o professor tem que usar uma linguagem simples e acessível. O professor é um incentivador um meio para alcançar a motivação dos alunos e nesta fase da vida motivação é um aspecto fundamental. A prática da ação-reflexão-ação permite ao professor lançar estratégias para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem. Ao observar turmas da EJA é comum observar que os professores regentes em tais turmas são geralmente professores experientes que despertam a confiança em seus alunos e que acreditam na educação como foco de mudança. Segundo Leal: “O conhecimento na ação, ou o conhecimento tácito, seria aquele constituído na prática cotidiana do exercício profissional. Concebemos que esse é um saber que se constrói com base nos conhecimentos prévios de formação inicial, articulado com os saberes gerados na prática cotidiana, de forma assistemática e muitas vezes sem tomada de consciência acerca dos modos de construção. Para um projeto de formação numa base reflexiva, torna-se fundamental conhecer e valorizar esses conhecimentos que são constituídos pelos professores, seja através de uma reflexão teórica, seja através desses processos eminentemente assistemáticos.” (LEAL, 2005, p. 114). A aprendizagem não pode ser simplesmente transmitida, ela é um processo de construção onde professora busca oferecer meios que favoreçam tal construção, a do conhecimento: tudo o que já foi vivido pelo aluno serve como base, o professor deve utilizar também a vivência e o conhecimento prévio do aluno para ajudá-lo na construção do saber. Aquilo que é oferecido ao alfabetizando deve fazer sentido para ele, se o professor partir de um ponto desconhecido que foge à realidade do aluno ele poderá não alcançar a compreensão necessária ao letramento. A principal função do professor na EJA é mediar, interagir o aluno com o meio, usar metodologias que favoreçam o processo de construção de ensino-aprendizagem, o aluno da atualidade espera muito mais que aprender a assinar o nome, portanto exercício de mera memorização, atividades mecânicas não permitem o êxito na EJA. A interdisciplinaridade deve fazer parte também desse processo os temas transversais como, ética, valores e cidadania são temas que norteiam a construção do conhecimento nesta fase. A educação de Jovens e Adultos traz muitos desafios tanto para professores quanto para alunos e são esses desafios que constroem práticas eficazes de alfabetização. Kelly Camargo Pulice in Moll esclarece muito bem o papel do educador na EJA, ao citar: “O papel do educador é pensar formas de intervir e transformar a realidade, problematizando-a, dialogando com o educando. Em sala de aula o importante não é “depositar” conteúdos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. Portanto, antes de qualquer coisa, é preciso conhecer o aluno: conhecê-lo como indivíduo num contexto social, com seus problemas, seus medos, suas necessidades, valorizando seu saber, sua cultura, sua oralidade, seus desejos, seus sonhos, isto possibilita uma aprendizagem integradora, abrangente, não compartimentalizada, não fragmentada.” (MOLL, 2004, p. 11). 3.4 PERFIL DO ESTUDANTE DA EJA E OS MOTIVOS DE EVASÃO Os alunos da EJA são geralmente pessoas vindas de famílias de baixa renda, sendo que muitas vezes os pais também não são alfabetizados, isso faz com que muitas vezes se sentem discriminados pela sociedade; vivemos em uma sociedade que para toda a nossa rotina é necessário a leitura,para se tomar um ônibus é necessário conseguir identificá-lo, para fazer compras tem que conhecer os números, contudo esse aluno da EJA pode se sentir excluído da sociedade, quando pensamos em exclusão nos remetemos a pessoas com deficiência, mas a exclusão não se limita a deficiência intelectuais e mentais, para esses alunos que por alguns motivos não estudaram nos primeiros anos de vida este termo também cabe. O autor Bieler fala sobre a importância da inclusão. “[...] A perspectiva da educação inclusiva vai além da deficiência. Esta é apenas uma das áreas que seriam beneficiadas com ela (educação inclusiva) A qualidade da educação é que está em debate porque hoje não se considera (nos sistemas educacionais ) a diversidade dos alunos, os níveis de necessidade e as características individuais. A proposta da educação inclusiva melhoraria a qualidade do ensino para todos. Não se trata só de incluir deficientes nas sala de aula.” (BIELER, 2004, p. 11). O aluno da EJA possui necessidade educacional especial independente de ter ou não deficiência física. Uma vez que estes alunos vão para a escola após um longo dia de serviço, sua mente já está cansada, ao contrario de uma criança que não trabalha e nem tem preocupações com a família, como os adultos. A maioria destes alunos da EJA tem a necessidade de voltar a escola para se sentir incluído na sociedade, procuram melhores condições de vida , almeja um melhor cargo no trabalho, muitos buscam a leitura com o objetivo de ser mais participativos e críticos na sociedade e até por motivos religiosos como o sonho de aprender ler para conseguir ler a bíblia, entretanto boa parte destes alunos busca uma realização pessoal, principalmente os mais idosos que as vezes são motivos de chacotas por estarem estudando nesta fase da vida. Os alunos da EJA por se tratarem de adolescentes acima de 14 anos e adultos, já tem suas experiências de vida, muitas vezes até traumas podem ter sido criados por não ter conseguido estudar anteriormente por vários motivos, desta forma os alunos criam um bloqueio, por isto o professor deve estar seguro para tentar quebrar estes bloqueios. Às vezes estes alunos podem estar com sua autoestima muito baixa, aí entra o papel do professor para traçar práticas adequadas para incentivá-los a motivação. A autoestima é fundamental para este processo de alfabetização, pois quando há esperanças se tem forças para vencer os desafios na busca de um objetivo. As turmas da EJA funcionam geralmente a noite que é o horário disponível para pessoas que trabalham diariamente, deve haver muita força de vontade e incentivo para jovens e adultos concluírem o curso. O número de evasão na EJA é muito grande, os alunos se sentem desmotivados e cansados; a grande maioria trabalha o dia inteiro, pegam ônibus lotado, muitas mulheres não trabalham fora, porém trabalham em casa. É fundamental que os professores da EJA sejam dinâmicos, aproximem o conteúdo à realidade do aluno, procurem sempre inovar e não criem barreiras para afastar esses alunos. O professor da EJA tem que estar motivado para conseguir motivar os alunos, todavia que os alunos são reflexos dos professores. Quando se pensa em evasão na EJA é de suma importância conhecer o perfil destes alunos, para tentar entender por que se dá esta evasão. As causas evasão na EJA são muitas, podemos destacar o cansaço após um dia de serviço, a distância entre casa/escola que aumenta as possibilidades de assaltos, entre outros fatores que se dá por conta da violência urbana. Outro fator é o apoio da família que nem sempre existe, o apoio do governo, da escola, direção, professores muitas vezes não estimulam os alunos; e também o desinteresse interfere sobre esta questão. É notório que existem fatores que contribuem direta ou indiretamente na evasão escolar, isso é uma preocupação de muitos, tais como escola, gestão escolar, governo, entre outras instituições. O fracasso escolar também é uma das causas de evasão, na Proposta Curricular para o 1º segmento do ensino fundamental (1997) consta que: “No público que efetivamente frequenta os programas de educação de jovens e adultos, é cada vez mais reduzido o número daqueles que não tiveram nenhuma passagem anterior pela escola. É também cada vez mais dominante a presença de adolescentes e jovens recém saídos do ensino regular, por onde tiveram passagens acidentadas.” É fundamental que aluno e professor compreendam que erros podem ser transformados em aprendizagem, é possível aprender com eles, os erros não podem ser contribuintes para causar evasão. De acordo com Cortella (1999, p. 112): “[...] O erro não ocupa um lugar externo ao processo de conhecer, investigar é bem diferente de receber uma revelação límpida, transparente e perfeita. O erro é parte integrante do conhecer não porque “errar é humano”, mas porque nosso conhecimento sobre o mundo dá-se em uma relação viva e cambiante (sem o. (shrink)
Atas do III Colóquio Internacional de Metafísica. [ISBN 978-85-7273-730-2]. Sumário: 1. Prazer, desejo e amor-paixão no texto de Lucrécio, por Antonio Júlio Garcia Freire; 2. Anaximandro: física, metafísica e direito, por Celso Martins Azar Filho; 3. Carta a Guimarães Rosa, por Cícero Cunha Bezerra; 4. Ante ens, non ens: La primacía de La negación em El neoplatonismo medievel, por Claudia D’Amico; 5. Metafísica e neoplatonismo, por David G. Santos; 6. Movimento e tempo no pensamento de Epicuro, por Everton da (...) Silva Rocha; 7. Críticas e elogios de Nietzche a Sócrates, por Fernanda Bulhões; 8. Sobre a Metafísica ou a respeito do jejum, por Gilvan Fogel; 9. A origem estética da ontologia hermenêutica de Luigi Pareyson, por Íris Fátima da Silva; 10. A Natureza da filosofia de Hume, por Jaimir Conte; 11. Logique ET métaphysique, por Jean-Baptiste Jainet; 12. Blaise Pascal: da recusa da metafísica da raison à metafísica do « estudo do homem », por João Emiliano Fotaleza de Aquino; 13. O niilismo no prólogo de Assim Falou Zaratustra. Por José Elielton de Sousa; 14. Presencia;Ausência: de Plotino a Procolo, por José Maria Zamora; 15. A natureza do Eros platônico, por Jovelina Maria Ramos de Souza; 16. Breve comentário acerca da origem da Gelassenheit de Heidegger a partir da mística de mestre Eckkart, por Luiz Fernando Fontes-Teixeira; 17. Humanismo e domesticação em Regras para o parque humano, por Luiz Roberto Alves dos Santos; 18. Contra a teoria de dois mundos na filosofia de Platão (República V 476e-478e), por Marcelo Pimenta Marques; 19. Sensações, impressões, projeções: as afecções do pensamento, por Markus Figueira da Silva; 20. Contribuições à história de uma metáfora: Heidegger e Nicolau de Cusa, por Oscar Federico Bauchwitz; 21. Uma impossibilidade ontológica em Schopenhauer, por Paulo César Oliveira Vasconcelos; 22. Ser e fenômeno: a Fenomenologia como teoria estética da ciência, por Pedro Paulo Coroa; 23. Para que serve a Metafísica de Aristóteles? O exemplo do movimento animal, por Pierre-marie Morel; 24. Contribuições para uma ontologia digital, por Rafael Capurro; 25. O que é o fim da metafísica, por Rodrigo Ribeiro Alves Neto; 26. A Physis na conformação do logos: linguagem e pensamento no corpus epicúreo, por Rodrigo Vidal do Nascimento; 27. O acontecimento de mundo na era da informação, por Soraya Guimarães da Silva; 28. Apofaticismo e abstração em Mark Rothko, por Vanessa Alves de Lacerda Santos. -/- . (shrink)
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